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Congresso estudantil | CONUNE: palanque pro governo de frente ampla e golpistas de 2016, nenhum plano de luta aprovado

Nos últimos dias, de 12 a 16 de julho, ocorreu o 59° Congresso da UNE (CONUNE) em Brasília. Nós da Juventude Faísca Revolucionária estivemos presentes atuando com uma delegação comunista por uma UNE independente dos governos e reitorias e fomos a corrente que rechaçou a presença do Ministro do STF Barroso, inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016, ação que teve transcendência em toda a imprensa do país. Apresentamos aqui algumas conclusões a serem tiradas desse Congresso e a necessidade de colocar de pé uma nova tradição no movimento estudantil.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Giovana PozziEstudante de história na UFRGS

quarta-feira 19 de julho de 2023 | 00:26

1. Um Congresso burocrático marcado pela subordinação e integração da UNE ao governo e ao Estado burguês, o que só não foi sem obstáculos pela ação da Faísca que teve impacto nacional

Toda burocratização que vimos ocorrer no conjunto do processo para o 59° Congresso da UNE estava fundamentada em um objetivo político da majoritária (UJS, PT e Levante): garantir a subordinação da principal entidade estudantil da América Latina ao governo de frente ampla Lula-Alckmin e aos gostos do regime político, adestrando a luta dos estudantes ao que querem os grandes empresários e as grandes instituições. O CONUNE em si comprovou isso. Logo na abertura do Congresso, um dos convidados foi o Ministro do STF Luís Roberto Barroso, inimigo dos trabalhadores da enfermagem e articulador do golpe institucional de 2016. Mas ao contrário de ser uma grande comemoração da frente ampla e da conciliação que abre espaço para a extrema direita, o que pautou esse dia e repercutiu em todos os jornais (veja aqui a repercussão) foi o fato de que tinha uma juventude comunista e trotskista, a Faísca Revolucionária, que escorraçou Barroso fazendo ecoar a luta dos trabalhadores e da juventude que não tiveram espaço nesse congresso. O impacto foi tamanho que não só a imprensa foi pautada por essa atuação da Faísca, como também o ministro Barroso teve que responder o repúdio com sua cara de tacho e mentiras esfarrapadas, uma resposta que chegou a gerar elementos de crise institucional. Ou seja, foi a partir desse protesto da juventude Faísca, com uma crítica de esquerda correta e necessária contra a presença do autoritário e racista STF, que o CONUNE ganhou projeção nacional. Se não fosse isso, este Congresso não teria passado de mera reafirmação da política da majoritária.

Veja também: Entrevista “Porque vaiamos Luís Barroso no 59º Congresso da UNE: palanque para capitalistas”

Já no segundo dia, o centro foi a atividade com Lula e Camilo Santana, defensores do Novo Ensino Médio, entre outras figuras do governo de frente ampla, e novamente batalhamos para que o papel dos estudantes não fosse ouvir passivamente aqueles que dirigem esse Estado capitalista. Fomos praticamente uma das únicas organizações que se recusou a entrar no ginásio, construindo do lado de fora um ato onde efetivamente poderia ter espaço a crítica à conciliação que abre espaço para a extrema direita, assim como a necessidade de colocar abaixo o arcabouço fiscal de Lula-Alckmin e o novo ensino médio.

No terceiro dia, o grande ato do Congresso foi em torno da defesa da redução de juros em frente ao Banco Central, colocando os estudantes para ser massa de manobra de um programa de um setor da burguesia enquanto a dívida pública permanece intacta. Não comparecemos a esse ato, buscamos intervir nas mesas em diálogo com os estudantes apesar da burocracia tentar proibir nossas falas e fomos parte dos setores da esquerda que expulsaram os liberais da UJL dos debates. Mas como se não bastasse todos esses elementos, entre os convidados para as mesas de debates, vimos inúmeros reitores e até mesmo Carlos Fávaro, Ministro da Agricultura inimigo dos povos indígenas e do MST, que depois de toda repercussão da ação que fizemos na abertura contra Barroso, foi desconvidado pela direção da UNE que apagou seu nome da divulgação da UNE. O que só pode ser explicado pelo medo da burocracia de que sua política de abrir espaço para a direita pudesse ser mais um foco de crise, pois já estava claro que existia um setor dentro do Conune que se enfrentava com essa política e estava ganhando a simpatia de uma parte dos estudantes do Congresso. Afinal, a maioria de nós estudantes tínhamos nosso direito de fala retirado, diminuído e dificultado pela burocracia, sem contar as péssimas condições do alojamento para os setores que não compunham a majoritária, a falta de alimentação e diversos problemas de organização.

