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QUEM GOVERNA DE FATO? | Dilma fala Levy fica, o PT não manda em ’governo de coalizão’

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

terça-feira 20 de outubro de 2015 | 00:00

Poucos dias depois da CUT fazer um teatro de oposição aos ajustes fiscais gritando "Fora Levy" em seu congresso. Poucos dias depois que os jornais publicavam numerosas notícias de críticas de Lula a Levy, um dia depois do presidente do PT Rui Falcão declarar que achava que o ministro da fazenda deveria sair, Dilma expôs com todas as letras a política verdadeira que ela e Lula impulsionam: Fica Levy, altere algumas coisinhas do ajuste. Enquanto Lula não consegue emplacar uma substituição de Levy o fica e negocia Levy é a política.

Em Estocolmo, capital da Suécia, ela declarou com todas as letras esta posição.

Para quem tinha dúvida de qual seria a posição de Lula e a verdadeira posição da CUT, no mesmo dia a Rede Brasil Atual, financiada pela mesmíssima CUT estampou artigo destacado com opinião do lulista Paulo Vannuchi, ex-ministro de Direitos Humanos. O artigo de Vannuchi diz já no título "Levy fica, mas precisa mudar política de ajustes". Todo teatro não passava de uma cena no primeiro ato que visava abrir um segundo ato no drama que tem se tornado a política econômica para a vida de cada trabalhador. O novo ato será Lula (ou algum emissário) sentar-se com Levy para propor penduricalhos no ajuste, mantendo, no entanto sua essência contra os trabalhadores.

Porém, antes de chegar a este desfecho é muito chamativo que a frase usada por Dilma não tenha causado revolta em toda blogsfera petista. Dilma disse, respondendo ao questionamento de Rui Falcão, presidente de seu partido sobre Levy: "Eu acho que o presidente do PT pode ter a opinião que ele quiser. Não é a opinião do governo. Então, a gente respeita a opinião do presidente do PT, até porque ele é o presidente do partido que integra a base aliada, do partido mais importante, mas isso não significa que ela seja a opinião do governo."

Ou seja, quem manda é o PMDB, o "mercado" e Lula.

Para Dilma O PT é só mais um partido da coalizão

Este áspero tom da presidente da República nunca foi utilizado contra o PMDB, contra o PDT, o PSD. Mas com seu partido sim. Os sindicalistas da CUT, o MST, podem falar quantas vezes quiserem de como haveria mais diálogo com "seu" governo do que com anteriores. A chefe do "seu" governo lhes disse, com todas, letras, não são vocês que mandam, vocês são só mais um partido da coalizão, atendo a isto e não a vocês.

O governo Dilma já vinha se mostrando claramente loteado ao PMDB e demais partidos da base aliada. Já havia se mostrado um "campeão" dos ajustes e da política do Aécio como disse o próprio Lula. Dilma só declarou a imprensa isto. O chocante do evento não é a presidente declarar este fato visível, é o silêncio petista e de seus defensores no movimento de massas que batalham para vender a ideia de "disputar" seus rumos, quando estão sendo, literalmente desconvidados a fazê-lo.

Esta declaração de Dilma não contradiz a política de Lula

Não faltaram no dia de ontem análises interessadas na mídia nacional que buscaram expor as contradições criador-criação, entre Lula e Dilma. Porém salvo o discurso na CUT onde falou que Dilma teria que implementar medidas mais parecidas a sua campanha eleitoral, não se viu uma só declaração pública de Lula dizendo "Fora Levy".

O ex-presidente incentivou a CUT fazer isto. Incentivou a Frente Brasil Popular, a Frente Povo sem Medo a fazê-lo, mas sua política não era defenestrar um homem tão caro a duas peças tão chaves em seu governo: o mercado (leia-se capital financeiro) e PMDB do Rio de Janeiro. Levy foi indicado para o governo Dilma por mãos do PMDB do Rio e de Lula. O agora odiado ministro tinha sido Secretário do Tesouro Nacional de Lula e saído desta posição para ocupar a secretária da fazenda do governo do estratégico aliado Sérgio Cabral. Com estas credenciais, somadas a credencial Bradesco de sua carreira, não é um homem que Lula quer derrubar sem ter certeza plena de um nome ainda melhor com o "mercado" e com aliados. Na falta disto a política de Lula é "Levy me dê algo para te defender". E Lula, como ator dos bastidores de toda política nacional e do governo não saiu ele a falar isto hoje, colocou um ex-ministro próximo a ele a fazer isto: Paulo Vannuchi.

Peões no tabuleiro do Rei Lula

A CUT, a Frente Brasil Popular e a Frente do Povo Sem Medo, e por esta via o MTST e o PSOL foram peões no jogo de xadrez de Lula.

Vannuchi mostrou com todas as letras a verdadeira política lulista em um órgão ligado à CUT nem mesmo a CUT havia impresso algum jornal com seu grito de "Fora Levy". A política econômica defendida é liberação de créditos para o consumo ao mesmo que tempo que possam seguir os cortes no orçamento da educação, da saúde, as alterações que dificultam o acesso ao seguro desemprego, medidas que levam a demissões e retiradas de direitos na indústria.

Esta política de ajuste "lulista" não é de todo contraditória com a proposta levantada pela CUT em seu congresso dias atrás. Nela foram colocados alguns penduricalhos para agradar seus aliados de "frente" MTST e PSOL como "imposto sobre grandes fortunas" para no entanto conceder entrevistas de imprensa e estampar em todos materiais outra política, a verdadeira, que é "planos inflacionários de médio prazo, crédito e Programa de Proteção ao Emprego" (que reduz salários). Para ver mais sobre o programa econômica da CUTleia esta matéria.

Para crescer a economia do país, segundo a CUT, precisaríamos conviver com perdas salariais. Os trabalhadores precisam apertar seus cintos, passar fome ou no mínimo vergonha na fila do supermercado. As perdas salariais poderiam se dar via PPE ou via inflação. A mesma CUT que junto a outras burocracias sindicais tem conseguido aprovar acordos salariais que não repõem a inflação.A mesma CUT que fez diversas montadoras onde os trabalhadores estavam lutando contra o PPE, aceitá-lo.

Há nuances entre Levy-Dilma-Lula-CUT mas há acordos profundos. Um deles é que nós trabalhadores paguemos a conta da crise. Quanto e em que forma divergem. Especula-se que Lula queira Meirelles, mas enquanto isto, é "negocia Levy", e fechemos todos posição em vários elementos do ajuste.

Nesta situação onde se explicita como a CUT, tal como Lula, tal como Dilma e tal como Levy, todos defendem os ajustes é criminoso seguir a defesa da Frente do Povo Sem Medo justamente com a desculpa de angariar forças contra os ajustes. Esta frente é para paralisar setores dos trabalhadores, da juventude e dos movimentos populares de terra e moradia que estão rompendo com o governo do PT. Seguir nesta frente como faz o PSOL ajuda a defender os ajustadores. Por isto reafirmamos que o PSOL rompa com esta frente, ou estará ajudando a defender justamente quem deve ser derrotado: o governo petista de Dilma e Lula que nos ataca.




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