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CONJUNTURA | A hora é agora: a corrida dos golpistas pela Petrobras, Caixa e para restringir o sistema político

“Time is Money” reza a máxima capitalista. A “crise é também uma oportunidade” é uma máxima de bilionários. Nestes axiomas de capitalistas reside uma verdade, o sentido de urgência e oportunidade que muitas vezes se concentram em rápidos momentos.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quinta-feira 28 de julho de 2016 | Edição do dia

Sentindo a relatividade estabilidade de Temer. Uma estabilidade relativa e com contradições, parte da frente golpista, vitoriosa até o momento graças a aceitação do golpe pelo PT, se organiza para aproveitar o momento e deixar marcas decisivas.

Sabendo das instabilidades de seus sucessos recentes sob mira da Lava Jato (se assim quiserem os nobres e argutos doutores da lei e da algema) e, com a ameaça permanente que uma instabilidade na economia mundial degringole a já frágil situação social do país, parte dos principais articuladores e beneficiários do golpe querem consolidar seus ganhos, e assim, ter conquistas agora.

Ganhar na política para ganhar muito mais na economia

Este mote poderia ter sido estampado pela FIESP em sua campanha pelo impeachment se coragem e transparência tivessem os capitães da indústria. Mas não. Skaf e sua federação patronal preferiram os patos e a parceria com promocionais esfihas para alimentar coxinhas que imaginavam no credo da mídia “vá às ruas para combater a corrupção tirando Dilma”. Mesmo sem este mote, esta foi a lógica. E agora, com apetite para ataques maiores, articulam uma reforma política para tornar mais fácil a aprovação de projetos mais estratégicos como a reforma trabalhista e previdenciária. Aos moldes do que quer a CNI, jornada de trabalho de 80 horas?

Assim vemos como no TSE Gilmar Mendes articula a reforma política. Sem a presumida isenção de um juiz responsável por conduzir o processo eleitoral, vocifera dia e noite contra a proibição de financiamento por empresas e que na verdade o que seria necessário para ele seria uma cláusula de barreira para encolher o número de partidos.

O Estadão aplaude Mendes em editorial, e clama pela mesma dizendo, desde o título (“Pulo no escuro”), que somente proibir financiamento por empresas sem promover uma ampla reforma política torna pouco compreensível a mudança necessária que já foi adotada. No outro extremo da Via Dutra, o principal colunista político do Globo, a imortal pena da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, diz que haveria um consenso no Congresso para aprovar uma nova forma de cláusula de barreira. Com essa aprovação entraríamos em um novo terreno do enverdecer do exercício parlamentar, a Canaã do Planalto Central, diz Merval: “uma nova dinâmica à atuação parlamentar, tornando-a mais coerente com programas e projetos partidários.”. A saber, tudo ficará tucanizado, ruralizado (ao gosto Kátia Abreu ou Blairo Maggi?) ou à la FIESP.

Segundo artigo da redação que acompanha a nota de Merval, diferente do modelo alemão onde os partidos que não alcançam 5% são diretamente proibidos de ter cargos parlamentares, na reforma tupiniquim, eles “só” seriam proibidos de ter cargos em comissões (de ética, direitos humanos, etc – por exemplo o PSOL não poderia ter atuado pelo afastamento de Cunha) e de propor emendas à Constituição. Seriam semi-parlamentares, mas claro, poderiam ser este sucedâneo. Que democratas! Até 2018 limitar-se-iam os que não alcançassem 2% em 14 estados e em 2022, 3% na mesma fração do país.

E mais, também seriam proibidos de ter tempo de TV e fundo partidário. Proibir a participação da esquerda nos debates eleitorais por não ter 9 deputados não lhes basta, querem um parlamento a imagem e semelhança do impeachment para que o mesmo possa votar o que aos empresários aprouver.

Uma lógica distributiva bem peculiar. Aos mais fortes, os com mais ligações com os empresários mais, aos pequenos, nada. Seu alvo: representações dos trabalhadores e remover aqueles que são mais propensos à pressão contra essas contra-reformas constitucionais para jogar todos direitos trabalhistas e sociais na lata do lixo.

Rodrigo Maia do DEM, novo presidente da Câmara (com votos do PT e PCdoB) se diz pronto para votar a nova versão tucana da reforma política.

Os tucanos declararam-se favoráveis a todas essas medidas e argumentam que a reforma política ajudará a realizar a reforma trabalhista. Isso teria dito Aécio a Temer em reunião noticiada por todos grandes jornais do país. Fazer o negociado valer mais que o legislado. Ou seja, rasgar a CLT. Proposta de infame autoria dos metalúrgicos do ABC Paulista, o bastião histórico da CUT, outrora proposto por este sindicato sob o nome de ACE e já implementado parcialmente por Dilma com o PPE, agora trata-se de avançar em todos lados.

