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Debates marxistas sobre imperialismo, militarismo e questão colonial

Josefina L. Martínez

Debates marxistas sobre imperialismo, militarismo e questão colonial

Josefina L. Martínez

Nas primeiras décadas do século XX, os debates sobre a questão colonial, o imperialismo e a guerra tiveram um lugar central nas reflexões do marxismo. Muitos desses debates têm ressonância na atualidade.

A guerra na Ucrânia voltou a escavar trincheiras em território europeu, em uma escala que superou todas as previsões. As potências imperialistas destroem o espetáculo da paz europeia eterna, incentivam a indústria da guerra e preparam seus uniformes militares. Embora a corrida para uma terceira guerra mundial ainda não esteja no cenário imediato, elas se preparam para um período de maiores confrontos entre si e para intensificar o saqueio imperialista dos povos em todo o planeta. Palavras como guerra ou imperialismo, que haviam sido arquivadas pelas ilusões globalistas, voltam ao primeiro plano.

Na esquerda internacional, há aqueles que se juntaram ao carro belicista do imperialismo, enquanto outros alimentam ilusões em conferências pela paz e "arbitragens internacionais" para conter o brutal genocídio na Palestina e deter a corrida militarista. Utopias pacifistas, enquanto se ouve ao fundo o barulho de espadas.

Nas primeiras décadas do século XX, os debates sobre a questão colonial, o imperialismo e a guerra ocuparam um lugar central nas reflexões do marxismo. Muitos desses debates têm ressonância até os dias de hoje. Recuperar essas polêmicas teóricas e estratégicas, que precederam a grande catástrofe da Primeira Guerra, é de enorme relevância hoje.

Este artigo é um avanço de um livro que está em elaboração, onde abordamos um contraponto do marxismo com as teorias da interseccionalidade e da pós-colonialidade. O trecho que publicamos nesta ocasião percorre alguns debates teóricos na Segunda Internacional sobre a chamada "política mundial", a questão colonial e a estratégia socialista entre 1896 e 1914. Esperamos que esses debates possam ser sugestivos para pensar os desafios do internacionalismo socialista na atualidade.

Desde o último terço do século XIX, o capitalismo passou por mudanças significativas que o levaram à sua fase imperialista e abriram uma nova época histórica: uma época de guerras, crises e revoluções, como Lenin a chamou. Algumas das características fundamentais do capitalismo se tornaram seu oposto: o capitalismo de livre concorrência se transformou em capitalismo monopolista. Segundo a definição clássica de Lenin, o imperialismo se distinguia por cinco características fundamentais: a concentração de capital e a formação de monopólios; a fusão do capital bancário com o industrial, resultando no capital financeiro; a exportação de capitais das metrópoles para colônias e semicolônias; a disputa dos monopólios pelos mercados mundiais e a divisão territorial do mundo entre os Estados imperialistas [1].

Entre 1876 e 1914, as principais potências mundiais (Inglaterra, Rússia, França, Alemanha, Estados Unidos e Japão) se apropriaram de mais de 25 milhões de quilômetros quadrados. Isso equivale a uma área duas vezes e meia maior que toda a Europa. Essas seis potências oprimiam uma população de mais de quinhentos milhões (523 milhões) de habitantes em suas colônias, o que correspondia a cerca de um terço da população mundial da época [2].

Os enormes lucros da exploração colonial permitiram às burguesias dos países centrais conceder uma série de benefícios a setores da classe trabalhadora. Esta foi a base de sustentação para uma aristocracia operária que, juntamente com vastos setores da pequena burguesia, desfrutava dos "privilégios" da exploração colonial por parte de suas próprias burguesias.

Embora a questão colonial apareça na obra de Marx e Engels, do ponto de vista deles, esta seria resolvida "como consequência da vitória do proletariado nos centros metropolitanos do capitalismo" [3]. Somente no final de sua vida, Engels começou a vislumbrar a profundidade das transformações que estavam ocorrendo e intuiu a importância que a revolução anticolonial poderia adquirir em relação à luta da classe trabalhadora nas metrópoles. Em 1882, ele aborda o tema em uma carta a Kautsky, criticando severamente o nacionalismo do movimento operário inglês, sob influência das burocracias sindicais.

Você me pergunta o que pensam os trabalhadores ingleses sobre a política colonial. Bem, o mesmo que pensam sobre política em geral; o mesmo que pensam os burgueses. Aqui não há partido operário, há apenas o partido conservador e o partido liberal-radical, e os trabalhadores se beneficiam tranquilamente com eles do monopólio colonial da Inglaterra e de seu monopólio no mercado mundial [4].

Na carta, Engels refletia sobre uma hipotética revolução nos países submetidos pelas potências europeias e a atitude que o movimento operário das metrópoles deveria adotar. Ele afirmava que "a Índia talvez faça uma revolução" e declarava que "isso não acontecerá, evidentemente, sem destruição, mas estas são inerentes a toda revolução. O mesmo pode ocorrer em outros lugares, na Argélia e no Egito, por exemplo, o que seria, certamente, o melhor para nós." Sua reflexão apontava para a possibilidade de revoluções anticoloniais, não socialistas, nesses países. Ele considerava que estas enfraqueceriam o poder das potências capitalistas, o que era benéfico para a luta da classe trabalhadora pelo socialismo. A classe trabalhadora dos países mais desenvolvidos poderia, com o tempo, convencer os povos coloniais a seguir o caminho socialista, dado que as "demandas econômicas" os impulsionariam nessa direção. Mas enfatizava que, em nenhum caso, esse caminho deveria ser imposto pela força: "Uma coisa é certa: o proletariado vitorioso não pode impor a felicidade a nenhum povo estrangeiro sem comprometer sua própria vitória” [5]. Se a classe trabalhadora inglesa não rompesse com os laços que a prendiam à dominação colonial de seu próprio Estado imperialista sobre a Índia ou o Egito, ela se transformaria em um mero apêndice do partido conservador e do partido liberal. Se os socialistas não enfrentassem a opressão colonial, comprometeriam sua própria vitória.

