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SEMANÁRIO

50 anos do golpe no Chile: era possível a vitória?

Pablo Torres

Dauno Tótoro

50 anos do golpe no Chile: era possível a vitória?

Pablo Torres

Dauno Tótoro

Nesses apontamentos, buscamos debater o processo revolucionário nos anos 70 e as estratégias desenvolvidas pela esquerda no Chile, principalmente a relação entre o "socialismo democrático" que diz respeito à "via pacífica" ao socialismo e sua relação com o chamado "poder popular", especialmente nos Cordões Industriais. A pergunta central que atravessa a presente reflexão é: Seria possível ter triunfado no Chile?

A estratégia da "via chilena" (ou pacífica, institucional) para o socialismo, com uma ou outra diferença, é talvez, atualmente, a estratégia predominante nos novos atores políticos, como a Frente Ampla, e também no Partido Comunista do Chile. Para além deles, a maioria dos intelectuais de esquerda que teorizaram o chamado "poder popular" acabaram desenvolvendo uma teoria das "duas revoluções", como definida por Peter Winn. Ela seria uma espécie de combinação entre uma "revolução de cima" e uma "revolução de baixo", cujo "choque catastrófico" (Tomás Moulian) foi o gatilho para o Golpe. Aqui também debatemos essa teoria, que, com diversas nuances, é sustentada por vários autores que acabam definindo como "revolucionária" a estratégia que, tendo o socialismo como objetivo final, vê no Estado e nas reformas graduais o caminho para o mesmo, sem romper com as instituições do Estado de direito e a democracia liberal, mas sim por meio delas.
Aqui debatemos essa estratégia à luz do debate sobre o "poder popular" e o papel dos Cordões Industriais, assim como suas potencialidades e limites.

O processo contrarrevolucionário e a suposta "excepcionalidade"

Em 4 de setembro de 1970, Salvador Allende, candidato da Unidade Popular, venceu as eleições presidenciais do Chile. Isso marcou o início de uma etapa pré-revolucionária que duraria 1.000 dias até o golpe de Estado, com seus altos e baixos.

A eleição foi um terremoto político no país e surpreendeu todas as classes sociais. Nas fábricas, nas ruas, nas comunidades e nos quartéis, as tropas e os suboficiais celebraram a vitória de Allende. Dezenas de milhares de pessoas saíram para comemorar nas ruas naquela noite. Nos círculos empresariais, nos bairros nobres, nos partidos políticos de direita e de centro, e entre os oficiais das forças armadas, reinava a raiva, a indignação e o nervosismo.

Para a direita, foi uma derrota inesperada. Eles já haviam proclamado a vitória de seu candidato, o empresário Jorge Alessandri. No entanto, Alessandri ficou em segundo lugar, a poucos votos de Allende. Com a vitória deste último, a insegurança tomou conta. Como evitar que Allende assumisse a presidência? Como impedir que chegasse ao poder? Essas foram algumas das perguntas que instigavam as mentes dos quadros da burguesia . As respostas: recorrer ao arsenal golpista. Imediatamente iniciou-se um plano de reação da classe dominante para evitar que Allende assumisse o cargo, ou, se assumisse, derrubá-lo.

O bloco contra revolucionário foi liderado por uma aliança de golpistas locais da direita e grandes empresários nacionais, juntamente com o imperialismo norte-americano e suas empresas. A CIA dos EUA, dirigida por Henry Kissinger e Edwards (El Mercurio), desenvolveu dois planos de golpe: um "constitucional" (ou parlamentar) e outro "militar" para evitar a posse de Allende. Como afirmam autores como Jorge Magasich, desde o início começaram a ser forjados planos abrangentes para sabotar a experiência chilena.

Os planos golpistas montados imediatamente mostraram que, desde o primeiro momento, o confronto era inevitável, e que a direita e a burguesia estavam dispostas a usar diferentes métodos golpistas e guerra civil se vissem seus interesses ameaçados. No caso dos EUA, eles não podiam permitir uma "segunda Cuba" em seu quintal, especialmente durante a Guerra Fria com a URSS. Portanto, desempenharam um papel ativo em sua intervenção imperialista no país. Logo desenvolveram uma estratégia muito mais complexa para derrotar qualquer mínima ameaça aos seus interesses. No entanto, o golpe imediato, seja ele constitucional (no parlamento) ou militar, falhou e resultou em um atentado militar de um grupo de militantes de extrema direita que assassinou o Comandante em Chefe do Exército, o "constitucionalista" René Schneider. Em 13 de setembro desse ano, havia surgido a Patria y Libertad, sob o patrocínio da embaixada dos EUA.

