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"E cresce a roda", crônica contra o Marco Temporal

Bianca Coelho - Estudante de Letras USP

"E cresce a roda", crônica contra o Marco Temporal

Bianca Coelho - Estudante de Letras USP

"A gente vai liberar sim, é só vocês dá um tempinho, tamo aqui terminando nossa reza’, grita ela para o policial. E vai uma hora, duas, três, sem fim. A reza é infindável, circular. ’A gente vai liberar’, e seguem os cantos, a roda, a dança, que é luta. É impossível liberar a Bandeirantes, é absurdo liberar a Bandeirantes. Cresce a roda". Confira crônica contra o Marco Temporal, que ataca o direito à demarcação das terras do povo indígena e aprofunda a destruição do meio ambiente.

"A gente vai liberar sim, é só vocês dá um tempinho, tamo aqui terminando nossa reza", grita ela para o policial. E vai uma hora, duas, três, sem fim. A reza é infindável, circular. "A gente vai liberar", e seguem os cantos, a roda, a dança, que é luta. Há quantos anos são impedidos de fazer isso ali, em meio à rodovia dos Bandeirantes? E cada vez mais cresce a roda, os cantos, os gritos... Essa rodovia, como se não bastasse cortar o território deles, ainda tem como nome os assassinos que os aprisionaram, escravizaram e mataram ao longo de séculos. É impossível liberar a Bandeirantes, é absurdo liberar a Bandeirantes. Cresce a roda.

Na blusa de um dos companheiros indígenas que compunham a manifestação, lia-se "Guima", uma dessas empresas de terceirização do trabalho das quais já ouvimos tantas e tantas atrocidades de exploração de e precarização. A imagem não nos deixa esquecer aquilo que é quase óbvio (ainda que invisível) em um país como o "Brasil, território indígena": que a classe trabalhadora tem sangue indígena também. Pra além de guardiões das terras, grande parte desses povos foram inseridos nas fileiras operárias. Como não podia deixar de ser, o capitalismo fez com os indígenas o que fez com todos os povos oprimidos: os inseriu na produção, e nos postos mais precários.

Mas, veja lá, cresce a roda. Cresce a exploração capitalista, mas crescem também os explorados e sua potencial revolta enquanto classe que pode tomar tudo para si. Cresce a roda, porque a burguesia costuma esquecer que, como consequência de seus atos, vai criando seus próprios coveiros. Cresce a roda, porque, históricos guerreiros que são, os indígenas fizeram e farão parte da primeira linha da luta contra a burguesia, tanto na defesa de suas terras como nos locais de trabalho, em combate ao capitalismo, que nunca terá nada de humano, nunca terá nada de ecológico, não importa o governo do turno. Cresce a roda, seguem os cantos, segue a luta, ou dança, o chocalho, o chocalho...

Não ao Marco Temporal! Unificar a luta indígena com a luta contra todas as reformas e os ataques à classe trabalhadora!


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Bianca Coelho - Estudante de Letras USP

Estudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
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