No interior da Segunda Internacional e nos partidos socialistas nacionais, esses temas levaram a profundas divisões entre revisionistas e marxistas, reformistas e revolucionários, social-patriotas e internacionalistas [6]. Disputas teóricas e políticas que as críticas pós-coloniais frequentemente omitem ao construir um relato do marxismo como se este fosse unicamente cego para a questão racial e colonial.

Antes de 1914, o ponto de vista internacionalista prevalecia nas resoluções dos congressos da Segunda Internacional. Em várias ocasiões, deputados socialistas intervieram nos parlamentos nacionais para denunciar os escândalos do saque colonial, enquanto as juventudes dos partidos socialistas impulsionavam campanhas antimilitaristas. Isso foi questionado pelas correntes revisionistas e oportunistas. Setores que sustentavam que poderia haver objetivos "socialistas" na colonização ou que os "excessos" do imperialismo poderiam ser moderados. Enquanto o internacionalismo era substituído por uma visão cada vez mais nacionalista, na prática política priorizava-se o crescimento eleitoral e uma ação sindical moderada, para obter melhorias sociais nas metrópoles. Dessa forma, acabaram se consolidando as tendências sociais-chauvinistas. Ao contrário de Engels, os social-patriotas consideravam que a "felicidade" (que para eles equivalia a dizer "civilização europeia") poderia ser imposta pela força aos povos estrangeiros. No momento decisivo, em agosto de 1914, arrastaram a social-democracia no lodo e no sangue da "defesa nacional" e levaram a classe trabalhadora dos diferentes países a se degolarem mutuamente em uma guerra pela repartição das colônias.

Revisionismo e colonialismo "socialista"

No final do século XIX, no seio da social-democracia alemã, surge a tendência revisionista, liderada por Eduard Bernstein. Paradoxalmente, enquanto o capitalismo gerava as tendências que levariam à guerra e à revolução anos depois, Bernstein embarcava em uma revisão do marxismo de teor gradualista e cheia de ilusões nas mudanças pacíficas. Ele não percebia que a calma era aparente e se deixava seduzir pelas doçuras do parlamentarismo. Do seu ponto de vista, o capitalismo havia conseguido superar as crises gerais que Marx havia analisado. A luta pelo socialismo já não passava pela revolução nem pela luta de classes, mas poderia avançar evolutivamente através da ampliação da democracia parlamentar e do crescimento da influência da social-democracia nos sindicatos e nas cooperativas operárias. O movimento pela conquista de reformas se tornava um fim em si mesmo: "O objetivo final, qualquer que seja, não significa nada, o movimento é tudo".

No interior do SPD desenvolveu-se o "debate Bernstein" no qual intervieram numerosos dirigentes socialistas, como Kautsky ou Parvus, embora a refutação mais sistemática tenha sido feita pela jovem Rosa Luxemburgo em sua obra Reforma ou Revolução. Luxemburgo impugnou as principais afirmações de Bernstein, demonstrando que o capitalismo não havia superado suas crises recorrentes. A contradição entre a socialização crescente da produção e a concentração da propriedade privada continuava a ser uma premissa fundamental para o socialismo. O desenvolvimento dos monopólios e do sistema creditício não diminuía as contradições do sistema, mas as agravava.

As posições também diferiam em relação ao papel do Estado e da democracia parlamentar. Enquanto para Bernstein o Estado poderia desempenhar um papel progressista na consecução do socialismo (através da ampliação da democracia burguesa), para Rosa Luxemburgo o Estado se tornava "cada vez mais capitalista" e um obstáculo intransponível para a mudança gradual. Luxemburgo dava importância à luta parlamentar e sindical, mas discordava completamente do revisionismo sobre os propósitos da mesma. Essas lutas parciais deveriam permitir fortalecer a consciência dos trabalhadores sobre a impossibilidade de alcançar uma mudança social profunda sem lutar pelo poder político. Luxemburgo apontava o absurdo de pensar que o "galinheiro do parlamentarismo" era o órgão que poderia realizar a imensa tarefa histórica de acabar com o capitalismo e construir o socialismo. Como se a burguesia pudesse ser convencida pelas "boas intenções" dos social-democratas de anular seus privilégios e abdicar como classe dominante, sem oferecer resistência. Também questionava que Bernstein substituísse o papel da classe trabalhadora por uma definição abstrata de cidadãos, sem distinção de classe, o que implicava subordinar a classe trabalhadora à política burguesa.

O que nos interessa destacar é que esse debate com o revisionismo foi atravessado desde o início pelas polêmicas sobre a questão colonial. Em 1896, Bernstein havia publicado um artigo no qual defendia uma espécie de "socialismo patriótico". Considerava que o SPD deveria ser leal ao seu próprio governo em questões de política externa e afirmava que, se já representavam eleitoralmente um quarto do eleitorado do Reich, deveriam assumir "certa responsabilidade pela política desse Reich". O britânico Belfort Bax, que sustentava posições anticolonialistas, embora com uma visão idealista romântica, respondeu que Bernstein havia "deixado de ser social-democrata". Diante disso, Bernstein reafirmou sua ideia de que "sob o domínio direto europeu, os selvagens estão, sem exceção, melhor do que antes" [7].