A história da luta de classes no Chile é a história das ações e da resistência violenta (física) das classes dominantes em defesa de sua hegemonia diante da ameaça da classe trabalhadora e dos oprimidos. A classe dominante nacional, após a independência, sendo uma oligarquia agrária que remonta à conquista e colonização, não apenas se tornou "burguesa" em suas alianças com o capital comercial e financeiro imperialista (primeiro inglês e depois norte-americano), mas também incorporou uma nova burguesia nacional em seu seio com o desenvolvimento capitalista do século XIX. Essa nova burguesia era parceira tanto do "conglomerado mercantil-financeiro" (Salazar) quanto da antiga oligarquia. O capitalismo chileno se desenvolveu com base no domínio do capital estrangeiro e na subordinação do desenvolvimento nacional ao exterior, ocupando o papel de uma semi-colônia e mantendo intacta a antiga estrutura agrária colonial ou pré-capitalista. O desenvolvimento desigual no Chile combinou a indústria moderna em "níveis-chave" do desenvolvimento ligado à exportação e dependente do capital estrangeiro, com o proletariado concentrado em grandes minas, fábricas, ferrovias e transportes, e uma estrutura agrária colonial que, embora subordinada ao desenvolvimento capitalista, deixou a grande maioria do país, o campesinato pobre, no atraso e no obscurantismo mais reacionário.

Essa classe dominante nunca hesitou em recorrer ao exército e às forças armadas quando seus interesses eram ameaçados, não apenas externamente, mas também diante das contestações à ordem social apresentadas pelos explorados e oprimidos. O massacre de Santa María, que marcou o fim do ciclo de ascenso e massacres de 1903-1907, é um exemplo na história do Chile independente da brutalidade da classe dominante, assim como o golpe de Pinochet.

Como Peter Winn disse, no Chile não apenas houve um processo revolucionário, mas também um importante processo contra revolucionário. Ignorar a "força física" como estratégia da classe dominante (que acompanha a dominação com o consenso para estabelecer sua hegemonia) e não considerá-la como uma lição estratégica para qualquer tentativa de transformação nos dias de hoje seria cometer um erro político fundamental, que pode custar caro em um futuro próximo.

Na esquerda da época, esse debate ocorreu em um contexto não apenas de grande ingenuidade, mas também de hegemonia de uma visão "pacifista" e “leve” quanto à resistência frente à reação da burguesia diante da contestação à ordem. O imperialismo e os capitalistas temiam muito mais as aspirações e expectativas dos trabalhadores e dos camponeses (que poderiam buscar concretizar suas aspirações por meio de sua própria organização e métodos de decisão) do que os objetivos dos líderes da Unidade Popular, que eram considerados "moderados" buscando uma revolução "em etapas".

A visão predominante na esquerda, tanto do Partido Comunista quanto do Partido Socialista, era a "excepcionalidade" chilena: uma democracia "avançada" ou a existência de uma tradição democrática (Estado de direito e parlamentarismo) com um sistema de instituições estáveis e uma "tradição" na classe trabalhadora, com sindicatos e uma certa integração ao regime político (semelhante a países com tradição democrática, como França ou Espanha) que estabeleciam uma sociedade civil ativa, ou seja, condições para realizar uma revolução de forma "democrática" ou institucional, em vez de uma via insurrecional. Além disso, o recuo das forças armadas após a crise dos anos 30 levou a crer que parte dessa "excepcionalidade" era a tradição "democrática", em oposição à tradição golpista, dos militares chilenos. É claro que não se pode ignorar a existência de um regime "bonapartista" de 10 anos (com a proibição do Partido Comunista), e também a formação dos militares chilenos pelos EUA e o golpe militar no Brasil em 1964. A tese do "socialismo democrático" sustentava a impossibilidade de uma revolução insurrecional, sem a ruptura da ordem e do Estado de direito. Ao invés disso, defendia a revolução por meios democráticos e institucionais.

A burguesia na defensiva e o ano de "festa"

O fracasso dos planos golpistas e o revés sofrido após o assassinato do General Schneider isolaram a direita, criando um ânimo democrático em amplas camadas da população diante do atentado. A autoria de Patria y Libertad (apoiada pelas alas diplomáticas dos Estados Unidos que forneceram armamento) gerou um repúdio em massa à política reacionária, que recuou após essa ação.

O argentino Liborio Justo corretamente aponta que a vitória de Allende foi uma "vitória precária". Ao obter apenas 36% dos votos ele precisava ser ratificado pelo Congresso, onde a UP era minoria. Diante do fracasso golpista e seu recuo, apoiado no fortalecimento do sentimento democrático após o atentado, Allende e a UP apostaram na busca de um primeiro acordo com a Democracia Cristã, cujos votos dariam a Allende a maioria absoluta para ser proclamado presidente. A DC, que não concordava com as manobras golpistas após a eleição, no entanto, voltou-se para o acordo com a UP como "moderador" das tendências à radicalização e agravamento dos conflitos de classe. Assim, surgiu o "Pacto de Garantias Constitucionais", no qual a DC conseguiu impor um primeiro acordo "programático" à UP, reafirmando seu respeito pela ordem liberal. Através da imposição deste acordo, sem o qual Allende não seria presidente, a DC conseguiu algumas "garantias" iniciais para a preservação da ordem: a defesa do monopólio das armas pelo Estado, a inexistência de grupos paralelos às forças armadas e a concentração destas a perseguir grupos ou organizações que se declarassem revolucionários, e o respeito à propriedade privada. Winn está correto ao afirmar que nas primeiras semanas foi um modelo de moderação.

