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Campanha salarial | Conclusões de uma oportunidade perdida: Como avançar na luta contra a privatização do Metrô de SP?

Apresentamos um balanço do Movimento Nossa Classe sobre o encerramento da nossa campanha salarial, que conquistou demandas econômicas fruto da mobilização da categoria e da defensiva do governo após a nossa última greve. Por isso acreditamos que estava colocada uma oportunidade de avançarmos na defesa por contratações para colocar em xeque os planos privatistas do governador Tarcísio e da empresa. Fazemos esse debate, num momento também em que o governo Lula-Alckmin promove ataques e mantém a agenda de privatizações, com apoio das principais centrais sindicais. Nesse sentido, no sindicato dos metroviários, que não faz parte desse pacto, consideramos importante abrir essa discussão em especial com os setores majoritários da diretoria (Resistência/PSOL e PSTU). Na nossa opinião, deixaram essa oportunidade escapar, contando com apoio da ex-Chapa 1 (CTB), e buscamos contribuir para preparar a nossa organização desde a base para o próximo período.

segunda-feira 26 de junho de 2023 | Edição do dia

A força da nossa última greve como um saldo político importante para a campanha salarial

Nossa categoria iniciou o ano protagonizando o primeiro grande enfrentamento com o governo de extrema direita do Tarcísio. Com uma forte greve que ultrapassou as demandas econômicas, exigindo contratações e que questionava o projeto privatista do Metrô e do governo, contou com forte apoio da população e foi capaz de fazer recuar o governo e a empresa. Com a defesa por parte dos metroviários em liberar as catracas e a tentativa traiçoeira e mentirosa de manobra do governo a esse respeito, conquistamos o pagamento de um abono salarial.

Naquele momento nós, do Movimento Nossa Classe que compomos a diretoria do sindicato como minoria, defendemos continuar em greve em defesa das contratações. Mas também reconhecemos um saldo político que ficou da demonstração de força, da experiência de organização, e do desgaste imposto ao governo, que só quer entregar os lucros nas mãos de grandes empresários e consórcios privados do transporte, com a ampliação da terceirização e precarização do trabalho, gerando cada vez mais transtornos e insegurança à população que paga altas tarifas. Somente na operação há uma defasagem de mais de 1200 funcionários, e o próprio Codec (órgão ligado à Secretaria da Fazenda do Estado) reconheceu recentemente que o Metrô tem 2778 vagas em aberto, precisando de contratações para serem preenchidas, enquanto o desemprego segue alto em nosso país.

Campanha salarial: Tivemos conquistas econômicas, mas perdemos uma oportunidade política de avançar por contratações e contra a privatização, e encurralar Tarcísio

É partindo dessas lições que iniciamos a campanha salarial em maio, onde o eixo de nossas demandas também era o de contratação, que estamparam nossos coletes e contou com bastante apoio da população. Além de outras pautas importantes como a reposição das perdas econômicas que se deram principalmente durante a pandemia, o pagamento das progressões salariais (Steps) e PRs atrasadas, assim como a defesa do bilhete de serviço a todos os terceirizados para garantir a entrada gratuita desses ao metrô da mesma forma que já é aos metroviários efetivos, como você pode ver no vídeo abaixo:

Nossa campanha também foi pautada na exigência de retirada das punições aos operadores de trem das linhas 1, 2 e 3 que foram perseguidos politicamente por meio de punições por parte da empresa ao se negarem a oferecer o treinamento anti-greve às chefias. O que além de ferir o nosso direito de greve, ainda colocaria em risco a população. Assim como exigimos a retirada de ameaça de demissão dos operadores do Monotrilho.

A empresa, por outro lado, ofereceu poucas concessões econômicas e que não chegavam nem perto de recuperar as perdas da pandemia. E uma proposta que não garantia nenhum compromisso sério com a contratação de novos agentes de estação, cargo que vem sendo atacado na tentativa de ser extinto. Não aceitavam readmitir os metroviários desligados em 2019 e 2020, mantiveram a ameaça de demissão dos trabalhadores do Monotrilho e seguiam ignorando nossa reivindicação em defesa dos trabalhadores terceirizados.

Desde início de maio, nós do Movimento Nossa Classe viemos defendendo que era preciso aprovar um estado de greve que pudesse preparar a nossa mobilização para uma forte greve em defesa de nossos direitos e condições de trabalho, em aliança com a população e com os setores mais precários, como são os terceirizados. Porém essa não foi a linha dos setores majoritários do nosso sindicato (Resistência/PSOL e PSTU), que defenderam por estender a campanha e somente marcar um indicativo de greve para o dia 13 de Junho.