Nos mesmos anos, dentro do SPD, setores revisionistas começaram a questionar a tática antimilitarista do partido, que tinha como princípio não votar nos orçamentos militares e navais no Parlamento. No Congresso de Mainz do SPD (1900), debateram-se as causas do imperialismo e da política colonial. Rosa Luxemburgo interveio denunciando a intervenção das potências europeias na China na guerra dos boxers, essa "sangrenta guerra da Europa capitalista contra a Ásia". Um impulso da "reação internacional" que deveria ser "respondido imediatamente por um protesto dos partidos operários unidos da Europa". O Congresso emitiu uma resolução condenando a "política de roubo e conquista" e os métodos coloniais das potências europeias como "uma zombaria sangrenta da cultura e da civilização" [8]. Os revisionistas eram uma minoria.

O Congresso de Paris (1900) da Segunda Internacional ratificou as posições internacionalistas. A posição do "colonialismo socialista" foi levantada pela primeira vez na comissão de assuntos coloniais do Congresso de Amsterdã (1904). O holandês Van Kol sustentou que a colonização era "inevitável". Os povos coloniais não estavam preparados para se autogovernar e a colonização deveria continuar sob o socialismo, para fornecer matérias-primas. Bernstein apoiou a proposta de Van Kol, mas ela foi rejeitada.

A escravidão e o saque colonial haviam marcado por séculos o contato da "civilizada" Europa com o continente africano. Mas a questão colonial adquiriu uma nova fisionomia no final do século XIX, em meio a uma desenfreada "corrida por África" por parte das potências europeias. Antes de 1880, a colonização europeia se limitava à costa, com algumas exceções. A França havia conquistado a Argélia desde 1830 e, no extremo sul, holandeses e britânicos avançavam para o interior a partir da atual África do Sul. Nas últimas décadas do século, franceses, britânicos, alemães, o Rei Leopoldo II da Bélgica e, em menor medida, espanhóis e portugueses lançaram-se à conquista de todo o território africano. A Conferência de Berlim (1884-1885) estabeleceu regras comuns para o reparto e fixou a condição de "estabelecimento efetivo no território" para reivindicar o controle colonial. Nas décadas seguintes, terminou-se de forjar, a sangue e fogo, o mapa da partição, com base no esmagamento militar da resistência de diferentes povos e etnias africanas, na ocupação, no assassinato em massa, na tortura, nas violações de mulheres e no trabalho forçado.

Em alguns casos, tratou-se de verdadeiros genocídios. Talvez o mais colossal tenha sido o realizado pelo Rei Leopoldo II no Congo. Após conseguir que a Conferência de Berlim ratificasse a apropriação privada do território congolês - que tinha 20 vezes o tamanho da Bélgica -, impôs um regime brutal de trabalho forçado e terror militar para a extração de borracha e marfim. Historiadores atuais calculam em milhões os indígenas assassinados no inferno congolês. Ainda hoje, as fotografias de homens e mulheres com mãos ou pés amputados são arrepiantes. Um castigo frequente que, juntamente com violações e torturas de todo tipo, os colonos belgas e seu exército privado gostavam de exercer.

Outro massacre monstruoso, reconhecido como genocídio apenas um século depois, foi aquele infligido pela Alemanha aos povos herero e nama na atual Namíbia. Entre 1903 e 1904, esses povos pastores da região sudoeste da África se rebelaram contra a brutal ocupação alemã, que os havia expulsado de suas terras. O general Lothar von Trotha foi enviado para esmagar a resistência com um contingente de 14.000 soldados. Demonstrando a suposta cultura elevada alemã, ele declarou:

"Qualquer herero encontrado dentro da fronteira alemã, com ou sem armas ou gado, será executado. Não pouparei mulheres nem crianças. Darei a ordem para expulsá-los e atirar contra eles" [9].

Von Trotha não hesitou em cumprir sua palavra. Homens, mulheres e crianças foram fuzilados, enforcados em árvores e milhares foram obrigados a fugir para o deserto do Kalahari. Os poços de água foram envenenados para que morressem de fome e sede. Copiando os métodos "civilizados" dos britânicos na África do Sul, campos de concentração foram erguidos, onde foram realizados experimentos com os prisioneiros e cometidos assassinatos em massa. Pesquisas históricas recentes estimam que cerca de 80.000 herero e entre 10.000 e 20.000 namas foram aniquilados. Este é apenas um exemplo de como a Europa impunha sua "civilização" e "cultura" aos povos africanos.

Mais tarde, Rosa Luxemburgo lembraria este brutal crime em seu artigo "Mulheres Proletárias" de 1912:

O futuro necessita de muitas mãos e muitos corações. Um mundo de miséria feminina espera alívio. A esposa do camponês geme enquanto quase desmorona sob o peso da vida. Na África alemã, no deserto do Kalahari, os ossos das mulheres herero desprotegidas branqueiam ao sol, perseguidas por uma gangue de soldados alemães e sujeitas a uma morte horrível por fome e sede. Do outro lado do oceano, nos altos penhascos do Putumayo, os gritos de morte das mulheres mártires indígenas, ignoradas pelo mundo, se extinguem nas plantações de borracha dos capitalistas internacionais [10].

Na Europa, a colonização era legitimada com base em discursos racistas promovidos pelo Estado, militares, igrejas, ciência médica, eugenia, antropologia, sociedades de geografia e ciências naturais. Os povos africanos eram definidos como "menores de idade", "selvagens" e "bárbaros", incapazes de se autogovernarem. As exposições universais eram usadas para dramatizar a superioridade europeia. Dezenas ou centenas de indígenas eram exibidos em verdadeiros zoológicos humanos para que os visitantes europeus os observassem, zombassem e até jogassem comida neles.

Contra essa forte corrente racista, a maioria do SPD manteve uma posição de princípios publicamente. Em janeiro de 1905, Bebel fez um discurso no Reichstag contra as políticas coloniais alemãs e defendeu o direito dos herero de se rebelarem. No entanto, cada vez mais, muitos dos reacionários de senso comum foram impregnando as teses revisionistas do "colonialismo socialista". Uma moção apresentada por este setor foi apoiada por quase metade dos delegados no Congresso de Stuttgart (1907).

