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Movimento estudantil | Estudantes votam pela greve na UnB, mas gestão do DCE manobra a votação para “estado de greve”. Como fortalecer a greve estudantil na UnB?

Na última quinta, 25, cerca de 800 estudantes participaram da assembleia geral da UnB para debater a greve estudantil geral na universidade. Cerca de 15 cursos já estão em greve estudantil e a assembleia geral de estudantes é o espaço soberano de deliberação democrática para a deflagração de greve geral estudantil, a melhor forma de unificar as greves em curso e estimular que outros cursos também entrem. Infelizmente, após a votação de “greve”, a atual gestão do DCE, dirigida pelos coletivos Juntos! e Correnteza, declarou “estado de greve”, ou seja, uma manobra que desmobiliza a luta des estudantes, sendo contrária à decisão da maioria e adiando a deflagração da greve. Queremos neste texto abrir um debate com es estudantes sobre a necessidade do fortalecimento e deflagração de uma greve estudantil na UnB

sábado 27 de abril | Edição do dia

Nas últimas semanas, vimos diversas universidades e cursos entrando em greve estudantil como na UNB, UFF, UFPE, UFRN, UFPR, UFES e UFMG, um ressurgimento do movimento estudantil que vem sendo contagiado pela greve nacional dos técnicos administrativos que estão paralisados há quase 2 meses, seguida da greve dos docentes iniciada no último dia 15. Ambas as greve se enfrentam com a política de arrocho salarial promovida pelo governo de frente ampla Lula-Alckmin e o seu novo teto de gastos, o neoliberal Arcabouço Fiscal, que limita os gastos com os serviços públicos como educação, saúde, assistência, entre outros, e não permite o reajuste dos técnicos e docentes.

Muito longe de ser uma luta apenas por salários, a luta pela educação pública vem entrando em cena, uma educação que está sendo atacada há mais de 10 anos e acumulando cortes orçamentários bilionários, começados no governo Dilma, aprofundados pelo golpe de 2016 com Temer e depois Bolsonaro, e que hoje são mantidos pelo governo de conciliação de Lula-Alckmin.

Vemos uma disposição de luta nacionalmente do movimento estudantil, que ainda está em desenvolvimento, e temos que batalhar o máximo para que ela se fortaleça e possa arrancar suas demandas nas ruas ao lado dos trabalhadores. Precisamos nos inspirar nos estudantes internacionalmente que nos EUA ocupam as universidades em defesa da Palestina contra o massacre de Israel financiado pelo imperialismo nos EUA e pela luta massiva em defesa da educação pública na Argentina e contra o plano motosserra da extrema-direita de Milei. É um grande ponto de apoio que a assembleia geral da UnB de quinta tenha votado uma moção de solidariedade internacional a esses estudantes.

A assembleia geral do último dia 25 foi a maior do país neste ano e contou com quase 800 estudantes somando diurno e noturno, presencial e online, e contou com 287 votos a favor da greve, 20 abstenções e 231 votos contrários na assembleia do diurno (a do noturno precisou ser suspensa e não houve votação), mostrando que há disposição de luta. Também foi votada uma próxima assembleia para semana que vem com indicativo de greve.

Rechaçamos a presença da direita na assembleia, em especial no formato online, que no chat fez comentários transfóbicos e opressivos. A luta contra as opressões é uma bandeira do movimento estudantil que não abrimos mão. O movimento estudantil sempre cumpriu um papel importantíssimo de se aliar aos trabalhadores e ser linha de frente de processos de luta que permitiram arrancar nossas demandas e colocar em cheque o capitalismo e seus governos. E ele pode cumprir um papel decisivo na batalha pela consciência des estudantes e isso precisa se dar também nas assembleias, garantindo democraticamente falas para todes que queiram falar, sejam estudantes organizados em coletivos ou independentes, para que o máximo de opiniões se expressem e que todes possam chegar em uma síntese superior a partir do debate.

A União Nacional dos Estudantes, a UNE, deveria estar nesse momento convocando assembleias de base em todas as universidades e IFs do país, mas na realidade só depois de 40 dias da greve dos TAEs essa entidade soltou uma tímida nota em apoio, que sequer cita as greves estudantis em curso. Estamos vendo um verdadeiro boicote às lutas por parte da direção majoritária da UNE, composta pela UJS, PT e Levante Popular, mostrando na prática o resultado nefasto de uma política que subordina o movimento estudantil ao governo e ao regime, transformando a principal entidade estudantil do país em um braço do governo que tenta desviar e controlar as manifestações que possam questionar pela esquerda o governo de frente ampla. Não à toa, vergonhosamente, se abstiveram na votação de greve estudantil na assembleia do dia 25 na UnB. Por isso, reforçamos nossa proposta, que a UNE rompa sua paralisia e organize um plano de lutas rumo a uma greve unificada nacional da educação,para a próxima assembleia, visto que não foi colocada para votação na última.

Discordamos fortemente da posição da direção do DCE da UnB, em nossa visão houve uma manobra na votação de greve para “estado de greve ou estado de mobilização para greve”, o que seria uma espécie de estado de alerta para que quando haja mais pessoas possamos deflagrar greve. Na prática, acaba-se por adiar a greve com uma justificativa de que a assembleia não bateu o quórum, que na UnB é de cerca de 2 mil estudantes. Porém, a assembleia foi bastante representativa, e esse argumento do quórum, também utilizado pela majoritária da UNE para deslegitimar nossa mobilização, acaba sendo uma forma de desmobilizar e gerar ceticismo, abrindo espaço inclusive para a direita organizada e um sentimento anti-movimento estudantil que se volta contra a greve. Passa-se por cima da vontade da maioria e adia o momento de entrar em greve, que é o que nesse momento poderia fortalecer nossa luta e convencer mais estudantes de sua necessidade.

