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PSDB PROVARÁ DE SUA PRÓPRIA "MEDICINA"? | Investigando a Lava Jato: as provas contra Aécio respingam no PT, vice-versa

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 5 de fevereiro de 2016 | 00:00

O Estadão diminui a denúncia que Aécio recebia propina de Furnas. A Folha depois de trazer esta notícia hoje já a diminuiu muito em seu site. Procurando fortalecer a estapafúrdia tese “o PSDB também rouba”, os blogs petistas, tal como o fez o Viomundo, noticiariam com uma só frase o cerne da última delação contra Aécio a ganhar a imprensa: Lula indicou a pedido de Aécio o agente que passava propina ao tucano. Como já indicamos em outro artigo é preciso ir nas fontes para buscar entender algo mais da operação Lava Jato.

Antes de buscar fornecer detalhes das três delações que pudemos encontrar menções, acusações e provas contra os tucanos e o que isto joga luz nas relações entre os partidos e sobre o regime político brasileiro, trataremos das declarações, com toda cara-de-pau do mundo que Aécio Neves fez procurando deslegitimar as delações que o atingem, sendo sempre o primeiro a não questionar as que atingem o PT. O mesmo vale para o outro lado do gramado quando há algo contra o PSDB.
Contra a utilização seletiva, e desqualificação igualmente seletiva, vale ir às fontes.

Aécio diz não haver provas

O ex-candidato a presidente afirmou que vai “interpelar” Fernando Moura por citar seu nome em delação premiada. Moura disse que Aécio recebia “um terço” da propina desviada da estatal de Furnas. De acordo com o senador, esta é uma tentativa de “envolver o PSDB e o meu nome nos escândalos investigados pela operação Lava Jato”.

“Estou sendo alvo de declarações criminosas feitas por réus confessos e que se limitam a lançar suspeições absurdas, sem qualquer tipo de sustentação que não a afirmação de que ‘ouviu dizer’”, afirmou Aécio. Segundo ele o depoimento é uma tentativa de afastar os holofotes da crise política vivenciada pelo PT. “É parte de uma estratégia que busca unicamente diminuir a enorme dimensão dos graves crimes cometidos pelo PT e seus aliados.”

Surpresa com Furnas ter ligações com políticos mineiros?

Ao contrário do que é tratado em uma linha pelo Viomundo e outros sites e blogs defensores do petismo, e praticamente calado pela grande imprensa burguesa, o cerne do depoimento de Fernando Moura, empresário ligado ao PT, réu confesso na operação, é como Zé Dirceu não queria manter Dimas Toledo em Furnas, porém Lula teria mantido o mesmo a pedido de Aécio. Não há como incriminar Aécio nesta operação sem também atingir Lula.

O texto da delação de Fernando Moura divulgado pela Folha de São Paulo é o seguinte: “[me disse Dirceu] O Dimas não, porque se o Dimas entrar em Furnas como porteiro ele que vai mandar em Furnas, está lá há 34 anos, é uma indicação que sempre foi do Aécio”. “Passado um mês e meio ele (Dirceu) me chamou e falou qual a sua relação com Dimas Toledo?’ Eu falei, estive com ele três vezes, achei ele competente, cara profissional. O Zé me disse. "Porque esse foi o único cargo que o Aécio pediu pro Lula, então, você vai lá conversar com Dimas e diga que a gente vai apoiar a indicação dele."

Tempos depois o mesmo Fernando Moura teria se encontrado com Dimas e este disse “’vocês nem precisam aparecer aqui, vocês vão ficar é um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio”. A interpretação que foi dada pela imprensa é que o PSDB ficaria com dois terços portanto e o PT com um terço da propina.

Furnas ser uma indicação política de políticos mineiros não é de causar estranhamento. Itamar Franco mesmo após ter feito um governo como Presidente da República marcado pelas privatizações, quando FHC tentou privatizar Furnas o ex-presidente e então governador de Minas Gerais mandou sua polícia militar ocupar uma hidrelétrica da estatal. Quem sucedeu Itamar como governador e manteve interesses em Furnas? Aécio Neves.

O entregador de dinheiro por Youssef disse que Aécio era o mais chato nas propinas

Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, entregava dinheiro para o doleiro Youssef, peça chave na operação. As denúncias de Youssef são tratadas como absoluta verdade por toda a imprensa e pelo PSDB. O agente de Youssef declara neste vídeo publicado pela Folha de São Paulo que ao tratar das propinas com a empreiteira UTC, que também tem fartas delações utilizadas a torto e direito pela imprensa e pelo PSDB, que um diretor da empreiteira, Miranda (preso na operação), estava muito inquieto um dia porque o dinheiro que Ceará trazia era para Aécio Neves. Na ocasião o entregador perguntou “Oxe a gente aqui entrega dinheiro para a oposição?”. A resposta segundo relatou Ceará: “aqui a gente dá dinheiro para todo mundo.” E o representante da empreiteira teria completado: “este aí é o mais chato que tem para cobrar.”