O debate começou novamente na comissão de assuntos coloniais, que aprovou uma resolução que afirmava que o congresso "não condena em princípio e para sempre toda política colonial que, em um regime socialista, possa se tornar uma obra de civilização." Durante o curso do debate, Van Kol argumentou que o "problema das colônias é o grande problema que dominará a história moderna. Portanto, é necessário criar uma política colonial socialista". Bernstein argumentou da mesma forma, que a ideia de abandonar as colônias era "utópica" e que a "consequência dessa concepção seria devolver os Estados Unidos aos índios". Ele também levantou que "certa tutela dos povos civilizados sobre os povos não civilizados" era "uma necessidade". Kautsky respondeu aos revisionistas, assegurando que:

A política colonial significa a conquista e a captura pela força de terra estrangeira. Eu contesto a noção de que a social-democracia e a política social tenham algo a ver com a conquista e o domínio sobre um território estrangeiro. (...) Bernstein quer nos persuadir de que a política de conquista é uma necessidade natural. Estou bastante surpreso que tenha defendido aqui a teoria de que existem dois grupos de povos, um destinado a governar e outro a ser governado, que existem pessoas que são como crianças, incapazes de se autogovernarem [11].

O apoio da delegação alemã à moção de Van Kol causou comoção. Embora Kautsky tenha argumentado fortemente contra, sua posição ficou em minoria dentro da delegação alemã, devido à super-representação alcançada pela ala sindicalista do partido (um setor próximo ao colonialismo). A socialdemocracia alemã costumava resolver as posições primeiro internamente e só depois votava de forma unificada nos congressos internacionais, sem quebrar a disciplina do partido. Assim, todos os delegados apoiaram a moção da direita revisionista. Finalmente, ao ser proposta sua aprovação pelo congresso, a resolução que justificava o colonialismo foi derrotada, mas por uma margem muito estreita, apenas 128 votos contra 108.

A resolução final incluiu uma emenda que especificava que, "por natureza inerente, a política colonial capitalista deve levar à escravização, trabalho forçado ou extermínio da população nativa". Também foram aprovadas resoluções condenando o militarismo. Inclui-se também a proposta de Lenin e Luxemburgo que afirmava que, caso a guerra estourasse, os socialistas tinham "o dever de agir rapidamente para encerrá-la" e "utilizar todos os meios possíveis para aproveitar a crise econômica e política provocada pela guerra para despertar o povo e assim obter a queda da dominação capitalista".

A emenda aprovada impediu que os setores revisionistas prevalecessem em Stuttgart, mas era um fato que sua influência estava crescendo. Os oportunistas tinham peso na fração parlamentar e no setor sindical do SPD. O Congresso do partido em Mannheim (1906) consolidou o poder da burocracia sindical. Ao aprovar uma "paridade" entre partido e sindicatos, concedeu à burocracia um direito de veto sobre a política do SPD que afetasse "questões comuns" [12]. Assim, podiam vetar a convocação de uma greve geral. Esse setor, liderado pelo dirigente dos chamados Sindicatos Livres, Karl Liegen, opôs-se veementemente à campanha antimilitarista liderada por Karl Liebknecht desde as juventudes social-democratas. Em resposta, Liebknecht publicou seu folheto Militarismo e Antimilitarismo. Estavam em direções opostas. As discussões antecipavam a evolução que a corrente nacionalista/pró-imperialista seguiu na Segunda Internacional, culminando em 1914 com a aprovação dos créditos de guerra.

O debate sobre a guerra e o imperialismo

A partir de 1910, vários eventos internacionais reativaram a atenção para a questão colonial e a guerra: a Revolução Chinesa de 1911, a crise marroquina no mesmo ano e a guerra dos Bálcãs em 1912. Nesse período, ocorreu a ruptura entre a ala central e a ala esquerda da social-democracia, que anteriormente haviam enfrentado o revisionismo em uma frente comum.

Kautsky tinha sido um dos teóricos mais proeminentes do marxismo "ortodoxo" do SPD nas polêmicas contra Bernstein. No entanto, acabou liderando uma posição oportunista de centro. Em 1910, uma importante polêmica surgiu com Rosa Luxemburgo, que começou com um debate sobre se deveria ou não agitar a necessidade de uma greve geral para lutar por uma reforma eleitoral. O contexto era um importante processo de greve na Alemanha, em meio a uma crise econômica e governamental. Luxemburgo propunha que o SPD convocasse uma greve geral para direcionar o movimento para objetivos políticos. Kautsky se opunha e advogava por adiar qualquer agitação nesse sentido até depois das eleições de 1912 (dois anos depois). Ele considerava que o mais importante era garantir a vitória eleitoral para a social-democracia. Para isso, era necessário evitar ações de rua que pudessem provocar uma resposta repressiva do Estado e fechar essa oportunidade. Em sua resposta a Luxemburgo, Kautsky afirmava que havia duas estratégias opostas, uma estratégia de desgaste (a dele) e uma estratégia de derrubada (atribuída a Luxemburgo). Para Luxemburgo, por outro lado, a posição de Kautsky era apenas parlamentarismo. A polêmica resultou na ruptura política e pessoal entre Luxemburgo e Kautsky, delimitando a esquerda da social-democracia alemã.

Agora, assim como ocorreu no debate com os revisionistas, a polêmica entre o centro e a esquerda também se cruzava com as diferentes visões que cada grupo tinha sobre o militarismo, o imperialismo e a guerra. Vamos ver.

