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ISLAMOFOBIA | Governo francês decreta a dissolução da Baraka City: ofensiva contra os muçulmanos e os direitos democráticos

Nesta quarta-feira, foi decretada, no Conselho de Ministros, a dissolução da ONG muçulmana Baraka City. Para além dos elementos apresentados por Darmanin, esta dissolução visa, em primeiro lugar, silenciar todos os muçulmanos e estabelecer um sério precedente antidemocrático, fortalecendo a estrutura autoritária do Estado. Isso deve ser denunciado fortemente.

quarta-feira 28 de outubro de 2020 | Edição do dia

Foto:Ludovic Marin / AFP

N.T.: A associação BarakaCity foi dissolvida, nesta manhã, no Conselho de Ministros. Conforme detalhado no decreto que apresentei, ela incitou o ódio, manteve relações dentro do movimento islâmico radical e teve prazer em justificar atos terroristas.

Nesta quarta-feira, Gérald Darmanin anunciou a dissolução da ONG Baraka City. O anúncio faz parte de uma longa conspiração contra a ONG, que fornece ajuda humanitária às populações muçulmanas em vários países ao redor do mundo. Em 2019, foi concluída uma investigação de 3 anos sobre suspeitas que a organização violou a confiança e era financiada pelo terrorismo. Há poucas semanas, a ONG foi invadida novamente e seu presidente, Idriss Sihamedi, preso sob acusações menores, de "assédio moral", ligada a tweets dirigidos à ativista islamofóbica Zohra Bitan. Após o ataque de Conflans, a ONG foi alvo do governo desde domingo, 18 de outubro, como parte de sua instrumentalização islamofóbica e repressiva, após o assassinato absurdo de Samuel Paty.

O ato de dissolução da associação se resume às queixas do governo contra a associação e seu presidente. O decreto menciona, em particular, o fato de que as publicações da ONG e de seu fundador iriam suscitar “comentários hostis ao Ocidente, ao secularismo, aos maçons ou mesmo aos muçulmanos que não compartilham o conceito do Islã promovido pela associação”, como também são “anti-semitas”. Esses comentários permitem que o governo acuse a ONG de "incitação ao ódio", culpando-a pelo conteúdo dos comentários que suscita. Uma primeira denúncia surpreendente que, se generalizada indistintamente, certamente resultaria na dissolução de um grande número de organizações políticas e, em primeiro lugar, da extrema direita, cujo discurso de ódio e ameaças de morte abundam nas redes sociais. Seguindo essa lógica, sem dúvida, seria necessário registrar também o fechamento de muitas emissoras de televisão, à medida que seus programas alimentam o ódio.

Até recentemente, um representante eleito do Rassemblement National poderia ameaçar de morte Anasse Kazib, sem que sua organização estivesse em nenhum momento preocupada com isso. As publicações de Jean Messiha, Zohra Bitan, Zineb El Rhazoui ou mesmo de Damien Rieu são espalhadas diariamente com conteúdos racistas e de ódio e, até agora, não tiveram que se preocupar com quaisquer problemas legais. As acusações de "incitamento ao ódio" revelam, portanto, um óbvio duplo padrão que visa particularmente Baraka City, por ser uma organização muçulmana.

N.T: Que escândalo. Que vergonha.
A ONG BarakaCity foi dissolvida no Conselho de Ministros.

Nenhuma das justificativas apresentadas pelo executivo pode ocultar os verdadeiros motivos: é uma dissolução para servir de exemplo, um castigo político, uma chamada à ordem para os muçulmanos.

Em segundo lugar, o decreto declara que Baraka City está envolvida em "atos com o objetivo de provocar ações terroristas na França ou no exterior". Em apoio a essa acusação extremamente onerosa, o relatório lista uma série de queixas destinadas a provar ligações diretas com o terrorismo. Queixas muito amplas, que vão desde o download de canções religiosas muçulmanas, à recusa em "condenar claramente as ações do Estado Islâmico" em um aparelho de televisão, incluindo a menção de "material de propaganda islâmica", a posse de uma revista do Estado Islâmico, ligações com o movimento “islâmico radical”, ou até mesmo tweets direcionados ao Charlie Hebdo.

Por trás dessa lista de fatos que se afirmam “avassaladores”, o objetivo do governo é claro: relacionar a ONG Baraka City, por meio de seu presidente, a uma organização ligada ao terrorismo. Uma ligação que três anos de investigação profunda, iniciada pela Procuradoria de Paris, ainda não tinha permitido estabelecer, com a investigação por "financiamento do terrorismo", encerrada em 2019. Na ausência de provas, o governo procura atingir o seu Presidente, em que até podemos considerar algumas publicações condenáveis ​​ou questionáveis, como aquelas sobre os membros do Charlie Hebdo, assassinados em 2015, mas que de forma alguma podem ser usadas ​​para justificar a dissolução de qualquer organização. Além do mais, essa pesquisa "profunda" no Twitter busca focar em comentários questionáveis, em vez de apontar que Idriss Sihamedi obviamente condenou o assassinato de Samuel Paty. Na verdade, o que mais uma vez se destaca por trás dos elementos apresentados é um óbvio duplo padrão e o desejo de punir e de pressionar uma ONG muçulmana que o governo não gosta. Nesse sentido, convém lembrar que a francesa Lafarge, que comprovadamente financiou a organização terrorista DAESH na Síria, para poder continuar operando seus sites ali, nunca enfrentou nenhuma ameaça de dissolução.

N.T.: Por acaso, Gérald Darmanin, Zineb El Rhazoui e todas essas belas almas, pediram a dissolução do Rassemblement National quando um de seus membros e candidato cometeu um ataque contra a mesquita de Bayonne?

Portanto, sejam quais forem os elementos apresentados pelo governo para justificar seu ataque, condenamos veementemente a dissolução da ONG Baraka City. Além de sermos contrários ao direito do Estado em dissolver qualquer organização, frisamos que este ataque é parte de uma ofensiva islamofóbica maior, que visa todos os muçulmanos. Também estabelece um precedente perigoso, que obviamente será usado para ameaçar outras organizações que lutam contra a islamofobia, como também as que são opositoras ao governo. Um ataque que pede a mais ampla mobilização, principalmente da esquerda sindical e política, que deve denunciar abertamente todos os ataques repressivos do governo, até silenciá-lo de vez.




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