Essa política estava inserida no programa da UP, que, apesar de importantes transformações, não pretendia liquidar a propriedade privada dos meios de produção, nem o exército regular, nem o Estado de Direito com suas instituições. Nesse mesmo sentido, o acordo com a DC resultou na dissolução dos Comitês da Unidade Popular (CUP), que haviam se desenvolvido em milhares (alguns autores falam em 15.000 comitês) em fábricas, bairros, escolas, hospitais e universidades. As CUP, subordinadas ao Comando Nacional da UP, tinham em seu programa que "seriam intérpretes e combatentes das reivindicações imediatas das massas e, acima de tudo, se preparariam para exercer o poder popular". No entanto, os partidos, lideranças e o propósito da UP eram que os comitês atuassem como comitês "eleitorais" que desapareceriam após as eleições, longe de uma estratégia que levaria esses comitês de base a se desenvolverem e se massificarem como órgãos de luta de classes e frente única dos trabalhadores, que poderiam ter sido a base para o desenvolvimento de organismos de auto-organização de massas, como coordenações, comitês ou conselhos, especialmente diante da tentativa reacionária de um golpe de Estado.

Do ano de "festa" para a ofensiva da direita com a "greve patronal"

Com o recuo e a desorientação da direita, a Unidade Popular se fortalece. Ela avança com seu programa de nacionalizações (com compensação) do cobre, ferro, bancos, e inicia o caminho para a nacionalização de algumas indústrias estratégicas (com 91 no total em seu projeto), aplicando a reforma agrária, etc. Esse ano não foi apenas o mais ofensivo no campo político por parte da UP, que conseguiu controlar a agenda e manter a direita na defensiva, mas também houve um crescimento econômico e industrial que durou até o final de 1971 e permitiu a implementação de medidas sociais como o litro de leite, aumentos salariais e outras medidas. Alguns analistas chamaram esse período de "ano de festa".

A vitória de Allende, no contexto de um aumento das lutas operárias, camponesas e populares, embora buscasse canalizá-las dentro dos marcos da institucionalidade burguesa e sob uma estratégia de colaboração com partidos burgueses (como o partido radical) e acordos com a DC, abriu uma "estrutura de oportunidades" pela qual a luta de classes começou a se infiltrar de forma acelerada e, posteriormente, a superar as lideranças da UP.

Logo após a posse de Allende, em dezembro de 1970, surgem ocupações de terras no sul, na região do Cordão Madeireiro e Florestal de Panguipulli, com 34 fazendas ocupadas por trabalhadores, camponeses e mapuches. O movimento operário fortalece suas aspirações e expectativas e, após alguns meses, inicia importantes lutas contra patrões opositores, muitas vezes exigindo a passagem para a Área de Propriedade Social, que foi o berço dos futuros Cordões. No campo, as ocupações de terras e as corridas de cercas se intensificam, acelerando rapidamente a implementação da reforma agrária pelo governo devido à pressão das ocupações. Nos bairros, as ocupações de terrenos e a coordenação dos moradores começam a se expandir. Vejamos a dinâmica: tão cedo quanto abril de 1971, a fábrica Yarur foi ocupada, um ícone dos Cordões. Se em 1969, ano de ascenso, foram registradas 977 greves, em 1972 foram registradas 3.526. No caso das ocupações de fábricas, quase não existiam em 1969, com apenas 24; em 1970 passaram para 137; em 1971 para 378 e 299 apenas nos primeiros cinco meses de outubro de 1972 (antes da greve patronal e da expansão dos Cordões industriais). No caso das ocupações de terrenos urbanos, em 1969 houve 29 ocupações, em 1970 foram 352 e em 1971 foram 560 [1]. De acordo com Garcés, entre 1969-1971 ocorreram 312 ocupações [2]. De acordo com Winn, entre 1968-1971: mais de 400 ocupações de terrenos em todo o Chile, em 1971, um sexto de Santiago estava ocupado com acampamentos provisórios.

Em abril de 1971, a UP vence as eleições municipais: UP: 1.404.186 votos (50,86%) e a oposição: 1.356.919 votos (49,14%). O Partido Socialista (PS) passa de 12,2% para 22,4% dos votos (45% dos votos da UP). Foi uma vitória muito importante, pois não apenas aumentou sua votação, mas a UP obteve uma maioria, embora ainda precária. Essa vitória da UP provocou uma crise e uma tentativa de reposicionamento por parte da oposição, tanto da DC quanto do Partido Nacional (PN).

