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Nos Correios, é possível verificar a ocorrência de acidentes e doenças em todas as atividades, mas a situação dos carteiros é emblemática. A falta permanente de funcionários, devido a não abertura de concurso público para suprir todas as necessidades da empresa, leva a um aumento deste problema. Os Centros de Distribuição ficam sobrecarregados, afetando ainda mais a saúde dos trabalhadores.

quarta-feira 1º de abril de 2015 | Edição do dia

As doenças e acidentes provocados pelo trabalho são uma triste realidade para os trabalhadores, no mundo todo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), são cerca de 2,3 milhões de pessoas que morrem a cada ano. De acordo com o Anuário Brasileiro de Proteção 2015, com dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, em 2013 foram 717.911 acidentes no Brasil, dos quais 2.814 resultaram em óbitos e 16.121 se tornaram permanentemente incapazes.

Nos Correios, é possível verificar a ocorrência de acidentes e doenças em todas as atividades, mas a situação dos carteiros é emblemática. A falta permanente de funcionários, devido a não abertura de concurso público para suprir todas as necessidades da empresa, leva a um aumento deste problema. Os Centros de Distribuição ficam sobrecarregados, afetando ainda mais a saúde dos trabalhadores.

Vários estudos relatam a alta de problemas de saúde entre carteiros, principalmente as lesões por esforço repetitivo (LER) e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). As maiores queixas são de dores na coluna vertebral, torções de tornozelo, joelhos, pescoço e braços. A causa dessa incidência é pelas enormes distâncias percorridas, coluna pelo desgaste que sofre com o peso da bolsa, ombro e pulsos pela repetição exaustiva na triagem de cartas e na cervical pela posição que ficam para ordenar as cartas.

Ironicamente, em 2014 a ECT modificou o plano de saúde dos funcionários (Correios Saúde), com um discurso de que estaria modernizando o convênio, criou uma subsidiária para gerir o plano (Postal Saúde) e torná-lo “mais barato”. Na verdade, houve uma privatização disfarçada, que gerou revolta dos trabalhadores, provocando uma greve de 43 dias em vários locais do país, mas que não conseguiu reverter o ataque. Diferente do discurso, a realidade é que o convênio piorou muito, houve uma diminuição expressiva dos locais de atendimento. Num pais onde a saúde pública é extremamente sucateada e insuficiente, o convênio acaba sendo a única saída, e no caso de uma categoria cuja saúde é tão afetada, faz muita diferença na qualidade de vida.

Infelizmente, é assim o sistema capitalista funciona, o trabalhador fica em último plano. O que importa é render o máximo de lucro para a empresa, não importando se a saúde do trabalhador vai bem ou não. As empresas só veem as cifras do dinheiro e não as gotas de sangue. E quando a última gota de suor já escorreu da testa do peão, quando seu corpo já não aguenta mais e adoece, ele não vale mais nada, por isso tanto faz se ele tem uma saúde pública boa ou um bom plano de saúde. A partir de agora ele é prejuízo.

Outro exemplo claro dessa situação na ECT, é o caso da Mão de Obra Temporária, que a empresa vem tentando instituir como regra para novas contratações. Os efetivos, quando contratados, passam por uma bateria de exames e testes físicos. Já os temporários, não são examinados e podem trabalhar mesmo que sofram de algum problema. Isso porque, ao não estabelecerem vínculos, a empresa não será responsável pela saúde dos temporários a longo prazo. Ou seja, os testes de modo algum visam selecionar candidatos “mais aptos” ou proteger os trabalhadores, mas apenas prevenir gastos futuros com o já esperado desgaste físico da profissão.

Conversamos com dois carteiros de São Paulo, Z.e B., para saber como eles vivenciam este problema:

Quantos anos vocês tem e há quanto tempo trabalham nos Correios?

Z:Quarenta e cinco e trabalho há doze anos.

B: Trinta e quatro anos de idade e dez de Correios.

Notícias em diversos meios de comunicação apontam que atualmente faltam funcionários nos Correios. Isso acontece na sua unidade? Como a sobrecarga afeta seu trabalho e a sua saúde?

Z: Sim, faltam funcionários e afeta o trabalho e degrada a saúde, com LER, DORT, problemas na coluna, por aí.

B: A sobrecarga afeta porque ela acaba funcionando como efeito dominó. Não se contratam novos funcionários, assim não se diminuem as percorridas diárias e a galera vai se afastando e pegando licença médica por conta de lesões e doenças ocupacionais. E aí não se contrata mais gente para cobrir os que se afastaram. Não tem gente pra cobrir nem quem entra de férias. O grupo vai ficando menor e quem fica tem que trabalhar mais e fazer mais hora extra. Isso faz com que aumente o número de afastados.

Em média, quanto peso você carrega?

Z: Com o limite de 10 kg na bolsa, carregamos por volta de 20/24 kg de carga por dia em média.

B: Eu até que divido bem o peso entre os DA’s e a mala e não extrapolo o limite (10kg na mala), mas como andamos muito acho que deveria diminuir esse limite. Temos também que ficar tirando e colocando a mala quando entregamos os registrados. Mesmo quando trabalhamos com o peso abaixo do limite tem muita sobrecarga física.

Você já tem/teve algum problema de saúde decorrente do trabalho? Ou então conhece alguém que teve?

Z: Sim, tenho alguns e vários colegas de trabalho também tem. Temos problemas de coluna, joelho, por causa do excesso de peso né. São doenças ocupacionais.

B: Eu tenho dois problemas de saúde por conta do serviço de carteiro. Ano passado, fiz uma cirurgia no joelho porque tive bursite, um derrame patelar. Sinto dores no joelho e nos tornozelos também. Sinto eles frágeis. Na descida é pior, parece que sente mais, por incrível que pareça. Tenho muitos colegas que tem problemas nos joelhos, nos ombros, mãos, tornozelos, coluna. É muito desgaste nas articulações, né. Sem contar os acidentes de trabalho, que são vários que já sofreram.

Como você acha que o seu trabalho poderia ser feito de forma que fosse eficiente e ao mesmo tempo não prejudicasse a saúde? O que poderia ser diferente?

Z: Precisa dividir melhor o trabalho, estamos muito sobrecarregados e falta mão de obra. Com certeza mais contratação de mão de obra, e equipamentos novos e eficientes.

B: Acho que contratação de funcionários, para aumentar o quadro, não só para substituir os que estão afastados. Chegamos a fazer horas extras todo dia e mesmo assim não conseguimos limpar o distrito. Temos que fazer hora de almoço reduzida para tentar dar conta do serviço. Tem também que aumentar investimento em infraestrutura e segurança para evitar acidentes.




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