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Apresentamos a revista Ideias de Esquerda: Feminismo e Marxismo, que será lançada neste mês

Diana Assunção

Apresentamos a revista Ideias de Esquerda: Feminismo e Marxismo, que será lançada neste mês

Diana Assunção

Nesta edição, na semana do 8 de Março, compartilhamos uma prévia da apresentação da revista Ideias de Esquerda: Feminismo e Marxismo, que será lançada neste mês pelo grupo de mulheres Pão e Rosas. Como a apresentação demonstra, a revista contará com diversos artigos teóricos, entrevistas e debates, visando contribuir com a defesa de um feminismo socialista no Brasil e no mundo de hoje. Esta apresentação foi escrita por Diana Assunção, dirigente nacional do Movimento Revolucionário de Trabalhadores e fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas no Brasil. Ela é organizadora do livro “A precarização tem rosto de mulher” e autora do prólogo do livro “Rosa Luxemburgo – pensamento e ação”, publicado pela editora Boitempo e Edições ISKRA, também ministrante do curso “Rosa Luxemburgo” no Campus Virtual do Esquerda Diário.

Nesta edição especial da Revista Ideias de Esquerda apresentamos o grupo de mulheres Pão e Rosas, um grupo de mulheres em ação na luta de ideias e na luta de classes. Em uma situação internacional convulsiva na qual se reatualizam as tendências gerais da época imperialista definida por Lênin como uma época de crises, guerras e revoluções, os debates sobre a luta das mulheres, negros, LGBTQIAP+ e indígenas se colocam na ordem do dia porque são os setores da classe trabalhadora e das massas exploradas e oprimidas mais atacados pelas crises e porque se renovam as múltiplas vertentes teóricas e políticas para apresentar novas hegemonias para os grupos socialmente subordinados no capitalismo.

Contra este sistema de opressão e exploração que se renova na escassez, mesmo diante do desenvolvimento das novas tecnologias, que se potencializa com o ressurgir das ideologias de extrema direita e assombra com os novos cenários de guerra e destruição que vemos com a guerra na Ucrânia ou o massacre do Estado de Israel na Palestina, retomamos com força o melhor do feminismo socialista e da tradição de Marx, Engels, Lênin, Trótski, Gramsci, Rosa Luxemburgo e Clara Zetkin. Isso passa por colocar na ofensiva as ideias do marxismo revolucionário na nossa época, recriando o imaginário socialista de forma não dogmática para construir um caminho efetivamente revolucionário contra as saídas reformistas. Falar de feminismo socialista no século XXI significa erguer o anti-imperialismo com toda força e reafirmar a relação intrínseca entre a luta contra a exploração capitalista e a luta contra todas as formas de opressão. Queremos apresentar a todes o nosso feminismo, o feminismo socialista, e por isso começamos esta revista com a seção Conheça o Pão e Rosas.

Ao mesmo tempo, não é suficiente enfrentar o feminismo liberal das mulheres burguesas que querem explorar com igualdade de direitos para elas. É preciso também, em outro âmbito, empreender uma luta teórica e ideológica com as múltiplas vertentes que apresentam distintas táticas e estratégias para a luta das mulheres, mas sem superar o status quo capitalista. No processo de enfrentamento às opressões nesta sociedade de classes haverá os obstáculos dos nossos inimigos e adversários de cunho fascista e bonapartista de direita que renovam o ódio de classe contra as mulheres, negros, LGBTQIAP+ e indígenas. Mas esse cenário não pode apagar do horizonte o objetivo da revolução socialista, substituindo-a pela luta contra a extrema direita como fim em si mesmo, o que leva, necessariamente, ao beco sem saída da Frente Ampla, que, com suas negociações e alianças, fortalece o caminho para a própria extrema direita.
Que o governo Lula-Alckmin tenha subido a rampa no dia de sua posse com uma mulher negra, um indígena, uma LGBTQIAP+ e uma PcD, e apenas um ano depois estejamos diante de uma reforma trabalhista e da previdência que seguem intactas, de um arcabouço fiscal que é um novo “teto de gastos”, de mortes da população yanomami, um marco temporal nos ameaçando, direito ao aborto negado, o avanço de privatizações em São Paulo com anuência do governo federal e tantas chacinas acontecendo, inclusive nos estados governados pelo PT, é uma mostra de que a imagem da representatividade pode andar de mãos dadas com a manutenção de ataques e a convivência com aliados que retiram nossos direitos. Muitos feminismos de distintos tipos, que inclusive se colocam no campo anticapitalista, estão hoje defendendo a política desse governo e abrindo mão de uma política de independência de classe. Por isso, é urgente esse debate teórico no feminismo para tirar lições para a ação prática, buscando as experiências atuais da luta de classes que mostram um caminho distinto, como a luta na Argentina.