Há um debate importante na literatura de esquerda sobre como aproveitar essa vitória eleitoral tática. De acordo com Peter Winn, a "maioria eleitoral" (embora não parlamentar) abriu o caminho para substituir o Congresso bicameral por uma única câmara: a Assembleia do Povo [3], ou seja, uma mudança constitucional que garantiria o projeto da UP. Gaudichaud afirma que essa vitória "não foi aproveitada pela esquerda" [4] e que faltou usá-la para impulsionar a mudança constitucional em direção a uma nova institucionalidade política. Para Tomas Moulian, foi uma "vitória pírrica" [5] ou uma "situação de quase empate", porque não foi aproveitada para avançar na reforma do Estado com a dissolução do Congresso e desenvolver o "bloco pelas mudanças" [6], que já em 1972 era tarde demais. Era a oportunidade para um "programa de reformismo revolucionário", movendo-se em direção a um acordo com o centro DC com reformas constitucionais e dando gestão aos trabalhadores nas empresas: "Agindo dessa forma, talvez fosse possível mostrar que o socialismo desejado era o aprofundamento da democracia" [7]. Na UP, pensou-se em realizar um referendo para aprovar a mudança institucional, uma nova constituição e estabelecer o Estado popular. No entanto, para esses autores, tratava-se principalmente de aproveitar a vitória eleitoral para aprofundar o próprio programa da UP dentro dos marcos do sistema capitalista, e não para partir para a ofensiva com a auto-organização independente das massas. Portanto, essa abordagem se enquadra no contexto de impulsionar a implementação do programa, contraditoriamente com alianças com a DC que se opuseram a essas próprias mudanças constitucionais. Não se tratava de uma estratégia para derrotar a direita com o poder dos trabalhadores e oprimidos, mas sim com mudanças constitucionais e legais.

Após a derrota eleitoral, a direita adota uma estratégia combinada, não apenas de luta política no Congresso e nas eleições, mas também uma "linha de massas" para conquistar as ruas. 1) Há a unificação do PN com setores da DC nas eleições complementares de julho de 1971; 2) Luta e bloqueio institucional no parlamento; 3) Luta de classes econômica (bloqueio externo, sabotagem e boicote); 4) Conspiração através dos grandes sindicatos patronais, como a SOFOFA, que ganham destaque, fazendo política com a Frente Nacional das Áreas Privadas (pequenas e médias empresas) e os sindicatos profissionais (médicos, engenheiros, advogados).

Em 1971, surgem os primeiros sinais de crise econômica, como a escassez e a inflação. A direita aproveita para se fortalecer, buscando ganhar hegemonia sobre todas as classes médias com longas campanhas que combinam luta parlamentar com luta extraparlamentar.

Por parte da DC, começa uma campanha contra a Área de Propriedade Social e, após o assassinato de Pérez Zujovic, ex-ministro do Interior do governo de Eduardo Frei, responsável pela matança de Puerto Montt em 1967, pela VOP (Vanguardia Organizada del Pueblo), a DC se desloca ainda mais para a direita. Nesse ano, a aliança entre os setores da direita ainda era uma aliança tática, com diferenças fundamentais sobre como se opor a Allende, mas que se tornaria uma aliança estratégica. Nesse contexto, a DC sofre uma nova divisão em sua ala esquerda e surge o partido Izquierda Cristiana, que se junta imediatamente à Unidade Popular, permitindo que a ala mais dura, liderada pelo ex-presidente Frei, retome a liderança do partido.

Nesse contexto, a direita buscará uma primeira ação de rua com a "marcha das panelas", visando mobilizar as mulheres e desenvolver uma nova estratégia extraparlamentar. Em 1º de dezembro de 1971, começa a ofensiva burguesa. Em janeiro de 1972, ocorrem eleições complementares nas quais a Democracia Cristã e o Partido Nacional se unem e derrotam a UP nas províncias de O’Higgins, Colchagua e Linares.

Após o resultado das eleições, o início da ofensiva da direita, a aliança DC-PN e a situação econômica que começa a mostrar sinais de crise, juntamente com a agitação das classes médias, começam a surgir tensões dentro da Unidade Popular. Um primeiro setor, composto pelo Partido Comunista, uma ala minoritária do Partido Socialista, Allende, o PIR e a Acción Popular Independiente, tinham a linha de desenvolver alianças com a DC e defendiam "consolidar para avançar". O segundo setor argumentava a necessidade de "radicalizar" o processo, embora dentro do governo e da legalidade burguesa, em aliança com o "poder popular", e era composto pelo MAPU, a Izquierda Cristiana e a maioria do PS. Tendiam também a alianças com o MIR. Essa tensão, expressa nas cúpulas de El Arrayán e Lo Curro, foi uma expressão superestrutural de um problema que começava a atravessar a UP: as crescentes tensões entre a base social operária, camponesa e popular e seus setores de vanguarda, que buscavam conquistar suas aspirações revolucionárias por meio da luta de classes; e o propósito e programa da UP e suas lideranças que buscavam mudanças dentro dos marcos do sistema e em direção a uma espécie de "capitalismo de estado" (economia mista), e não à socialização de toda a economia. Uma contradição se desenvolveu entre a UP e sua base: o partido disse que era hora de traçar seu próprio caminho, de avançar em direção ao socialismo, e a classe operária o fez, ocupando terras e fábricas, radicalizando, etc.Enquanto a classe trabalhadora avançava, a UP enfraquecia e buscava limitar o avanço de baixo para cima, que estava prestes a transbordar.

Em meio a um crescente desabastecimento, inflação, falta de peças de reposição e bloqueios, os protestos aumentam, ocorrem confrontos nas ruas e greves de comerciantes e transportadores, organizadas e lideradas pela direita. Em 1972, as relações entre empresários e militares golpistas começam a se consolidar, especialmente entre oficiais navais. A ofensiva da oposição faz uma convocação à "resistência civil" e o país entra em greve e o fechamento de 125.000 estabelecimentos de varejo em agosto de 1972. As brigadas fascistas bloqueiam o tráfego com barricadas e realizam ataques. Além disso, fracassa uma tentativa de acordo entre a Unidade Popular e a Democracia Cristã, e as ruas começam a se tornar palco da luta política.