2. Não houve nenhum debate sobre os ataques em curso: Congresso da UNE termina sem nenhum plano de luta

Vimos então um verdadeiro palanque aos representantes da burguesia, ao governo Lula-Alckmin, ao STF e às reitorias. Mas e os estudantes? E os ataques em curso como o Arcabouço Fiscal, o Novo Ensino Médio ou o Marco Temporal? Sobre alguns desses ataques falavam palavras ao vento. Nenhuma das mesas ou atos foram organizados para discutir esses ataques e a necessária construção de um plano de lutas para derrotá-los. Após anos de bolsonarismo, a juventude está mergulhada em uma profunda precarização, especialmente as mulheres, os negros e os LGBTQIAP+, com os cotistas sendo expulsos das universidades por falta de permanência estudantil em meio à crise orçamentária das universidades federais. Mas mesmo assim, o primeiro Congresso nacional de estudantes após o governo Bolsonaro e a pandemia, não serviu para preparar o movimento estudantil com uma política, um programa e uma estratégia para superar essa situação. E o silêncio é revelador. O arcabouço fiscal é um ataque neoliberal articulado diretamente pelo PT, todas as organizações do campo majoritário são compostas por partidos que defendem essa política que é um novo teto de gastos que comprime o investimento público para seguir enriquecendo o bolso de empresário e banqueiro. O Novo Ensino Médio, por sua vez, é um ataque direto ao pensamento crítico nas escolas e representa a precarização do ensino público pros jovens e do trabalho dos professores. É criminoso que Lula e Camilo Santana tenham se comprometido a não revogar o NEM. E o Congresso da UNE de 2023 sequer citou uma palavra sobre isso justamente porque sua direção está imersa nesse governo e assim quer nossa entidade, um braço direito para Lula e Alckmin, o Congresso e o STF passarem sua boiada sem preocupação com a revolta dos estudantes.

3. O fim da antiga oposição de esquerda e a atual “oposição que o governo gosta”

Diante disso, este CONUNE decretou o que já vinha ficando claro faz um tempo: o fim da antiga oposição de esquerda. O PSOL, que está diretamente dentro do governo de frente ampla, mostrou o aprofundamento da sua adaptação ao PT e as instituições do regime com suas intervenções primando pela ausência de críticas a Lula, mas também com uma importante divisão das suas juventudes em dois setores. Um composto pela Juventude sem Medo, encabeçada pelo Afronte junto com RUA, Fogo no Pavio e Manifesta, que sequer se reivindicam oposição e votou junto com a burocracia majoritária a resolução de conjuntura, dando continuidade à profunda adaptação dessa corrente que já saiu unificada com UJS e PT nas eleições em várias universidades do país, e que se incomodou mais com a atuação da Faísca no Conune do que com a presença de figuras como Barroso. Já o outro setor do PSOL, encabeçado pelo Juntos, tenta manter um discurso de independência apesar de serem um dos setores mais embadeirados desse partido que está no governo, e no Conune manteve sua aliança com os stalinistas indo atrás da Correnteza/UP. Estão na oposição que o governo gosta, com a principal porta voz da Correnteza/UP tirando foto com Lula e Barroso, uma organização que junto com UJC/PCB, estão em vários sindicatos se aliando a essa mesma burocracia que hoje controla a UNE, demonstrando na prática o que significa sua tradição stalinista de conciliação de classes. Um setor que dirige diversos DCEs pelo país, mas nunca se colocaram de fato como um contraponto a majoritária, inclusive se colocando contra a realização de espaços democráticos de base, como assembleias para organizar a luta dos estudantes. Como essas organizações se propõem a ser oposição se nos DCEs e entidades que dirigem não se colocam na prática como alternativa à majoritária da UNE? Se no próprio CONUNE sequer levantaram uma política real de independência de classe e se diluíram em todos os espaços onde o que primava era a política institucional e de conciliação da majoritária? Vale dizer que o Vamos à Luta (CST) saiu do PSOL para terminar no CONUNE entrando na “oposição que o governo gosta” sendo dirigidos pela Correnteza/UP. E a Rebeldia (PSTU) se negou a fazer qualquer bloco comum pela UNE independente e votaram nesta mesma oposição. É preciso dizer ainda que foi justamente essa política adaptada de diluição dentro da frente ampla que debilitou a oposição de esquerda, abrindo mais espaço para a majoritária desde o último CONUNE. Mesmo assim, estes setores que se colocam como oposição seguem optando pela adaptação à conciliação.

4. É urgente fundar uma nova tradição no movimento estudantil

Nós da Juventude Faísca Revolucionária viemos chamando todes estudantes e organizações que querem ser uma alternativa real à burocracia da majoritária a construirmos uma nova oposição independente e antiburocrática. Esse Conune só reforça essa necessidade e queremos batalhar em comum com outros setores que também não concordam com a subordinação da UNE aos governos e reitorias para que possamos fundar uma nova tradição no movimento estudantil. A aliança com os trabalhadores é a unidade que tem força para vencer, e não a unidade da frente ampla com a direita e golpistas de todos os graus. A emoção e empolgação das trabalhadoras da enfermagem vendo o enfrentamento que a Faísca fez contra Barroso no CONUNE, em defesa do piso e das suas lutas, comprova isso.

Agora voltaremos para nossas universidades dialogando com o conjunto dos estudantes sobre como esse Conune reafirma a necessidade de fundarmos uma nova tradição de movimento estudantil. Diante de uma crise capitalista que é incessantemente descarregada nas costas da juventude, da classe trabalhadora e de todos os setores oprimidos, com a burguesia e seus governos nos dizendo que não teremos futuro, nos relegando apenas a miséria do possível dentro deste regime apodrecido, batalhar por uma alternativa que se enfrente contra os ataques desde uma perspectiva comunista, que conecta cada uma das nossas lutas com a necessidade da revolução operária e socialista, impulsionando a organizando dos estudantes ao lado da classe trabalhadora e de todos os setores oprimidos é uma grande tarefa que está colocada para nossa geração. Nós da Faísca Revolucionária chamamos todes estudantes a construir com a gente uma alternativa revolucionária e comunista no movimento estudantil.




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