Esta revista também está a serviço desse objetivo. Para resgatar o melhor da tradição revolucionária do marxismo sobre a luta das mulheres, junto a esta edição especial lançamos o novo curso do Campus Virtual do Esquerda Diário Mulheres, revolução e socialismo, inspirado na publicação de mesmo nome, organizada por Josefina L. Martinez e Diana Assunção, e lançada pelas Edições ISKRA. Trata-se da maior coletânea de textos sobre feminismo e marxismo publicados em língua portuguesa. Para analisar a fundo a situação política nacional e a encruzilhada do feminismo institucional, Odete Assis, mestranda da UFMG, apresenta os dilemas do caminho institucional do feminismo no artigo Reconstruir o país com Lula e a Frente Ampla ou batalhar por um feminismo socialista independente dos governos e patrões?. Pela centralidade e urgência do combate à crise ambiental e da defesa da luta dos povos indígenas, Cristina Santos, professora em Recife, e Rosa Linh, estudante da UnB, demonstram a relação entre essas lutas e o marxismo revolucionário no artigo Patriarcado e crise ambiental: mulheres e povos indígenas na mira do capital. Flavia Valle, professora em Belo Horizonte, levanta a bandeira do povo palestino em debate com as visões decoloniais com o artigo A solidariedade ao povo palestino não pode aguardar a virada epistêmica: um debate com visões feministas decoloniais.

Para nos inspirarmos sobre os caminhos da luta de classes contra a extrema direita, apresentamos uma entrevista com a fundadora do grupo de mulheres Pan y Rosas na Argentina, Andrea D’Atri, sobre os desafios na luta contra o governo Milei e a perspectiva de uma esquerda independente com o papel do PTS, organização irmã do MRT na Argentina. Em um rico processo de resgate às raízes do debate sobre a elaboração da questão negra no Brasil, Flávia Telles, professora em Campinas, e Letícia Parks, mestranda da USP, apresentam o artigo O feminismo de Lélia Gonzalez: pioneirismo e diálogos com o marxismo na interpretação do Brasil. Também trazemos um documento histórico, com extratos do Manifesto da Frente de Ação Revolucionária, publicado em 1971, ao calor do ascenso de luta de classes no mundo, com uma introdução de Marie Castañeda, professora de Natal, ressaltando a relação entre as lutas pela libertação sexual dos LGBTQIAP+ e a luta de classes. Como não poderia deixar de ser em uma revista feminista socialista, Mari Duarte, estudante da USP, e Giovana Pozzi, estudante da UFRGS, apresentam o artigo 100 anos da morte de Lênin: lições para pensar os desafios da luta das mulheres, ressaltando o papel da Revolução Russa para a luta das mulheres e desmascarando também toda a deturpação stalinista. Vitória Camargo, mestranda na Unicamp e diretora desta edição da revista Ideias de Esquerda, apresenta uma rica elaboração sobre a precarização do trabalho, em diálogo com o feminismo da reprodução social, que fundamenta a campanha central do nosso grupo de mulheres, contra a terceirização e a precarização, com o artigo Entre a produção e a reprodução: o lugar da massa precária feminina no Brasil, à luz d’O Capital.

