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INDÚSTRIA CULTURAL | Blackout Tuesday: indústria cultural e apaziguamento da revolta convertidos em imagem pelas redes sociais

Em algumas poucas horas, Apple, Spotify, Sony, Netflix, entre outras, conseguiram materializar o que por vezes é tão difícil perceber. Afinal, quando podemos ter a chance de mostrar o apaziguamento da revolta provocado pela indústria cultural de forma tão concreta quanto hoje?

terça-feira 2 de junho de 2020 | Edição do dia

Nessa terça-feira, várias empresas como o Spotfy, Apple e outras, fizeram o chamado de um blackout tuesday, convocando seus artistas a que publicassem fotos pretas, sem nenhum conteúdo, sob a hashtag #BlackOutTuesday e #BlackLivesMatter. Alguns artistas preencheram toda a sua timeline recente com essas hashtags e imagens, e a replicagem de postagens gerou uma publicação massiva dessas mesmas imagens em toda a rede social, o que fez com que em poucas horas, a hashtag #BlackLivesMatter, até então preenchida de imagens de fúria, ódio, luta radical e saques, se tornassem imagens vazias de qualquer conteúdo.

A entrada das empresas - e a convocação a seus artistas - mostra a força do movimento que vimos começar em solo norte-americano e se expandir por todo o globo - inclusive no Brasil, que desde domingo é palco de marchas antifascistas muito mais numerosas do que as tímidas aparições fascistas e bolsonaristas durante o isolamento. Mas essa ação mostra também que tentam canalizar o ódio dos negros para dentro das instituições e da industria cultural. O que parece ser apenas a repetição de uma prática já tradicional da indústria cultural, hoje foi possível ver se materializar em imagens.

Materialmente, a iniciativa proposta por eles teve o efeito que simbolicamente os antirracistas marxistas sempre denunciam que há quando as empresas capitalistas entram na cena da nossa luta contra o racismo. Em algumas poucas horas, Apple, Spotify, Sony, Netflix, entre outras, conseguiram materializar o que por vezes é tão difícil perceber: que ao assumir demagogicamente o nosso "lado", estão intrinsecamente tentando apagar nossas lutas de qualquer caráter radical e de nossos movimentos. Hoje, esse apagamento se mostrou na prática: a postagem massiva das imagens vazias, só com a cor preta, dissolveu o que até ontem era possível ver na hashtag #BlackLivesMatter, que eram as imagens de incêndios, atos, apoios, fúria e revolta negra.

A identidade negra e a fúria antirracista, entretanto, estão com seus dias de apagamento e atenuação contados. A pandemia trouxe à superfície a face mais cruel do racismo e de seu uso pela máquina capitalista e imperialista. Não tardará muito para que as imagens vazias das redes sociais voltem a se preencher, mais numerosas e mais internacionais, dessa luta que transborda do sufocamento e do tiro e ocupa ruas em todo o mundo.

O que agora se entra e são apenas quadrados pretos, filmes de princesas negras e livros de história de esquecimento, espero que rapidamente possam ser as imagens da criação de um novo futuro, um futuro que caberá aos cineastas, músicos, poetas e romancistas elaborarem, sob o incêndio da indústria cultural capitalista, essa prisão que hoje nos limita.




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