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OPINIÃO | Antes da ruína vem o orgulho, é este o caminho de Cunha?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 24 de julho de 2015 | 00:49

Poucas semanas atrás o presidente da Câmara parecia imbatível. Senhor dos destinos da política nacional e quem poderia em última instância selar os rumos do governo Dilma. Buscando exteriorizar sua responsabilidade nos ataques aos trabalhadores e medidas conservadoras, o governo Dilma e diversos analistas que a apoiam viam uma ascensão imparável de uma “ofensiva conservadora” e Cunha seu líder. Eis que o imparável presidente agora está enlameado em denúncias de corrupção, isolado em seu próprio partido e na oposição e com seu futuro em risco.

Ao contrário destas análises interessadas, que para qualquer rigor deveriam situar esta “ofensiva conservadora” no meio do lulismo desde onde Cunha, Feliciano e muitos outros aliados foram “se crescendo”, analisávamos que o poder do ex-articulador de Collor e ex-radialista evangélico vinha não de suas fortalezas mas da fraqueza dos outros. Em artigo dizíamos que além de um “bom kit” de artimanhas à la Frank Underwood do seriado House of Cards sua força vinha da fraqueza do PT e que por mais forte eleitoralmente que estivesse o PSDB não tinha força para se impor, e que deste “empate” provinha a força do PMDB e de todo fisiologismo do regime se fortalecia.

Ao ver-se envolvido na operação Lava Jato o presidente da Câmara e terceiro nome da sucessão presidencial saiu atacando tudo e todos. Atacou o juiz Moro, atacou o procurador geral da República Janot acusando-o de estar servindo o governo Dilma ao lhe colocar no processo, e não contente rompeu publicamente com o governo Dilma, declarando-se opositor. Não só do petismo mas de seu próprio PMDB surgiram vozes exigindo sua renúncias como de Jarbas Vasconcelos (deputado por Pernambuco). Um dos governadores do PMDB que é mais opositor, Hartung do Espírito Santo, declarou que havia “vozes da insensatez” no parlamento em crítica indireta a Cunha.

Do Rio de Janeiro, de onde vem Cunha, o governador Pezão, também do PMDB, foi mais claro ainda, disse que a atitude de Cunha “não soma nada”, e que a posição do partido é de “seguir o presidente do partido Michel Temer”. Um aliado de Cunha, importante voz no movimento “Aezão” que dividiu o apoio na campanha do governador Pezão com o voto em Aécio, o líder do PMDB na Câmara, Picciani também do Rio, declarou que não acompanharia Cunha nesta “ruptura”. Isolado Cunha buscou divulgar no O Globo whatsapp que Cabral, Pezão e Paes teriam lhe enviado. O apoio do ex-governador Cabral é algo tão cobiçado no mundo político de hoje como o apoio de Dilma, e esta tentativa de mostrar-se apoiado para quem mostrava-se todo-poderoso, tal como todos seus ataques a instituições do regime, mostram a fraqueza do deputado.

Sob ataque e isolado apresenta-se uma encruzilhada a ele: será ele um novo Roberto Jeferson ou um novo Severino Cavalcanti que fez barulho mas sumiu da política nacional deixando pouco impacto. Assumirá ele suas responsabilidades e buscará levar outros junto como fez o primeiro, aumentando a crise política nacional, ou depois de uma rápida ascensão este representante do “baixo clero” como Severino pode voltar a seu desconhecimento sem produzir maiores abalos?

De todo modo algo já parece estar ficando claro em toda a ascensão meteórica de Cunha, sem nenhuma base de sustentação real além da combinação de fatores que lhe deram espaço, sua astúcia e a soberba como destratou todos oponentes e inclusive aliados. Estas “qualidades” individuais eram uma fortaleza na ascensão, podem ser justamente motivo para maior isolamento e queda. Cunha parece não ter aprendido muito do ex-governador de seu Estado que se auto-cogitava vice-presidente na chapa de Dilma destronando Temer, até que vieram as jornadas de junho e colocaram sua popularidade no chão, também não parece ter aprendido do personagem ianque que muitos lhe compararam, inclusive este autor, nem mesmo ele parece ter aprendido algo com um provérbio bíblico de seu tempo de radialista evangélico: “antes da ruína vem o orgulho, e antes da queda a presunção” (Provérbios 16: 18).

Será este seu desfecho? Qual caminho ele optará em sua crise? Roberto Jeferson ou Severino? Ou alguma combinação destes personagens com mais arriscadas manobras oposicionistas em meio a denúncias de corrupção contra si mesmo? Algo é certo além de franco-atirador ele será também alvo trazendo mais elementos complicadores na já complicada e dinâmica situação política nacional.




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