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NOVELA | A Rede Globo, a bancada evangélica e os setores oprimidos

terça-feira 24 de março de 2015 | 16:47

"Babilônia", escrita por Gilberto Braga, João Ximenes Braga e Ricardo Linhares, substitui "Império" no horário das 21h da TV Globo. Com direção de Dennis Carvalho, a trama recebeu esse nome por causa do "Morro da Babilônia", zona sul do Rio de Janeiro, região onde é ambientada e faz referência também à Babilônia, cidade muito citada na Bíblia, numa das passagens (Apocalipse), como "a grande mãe das prostituições e das abominações da Terra".

Gilberto Braga já declarou que vai incomodar os tradicionais valores da família brasileira porque "Babilônia" veio para tratar de temas como a luta de classes, com núcleos divididos em classe média carioca e a população que vive nos morros, prostituição e agenciamento de mulheres, corrupção no governo e nas empreiteiras, aborto, etc. Já no primeiro capítulo (16/03) apresentou o tão debatido beijo e o amor de duas mulheres da terceira idade interpretadas pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg.

Um dos assuntos mais comentados dos últimos dias nas redes sociais e que vem rendendo inúmeras manifestações de apoio e ódio, não apenas por ser um "beijo gay", mas por ser entre duas mulheres com mais de 80 anos apresentado sem os estereótipos e os fetiches da pornografia heterossexual e da mídia burguesa em geral.

“As cenas não são só para passar tempo, cada cena chegou plena de realização e proposta de história. (...) Foi uma noite muito feliz, a gente espera ter fôlego para manter essa qualidade. É lógico que sempre tem alguém que não gosta, mas faz parte. (...) A cena de encontro amoroso entre a Nathália e eu foi feita sem grandes preparativos. É um casal de 40 anos, e os carinhos vêm naturalmente, com emoção e troca de experiência de vida e também de ajuda mútua”, afirma Fernanda Montenegro.

Segundo Nathália Timberg, "as pessoas ficam hipnotizadas por um momento que veio a coroar a ternura entre as duas. O que é mais importante do que esse frisson de beija ou não beija é que é normal, entre duas pessoas que se amam, que o sentimento venha se expressar dessa maneira. Em qualquer relação - seja ela homossexual ou heterossexual - feliz e positiva ela se consolida em um sentimento que vai se enraizando profundamente”.

Como afirmou Fernanda Montenegro, "sempre tem alguém que não gosta” e no mesmo dia as redes sociais foram tomadas por mensagens de grupos evangélicos organizando um boicote à novela. Na última quinta-feira (19/03), a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional divulgou uma nota oficial de repúdio ao beijo protagonizado pelas atrizes. O documento, assinado pelo deputado federal e pastor João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente e autor do projeto conhecido como "cura gay", diz que a novela tem a “clara intenção de afrontar os cristãos”, “essa é a forma encontrada para disseminar a ideologia de gênero, atacando diretamente a família natural.”

O pastor Silas Malafaia em nota publicada no site Verdade Gospel: “Não tenho nenhuma dúvida que a Rede Globo é a maior patrocinadora da imoralidade e do homossexualismo no Brasil. Uma vergonha (...) O nome da novela – Babilônia – representa muito bem o que tem sido a Rede Globo, um instrumento de podridão moral. E espero, que como a antiga Babilônia, que eles se autodestruam.”
A Rede Globo é a conhecida emissora de TV fundada com o apoio da Ditadura Militar e do capital estrangeiro, famosa por seus escândalos de corrupção, alianças com o latifúndio e a Igreja Católica. A velha Rede Globo, inimiga da classe trabalhadora e dos setores oprimidos (mulheres, negrxs, homoafetivxs, etc).

A bilionária Família Marinho representa setores tão reacionários como a Frente Parlamentar Evangélica, Silas Malafaia e Marco Feliciano. O programa “Zorra Total”, que oprime amplos setores da população, não foi retirado do ar, o Jornal Nacional continua cumprindo seu papel nefasto todos os dias. A programação da Globo continua expressando os interesses capitalistas e oprimindo mulheres, homoafetivos, negros e pobres.

Mas parece que a Globo quer aparecer com uma cara mais “liberal”, mais “democrática” ao apresentar o amor de duas mulheres em chave não opressora. Envolvida em escândalos de corrupção, ela só vem perdendo a credibilidade e ao mesmo tempo, sabe que não pode ocorrer novos Junhos e novas frases como o "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo.” As ruas gritam: "não nos representam!”
Com certeza um cenário nada tranquilo para as classes dominantes e por isso elas estão fazendo de tudo para absorver e desviar esta onda de descontentamento generalizado. E a Globo não quer ser mais um alvo de protestos e parece disposta a reconquistar sua credibilidade e audiência "absorvendo" temas discutidos nas ruas e nas redes sociais, como o aborto, a corrupção e a homofobia, mas discutir estes temas polêmicos gera descontentamento entre setores conservadores da sociedade que resultam na queda de audiência e patrocinadores.

O que a Globo vai fazer? A Record, emissora ligada aos setores evangélicos tem seu público mais organizado e não parece preocupada em "absorver" estes debates. Será que a Família Marinho vai levar este projeto até o fim?


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