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PRIMEIRAS REFLEXÕES | Lava Jato testa correlação de forças: planos táticos, de campanha e estratégicos em nova crise nacional

Primeiras reflexões em um dia de intensas e novas movimentações na Lava Jato. Como essas investidas se casam e combinam com diferentes interesses em movimento por parte das forças golpistas. Com os ataques aos direitos trabalhistas e mais estrategicamente com as alas do golpe que buscam dar golpes mais duros no PT e mesmo no conjunto do regime político.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quinta-feira 15 de setembro de 2016 | Edição do dia

Pela primeira vez em dezenas de operações, os Procuradores da República em Curitiba não atuaram junto com a cara pública da operação, o juiz federal Sérgio Moro. Já ocorreram operações em separado e com trocas de caneladas com o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot ou com o STF, mas uma operação que não resultasse em imediata medida por Moro é novidade.

Essa novidade “processual” é cheia de significações. Exploraremos três âmbitos do que se move na Lava Jato ao pedir o indiciamento de Lula e como isso se conecta com a crise política nacional. Vamos primeiro à novidade “processual” de uma Lava Jato separada no tempo das decisões de Moro.

Buscar indiciar Lula “sem prova, mas com convicção” é uma nova operação arriscada da Lava Jato. Tão arriscada como as escutas de Moro, ao menos no plano jurídico são. Moro, um baluarte da ética na Veja e outras revistas sofre um desgaste por investidas como essas. Dallagnol, o procurador chefe da operação não. Eis um primeiro elemento de porque separá-los, o segundo é para aproveitar a inovadora medida arbitrária, “por convicção”, para testar a correlação de forças, ver as reações para ver como avançam nos diferentes planos da ofensiva. Testam para ver quanto podem avançar em cada plano da ofensiva. Esses planos passam por ao menos três âmbitos: tático, de campanha e estratégico.

Plano tático: na analogia militar a tática é uma operação isolada, digamos uma batalha, que é a expressão no terreno da estratégia. A estratégia é a arte de vencer o inimigo, organizar as forças para obter seus objetivos. Qual o plano tático da operação de hoje? São ao menos dois: mudar a conjuntura e tático-eleitoral.

A conjuntura desde a manifestação em São Paulo de cem mil quase duas semanas atrás estava marcada pelos questionamentos crescentes a Temer e suas medidas. Essa era a conjuntura nacional colocando para Temer a pressão de seus aliados demandando ataques já e um temor a como isso cairia nas massas. A primeira medida para mudar a conjuntura foi a operação dar uma cara limpa ao golpe e ao congresso, a cassação de Cunha.

Centenas de Cunhas cassaram Cunha. O próprio Eduardo Cunha tentou apelar, sem sucesso aos mais de 160 deputados com processos no STF. A medida de hoje entra nesse marco. Um país “renovado” pelo próprio judiciário, segundo eles mesmos dizem, agora parte para o ataque. Na conjuntura anterior com crescente descontentamento com os ataques de Temer à previdência, a CLT, e ao funcionalismo o PT na oposição podia melhor organizar suas forças para o embate eleitoral. O golpe ganhava concretude para as pessoas.

Colocar no centro do debate “Lula deve ser preso ou não?” ajuda a tirar esse centro, e no mínimo altera completamente a colocação eleitoral do PT e de Lula – voltam à defensiva. Os golpistas à ofensiva. E os ataques planejados com maiores probabilidades de passar.

Plano da campanha: uma campanha é um conjunto de táticas, batalhas. Por exemplo como foi a campanha de Napoleão na Rússia, envolvendo diversas batalhas e táticas em meio a uma campanha como um todo.

A crise política nacional se desenrola em meio a uma importante crise econômica.

Aos empresários se trata de oportunidade de atacar os direitos da classe trabalhadora e aumentar sua taxa de lucro. Esse interesse do empresariado não fica restrito a sua FIESP e congêneres, ganha decisões até do STF como mostramos, que tem ele decidido antes do Congresso que o negociado vale mais que o legislado (jogando fora preceitos da CLT). Tirar o foco da conjuntura do “Fora Temer” e da luta contra seus ajustes desorganiza as atenções daí e permite utilizar essa brecha na conjuntura para avançar na campanha de retirada de direitos. O favor de Dallagnol e companhia aos empresários pode se consumar aí.