Assim, chegamos a outubro de 1972, a primeira tentativa de greve insurrecional da burguesia, com lockout, fechamento de empresas, bloqueios de estradas, sabotagens e ataques.

Em outubro, surgem dois novos fenômenos: 1) os cordões industriais, como embriões de duplo poder e organismos de auto-organização, com mais de 500 ocupações de empresas, representaram a verdadeira resistência ao primeiro intento de golpe de rua; 2) No contexto da fraqueza da UP, que ficou completamente paralisada diante da greve patronal, a UP optou pelo poder dos militares com o "gabinete civil-militar", uma espécie de pré-bonapartismo dentro da Frente Popular, com o surgimento de um árbitro entre os dois pólos em crescimento (o poder dos trabalhadores e dos setores populares e a ofensiva da contra revolução), onde a questão de como expandir o poder dos trabalhadores para ganhar mais apoio se tornou crucial.


Os Cordões Industriais e a questão do poder: Espontaneidade ou consciência?

Os Cordões Industriais, nos momentos mais intensos, conseguiram reunir cerca de 100 mil trabalhadores em todo o Chile, organizados em torno de 60 a 100 cordões, de Arica a Punta Arenas [8]. Eles se desenvolveram como embriões de órgãos de poder da classe trabalhadora, com a possibilidade de se tornarem órgãos de auto-organização das massas.

Havia, portanto, uma relação entre espontaneidade e consciência. Em que sentido? Primeiro, porque não surgiram como um plano determinado e desenvolvido por uma organização política. Eles não eram o produto de um projeto estratégico de uma corrente da esquerda, mas, em vez disso, eram uma resposta de setores da classe trabalhadora à ofensiva patronal. No entanto, em segundo lugar, é inegável o papel desempenhado por centenas de militantes, principalmente do Partido Socialista, que lideraram esse processo. Ou seja, não era "puramente espontâneo", pois havia trabalhadores que dirigiam os Cordões que eram militantes e quadros médios do PS, bem como líderes do Departamento Nacional Sindical dessa coletividade, o DENAS.

A esquerda diante dos Cordões

Nesse contexto, o setor e a figura de Carlos Altamirano desempenharam um papel crucial. Com um discurso "incendiário" e de esquerda, situado no terreno da "esquerda da Unidade Popular", referenciado na consigna "avançar sem mudar", Altamirano atuou como árbitro entre os setores mais radicalizados de seu próprio partido e a vanguarda trabalhadora em geral, que começava a se desenvolver no calor do processo dos Cordões.

Altamirano nunca buscou romper politicamente com os setores moderados para preparar publicamente uma alternativa política ao institucionalismo e à via pacífica. Ele se limitou a incitar críticas ao governo por baixo, mas o papel que desempenhou foi o de desenvolver um discurso de esquerda para cobrir a ala mais conciliadora da Unidade Popular, do governo e do PS, buscando arbitrar entre esses dois setores. Isso levou a crítica radicalizada das bases socialistas ou dos Cordões Industriais a exigir do governo, evitando uma ruptura com os setores de trabalhadores organizados de vanguarda.

Altamirano desempenhou um papel de mediação entre os setores mais conservadores da Unidade Popular e aqueles que estavam efetivamente mostrando, de maneira ainda incipiente, uma via alternativa à via pacífica e institucional, marcando assim um caminho para enfrentar militarmente a reação. Isso incluía as bases radicalizadas do PS, os trabalhadores dos Cordões Industriais, setores populares envolvidos em ocupações de terra e camponeses radicalizados. Todos eles saíram, após o golpe fracassado de setembro de 1973, exigindo armas do governo para enfrentar qualquer nova tentativa de golpe. No entanto, nem Altamirano nem nenhum setor da liderança política do PS se propuseram a desenvolver uma estratégia consistente com seus discursos incendiários. Essa estratégia exigiria o reconhecimento dos Cordões Industriais como uma possibilidade de poder estendido da classe trabalhadora, que precisaria ser armado para aglutinar os setores populares contra a repressão que se desencadeou em 11 de setembro, mas que já vinha se manifestando antes, mesmo durante o governo de Salvador Allende, especialmente após a aprovação da Lei de Controle de Armas.

No entanto, esse fenômeno do PS e sua conexão com a vanguarda trabalhadora mostram que havia um terreno fértil para a atuação de uma organização revolucionária. Essa organização poderia ter proposto a política de ingressar no PS para acelerar as conclusões dos setores mais radicalizados, tornando-se uma tendência e uma fração política para constituir uma alternativa não apenas a Allende, mas também aos líderes centristas do próprio PS. Essa organização poderia ter proposto um caminho alternativo ao institucionalismo e à confiança em setores médios da burguesia, que a Unidade Popular promovia. Ela poderia ter concentrado seus esforços em fortalecer e multiplicar os Cordões Industriais como referência para toda a classe trabalhadora e as massas oprimidas, além de um centro de resistência contra as ameaças golpistas.

