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DEBATENDO OS EDITORIAIS DA MÍDIA | Hipócritas da mídia montados em crocodilos em dia onde pouco importa a Constituição

Em coro os principais jornais do país apontam nos editoriais e edições de hoje motivações da economia para o impeachment. Este é o tom dado pelo Globo, pela Folha, pelo Estado e seu primo menor o Estado de Minas Gerais. Com maiores ou menores subterfúgios, mostram como pouco importam as bases legais para o impeachment, trata-se de julgamento político travestido de juridiquês golpista e agora montado na hipocrisia de defender os trabalhadores do desemprego e inflação.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

domingo 17 de abril de 2016 | Edição do dia

Em meio ao “bolão” dos votos onde cada família dona de importante império midiático faz suas apostas (O Globo dos Marinho cita 348 favoráveis, os Mesquita do Estadão 350, e a Folha dos Farias, 347) todos os editoriais e edições tentam se apoiar na situação da economia, com uma boa dose de hipocrisia, como se a estes senhores lhes importasse algo o quinhão daqueles que cedo madrugam para a labuta.

O Estado de São Paulo com seu editorial “Um dia decisivo” retoma sua campanha pelo impeachment aposentando o tom de 1964 que vinha empregando e tenta ter um discurso mais de “massa”. Volta-se sobre a corrupção, sobre a tentativa do PT em perpetuar-se no poder, e (novidade!) descobre uma preocupação que nunca se viu frente a milhões de demitidos, ou a menor solidariedade com alguma greve, afirmam que um dos motivos de apear a presidente seria porque sua “sua gerência arrogante e inepta resultou na inflação que corrói os rendimentos da população de baixa renda e na recessão que rouba os empregos, igualmente, de chefes de família e de jovens.”

De resto, como de costume, o jornal reafirma como impeachment se trata de expediente constitucional que não é golpe e outras historietas cantadas e recantadas aos ventos nos últimos meses.

O Estado de Minas em editorial intitulado “Impeachment e salário mínimo” busca as mesmas raízes e argumento demagógico. O jornal, ligado por mil laços a Aécio, afirma que houve crime contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que há debate político se isto seria um crime grave o bastante para o impeachment. Porém, para não restar dúvidas, o que importa mesmo ao jornal mineiro é que, do ponto de vista dos trabalhadores, com os investidores perdendo a confiança no governo, isto levaria a queda no PIB e consequentemente nos salários, daí que é necessária a queda do governo. Se o que determina os rumos de uma nação são os humores dos investidores porque dar-se o trabalho de uma Constituição e eleições, porque o Estado de Minas não sugere que formemos um comitê em Wall Street para escolher e apear o governo quando lhe convier, isto não seria inclusive mais econômico e racional que todas idas e vindas complexas de hoje?

O Globo em editorial “Não vai mesmo ter golpe” repisa argumentos jurídicos favoráveis ao impeachment, retoma argumentos ligados a corrupção e enumera diferenças com o impeachment de Collor mostrando como diferente do “caçador de marajás” Dilma conta com uma minoria ativa em apoio a seu governo ou que, mesmo crítica, se opõe ao impeachment. Esta oposição para o império midiático erguido em monopólio com ajuda estrangeira e do golpe militar de 1964 é de “movimentos ditos sociais cevados com dinheiro público”. Que a UNE, a CUT, a CTB são subordinadas a “seu” governo e nunca organizam um sério plano de lutas contra os ajustes, as demissões não resta dúvida. Mas o jornal dos Marinho tem uma moral seletiva com o erário público. Dinheiro público para anúncios em seu jornal não é problema, dinheiro público nos exorbitantes 43% do orçamento pagos para os detentores da dívida não é problema, mas os movimentos sociais sim.
O Globo analisa que a vitória do impeachment não garante um caminho fácil e que movimentos sociais colocarão dificuldades a um governo Temer, divergindo do Estado de São Paulo no otimismo com o amanhã. Preocupação que é ainda maior na Folha.

Por fim, este editorial carioca afirma uma certeza que resulte no que resultar a votação de hoje, um tom de dúvida que contrasta com seu infográfico dos votos esperados em poucas horas, a “democracia representativa brasileira estará fortalecida”.

Uma argumentação curiosa visto que a prova de fortalecimento para este jornal seria a atuação do Ministério Público e da Polícia Federal, órgãos do Estado Capitalista brasileiro mas que não passam por nenhuma votação popular. Ganhe o que ganhar, aquilo que não votamos é prova que nossa democracia dos votos anda bem. Curioso, mas tal como no final das novelas globais, tudo é possível.
Fora do editorial e através de uma de suas mais importantes colunistas, Miriam Leitão, o Globo também reprisa o argumento interessado em nome dos pobres sobre o desemprego e inflação.

Este é o centro explícito da argumentação da Folha de São Paulo, no editorial “Decisão da Câmara” se diz explicitamente que Dilma deve cair pois seu governo está “exaurido pela própria incompetência política, pelo incomparável desastre econômico que criou, pelo desvelamento de todo o sistema de corrupção que o PT instaurou no centro do poder”. Para argumentar usando a economia ilustram artigos com gráficos sobre a confiança dos empresários, dados sobre a dívida, entre outros.
Divergindo dos outros grandes jornais a Folha retoma sua argumentação crítica ao impeachment dizendo que o mesmo tem “premissas jurídicas” porém, “algumas contestáveis” e que “seria uma medida traumática, projetando para o futuro divisões e inconformismos”. Buscando erguer-se como voz dissonante e crítica retoma sua proposta de dupla renúncia de Dilma e Temer e convocação de eleições antecipadas tudo isto com uma boa dose de hipocrisia de defesa dos trabalhadores e de denúncia dos escândalos de corrupção do PMDB e Cunha.

Citam Percy Shelly, poeta inglês, falando que teriam uma situação no Brasil que seria a “hipocrisia cavalgando um crocodilo” se também não fosse hipócrita a defesa de Lula de sua própria inocência.

Estamos à anos luz de defender alguma inocência de Lula no que tange à corrupção e menos ainda de defender o PT dos ataques que proferiu, e proferirá aos trabalhadores caso derrote o impeachment. Mas soa até como licença poética a verdadeira hipocrisia dos absurdos editoriais de hoje que se colocam mentirosamente do lado dos trabalhadores.

O poema citado pela Folha é um raivoso grito contra o massacre de Manchester de 1819 quando uma multidão foi atacada pela cavalaria ao exigir reformas no parlamento. Ao contrário de um uso interessado e instrumental no jornal dos Farias, é um elogio a que os de baixo se levantem contra a tirania e contra os ricos.

Não cabe à Folha mas a jornais comprometidos com a luta dos trabalhadores denunciar a situação da economia, o desemprego, a inflação, pois não só denunciamos quando nos convém. Buscamos e exigimos que os sindicatos, entidades estudantis, que a UNE, a CUT, a CTB organizem verdadeiros planos de luta contra o impeachment, contra as demissões e os ataques dos distintos governos, incluindo o "seu" governo. Em nosso editorial e não na Folha cabe o poema “A Máscara da Anarquia” de Shelly que concluiu sua crítica a opressão dizendo:

“Levantem-se, como leões acordando tantos,
como uma tropa invencível,
Agitem suas correntes para que elas caiam
Como o orvalho caía sobre vocês
Vocês são muitos, eles são poucos.
”.


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