Instantes antes do início de nossa assembleia, no dia 12 de junho, a empresa envia um comunicado à categoria onde propõe um aumento do teto de pagamento de PR, além de uma nova redação que continuava sem constar garantia clara de contratações. Fez isso em resposta a um e-mail do sindicato pedindo uma proposta de aumento da PR para chegar a um acordo, sem mencionar a garantia de contratações ou qualquer outro ponto das reivindicações - uma iniciativa que, como debatemos mais abaixo, não passou pela diretoria do sindicato, e consideramos um erro importante Já estava claro que o governo e a empresa estavam trabalhando para evitar uma paralisação, uma vez que já vinham desgastados da nossa última greve e também estavam na defensiva diante dos inúmeros casos de falhas e acidentes graves nas linhas privatizadas da CPTM.

É nesse cenário que defendemos que deveríamos manter a nossa greve para o dia seguinte, uma vez que ali estava colocada a oportunidade de avançarmos para além das conquistas econômicas e encurralar politicamente o governo Tarcísio, com centro na luta por contratações, e defendendo também a readmissão dos demitidos de 2019/20 e o bilhete de serviço aos terceirizados. Em especial a contratação dos funcionários que estão faltando seria um forte golpe contra o avanço da privatização dos transportes, em aliança com a população. Em um momento em que o governo está na defensiva em relação a este tema. Uma oportunidade que infelizmente os setores majoritários do nosso sindicato (Resistência/PSOL e PSTU) nos levaram a perder, mesmo com ampla cobertura da mídia da nossa assembleia e o apoio que vinha se expressando da população à nossa mobilização, e defenderam pela aceitação das propostas do Metrô e o encerramento da campanha salarial.

Aqui está o vídeo de Felipe Guarniere defendendo este conteúdo na assembleia:

A assembleia se encerrou com uma ampla participação de votantes e também com a maioria da categoria optando por aceitar o encerramento da campanha salarial. Destes, uma parcela importante de mais de 750 votantes (24%) optou pela greve.

E, imediatamente após esse desfecho da campanha salarial, Tarcísio fortalece o discurso de avançar na privatização de todas as linhas do Metrô. Concederam o aumento na PR justamente porque isso não se contrapõe a esse seu objetivo estratégico. Diferente da garantia de contratação em massa, que poderia impor um freio ao avanço dessas medidas privatistas.

Mexeu com um mexeu com todos! Abaixo a Demissão de Leandro!

No dia seguinte após o encerramento da campanha salarial, Leandro, metroviário da manutenção do Pátio Jabaquara do Metrô de SP, do setor da pintura, foi arbitrariamente demitido por justa causa pela empresa sob a justificativa falaciosa de ter mentido em depoimento dado por ele em um processo sobre insalubridade. Uma atitude totalmente anti sindical, de perseguição política contra Leandro, visto que ele é representante eleito da CIPA e também diretor do Sindicato dos Metroviários na atual gestão. Um ataque contra não somente Leandro, mas desferido também contra a organização dos trabalhadores. Nós do Nossa Classe nos solidarizamos com o companheiro e defendemos a centralidade da luta pela sua readmissão.

Um debate com a maioria do sindicato: deixaram de lado a luta pelas contratações, por fora da democracia operária

Achamos importante abrir um debate com os setores da diretoria de nosso sindicato, Resistência/PSOL e PSTU, que atuaram pelo fechamento da campanha sem greve, e que secundarizaram a luta pelas contratações. Com apoio enfático da CTB, que era parte da antiga chapa 1 e está atualmente com um cargo de representante dos trabalhadores no Conselho Administrativo da Empresa. Como dissemos acima, nossa campanha salarial se localizava em uma conjuntura no estado em que o governo e a empresa vinham desgastados após nossa última greve e com a desaprovação da população com a política de privatização e precarização dos transportes. Isso somado a um cenário de desemprego no país e em SP, com a piora das condições de vida, fruto dos ataques da extrema direita e da pandemia. Por isso a pauta por contratações era apoiada pela população, pois dia após dia no trabalho os passageiros nos diziam que diante de tantas pessoas precisando de emprego, era absurdo não haver contratação.

Por isso a empresa e o governo estavam querendo evitar uma greve e para isso vieram oferecendo melhorias em pontos econômicos da nossa pauta de reivindicações para evitar as concessões políticas que iam contra o projeto de fundo de privatização. Ainda que as propostas apresentadas estivessem aquém de cobrir as perdas econômicas do último período, a mobilização da categoria conquistou um aumento salarial e de vale refeição de 4,52%, aumento de 38,63% no vale alimentação, aumento do valor da PR, a retirada da punição aos operadores de trem, entre outras demandas.