Por outro lado, o Partido Comunista (PC) e a liderança do PS, juntamente com Allende, buscaram constantemente limitar o desenvolvimento dos Cordões Industriais. Primeiro, argumentaram que esses cordões estavam se desenvolvendo para dividir o movimento trabalhista, que já tinha sua organização, a CUT, limitando assim as margens e a capacidade de organização política dos trabalhadores a um âmbito meramente sindical.
Além disso, Allende propôs a necessidade de um "poder popular institucionalizado", uma espécie de Estado Combinado [9], no qual esse poder popular estaria subordinado ao governo central do Estado burguês. Outros setores dentro da Unidade Popular, como o MAPU de Garretón, viam com simpatia os Cordões apenas se eles se subordinassem ao governo da UP, atuando como a base social de defesa do governo de Allende.
Por outro lado, o MIR, que estava fora da coalizão de governo, desprezou os Cordões. Esse grupo, que teoricamente considerava o "proletariado" como a "vanguarda da revolução", quando a revolução surgiu, decidiu que deveria abandonar seu papel para se juntar aos "comandos comunais", que não tinham nem poderiam desempenhar o papel estratégico de vanguarda revolucionária. Víctor Toro, um líder histórico do Movimento de Izquierda Revolucionario, expressou isso quando disse que os Cordões "tinham uma fraqueza como órgãos de poder popular. Agrupavam apenas um setor dos trabalhadores e se limitavam a cumprir um papel provincial e departamental" [10]. Diante dessa fraqueza, eles afirmavam que os "comandos comunais desempenham em uma situação pré-revolucionária o papel que outros órgãos de poder popular desempenharam em outras revoluções" [11].

O MIR tentou, assim, subordinar os Cordões a um fenômeno que não tinha a capacidade intrínseca de auto-organização da classe trabalhadora. Como afirmou Frank Gaudichaud, "a posição do MIR parece ser a de uma organização que, devido à sua fraca estruturação entre os trabalhadores, parece decidir que a revolução virá de outro lugar" [12]. Eles respondiam a uma estratégia impotente do poder popular, que não considerava os órgãos de auto-organização da classe trabalhadora como a chave não apenas para enfrentar a reação burguesa, mas também para fornecer uma política de ação hegemônica à classe trabalhadora e um poder alternativo ao do governo central burguês, através de seu Estado. Os Cordões Industriais foram um fenômeno fundamental no processo da Unidade Popular, e a posição da esquerda em relação a eles marcou o desenvolvimento da história. Portanto, podemos ver claramente como a greve insurrecional da burguesia e a contra revolução de outubro de 1972 geraram dois fenômenos de importância central para compreender o processo.

Vanguarda operária e pré-bonapartismo

Primeiro, houve o desenvolvimento dos próprios Cordões Industriais, que surgiram principalmente como uma resposta à reação burguesa, buscando manter e assegurar a produção e resolver o problema da distribuição de produtos durante a greve (principalmente dos caminhoneiros e da indústria de médio porte). Eles procuraram coordenar com as Juntas de Abastecimento (JAP) (que também surgiram como uma resposta à greve) e até mesmo iniciaram iniciativas de distribuição popular. A força que demonstraram impediu a tentativa golpista da burguesia, mas ficou longe de derrotá-la, pois não se estabeleceram como uma estratégia alternativa de poder.

E é nesse contexto que surge o segundo fenômeno a ser considerado, que foi a saída pré-bonapartista do governo de Salvador Allende em face da greve, que começou a adotar características de "árbitro" entre os dois setores sociais que estavam começando a entrar em conflito, no contexto do aumento das tensões cada vez mais abertas dentro da própria Unidade Popular.

O exemplo mais claro desse fenômeno foi a formação do Gabinete Cívico Militar, uma expressão da fraqueza do próprio governo em conter por si só o processo que parecia prestes a superá-lo.

Este Gabinete, em primeiro lugar, expressava a integração parcial das Forças Armadas ao governo civil e também adotava medidas direcionadas diretamente contra os fenômenos mais avançados dos embriões de auto-organização. Isso se traduziu na devolução das 13 empresas de eletrodomésticos ocupadas por seus trabalhadores em Arica, onde até mesmo o Ministro do Trabalho, que também era o Presidente da CUT, viajou para convencer os trabalhadores a devolverem as empresas, o que eles se recusaram a fazer e, posteriormente, foram demitidos. Isso incluiu a devolução de empresas da construção que depois tomaram medidas disciplinares por meio de demissões, a devolução de estações de rádio e gráficas como a Radio Agricultura em Los Angeles ou o Diário Sur em Concepción, a não intervenção no monopólio de distribuição privada nas mãos da CENADI e o controle pelo Exército da distribuição que estava sob as JAP, criando a Dirinco.

Basicamente, a política do Gabinete Cívico Militar, nesta nova forma que o governo da Unidade Popular adquiriu, concentrou-se em duas políticas: a lei de controle de armas e o Plano Prats Millas, ou seja, a devolução de empresas (que chegou a 500 ocupadas após a greve patronal e deveriam retornar às 91 empresas definidas no pacto de garantias constitucionais assinado com a DC). Em resumo, concentrou-se na repressão aos setores da vanguarda operária. Além disso, a reação do governo levou a um fortalecimento bonapartista do Estado para controlar a situação, adotando medidas autoritárias combinadas com a integração dos militares ao gabinete, conforme afirmou Jorge Magasich: "É evidente que estava em curso uma insurreição geral. Diante desses fatos, o governo declara estado de emergência em 22 das 25 províncias e impõe o toque de recolher" [13].