O debate começou por conta do apoio do SPD às conferências de desarmamento convocadas por vários governos europeus. Em 1909, os deputados socialistas no Reichstag apresentaram uma moção propondo "um acordo internacional das grandes potências para a limitação mútua dos armamentos navais", o que gerou uma importante discussão dentro do partido. Rosa Luxemburgo se opôs, enquanto Kautsky defendia a posição inclinada ao desarmamento. Ele publicou um artigo sobre o assunto em maio de 1911, onde defendia o apoio às "propostas da burguesia para a preservação da paz ou a limitação de armamentos".

Luxemburgo responde na mesma semana com dois artigos intitulados "Utopias pacifistas". Neles, ela dirige sua crítica contra os social-democratas que haviam proferido discursos defendendo um "desarmamento parcial". Segundo Luxemburgo, seus fundamentos se aproximavam mais do pacifismo burguês do que do internacionalismo revolucionário. Para ela, o militarismo em todas as suas formas, seja guerra aberta ou paz armada, era legítimo filho do capitalismo, daí a impossibilidade de se acabar com o militarismo sem lutar pelo socialismo. E se era uma ilusão pretender moderar os conflitos de classe a nível de cada Estado, também o era tentar "diminuir, mitigar e liquidar esses conflitos internacionais".

Em seguida, ela lista a série de guerras ocorridas nos 15 anos anteriores: a guerra entre o Japão e a China em 1895; a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos em 1898; a guerra dos bôeres na África do Sul em 1899-1902; a guerra dos boxers e a penetração das potências europeias na China; em 1904, a guerra russo-japonesa; de 1904 a 1907, a guerra dos alemães contra os hereros na África; em 1908, a intervenção militar da Rússia na Pérsia; e no mesmo ano, a crise do Marrocos. Mas o mais relevante eram as consequências de cada um desses conflitos: o rearmamento militar de todas as potências.

Luxemburgo também aponta outro fator de importância: "o despertar social e político das colônias e países que integram as ’zonas de influência’ para a vida independente". Isso aumenta a fricção em escala global, não a diminui. Por isso, a principal tarefa dos social-democratas é confrontar as ilusões pacifistas, alimentadas pela burguesia, enquanto se preparam para a guerra.

As diferenças entre Luxemburgo e Kautsky sobre política internacional ressurgem durante a segunda crise marroquina ou crise de Agadir (1911). A Alemanha havia enviado um navio de guerra ao Marrocos, questionando a zona de influência da França. A Grã-Bretanha apoia a França para frear as pretensões expansionistas da Alemanha, e o conflito se resolve sem tiros, com um acordo franco-alemão. Isso reafirma o controle francês, em troca de conceder à Alemanha a parte norte do Congo francês. Pouco depois, o Tratado de Fez foi assinado, onde a Alemanha reconheceu o estabelecimento dos protetorados francês e espanhol em Marrocos, em troca de territórios no Congo e no Camarões alemães. A Espanha ficava com uma região no norte (incluindo o Rif e Yebala) e no sul, fazendo fronteira com a colônia espanhola do Saara Ocidental. O socialismo espanhol e os sindicatos haviam se mobilizado contra a presença colonial em Marrocos por vários anos. A protesta operária contra a guerra colonial se radicalizou durante a Semana Trágica de 1909, com uma greve geral em Barcelona e uma forte repressão.

Luxemburgo escreve sobre a crise no Marrocos:

A guerra e a paz, Marrocos, em troca do Congo e Togo por Tahiti, essas são as questões nas quais a vida de milhares de pessoas, a felicidade ou infelicidade de povos inteiros são decididas. Uma dúzia de cavalheiros da indústria racista deixam os políticos comprometidos pensarem e regatearem sobre essas questões como fazem no mercado para a carne e as cebolas, e as pessoas esperam ansiosamente a decisão com angústia como os rebanhos de ovelhas conduzidos ao matadouro [13].

Embora a crise de Agadir em 1911 tenha sido resolvida diplomaticamente, o fato é que levantou, pela primeira vez em décadas, a possibilidade real de uma guerra entre potências europeias. Como resposta, os partidos socialistas europeus organizam manifestações contra a guerra, mas a posição da liderança do SPD é bastante vacilante. Luxemburgo ataca diretamente e Kautsky sai em defesa da linha oficial.

No meio da crise, o Bureau Internacional (do qual Luxemburgo fazia parte) havia proposto organizar uma reunião dos partidos socialistas europeus para preparar manifestações unitárias contra a guerra. As lideranças dos partidos da França, Espanha e Inglaterra haviam aceitado. Mas o SPD bloqueou a reunião. Um membro da direção do partido alemão respondeu que havia poucas chances de o conflito se transformar em uma guerra aberta. Sugere que poderia ser uma espécie de tática de distração do governo alemão, diante da proximidade das eleições de 1912. E adverte que, se o SPD se comprometesse com uma forte agitação sobre este tema, poderia ser usado contra ele nas próximas eleições. Não se podia negligenciar os "assuntos internos".

Luxemburgo tornou pública a carta e causou um escândalo com essa posição, gerando tumulto no partido. Para ela, o significado histórico da crise no Marrocos era uma luta competitiva entre diferentes capitalistas europeus para se apropriarem de uma parte do território africano. Era inadmissível para ela a proposta da liderança do SPD de não falar sobre o assunto, para cuidar de uma futura campanha eleitoral. As "questões internas" não podiam ser separadas da "crescente dominação do capitalismo, em todos os lugares do mundo" e do "papel importante que desempenha a política colonial e mundial nesse processo" [14].

