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DESEMPREGO, CRISE E CINISMO DO PETISMO | Crise na Petrobras: O pior já passou?

Pouco se sabe ainda da corrupção fora uma estimativa de quanto foi desviado e todos os trabalhadores, da Petrobras e fora dela pagaremos esta conta

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 24 de abril de 2015 | 00:01

A maior empresa do país publicou na quarta-feira seu balanço dos dois últimos trimestres de 2014. Nele anunciou-se o primeiro prejuízo desde 1991, em um valor R$ 21,587 bilhões. Segundo a maior federação sindical dos petroleiros, a poderosa Federação Única dos Petroleiros (FUP), o primeiro desafio já teria sido superado e agora seria “hora de virar a página”. Estes sindicalistas ligados ao PT fizeram eco da declaração de Dilma semana passada de que tudo que havia a investigar na Petrobrás já havia sido investigado.

Nada mais longe da verdade: pouco se sabe ainda da corrupção fora uma estimativa de quanto foi desviado e todos os trabalhadores da Petrobras e fora dela pagaremos esta conta.

O que explica tamanho prejuízo?

O resultado deve-se, segundo a cúpula da empresa, à corrupção e mais ainda a “abatimentos em seus ativos”. Este segundo motivo para o prejuízo seria devido à desvalorização que alguns ativos sofreram por alterações de projeto, de perspectivas de retorno financeiro, e pela queda no preço do petróleo.

Fatos que não são acidentais, pois foram planejados de cabo a rabo de acordo com uma irracionalidade ligada aos interesses empresariais e de corrupção. Como por exemplo erguer uma refinaria de óleo pesado (COMPERJ) de frente a uma área que está fazendo prospecção de óleo leve (bacia de santos e campos com pré-sal), ou constuir refinarias no Ceará e Maranhão onde há pequena produção e pequeno mercado consumidor.

A ordem de grandeza destas correções além das que foram nominalmente atribuídas a corrupção (R$ 6 bilhões) somam mais de 40 bilhões de reais. Somente de dois projetos, a Refinaria Abreu e Lima em Suape, Pernambuco e o COMPERJ em Itaboraí, Rio de Janeiro, serão abatidos R$ 30,97 bilhões segundo comunicado da empresa, ou seja, além dos 6 bilhões desviados, a irracionalidade destes projetos sozinhos 5 vezes a corrupção. Haja irracionalidade e desvio!

Estes dois projetos, muito adiantados para desistir deles, demorarão décadas para se pagarem - se o fizerem- e até lá só terão servido para o enriquecimento do Paulo Roberto Costa, Youssef, empreiteiras e dos partidos envolvidos no escândalo.

Com o acordo de delação premiada, apesar dos bilionários desvios, estes corruptos e corruptores passarão pouquíssimo tempo atrás das grades.

Segue a crise financeira e multiplicam-se as demissões, boatos e privatização

Meses atrás, antes das denúncias de corrupção, já havíamos escrito em um outro artigo que a crise financeira da empresa devia-se a um super-endividamento para tocar obras impagáveis e irracionais do ponto de vista logístico.

Como era o caso destas duas refinarias de vultosas somas - abatidas no último balanço - e outras ainda mais absurdas como as Premium I e II que estão longe de qualquer mercado consumidor ou de pólos de produção, no Maranhão e Ceará, ambas também com abatimentos e diretamente canceladas depois de custarem centenas de milhões de reais.

É graças a esta irracionalidade privatista, de mega-obras injustificáveis como mencionamos acima, pois sob os governos do PT a Petrobras pôde ser utilizada para um enriquecimento legal e ilegal descomunal das Odebrecht, Camargo Correa, OAS, etc, que um outro setor também privatista, sob liderança da grande mídia e de setores tucanos, argumentam que o endividamento irracional da Petrobras deveria ser combatido aumentando a participação privada no pré-sal (mudando o modelo de partilha para concessão, o que reduz o retorno financeiro ao Estado brasileiro).

Entre uma e outra irracionalidade que drenam os recursos da nação, todos os dois setores concordam que para pagar esta conta irracional quem deve sofrer são os trabalhadores e, mesmo com diferenças do que privatizar, estão ambos de mãos dadas para privatização da Petrobras.

Com a crise da empresa como pano de fundo, já se anunciou que vários navios da empresa serão vendidos, como parte de um plano de privatização, eufemisticamente chamado de “desinvestimento” pela Petrobras em um valor que pode alcançar, segundo a mesma, 14 bilhões de dólares.
Em outro contorno privatista, em um acordo firmado há poucos dias, a Petrobras irá vender várias plataformas a um banco inglês e depois alugá-las de volta.

Medidas como estas, dão um caixa imediato à empresa, mas sacrificam seu futuro e drenam recursos nacionais para empresários estrangeiros.

A FUP mostra em sua nota ‘contente’ de que uma “página estaria sendo virada”, onde mal menciona esta privatização em curso. Nela mencionam que já houve 10 mil demissões nos estaleiros do país e que deverão ocorrer outras 30mil, somando-se as famílias mais de 100 mil pessoas já sofrem ou sofrerão as consequências desta crise, mas diz a nota governista desta federação que seguirão “adiante na campanha em defesa da empresa e do Brasil, mobilizando as centrais sindicais classistas e os movimento sociais que sempre cerraram fileiras na defesa da soberania e dos interesses nacionais”.

Nada concreto. Nenhuma greve, nenhum dia de mobilizações marcada. Nada. Isto porque a própria FUP fala em milhares de demissões!

Em Itaboraí (COMPERJ) até a TV Globo, em reportagens especiais, mostrou o sofrimento de milhares de operários que ficaram não só sem emprego, mas também sem fundo de garantia e sem moradia, pois suas empresas deixaram de pagar seus alojamentos e muitos sequer tem recursos a retornar a suas regiões de origem.

Esta é a realidade na Petrobrás hoje: Com o endividamento e o prejuízo, sob o impacto de milhares de trabalhadores que já saíram ou sairão pelo programa de demissão voluntária iniciado na gestão de Graça Foster, as condições de trabalho irão se agravar, seja pela falta de pessoal, pela piora na manutenção que foi um setor muito afetado neste plano de demissões ou pelo consequente aumento no risco de acidentes.

Dentro do sistema Petrobrás não faltam boatos sobre demissões, junção de setores e demissão de terceirizados, terceirização utilizando o PL 4330, entre vários outros que ainda não se sabe oficialmente se serão ou não implementados.

O que os petroleiros e todos trabalhadores já podem saber é que se depender exclusivamente da irracionalidade privatista dos gerentes e diretores petistas da empresa ou da pressão pela privatização de “outro tipo”, mais aberta e rápida como defendida por parte da grande mídia, não haverá uma resposta a esta crise que atenda aos interesses de todos brasileiros, seja os empregados no sistema ou toda a população que poderia se beneficiar das riquezas oriundas do petróleo se não houvesse a corrupção, privatização, ou seja, se os próprios trabalhadores controlassem a empresa.

Com a Petrobras nas mãos atuais, todos pagaremos esta crise, com perda de emprego e até mesmo riscos ambientais graças a diminuição em manutenção.

É preciso organizar-se para lutar contra esta crise e isto passa pela luta contra os privatistas de todo tipo e por organizar-se de forma independente da cúpula da FUP e seus sindicatos. Estas direções, apesar das milhares de demissões e da crescente privatização do sistema Petrobrás, limitam-se a declarar sua confiança de que o “pior já passou” e não a utilizar toda a força dos sindicatos petroleiros para a luta consequente em defesa de todos empregos e de uma Petrobrás controlada pelos trabalhadores.




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