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OPINIÃO | A Chapa Lula-Ciro foi pro brejo. Fim do sonho de frear a conciliação do PT com retórica

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

segunda-feira 27 de março de 2017 | Edição do dia

Ciro Gomes, ex-ministro de Itamar e de Lula, deu longa entrevista à Folha de São Paulo onde não poupou Lula de ataques, rejeitou ser seu vice ou de qualquer outra pessoa, ao mesmo tempo que buscou se oferecer como uma alternativa "menos polarizadora" que o petista. Discursou contra o golpe (como vem fazendo) mas, novidade que buscaria alguma conciliação. Falou, novamente, contra o neoliberalismo de FHC e Lula, mas ocultou - como sempre- que foi em seu mandato na Fazenda no governo Itamar que um dos maiores crimes contra o país aconteceu: a privatização da Embraer. As contradições de um político sempre rápido nas falas. Porém, essa entrevista, além de remarcar as contradições de Ciro, também joga água no chopp daqueles que sonhavam com a unidade do importante cacique político cearense com o líder do PT, e mais, que essa união serviria para conter arroubos à direita e à conciliação tão marcantes do DNA político de Lula e do PT.

Os apoiadores de uma chapa Lula-Ciro que se chocaram com suas declarações de hoje devem lembrar que dias atrás no "pré-lançamento" da candidatura de Lula em Monteiro, Paraíba, a atração "secundária" era Ciro, que de último minuto anunciou que não iria "por motivos pessoais"

Diga-se de passagem um post deselegante, que nem menciona Lula e Dilma

Lula como um desserviço à nação por "polarizar"

Na entrevista à Folha, Ciro é categórico: "acho que nesse momento a candidatura do Lula desserve a ele e ao país. Na melhor das hipóteses ganha e projeta essa confrontação odienta que está rachando o país." E afirma que não aceitaria ser vice: "serei bastante categórico, não serei vice de ninguém". Ainda afirma que não se candidataria se Lula for candidato, não porque dividiram votos, nem "menos em homenagem a ele e mais porque a tendência é ele polarizar o processo".

Na mesma entrevista Ciro afirma como tanto FHC como Lula tem uma política econômica neoliberal, e em tom elogioso se refere a Trump como não sendo de direita, "somente populista" e uma "negação da perversão neoliberal". Como um galo dos ventos, ruma para onde soprar mais. Elogia Trump, fala contra o golpe, que Lula seria neoliberal e ao mesmo tempo quer "des-polarizar". Só no discurso dele essas afirmações contraditórios entre si são possíveis.

O sonho de preservar o PT, a figura de Lula mas segurar-lhes o ímpeto conciliador

Além de seu ego, de ser muito conhecido (e bem votado no Nordeste), Ciro tinha como um dos principais ativos para sua projeção a utilização de sua figura por alas do petismo e por alas críticas a conciliação petista daqueles que se opuseram ao golpe. Era projetado justamente com a expectativia de que serviria como um âncora, verbal e verborrágica, à deriva rumo à direita que Lula e o PT mantém no manche da nau da classe trabalhadora. Pulando uma "Embraerzinha" aqui, uma longa trajetória tucana ali, Ciro seria essa alternativa onírica. Seria um anti-Alencar, que serviu de mostras ao empresariado nacional que Lula era confiável. O político cearense ainda serviria de alternativa eleitoral caso Moro cortasse as asas eleitorais do carmismático político de Garanhuns.

Eis que no tão propagado lançamento de Lula-Ciro em Monteiro, Ciro não foi. Nem um mês depois soltou sua língua contra Lula na Folha. Fazendo isso dificultou que o PT o apoie mesmo em caso de eventual cassação de Lula. Essa chance já era remota, mas com esses "ruídos de fundo", tornam-se bastente improváveis. Ciro ainda é candidato, mas apesar de crítico à Lava Jato deve torcer silenciosamente para Moro cassar Lula, e busca colher "à direita" seus votos, para "desporalizar o país dessa odienta divisão".

A contradição não está em Ciro, poucos políticos da elite nacional são mais francos que ele. A contradição está nos articulistas de sua projeção dentro do "lulismo" e do "progressimo" nacional: artistas, jornalistas, dirigentes sindicais e estudantis.

Críticos à conciliação não buscam levar suas conclusões ao campo programático e organizativo. Sonham em alguém que empurre Lula, nunca pensam no que a classe trabalhadora precisa avançar em um programa e numa força anticapitalista, portanto contrária não somente à direita, à FIESP, aos capitalistas mas também à conciliação de Lula e do PT. Limitam seu sonho ao que seria possível mantendo Lula e com as forças políticas tradicionais - e oligárquicas - que estão à disposição no cardápio pátrio. E como todo sonho, ele termina. O sonho Lula-Ciro foi para o brejo. A realidade da conciliação permanece. Viva e encarnada não somente em Lula e no PT mas numa "greve geral" contra os ataques que nunca se materializa graças ao sindicatos e a CUT, CTB ficarem à espera que o pior ocorra. Na terra arrasada de 2018 sonham que ressurja um cavaleiro de São Bernardo do Campo a salvar eleitoralmente o país, nem sequer para anular a anulação da CLT e demais conquistas agora em processo de aniquilamento.

É hora de estar acordado, de olhos bem abertos. Em primeiro lugar contra os ataques de Temer, mas para isso o outro olho deve observar aqueles que se guiam pela conciliação com a elite nacional, de braços dados com ela não se combaterá consequentemente aos ataques, nem muito menos abriremos caminho a superar um capitalismo herdeiro da escravidão que ressurge dia a dia, nas filas do desemprego, na alimentação de "papelão", na terceirização, no fim da aposentadoria.




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