Kautsky saiu em defesa da direção. Seu argumento era que, fora de um pequeno setor do capital bancário e especuladores, as classes dominantes alemãs não estavam interessadas em avançar em direção ao confronto militar. Luxemburgo responde novamente, apontando duas questões. Em primeiro lugar, ela polemiza com a ideia de que a política colonial não era do interesse das classes dominantes. Em segundo lugar, ela recrimina o autor do artigo por não mencionar "nem uma palavra sequer sobre os povos nativos das colônias, sobre seus direitos, interesses ou sofrimentos como consequência da política mundial".

Para Luxemburgo, a crise colonial não apenas demonstra a farsa dos discursos pacifistas da burguesia. Também mostra que os povos colonizados estão se rebelando:

Mas a ’Nêmesis’ do capitalismo é que quanto mais ele devora o mundo, mais mina suas próprias raízes. Ao mesmo tempo em que se prepara para introduzir a ’ordem’ capitalista nas relações primitivas das tribos de pastores e dos povos de pescadores marroquinos isolados do mundo, o próprio ordenamento criado por ele já está desmoronando em todos os cantos e recantos de outros continentes. As chamas da revolução ardem na Turquia, Pérsia, México, Haiti, elas terminam tranquilamente com os edifícios do Estado em Portugal, Espanha, Rússia [15].

Diante dessa situação, para Luxemburgo, não se trata de "ficar passivamente assistindo ao colapso da ordem da sociedade burguesa", mas sim que a análise da política internacional deve ser "o fundamento intelectual de uma política dinâmica".

As divisões entre o centro kautskista e a esquerda se aprofundam. E se, no plano interno, Kautsky opta por uma "estratégia de desgaste" ou de espera passiva [16] - que enfraquece a classe trabalhadora para os futuros confrontos -, no terreno internacional ele tem uma concepção que aposta na diminuição das fricções internacionais e descarta o cenário de guerra mundial.

No congresso de Chemnitz do SPD em 1912 ocorreu um confronto entre Hugo Haase, representante da ala central e do executivo do partido, e Paul Lensch, em nome da esquerda. Haase argumentou que a integração econômica dos trustes em nível internacional era uma tendência contrária ao conflito bélico. Ele acreditava que o governo inglês favorecia o desarmamento, portanto a guerra poderia ser evitada [17]. A esquerda contra-argumentou que as tendências à guerra só poderiam ser contidas por meio da luta independente da classe trabalhadora e que a política do governo inglês era reacionária. Seu interesse não era o desarmamento, mas sim conter o avanço de sua concorrência, o militarismo alemão. Eles propuseram substituir a demanda de desarmamento pela formação de milícias cidadãs. No entanto, o congresso aprovou a moção de Haase.

Essas divisões entre um centro pacifista e a esquerda também se expressaram internacionalmente. No partido francês, Jean Jaurès havia apoiado as posturas de Van Kol sobre a política colonial "positiva". Diante da crise de Marrocos e do militarismo em geral, ele era a favor de promover a "arbitragem internacional" para resolver os conflitos. Nesse sentido, ele até mesmo celebrou o acordo franco-alemão para resolver a crise de Agadir. Jaurès considerava que um acordo entre essas potências era "a condição absoluta da paz na Europa". A criação de uma milícia cidadã defensiva era outra questão-chave de sua proposta para evitar a guerra. Jaurès argumentava que era necessário reconciliar o patriotismo com o internacionalismo, com base na ideia da "defesa justa" da pátria contra agressões estrangeiras. No entanto, ele se referia às potências europeias, não aos povos colonizados.

O PSOE havia se manifestado várias vezes contra a presença colonial espanhola em Marrocos. No entanto, sua política era oscilante. Às vezes, focava na consigna "todos ou nenhum" (questionando o método de recrutamento militar que enviava os filhos dos trabalhadores para a guerra enquanto os ricos ficavam em casa). Em outros momentos, priorizava a ideia de "Nem um homem, nem um centavo para Marrocos", que expressava mais claramente a rejeição à ocupação colonial. Em relação à possibilidade de guerra entre potências europeias, em declarações públicas, mantinha uma posição alinhada com os Congressos internacionais, embora sua participação na conjunção republicano-socialista desde 1909 mostrasse uma tendência precoce à conciliação com setores da burguesia, que se aprofundaria nos anos seguintes. Enquanto a Espanha permanecia formalmente neutra na guerra, os socialistas expressavam simpatia pelo lado aliado.

"Guerra permanente ou revolução"

Por volta de 1912, as tensões internacionais continuavam a aumentar. Após a crise dos Bálcãs, foi convocado o Congresso extraordinário internacional de Basileia. A guerra já estava às portas da Europa. O congresso reafirmou os princípios do internacionalismo socialista e aprovou a consigna de "guerra contra a guerra" contra a "loucura universal da corrida armamentista". Lenin mais tarde diria que o Manifesto de Basileia estabelecia a luta revolucionária dos trabalhadores contra seus governos em escala internacional. Diante da guerra, era necessário a luta pela revolução.

No entanto, em agosto de 1914, a social-democracia alemã optou por se alinhar com sua própria burguesia. Como justificação para essa traição a todos os princípios socialistas, eles apresentam dois argumentos centrais. Em primeiro lugar, que para a Alemanha era uma guerra "defensiva" contra a "ofensiva" do totalitarismo russo. Em segundo lugar, que o que estava sendo "defendido" com o apoio à sua própria burguesia na guerra eram as liberdades e as fortes organizações conquistadas pela classe trabalhadora nos anos anteriores: suas organizações sindicais, associações, deputados, jornais e a própria organização partidária.

Em 1916, Luxemburgo publicou o texto "A crise da social-democracia alemã", conhecido como Folheto de Junius pelo pseudônimo com o qual assina. Era uma denúncia vigorosa da catástrofe belicista e do colapso da Segunda Internacional.