Nós do Movimento Nossa Classe, defendemos junto a outros companheiros da CST, Unidos pra lutar e independentes que também são parte da diretoria do sindicato, pela manutenção da nossa greve, em defesa das contratações, pelas readmissões de 2019/20 e pelo bilhete de serviço aos terceirizados para enfrentar o projeto de privatização de Tarcísio. Mostrando que nossa luta é em defesa de um transporte público e de qualidade para a população, em aliança com os setores mais precários da classe trabalhadora, na luta por iguais direitos e salários. Acreditamos que essa foi a oportunidade que perdemos, apesar das conquistas econômicas.

Em segundo lugar, consideramos um erro importante por parte dos diretores da Resistência/PSOL e PSTU o e-mail enviado em nome do Sindicato à empresa no dia 12 de junho, que consta citado na carta do Metrô à categoria. Um erro de método, onde não houve consulta sequer à diretoria sobre o conteúdo de tal e-mail ao Metrô e onde nós diretores do Movimento Nossa Classe não tivemos conhecimento de tal e-mail até que ele tenha aparecido sendo citado na carta do Metrô minutos antes no início da assembleia. Mas mais importante que o problema do método é o conteúdo do e-mail enviado. Não haveria problema em buscar a empresa para solicitar nova proposta que atendesse nossa pauta de reivindicações. Mas o que não pode ocorrer, e foi isso que ocorreu, é que parte da diretoria solicitou uma proposta em torno de um único ponto da pauta, a PR, para evitar a greve, deixando de lado todo o restante da nossa pauta, inclusive a demanda central por contratações, sem consulta a qualquer instância da categoria. Para nós do Movimento Nossa Classe isso fere a democracia operária. Para além do fato de que não temos acordo com o conteúdo do e-mail enviado, que deixou de lado a reivindicação pela garantia de contratações.

Essa política recuada do setor da Resistência/PSOL durante toda a campanha salarial, à qual o PSTU acaba por se adaptar, revela mais uma vez, assim como na greve passada em que foram contra sua deflagração, que não apostam na força da nossa categoria na luta para enfrentar a extrema direita do governo Tarcísio. E é parte do ceticismo que leva seu partido a hoje estar compondo o governo de Frente Ampla de Lula Alckmin que começa a realizar seus primeiros grandes ataques e que conta justamente com a subordinação das principais Centrais Sindicais como CUT e CTB para frear as lutas dos trabalhadores frente a aprovação do Arcabouço Fiscal, que nada mais é que um novo teto de gastos de autoria do governo Lula/Alckmin, frente também à aprovação do marco temporal que significa um ataque sem precedentes aos indígenas, além da aprovação da MP que avança no desmatamento da Mata Atlântica. A própria CUT declarou com todas as letras seu apoio ao Arcabouço Fiscal. E com essa mesma CUT a Resistência vem se aliando em vários sindicatos, como nas eleições do Sindicato de professores estaduais (APEOESP), recentemente. É a política de passividade e apoio ao governo de Frente Ampla que justificam como a única saída de evitar o fortalecimento da extrema direita, quando o próprio PT e Lula mais uma vez vem tomando esse caminho, deixando a boiada passar em favor do agronegócio e outros setores burgueses. Assim, essas correntes se adaptam ao pacto das centrais com o governo de frente ampla, fruto de não confiar na força dos trabalhadores para derrotar Tarcísio e a extrema direita. Não à toa, logo no início da assembleia, durantes as falas de saudação, o representante da CTB e parte da categoria, foi o primeiro a defender contra a greve, antes mesmo do início da abertura de discussões.

Somente a força da nossa luta e de forma independente dos governos e patrões, com a mais ampla democracia operária, é que vai poder derrotar os ataques da extrema direita do Tarcísio e dos grandes empresários dos consórcios privados que querem acabar com o Metrô público. Essa é a força, aliada à população e aos setores mais precários da nossa classe, que pode questionar profundamente todos os ataques e reformas. E nossa greve poderia ter sido um exemplo nesse sentido.

Na reunião de balanço da diretoria ampliada, propusemos que as diferenças de avaliação sobre o encerramento da campanha salarial pudessem ser expressadas nos materiais oficiais do sindicato, o que também foi negado em votação pela maioria da diretoria, inclusive pelos diretores da Resistência/PSOL e PSTU.

Chamamos a todos para debater conosco o balanço dessa campanha salarial e seguirmos atuando para organizar a nossa luta contra a privatização, por contratações e pela readmissão de Leandro! É preciso seguir fortalecendo a nossa organização desde a base, por isso convidamos toda a categoria para participarem ativamente das eleições dos delegados sindicais de base que ocorrerão no próximo período.




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