Dando continuidade a sua política de atrelar a UNE ao governo, sua direção agora convida Lula e diversos membros do governo, em meio a aprovação do Arcabouço Fiscal e da preservação da reforma do Ensino Médio.
Giovana PozziEstudante de história na UFRGS
sexta-feira 14 de julho de 2023 | Edição do dia
Chama atenção o que Lula não disse. Em meio a um clima de volta ao passado em referência aos seus governos, mas também relembrando o primeiro congresso de refundação da UNE nos anos 70 onde ele esteve presente, Lula buscou fugir dos principais temas de seu governo hoje para a juventude: o arcabouço fiscal e a reforma do ensino médio. É justamente essa política de conciliação que abre espaço para a extrema-direita.
Foi por isso que a Faísca Revolucionária mostrou que os convidados da UNE como Barroso e Carlos Favaro, que são setores que estão junto com a direita que ataca os movimentos sociais e dos trabalhadores, verdadeiros golpistas que estiveram ao lado de Temer e Bolsonaro na aplicação de todas as reformas, como da previdência, trabalhista e do ensino médio.
Em meio a vaias, seu ministro da educação, o liberal Camilo Santana, tentou explicar porque até agora a reforma do novo ensino médio não foi revogada. Lula nem isso fez. Nada falou sobre o arcabouço fiscal, que na prática é um novo teto de gastos que substitui o teto de Temer, atendendo aos interesses da Faria Lima.
Lula chegou a dizer, ainda, que durante seus governos as demandas da juventude em relação à educação praticamente desapareceram, pois supostamente o governo teria atendido a todas as reivindicações. Logo em seguida disse que desde o primeiro dia de seu governo em 2003, a UNE sempre esteve ao seu lado trabalhando como uma aliada.
Na verdade as demandas da juventude nunca desapareceram, pelo contrário. O endividamento dos estudantes com os tubarões do ensino só cresceu durante os governos do PT, devido à expansão do ensino privado em substituição ao ensino público e de qualidade.
. A direção da UNE, composta por uma burocracia estudantil encabeçada pela UJS e o PT, durante os governos Lula e Dilma atuou como um verdadeiro muro de contensão dos estudantes, paralisando todas as lutas em curso e afastando a entidade da base estudantil, impedido que essa mesma base pudesse expressar suas demandas de forma democrática.
É por isso que Lula diz que não haviam mais demandas, pois a direção da UNE atuava como um braço de seu governo dentro do movimento estudantil contra as demandas dos estudantes. E hoje novamente vemos a UJS buscando trilhar esse caminho, só que agora não sendo simplesmente a "juventude do governo". Ela busca tornar a UNE um braço da própria frente ampla, e foi com esse objetivo que colocou o odioso Barroso na mesa de abertura, um inimigo declarado das enfermeiras e que foi questionado por nós da Juventude Faísca nacionalmente.
Ao contrário do que a direção majoritária e a Lula buscam, a UNE não pode ser uma "parceira" do governo Lula-Alckmin, porque a conciliação é quem abre espaço para extrema-direita. Lutamos por uma entidade que batalhe verdadeiramente pela revogação integral do novo ensino médio e o arcabouço fiscal de Haddad. Somente com independência de classe e política isso será possível, por isso é tão importante um bloco de oposição por uma UNE independente como a Juventude Faísca vem propondo neste congresso, diferente do que vem fazendo a UP em que sua representante, como aparece na foto desta matéria, posa para fotos com Barroso e Lula.
E também foi nesse sentido que a Faísca organizou um ato contra a presença de Barroso na abertura do congresso, pois não podemos aceitar que um representante do reacionário STF venha fazer demagogia para os estudantes e use a UNE como palanque para se legitimar poucos meses após atacar de forma abjeta o piso salarial das enfermeiras.
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