Sobre o caráter "defensivo" ou "ofensivo" para determinar a posição em relação à guerra, Luxemburgo, Lenin e Trótski responderam que era uma farsa. O fundamental era o caráter imperialista da guerra, a disputa militar entre bandidos que buscavam uma nova divisão do mundo. Lenin afirmou:

Mas imaginemos um escravista que possui cem escravos lutando contra outro que possui duzentos, por uma distribuição mais "equitativa" desses escravos. É claro que falar, nesse caso, de guerra "defensiva" ou de "defesa da pátria" seria distorcer a história e equivaleria, praticamente, a uma simples farsa dos astutos escravistas para enganar o povo, os pequenos burgueses e as pessoas incultas. Precisamente assim, utilizando a ideologia "nacional" e a ideia de defesa da pátria, é como a burguesia contemporânea, a burguesia imperialista, engana os povos nesta guerra entre os escravistas para consolidar e reforçar a escravidão [18].

Da mesma forma, León Trótski havia colocado:

"Enquanto os tolos e hipócritas falam de defesa, de liberdade nacional e independência, a guerra anglo-alemã é realmente travada em prol da liberdade de exploração imperialista dos povos da Índia e do Egito, por um lado, e da divisão imperialista dos povos da terra, por outro” [19].

Em segundo lugar, sobre a questão de estar "defendendo" as organizações da classe trabalhadora, ambos respondem da mesma forma. Lenin argumenta que as organizações de massa legais da classe trabalhadora haviam sido o sinal mais distintivo da Segunda Internacional, especialmente no partido alemão. Enfrentar uma luta contra a guerra e ações revolucionárias significava ilegalização e perseguição por parte da polícia e do Estado. Por isso, os líderes do SPD, desde Legien até Kautsky, optaram por sacrificar os objetivos revolucionários em troca de não perder essa legalidade. "O direito do proletariado à revolução foi vendido pelo prato de lentilhas de organizações autorizadas pela lei policial vigente."

Em "A guerra e a Internacional", Leon Trótski faz uma profunda reflexão sobre as condições em que emerge o oportunismo socialista da Segunda Internacional. Fazendo um percurso histórico pelas diferentes fases do movimento marxista, ele argumenta que, embora o Manifesto Comunista culminasse com o apelo à unidade dos trabalhadores de todo o mundo, esse grito de guerra ainda era prematuro. Na revolução de 1848, Marx e Engels não puderam agir como líderes da classe trabalhadora internacional, mas como a extrema esquerda de um movimento democrático burguês. A fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1864 retomava as bandeiras do internacionalismo proletário. Mas essa organização era "uma antecipação das futuras necessidades do movimento" mais do que um instrumento de direção na luta de classes. Havia um abismo entre teoria e prática, entre o objetivo formulado pelos comunistas e as possibilidades de ação imediatas, centradas no apoio aos movimentos grevistas e na clarificação teórica.

A Comuna de Paris foi um ponto de inflexão, mas ocorreu como um lampejo: "Assim como o Manifesto Comunista foi a antecipação teórica do movimento moderno do trabalho e a Primeira Internacional foi a antecipação prática das associações trabalhistas do mundo, assim a Comuna de Paris foi a antecipação revolucionária da ditadura do proletariado." À derrota da Comuna, seguiu-se um período de expansão do capitalismo. Foi um período de crescimento das organizações trabalhistas e de intervenção política legal com base no Estado nacional. O centro de gravidade do movimento socialista transferiu-se para a Alemanha. No caso do movimento operário inglês, o ciclo de avanço gradual e possibilismo havia começado vinte ou trinta anos antes do que no continente europeu, formando uma camada de sindicalistas que adotavam a política liberal burguesa.

Uma nova contradição entre teoria e prática havia sido gerada. No início de 1900, "teoricamente, o movimento operário marchava sob a bandeira do marxismo." Mas "o marxismo veio a ser para o proletariado alemão não a fórmula algébrica da revolução que foi no início, mas o método teórico por adaptação a um estado nacional capitalista coroado com um capacete prussiano." Os poderosos Sindicatos Livres alemães ataram seu destino aos sucessos da indústria alemã no interior e no exterior. A social-democracia construiu uma estrutura organizativa monumental com um milhão de membros, quatro milhões de eleitores, 91 jornais e 65 impressoras. Mas toda essa atividade desenvolveu-se sob o espírito do oportunismo.

Os revisionistas alemães foram influenciados em seu comportamento pela contradição entre a reforma prática do partido e suas teorias revolucionárias. Eles não entenderam que essa contradição estava condicionada por circunstâncias temporais, embora prolongadas, e que só poderia ser superada por um desenvolvimento social ulterior. Para eles, era uma contradição lógica. O erro dos revisionistas não foi confirmar o caráter reformista das táticas do partido no passado, mas sim querer perpetuar o reformismo teórico e fazer dele o único método de luta da classe proletária [20].

Tótski aponta que, na disputa teórica com o revisionismo, o marxismo saiu claramente vencedor. Nestas páginas, revisitamos vários desses debates teóricos. No entanto, a derrota teórica do revisionismo não equivalia à sua derrota organizacional, tática e psicológica.

Em 1905, a revolução russa abriu a possibilidade de um horizonte histórico diferente, fortalecendo a ala esquerda em todos os partidos da Segunda Internacional. O surgimento dos sovietes e a greve geral mostravam um caminho alternativo à assimilação do movimento operário pelo Estado burguês. As lições da revolução de 1905 e a primeira formulação da Teoria da Revolução Permanente de Trótski foram cruciais nos debates do movimento marxista internacional. No período de refluxo subsequente, a ala centrista kautskista tendeu a se alinhar com a direita nos partidos socialistas, distanciando-se da esquerda.