Os estatutos das entidades não podem ser um instrumento que se voltem contra a mobilização dos estudantes. Ao contrário, ele deve fomentar a organização da base e a luta. O estatuto do DCE da UnB, assim como de muitas universidades pelo país, tem mais de 40 anos e foi votado na época da ditadura militar. Inclusive, o DCE poderia chamar um congresso dos estudantes para que esse estatuto seja repensado. O que não podemos aceitar é que se utilize de um argumento completamente burocrático para deslegitimar a votação e a vontade da maioria dos estudantes.

Inclusive, em vários outros momentos a UnB já aprovou mobilizações sem bater o quórum e foi isso que permitiu a adesão de mais estudantes na luta, assim como em diversas universidades do país, com estatutos parecidos. Em 2008 na UnB, por exemplo, Fábio Félix (atual deputado pelo MES/PSOL, organização que impulsiona o Juntos!) dirigia o DCE, e a votação da assembleia que aprovou um ato até a Reitoria não tinha batido o quórum, sendo que esse ato se tornou uma forte ocupação que contou com mais de 3 mil pessoas em seu ápice, massificando a luta. Ou mesmo na UFMG essa semana, cuja direção do DCE é composta pelo Juntos! e Afronte e foram obrigados a aprovar a greve desconsiderando o argumento burocrático do estatuto. Porque na UnB é diferente?

Para nós isso explica o método burocrático em que se organizou a assembleia. Nós da Faísca e independentes batalhamos para que es estudantes presentes na assembleia pudessem decidir como se daria o formato de falas, visto que o formato da assembleia proposto pela direção do DCE (Juntos!/PSOL e Correnteza/UP) em nossa visão limitava a participação de todes. Propusemos uma questão de ordem à mesa que foi negado de maneira arbitrária pelo DCE e utilizamos da nossa fala para fazer uma votação do método da assembleia. Ao fim, com um sorteio que inclusive não foi transparente, a maioria das falas foi do DCE, o que não gerou um debate mais diverso entre todes. Para que os estudantes da UnB tenham ciência, não se trata de um fato isolado, o Juntos!/MES tenta esconder sua posição burocrática ao limitar a fala dos estudantes e não deixar a assembleia decidir, mas fizeram o mesmo na assembleia dos professores em SP junto da Resistência/PSOL (corrente que impulsiona o Afronte no movimento estudantil), o PT e o PCdoB, com quem são parte da direção majoritária do sindicato, impondo que apenas os conselheiros falassem e de forma proporcional, não querendo que a base dos professores se expressasse. Isso considerando o ataque da extrema-direita de Tarcísio que quer substituir e demitir os professores com a plataformização e o ChatGPT na preparação de aulas. Vale mencionar que essas correntes chegaram ao cúmulo de vaiar as falas do Movimento Nossa Classe Educação ao denunciar a paralisia burocrática do sindicato e a necessidade de greve para enfrentar os ataques.

Leia também: Greve estudantil pela base ao lado dos técnicos e professores ou desvio burocrático: um debate com o Juntos/PSOL

Entendemos que a deflagração da greve é o que poderia ajudar a mobilizar, massificar e debater com es estudantes que não se convenceram da greve e se ligar ao movimento nacional que acontece hoje. Nos piquetes que estamos impulsionando todos os dias, inclusive em unidade na luta com o Juntos! tivemos exemplos de estudantes de diferentes cursos que se convenceram da necessidade da greve ao conversarem conosco. Estar em greve geral estudantil na UnB fortaleceria enormemente nossas posições e o diálogo com todes es estudantes.

Mas a direção do DCE se adapta à direção majoritária da UNE, e o que explica isso é a política que esses partidos levam a frente na realidade. O discurso desses setores de que a greve tem que funcionar para pressionar o governo mostra isso, assim como sua batalha para que o governo “dê certo”. Esse governo não pode nos representar e nem pode dar certo pros trabalhadores e estudantes, ele está dando certo pros banqueiros e empresários. Não por acaso, o PSOL compõe o governo de frente ampla com cargos, esse é o debate que fazemos com os coletivos do PSOL como Juntos e Afronte, que além disso fazem alianças oportunistas com os stalinistas do Correnteza/UP, uma corrente que nem sequer nos piquetes esteve na UnB e nacionalmente está fazendo de tudo para que a greve não se massifique pela base, sem construir assembleias de base e dividindo os estudantes e trabalhadores como fizeram na UFF, dizendo que só iriam apoiar a greve dos trabalhadores do RU se as refeições dos estudantes estivesse garantida, o que na prática vai contra a mobilização desses trabalhadores.

Precisamos que esses coletivos, se querem travar uma luta consequente contra os ataques e derrubar os cortes e o Arcabouço Fiscal, rompam com essa política de subordinação ao governo. A estratégia de “pressão” ao governo Lula-Alckmin serve apenas para confundir os estudantes, é preciso ter clareza que este governo não está do lado dos trabalhadores e estudantes, este governo é responsável por aprovar o Arcabouço Fiscal e pela manutenção do Novo Ensino Médio e de todos os ataques e reformas de Temer e Bolsonaro. Por isso, lutamos pela construção de uma alternativa verdadeiramente independente deste governo e da reitoria, retomando a tradição combativa do movimento estudantil e nos inspirando nos processos internacionais em curso. É fundamental que na próxima assembleia, deliberada para ser essa semana e com indicativo de greve, todes es estudantes encham os corredores da UnB para novamente expressar sua decisão pela greve estudantil e que possa ser o ponto de partida para massificar a greve em todos os campi em defesa da educação pública e em aliança com os técnicos e professores em greve.

Escrito por militantes da Faísca Revolucionária e independentes




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