Temos a honra de ter em nossa revista entrevistas com intelectuais reconhecidas no debate de gênero e classe. Pudemos contar com a participação da filósofa Helena Hirata na entrevista Há uma transversalidade entre o trabalho industrial e o mundo doméstico. Com Josiane Santos, professora da UFRN, na entrevista A retomada institucional da pauta indígena e socioambiental tem sido muito mais midiática do que factual. E com Maria Helena Machado, professora da USP, na entrevista O custo da reprodução da mulher escravizada jamais foi computado na história do capitalismo. Também Giovanna Magalhães, doutoranda do Direito da USP, e Valdete Severo, professora da UFRGS, tratam do novo PL dos Aplicativos do governo, um verdadeiro PL da Uberização, e sua relação com as mulheres, fortalecendo elementos para nosso combate a essa medida de precarização do trabalho, com seu Onde estão as mulheres no PL dos Aplicativos?. Debates que enriquecem o intercâmbio teórico de ideias que queremos fomentar como Pão e Rosas.
E por sermos um grupo de mulheres em ação também buscamos mostrar nossa atuação prática nas lutas. Com o artigo As metroviárias de São Paulo como parte de uma vanguarda da classe trabalhadora na luta contra as privatizações, Marília Rocha, Larissa Ribeiro e Fernanda Peluci, metroviárias do Movimento Nossa Classe, contam as batalhas que fizeram parte nas três greves unificadas contra as privatizações de Tarcísio de Freitas. Da mesma forma contamos com uma entrevista feita por Marcello Pablito, militante do Quilombo Vermelho e diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, e Bianca Rozalia, estudante da USP, com Silvana Ramos, trabalhadora terceirizada e linha de frente das lutas contra a terceirização na USP, mostrando que é preciso lutar de forma unificada contra a terceirização. Apresentamos também uma entrevista por Marcella Campos, professora efetiva da rede estadual de São Paulo, com Tatiane Lima, professora Categoria O em Santo André e conselheira da Subsede da APEOESP de Santo André, relatando as batalhas das professoras contratadas contra toda a precarização. Como parte de uma batalha ferrenha do nosso grupo de mulheres que sempre esteve na luta contra a violência policial, publicamos a emocionante carta de Ana Paula, das Mães de Manguinhos no Rio de Janeiro, cujo filho de 19 anos, Johnatha, foi assassinado por um policial com um tiro nas costas e o caso terminou impune. Diante de uma dor dilacerante, queremos contribuir para que se ouça sua voz, de uma mulher que disse também que lutar é a forma de exercer a maternidade que lhe foi arrancada: “que ele tenha certeza de que me levantarei novamente sendo a voz dele nesse mundo de tantas desigualdades e injustiças porque o que me move é muito maior e mais forte que tudo isso”. Ana Paula, estamos com você, essa luta também é nossa.

Debatendo também no âmbito da cultura: apresentamos uma elaboração sobre Carolina Maria de Jesus, Carolina Maria de Jesus: um retrato do Brasil entre despejos e desejos, escrita pelos estudantes da USP Laura Sandoval e André Higa. Nesta edição será possível conhecer os títulos da Coleção ISKRA Mulher das Edições ISKRA e também nosso Podcast Feminismo e Marxismo, o maior catálogo de feminismo e marxismo nas plataformas digitais do país.

Convidamos todas, todos e todes a adentrar as páginas desta revista e se envolver nesse debate de ideias e, mais do que isso, a fazer parte do grupo de mulheres Pão e Rosas. Nestas páginas estão parte dos debates teóricos que balizam a atuação de um grupo internacional de mulheres que existe não somente no Brasil, mas na Argentina, Chile, México, Venezuela, Bolívia, Peru, Costa Rica, Uruguai, Estados Unidos, França, Itália, Estado Espanhol e Alemanha, dialogando com companheires em outros países. Junto a esta revista panfletaremos o Manifesto contra a terceirização e precarização do trabalho em uma grande campanha em defesa das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados, que já conta com milhares de assinaturas. E as estudantes que escrevem nesta revista constroem também a Faísca Revolucionária nas universidades e escolas como uma juventude revolucionária, subversiva, combativa e pró-operária. Muitas das militantes que construímos este grupo de mulheres começamos a militar por um “íntimo desejo de mudança e progresso”, como dizia Trótski, que só pode ser alcançado pela luta revolucionária. Para isso, é preciso entrar em ação. Entremos em ação coletivamente e com a teoria revolucionária que mais pode nos conduzir à luta por um novo mundo.

Por tudo isso, construir o Pão e Rosas significa construir um grupo de mulheres com uma perspectiva anti-imperialista e internacionalista em defesa do povo palestino, um grupo de mulheres que vibra ao lado da luta da classe trabalhadora Argentina, um grupo de mulheres que está em todas as lutas, nos piquetes, ocupações, greves e manifestações lado a lado da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, enfrentando-se com a polícia e a repressão para lutar pelos direitos mais elementares da nossa classe, das mulheres e de todos os setores oprimidos mas também para colocar na ordem do dia a luta pelo comunismo, para abrir espaço a uma sociedade completamente livre de toda exploração e opressão, onde efetivamente tenhamos direito ao pão e às rosas.

Apresentação atualizada em 22/3/2024.


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Diana Assunção

São Paulo | @dianaassuncaoED
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