Centralizar a economia em mãos confiáveis, ou o super-ministro Meirelles quer mais e mais poder

Meirelles corre para tornar-se cada vez mais forte e ele controlar todas rédeas da economia, colocando atribuições orçamentárias do Planejamento sob sua alçada na Fazenda. O superministro banqueiro de renome já tinha abocanhado a secretária da previdência. Agora não só a aposentadoria e a política tributária mas o próprio planejamento está em suas mãos. Não se sabe o que resta no Planejamento.

Os superpoderes de Meirelles caminham pari passu com o aumento de poderes nas Relações Exteriores, sob comando de Serra, que já tinha abocanhado o Comércio Exterior do Ministério da Indústria e Comércio (que ficou sem seu flanco externo). Com este novo fortalecimento desta ala do golpismo, Temer sinaliza aos vitoriosos seu butim, bem como coloca-se sob maior pressão. Se o medo de uma saída de Meirelles ou Serra já era um fator de instabilidade a seu governo nos primeiros 30 dias, agora, com ambos fortalecidos, o PMDBista está comprando com um belo consignado sua paz.

Tão privatizadores quanto a correlação de forças os permitir

Na Petrobras se acelera a privatização de suas subsidiárias. Está anunciado o PDV da BR Distribuidora e o modelo de entrega destes recursos ao imperialismo (51% do capital). O Globo em editorial de ontem (dia 27) falava que isso é pouco, em suas palavras: “O mesmo vale para a Transpetro, sob a qual estão a frota de navios da empresa, terminais e dutos. Sua venda também não colocará a pátria em risco, tampouco se o controle de todas as demais subsidiárias for vendido.”

Todas subsidiárias. Como disse Temer no dia 29 de abril “é preciso privatizar tudo que for possível”.

No dia seguinte ao editorial de privatizar todas subsidiárias, o novo editorial da família Marinho saúda o estudo (publicado no dia 27) para entregar a administração do FGTS para Bradesco ou Santander, arrancando este ativo de mais de R$ 300 bilhões da Caixa e acabar com o sentido social que deveria ter esse fundo (claro que utilizado para favorecer empresários “nacionais” sob o lulismo e outras operações menos publicáveis). A colunista econômica do mesmo jornal, Miriam Leitão argumenta como isso será bom para os trabalhadores, oferecendo (momentaneamente) taxas de remuneração mais altas às custas de acabar com financiamento de moradia popular e com o próprio direito ao FGTS no médio prazo. De quebra, a medida colocaria em xeque a existência deste centenário banco público. Mas que importa, como disse o editorial do dia anterior, pode-se vender tudo que não haverá risco à pátria. Sabe-se lá qual.

Quanto poderão avançar em toda esta ofensiva privatizadora e de ataques? Depende da organização da classe trabalhadora

O tempo na política

É hora de avançar e em tudo, dizem os editoriais, os tucanos e outros golpistas. Temer, temeroso ainda da aprovação do impeachment e dos resultados de seu partido nas eleições de outubro tateia o terreno. Vai avançando conforme a correlação de forças permite. Promete mais do que pode cumprir. Acena. Avança, recua quando há mobilizações.

O clamor dos editoriais mostra um sentido de tempo na política. Precisam consolidar em “conquistas” o cenário que tem diante de si agora. Senão tudo pode ter sido em vão. As condições da economia mundial podem mudar tornando ainda pior a situação social e econômica do país, com resultados políticos incertos. Junho ainda pesa como fantasma que ronda. Cada mobilização de juventude trás um germe de sua superação, e uma lembrança daquele 2013. Daí a pressa em reprimir com a PM os secundaristas em São Paulo, a decisão de incentivar gangues proto-fascistas no RJ e monarquistas fascistas propriamente ditos no RS para atacar jovens ocupantes de escolas.

A esquerda brasileira, tributária do PT e uma vã esperança de acúmulos parlamentares e institucionais que garantiriam “passo a passo” um fim das desigualdades ou até mesmo o socialismo não parte desta lógica elementar da importância do tempo e da decisão na política. A burguesia compreende isso. Seja por experiência na luta de classes, seja pelas máximas capitalistas do tipo “Time is Money” que moldam seu pensar.

O tempo dos discursos sindicais de “fora Temer” e “greve geral” que nunca acontece, nem nunca é de fato construída se estreita. A burguesia vê a oportunidade por lutas não dadas e tenta avançar. Poderá?

É tempo de tirar lições da longa trajetória de conciliação de classes promovida pelo PT. E em meio às lições organizar a resistência contra o governo golpista e estes ataques todos, da reforma política às privatizações.




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