A socialdemocracia alemã, aprofundando o caminho do oportunismo, "adotou o culto à organização como um fim em si mesmo". E essa foi a base para que a "defesa" dessas organizações se erguesse como argumento principal para apoiar sua própria burguesia na guerra. Era necessário preservar a organização social-democrata da ruína! Seu milhão de filiados, seus 91 jornais. Mas a ruína da socialdemocracia foi que nem uma página de seus 91 jornais denunciou a política imperialista. A socialdemocracia não foi um instrumento útil para a classe trabalhadora nos momentos de perigo. Foi um peso morto em suas costas: "porque se sentiram primeiro e principalmente como um estado conservador, dentro do estado".

No entanto, havia outro elemento fundamental que explicava o colapso da Segunda Internacional: o crescimento de um socialismo imperialista. No Congresso de Stuttgart, a maioria dos delegados alemães, especialmente os sindicalistas, votou contra a resolução marxista sobre a política colonial. Esses fatos adquiriram um novo significado em 1914: "Precisamente agora a imprensa dos sindicatos está unindo a causa da classe trabalhadora alemã ao trabalho do exército dos Hohenzollern, com mais conhecimento de causa do que manifestam os órgãos políticos" [21].

Quando os estados capitalistas ultrapassaram sua forma nacional para se transformarem em potências imperialistas, o programa do movimento operário não ia além das lutas de pressão por reformas mínimas dentro dos limites da legalidade burguesa. Trótski encontra aí o motivo pelo qual a classe trabalhadora foi impotente diante da catástrofe da guerra:

A razão é o chamado programa mínimo, que molda sua política dentro do quadro do estado nacional. Quando seu principal interesse reside nos tratados de tarifas e na legislação social, o proletariado é incapaz de empregar a mesma energia para combater o imperialismo que empregou para combater o feudalismo. Ao aplicar seus velhos métodos de luta de classes - a constante adaptação aos movimentos do mercado - às novas condições produzidas pelo imperialismo, ele próprio cai na dependência material e ideológica do imperialismo [22].

O único caminho para não cair nessa dependência do imperialismo era levar adiante, de forma prática, a luta pelo socialismo. A classe trabalhadora não acumularia forças suficientes para resistir à forte corrente do imperialismo se continuasse a utilizar suas antigas táticas oportunistas. Só poderia propor-se a derrotar o imperialismo se seguisse o caminho da revolução social. O colapso da socialdemocracia da Segunda Internacional demonstrou o primeiro. Os conselhos operários que a classe trabalhadora russa voltou a erguer em 1917 revelaram que o segundo havia começado a ser uma possibilidade real e não apenas uma antecipação teórica.

Não abordamos nestas páginas os importantes debates teóricos e estratégicos sobre a revolução russa que ocorreram no marxismo russo e internacional desde 1905. Estes estavam ligados às diferentes visões sobre o imperialismo. No caso de Trótski, suas elaborações sobre o desenvolvimento desigual e combinado na era imperialista foram a base para a Teoria da Revolução Permanente. Assim, ele conseguiu articular uma visão teórica e estratégica sobre o desenvolvimento da revolução socialista na Rússia que rompia com todos os esquemas do materialismo vulgar ou evolucionista. Mais tarde, generalizou isso como uma teoria da revolução permanente para os países semicoloniais e como dinâmica da revolução mundial. Esses temas serão tratados em próximas seções.

Apenas uma minoria internacionalista da Internacional se opôs à guerra em agosto de 1914. A Conferência de Zimmerwald, em setembro de 1915, reuniu delegados de vários países, incluindo um setor com posições pacifistas e uma ala revolucionária composta pelos espartaquistas alemães, Trótski e Lenin. Mesmo com limitações, esse encontro permitiu retomar o fio histórico do internacionalismo. Embora em Zimmerwald e Kienthal os revolucionários fossem uma pequena minoria, os sofrimentos inauditos das massas durante a guerra deram origem a uma poderosa onda de luta de classes que permitiu o triunfo da Revolução Russa sob a liderança bolchevique. Isso já pertence a outra história.


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FOOTNOTES

[1V. Lenin, El imperialismo, fase superior del capitalismo.

[2V. Lenin, El socialismo y la guerra.

[3L. Trotsky, A 90 años del manifiesto comunista. Publicado en octubre de 1937.

[4Carta de Engels a Kautsky, Londres, 12 de septiembre de 1882.

[5Ídem.

[6Ver: Prólogo a "Marxistas en la Primera Guerra mundial". Guillermo Iturbide, Ediciones IPS.

[7Marc Mulholland; “Cuando Bernstein revisó la ‘ortodoxia’ marxista”, 07/10/2016, Sin Permiso.

[8Manuel Quiroga; La segunda internacional y el imperialismo. Ariadna Ediciones, 2021.

[9Roberto Ceamanos; El reparto de áfrica, Catarata.

[10Rosa Luxemburg, “Mujeres proletarias” (1912), en: Mujeres, revolución y socialismo, Ediciones IPS, 2023.

[11Citado por M. Quiroga, ídem.

[12Emilio Albamonte y Matías Maiello; Estrategia socialista y arte militar, Ediciones IPS, 2017.

[13Rosa Luxemburg, Marruecos, agosto de 1911. En marxist.org

[14Rosa Luxemburg, En relación a Marruecos.

[15Rosa Luxemburg, Marruecos, 1911, ídem

[16Albamonte y Maiello, Estrategia socialista y arte militar.

[17Gaido y Quiroga: Teorías marxistas del imperialismo en la Segunda Internacional: Orígenes y debates (1899-1914).

[18Lenin, El socialismo y la guerra.

[19Trotsky, La guerra y la Internacional.

[20Trotsky, La guerra y la Internacional.

[21Ídem.

[22Ídem.
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Josefina L. Martínez

Madrid | @josefinamar14
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