Podemos ver como os dois fenômenos que surgiram no calor da greve de outubro de 1972 estavam se tornando cada vez mais contraditórios e tensos: por um lado, a organização dos trabalhadores por meio de instâncias como os Cordões, que o governo usou como ponto de apoio, mas depois buscou conter. Por outro lado, a utilização das Forças Armadas como expressão de traços pré-bonapartistas do governo de Allende, essenciais para o governo federal. Apresenta-se um certo impasse de forças entre os dois lados, onde a burguesia, embora não tenha força para se impor, recua em seus objetivos iniciais e precisa reagrupar forças sob uma nova estratégia, conseguindo estabelecer uma relação de forças mais favorável e se organizar para enfrentar a luta de classes nas ruas.

Por outro lado, o proletariado entra em cena como ator central do processo revolucionário, criando novas organizações de combate e auto-organização, se ligando à população, buscando controlar a distribuição, mas não consegue passar à ofensiva para desarmar a burguesia, impor sua derrota e avançar efetivamente em direção a um governo operário baseado em órgãos de auto-organização, como poderiam ter sido os Cordões Industriais.

Estes últimos foram a chave do processo de outubro para deter a greve patronal. Na verdade, diante da ofensiva reacionária, os trabalhadores se mostraram como o único setor social capaz de dar uma resposta fundamental ao ataque quase golpista. Sem isso, a "insurreição" burguesa poderia ter triunfado, pois haviam conseguido paralisar o país e deixar o governo em uma posição delicada. O governo, enfraquecido, tentou uma guinada à direita com uma mudança pré-bonapartista de regime, entregando cada vez mais poder aos militares, que sob a Frente Popular vinham ganhando posições e "moderando", como exigia a DC, o que levaria posteriormente o governo a enfrentar a vanguarda operária dos Cordões.

Embora as Forças Armadas ainda não se configurassem como o árbitro principal da situação política, elas se tornaram um dos principais atores, impulsionadas pelas próprias políticas do governo, que buscou uma saída bonapartista diante da greve patronal, indicando uma tendência de transição de um governo frente popular mais clássico, com peso nos partidos reformistas dos trabalhadores para um governo com características mais pré-bonapartistas de esquerda, expressado no Gabinete Cívico-Militar, que se concentrou, em última análise, em duas políticas fundamentais: a devolução de empresas e a lei de controle de armas. Em dezembro de 1972, a vanguarda operária dos Cordões enfrentaria o Plano Prats-Millas de devolução de empresas, enquanto o Partido Nacional e a DC se preparavam para as eleições parlamentares de 1973.

O governo estava enfraquecido, e entre duas forças fundamentais que começaram a resolver o conflito mais diretamente com os métodos da luta de classes: a burguesia, os latifundiários e o capital imperialista, por um lado, que conseguiram arrastar atrás de si amplos setores da pequena burguesia e dos partidos de oposição de centro (DC) e direita (Partido Nacional); e de outro, a classe trabalhadora com seus setores mais organizados à frente, que, ocupando as fábricas e passando a produzir sem os empresários, organizaram uma ampla aliança popular com o JAP, os comitês populacionais e começaram a unir suas forças na defesa contra o reação burguesa.

O governo, assim, no meio, começa a ser superado por ambas as forças políticas, situando-se no centro da situação. Nessa fraqueza política viu-se obrigado a recorrer ao aparelho de Estado e às Forças Armadas. O bonapartismo no Allendeísmo surgiu mais da fraqueza do que da força. Neste quadro, esta viragem à direita, depois enfrentou os Cordões nas devoluções das empresas.


O golpe não surgiu do nada

O impasse de outubro e os primeiros confrontos entre os Cordões e a UP levaram a direita a buscar ganhar as eleições parlamentares de março de 1973, apostando em obter uma maioria de 2/3 no parlamento para destituir constitucionalmente Allende. No entanto, eles não conseguiram seu objetivo, o que abriu uma nova estratégia, onde agora a luta de rua passaria a uma nova ofensiva. O "tanquetazo" marcaria essa nova ofensiva, que, no entanto, seria derrotada. Em 29 de junho, novamente centenas de empresas foram ocupadas por seus trabalhadores, discutindo armamento e como enfrentar a reação burguesa.

Contraditoriamente, os militares, com Prats à frente, fortaleceram-se como árbitros ao deter a tentativa golpista, que, no entanto, havia sido realizada à margem dos principais agentes golpistas e serviu mais como uma "prova de força" diante da reação popular. A ocupação de empresas e a mobilização ressurgiram novamente, como em outubro, mas mais fortes, colocando a direita na defensiva. No entanto, os Cordões, ao não passar à ofensiva estratégica, desarmar os golpistas, armar os trabalhadores e exigir que o governo rompesse com o gabinete cívico-militar, a direita e os militares golpistas passaram à ofensiva. Já em julho, as invasões de empresas se tornaram cotidianas, colocando as tropas contra trabalhadores e camponeses por meio da lei de controle de armas. Em meados de julho, o exército conseguiria invadir um grande número de empresas por meio de rifles e repressão. É aí que ocorre a derrota da vanguarda operária dos Cordões. Além disso, em agosto, começaram as torturas dos marinheiros anti-golpistas que tentaram planejar uma defesa contra os golpistas, sem apoio estratégico da esquerda, que confiava na institucionalidade militar.

