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Greve do metrô | A que serve convidar Lula aos piquetes dos metroviários? Um debate em defesa da independência da nossa greve

A presidente do Sindicato do Metroviários chamou Lula para os piquetes da greve do dia 3 contra as privatizações de Tarcísio. Apresentamos aqui um debate contra essa posição e defendemos a manutenção da independência política da nossa greve em relação ao governo, pois esse é o único caminho que pode derrotar as privatizações e o projeto de Tarcísio.

segunda-feira 2 de outubro de 2023 | Edição do dia

Ao mesmo tempo em que a presidente do Sindicato dos Metrovários faz esse chamado a Lula, ele acaba de entregar um ministério ao Republicanos, partido de Tarcísio, reafirmando sua política de conciliação, que fortalece a extrema direita. O governo federal também está fechando um acordo com Tarcísio para repassar R$10 bilhões para o plano de obras do governador de SP que inclui, justamente, a expansão privatizada do metrô e trens.

Recentemente, Lula participou de encontro com o presidente norte-americano Joe Biden para contribuir com a demagogia eleitoral do imperialista Democrata, diante da histórica greve dos trabalhadores das automotivas em Detroit.

Biden, com apoio da burocracia sindical, foi discursar num dos piquetes da greve. Um cálculo eleitoral, pois atualmente tanto democratas quanto republicanos trumpistas percebem o atual peso e força social da classe operária nos últimos anos, principalmente após manifestações de massa como o Black Lives Matter. A demagogia eleitoral está longe de representar algum aspecto progressivo, no principal governo que sustenta a ordem mundial do Neoliberalismo. Principal responsável pela brutal precarização do trabalho. O que ele quer é conter e canalizar a luta dos trabalhadores para a institucionalidade, para sua candidatura eleitoral.

Para o grande engodo, Biden rapidamente convocou Lula. Nada como um ex-sindicalista metalúrgico, com décadas de experiência da conciliação de classes, e chefe de um governo de frente ampla a serviço do capital financeiro e da política imperialista para prestigiar o evento. Depois da visita, Lula declarou: “Ontem quando vi o Biden na porta de fábrica… Acho que precisam me convidar para porta de fábrica para falar com um megafone pros trabalhadores brasileiros”

Rapidamente, a corrente Resistência/PSOL, a partir de uma entrevista da presidente do Sindicato dos Metroviários de SP para a Carta Capital, iniciou uma agitação nas redes sociais convidando Lula para participar dos piquetes da greve unificada dos trabalhadores do Metrô, Sabesp e CPTM, marcada para o próximo dia 03/10.

Perguntamos: a serviço de que está a política de convidar Lula para um piquete da greve?

Alguns poderiam dizer: "Ajudaria muito porque poderia enfraquecer a política de privatização de Tarcísio". O argumento pode ser sedutor, porém não corresponde à realidade. Projetos do governo como o arcabouço fiscal e a reforma tributária provam isso. Liberam de qualquer tipo de teto de gastos as operações financeiras dos estados e municípios para privatizar suas empresas.

Operações essas intermediadas e com participação do BNDES. Aliás, o governo Lula-Alckmin está prestes a assinar um acordo com o governo Tarcísio em SP de 10 bilhões de reais para as obras da privatização da Linha de trem SP-Campinas, e para a expansão privada da linha 2 do Metrô de SP. Sem contar o fato que foi o Governo de Lula concluiu recentemente a privatização do Metrô de BH, e faz a mesma ameaça contra o Metrô de Recife, ambos de empresa federal, ambos enfrentando greves dos metroviários.

Já outros poderiam dizer: "Só a presença dele pode ajudar os trabalhadores". Para mostrar como isso também não correponde com a realidade, vale lembrar que foi o governo do PT que, junto com Alckmin em SP, ajudou a criminalizar a greve dos metroviários em 2014. É o atual governo que mantém intactas as reformas trabalhista e da previdência, a lei da terceirização, que imprimem a realidade do trabalho precário no país e as condições de miséria para uma grande massa de trabalhadores.

O convite é ainda mais problemático quando Haddad, em meio à greve dos estudantes na USP, vai até a universidade defender o fortalecimento das PPPs, que favorecem a iniciativa privada. Além das chacinas da polícia contra a juventude negra no governo petista na Bahia. Ou alguns partidos da base do governo, que foram aliados de Bolsonaro e agora retomam medidas como Marco Temporal contra os povos indígenas.

Enfim, nos parece bem evidente que a presença de Lula num piquete seria só uma cópia mal feita do que Biden fez nos EUA. Muita demagogia e uma política consciente junto à burocracia sindical, tanto lá como cá, de contenção da luta dos trabalhadores, em prol de favorecer os interesses do capital financeiro.

É preciso dizer isso, mostrar esse papel que o governo Lula está cumprindo, para desmascará-lo frente aos trabalhadores que confiam nesse governo. A linha da Resistência/PSOL como maioria da diretoria do Sindicato dos Metroviários, de silenciar sobre ataques do governo e sua política de conciliação com a direita, não dizer nada, e chamar Lula para os piquetes só serve para alimentar mais ilusões. E seria uma forma de comprometer a independência política da nossa greve frente a um governo que também é responsável pelo avanço e manutenção das privatizações.

Assim, ainda colaboram com a política das burocracias sindicais e atuam contra o programa de independência de classe que elegeu a atual diretoria contra a burocracia sindical da CUT-CTB. Afinal, por que será que as centrais sindicais como a CUT, CTB, Força Sindical, UGT que integram o governo de frente ampla, aos invés de fomentar ilusões como essa nos trabalhadores, não organizaram assembleias em suas bases, para transformar a greve unificada do dia 03/10 em uma greve geral de toda a classe trabalhadora paulista contra as privatizações de Tarcísio em SP? Por que a Apeoesp da CUT, que já teve como presidente da central o ministro do Trabalho Marinho e conselheiro de Lula, não unificou a categoria dos professores à paralisação do dia 03, e atualmente dividem as lutas?

Ao invés de convidar Lula, os esforços deveriam estar no sentido de construir os piquetes, fortalecendo a participação e a aliança dos trabalhadores com a população para ampliar ainda mais o rechaço à política de privatizações do governo de extrema direita no estado. Não são as cúpulas dos sindicatos, e nem Lula, que devem falar o que os trabalhadores devem fazer. São os trabalhadores auto-organizados, a partir de um comando de delegados eleitos na base que devem avaliar os rumos do movimento.

E quem deve decidir são os trabalhadores, assim como foi aprovado na última assembleia dos metroviários o chamado para que os sindicatos da CPTM e Sabesp realizem assembleias unificadas e deliberativas dos setores em greve para decidir o rumo do movimento.

Lula não oferecerá nada mais do que demagogia. Os trabalhadores organizados e com independência em relação aos governos e patrões é o que podem derrotar Tarcísio em SP e defender serviços públicos, como o transporte e o saneamento básico, que sejam 100% estatais e controlados pelos trabalhadores e usuários, a serviço de atender com qualidade as demandas da população, e não a serviço dos lucros dos capitalistas.




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