O prazo que uma parte da mídia e dos tucanos deram para Temer consumar alguns ataques era setembro. Coincidência que esta batalha sirva na campanha, inclusive em sua disposição temporal?

Plano estratégico: parte do que chamamos de “partido judiciário” um conjunto díspar de atores que comungam com o objetivo comum de erguer seu poder como árbitro de todos poderes encontra em suas diferentes frações uma fração especial em Curitiba. Todo o regime político nacional passa em algum sentido por uma divisão em três alas, o judiciário também, entre aqueles mais propensos ao PT, aqueles mais propensos a alguma nova forma de pacto nacional (tipo o que ensaia Renan com Lula na separação do imepachment de Dilma), há naquelas terrenas paranaenses uma ala mais “golpista até o fim”, expressão mais acabada do que também expressam algumas alas parlamentares.

O impeachment não a satisfez politicamente como fez a outras alas da elite.

Em Curitiba expressa-se uma predominância de uma fração de messiânicos senhores que se enriquecem com as delações, que foram treinados nos EUA, e tem uma agenda que não necessariamente se casa sempre com outras frações da elite, seja no próprio poder judiciário ou no parlamento. Sua agenda é “golpista até o fim”. Querem mudar o lugar da classe trabalhadora no regime do país.

Para isso jogam com duas idéias: “somente” atacar o PT, seja levando a prisão de Lula ou “como mínimo” impedindo-o de se candidatar em 2018 ou, jogam por mais, ensaiam às vezes que deveriam contribuir para mudar todo o regime político do país. Fazer uma “mãos limpas”. Para isso, no mínimo na aparência, também teriam que pegar alguns símbolos do PMDB e PSDB para não desmascarar como sua farsa de combate a corrupção visa somente trocar os esquemas de corrupção atuais por novos esquemas mais funcionais ao imperialismo.

O plano estratégico se trata de conduzir as forças para esmagar, derrotar o inimigo. E o inimigo para esses senhores é o proletariado. São partidários de restrições no regime político, de medidas arbitrárias e repressivas como escutas ilegais, delações, espionagem. Suas “10 medidas de combate a corrupção” os erguerá como ainda mais arbitrários senhores do país, levando a praticamente acabar com o direito de habeas corpus entre outros absurdos.

Lula e o PT são um símbolo para setores da classe trabalhadora. Como tais são atacados. Conciliariam e favoreceram a elite até não poderem mais. Ajudaram os banqueiros a lucrar como nunca. Ajudaram a elite com ataques como a reforma da previdência e planejaram e começaram a executar os planos de cortes e ataques que Temer executa. Por fim ainda ajudaram ao conter as lutas contra o golpe. Mas todos esses serviços à elite não importam aos “Harvard Boys” de Curitiba. Querem aproveitar a crise para promover uma limpa. No regime todo, ou ao menos contra o PT somente.

Entre esses planos todos se movem as jogadas de hoje. Ensaiando, dando as caras nos três diferentes planos e vendo, testando, medindo reações. Se contentaram com qual âmbito de sua ofensiva? Moro aguarda as reações para aí executar novos passos entre os três âmbitos.

Nossa crítica deve passar pelos três âmbitos reacionários do que busca a Lava Jato. Mas para realmente se contrapor a esses três âmbitos é necessário colocar em movimento uma força que questione o conjunto do regime político, incluído o judiciário. Erguer uma força à altura dessa crítica não será buscando acomodamento com setores da elite em conchavos como faz sempre o PT em sua eterna busca de parceiros no PP, PMDB, PR, etc, nem será com a paralisia de ação por parte das centrais sindicais ligadas ao ex-govenismo que não erguem uma luta altura contra os ajustes como não o fizeram contra o golpe instucional. Deverá ser em radical oposição a todas as alas da elite nacional, usem elas as togas do judiciário ou os discursos no parlamento, unindo a luta contra os ajustes à luta contra o governo golpista de Temer e as continuadas movimentações golpistas e arbitrárias do poder judiciário.




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