Assim, o Golpe não aconteceu de repente. Após a derrota da vanguarda operária e também dos marinheiros de base, bem como dos setores mais conscientes dos trabalhadores, a nova ofensiva golpista começou, com o início da grande paralisação patronal no final de julho, envolvendo o comércio, os caminhoneiros, as guildas profissionais e os partidos da direita e da DC, que pediram a intervenção militar alegando um governo "inconstitucional". Após a derrota da vanguarda operária, a direita e os militares golpistas não hesitaram em lançar a ofensiva, promovendo a paralisação patronal e criando as condições para o Golpe de 11 de setembro.

Quando falamos dos Cordões é necessário mencionar o embrião de um semi-poder, como disse o revolucionário León Trotsky, pois, como ele afirmou, todo poder que não é armado é um semi-poder. No entanto, não podemos dizer que os Cordões foram os "sovietes" da revolução chilena, pois não conseguiram se estabelecer como órgãos de auto-organização das massas.

Eles tinham limitações significativas nesse sentido. Provavelmente a principal limitação, partindo do problema da ausência de um poder armado, é que eles se configuraram como espaços de organização da vanguarda operária, mas não de amplos setores populares. Eles não conseguiram liderar outros setores populares, como camponeses e populares, ou seja, havia uma grande lacuna entre a vanguarda (trabalhadores conscientes) e as massas no processo.

Eles foram impulsionados mais pela realidade do que por uma estratégia deliberada. Foram liderados pela vanguarda operária, mas não se transformaram em uma estratégia de poder alternativa ao poder popular, que se mostrou ineficaz, impulsionada pelo MIR como uma contraposição ao desenvolvimento dos Cordões e menos ainda ao reformismo que dirigia o aparato estatal liderando o processo institucional e a transição "pacífica" para o socialismo, uma experiência que acabaria com o trágico resultado que conhecemos.

No entanto, o que é claro é que, se tivessem sido parte de uma estratégia revolucionária alternativa às outras correntes da esquerda, se tivessem sido considerados como embriões do poder da classe trabalhadora, buscando ativamente o desenvolvimento da autodefesa contra os ataques da reação burguesa, até mesmo das leis da burguesia, e se tivessem buscado uma política hegemônica que aproximasse amplos setores populares, multiplicando a experiência e coordenação dos Cordões, poderia ter se aberto a perspectiva de mudar a história de maneira diferente.


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FOOTNOTES

[1Gaudichaud, Frank: Chile 1970-1973: Mil días que estremecieron al mundo, Santiago de Chile, LOM ediciones, 2016.

[2Garcés, Mario; Pinto, Julio: Cuando hicimos historia, Santiago de Chile, Lom ediciones, 2005, p. 54.

[3Winn, Peter: La Revolución Chilena, Santiago de Chile, LOM ediciones, 2013, p. 59.

[4Gaudichaud, Frank: Chile 1970-1973: Mil días que estremecieron al mundo, Santiago de Chile, LOM ediciones, 2016, p. 101.

[5Garcés, Mario; Pinto, Julio (compiladores); Moulián, Tomás, (autor): Cuando hicimos historia, Santiago de Chile, Lom ediciones, 2005, p. 54.

[6Ídem.

[7Ibídem, p. 55.

[8Autores como Gaudichaud estimam que eram cerca de 90 mil em todo o país, sendo 30 mil organizados em Santiago e 60 mil no restante do país. No Cordón mais poderoso de Santiago, Armando Cruces, que foi um líder do processo, estimava que mais de 350 fábricas estavam ocupadas. Gaudichaud é mais cauteloso e estima que são cerca de 40 empresas. Rafael Kries estima que foram 100 mil trabalhadores organizados em 110 cordões em nível nacional. O historiador Jorge Magasic também considera a cifra de 100 mil trabalhadores nos Cordones Industriales.

[9Gaudichaud, Frank: Chile 1970-1973: Mil días que estremecieron al mundo, Santiago de Chile, LOM ediciones, 2016, p. 362.

[10Justo, Liborio: Así se murió en Chile, Buenos Aires, Editorial Cienflores, 2018, p. 378.

[11Ibídem, p. 379.

[12Gaudichaud, Frank: Chile 1970-1973: Mil días que estremecieron al mundo, Santiago de Chile, LOM ediciones, 2016, p. 256.

[13Magasich, Jorge: Los que dijeron No. Historia del movimiento de los marinos antigolpistas, Tomo I, Santiago de Chile, LOM ediciones, 2008, p. 341.
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Pablo Torres

Diretor de La Izquierda Diario Chile / Partido de Trabajadores Revolucionarios

Dauno Tótoro

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