Paulo Roberto Costa, pivô da Lava Jato, entregou propina para o PSDB desistir de CPI

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, responsável pelas refinarias e pela logística da empresa, um dos pivôs do vastíssimo esquema de corrupção declarou em seu 14º depoimento de delação premiada que havia testemunhado a entrega de dinheiro a Sérgio Guerra, então presidente do PSDB para que este desistisse de uma CPI sobre a Refinaria Abreu e Lima (RNEST). Segue a passagem do texto na linguagem jurídica do mesmo:

“que acerca do tema envolvendo uma CPI para investigar a PETROBRAS no ano de 2010 disse que esse era um ano eleitoral, que sendo o declarante procurado por Eduardo da Fonte do PP, com quem se reuniu no Hotel Windsor no Rio; Que nessa reunião estava presente também o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, o que causou estranheza ao declarante, uma vez que oposição e situação estavam interessados nessa reunião; Que os mesmos disseram que o TCU teria apurados [sic] algumas irregularidades relacionadas a sobrepreço junto a Refinaria Abreu e Lima (RNEST), mas que não seria de interesse nem da oposição nem da situação essa comissão parlamentar; Que, o declarante comunicou essa situação a Armando Tripodi, chefe de gabinete de Sérgio Gabrielli, o qual concordou que a CPI deveria ser barrada, dados os potenciais prejuízos, principalmente em um ano eleitoral; Que, outra reunião foi agendada, também com a presença de Eduardo da Fonte e o senador Sérgio Guerra, sendo ventilado que o PSDB queria uma compensação no valor de dez milhões de reais a fim de barrar a CPI; que, após essa reunião o declarante procurou Ildefonso Colares Filho, presidente da Queiroz Galvão, empresa consorciada com a IESA em uma das obras de Abreu e Lima e após explicar-lhe a situação o mesmo concordou que a CPI seria uma mau negócio e concordou em pagar o valor solicitado por Sérgio Guerra; que houve uma terceira reunião com Sérgio Guerra e Eduardo da Fonte onde comunicou a eles que o assunto seria resolvido e que a empresa Queiroz Galvão liberaria o recurso postulado; Que posteriormente conversou com Ildefonso Colares e o mesmo disse ter feito o repasse...”

As entranhas de um mesmo regime

Fugindo da indignação e também do questionamento seletivo, as provas destas delações não diferem em qualidade das provas apresentadas contra petistas, contra Cunha. O “pau que dá em Chico também dá em Francisco”. Seja o PT ou o PSDB, a Lava Jato escancara como muda o inquilino mas as regras do condomínio são as mesmas, todos governaram e governam recorrendo a esquemas ilegais de compra de partidos aliados ou adversários para aprovar projetos, calar críticas, com relações espúrias com empresários para favorecimento mútuo dos empresários com sobre-preços e dos políticos com financiamento de campanha e propinas.

As declarações de Fernando Moura unem Lula e Aécio em uma mesma trama. Será este motivo pecuniário o motivo que até 2010 Aécio era tido como "o mais petistas dos tucanos", e houve até especulações dele mudar de sigla para o PT caso Lula não optasse por Dilma. Hoje é vociferante contra Dilma e o PT (mas muito menos contra Lula).

As tramas que unem Lula e Aécio e estas delações também ilustram a importância de Furnas na política mineira, e também a vasta história de uso de recursos da mesma. As declarações de Paulo Roberto Costa mostram a seletividade, pecuniária do que a oposição tucana se grita.

O vir à luz de denúncias que também atingem Aécio podem indicar, é preciso buscar mais indícios e aguardar novos desenvolvimentos da operação para confirmar, dois movimentos subterrâneos hipotéticos em meio à Lava Jato: que Serra esteja preparando seu terreno na disputa interna tucana expondo sujeira de Alckmin (Merendão) e de Aécio, ou que interesses superiores à disputa PT-PSDB, imperialistas, se movimentem por trás da operação.

Por isto, por mais que a mídia se esforce em conter a operação nos danos ao petismo, levando Boulos do MTST por exemplo a criticar isto em artigo na Folha de São Paulo, está operação parece ultrapassar este limite que a própria mídia o fraqueia. Tanto porque todos partidos do regime estão ligados não só por interesses de classe contra os trabalhadores mas por laços de corrupção, como possivelmente interesses superiores a atingir tal ou qual partido movimentem os bastidores e interesses profundos nesta que é a maior operação policial, judicial e política da história recente do país.

Ao contrário de cairmos na operação ideológica petista de "eles também" que o artigo de Boulos procura fortalecer é preciso uma orientação diametralmente oposta. Para não contribuirmos na prostração e danação geral da política no país, em um "não tem jeito", é preciso ser implacável sempre contra a direita e suas reuniões com o imperialismo citadas em wikileaks, seus "trensalões" e "merendões" mas também com o petismo e a Lava Jato. E, em meio a isto batalhar por medidas democráticas radicais como a elegibilidade e revogabilidade de qualquer mandato e cargo político (incluindo o "sacrossanto" judiciário), que todos políticos ganhem o mesmo que uma professora, entre outras, como parte de contribuir a que a classe trabalhadora aspire a mais que esta democracia. Partindo de questionar estes podres poderes que ela vá avançando a "colocar uma data final" no regime dos Odebrecht, dos Sarney, dos FHC mas também do Lula.




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