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Metrô de SP | Lições da greve contra as privatizações de Tarcísio: um debate com a maioria do Sindicato dos Metroviários

As trabalhadoras e trabalhadores do Metrô de SP protagonizaram uma greve unificada no dia 3/10 com CPTM, Sabesp e outras categorias, com uma adesão histórica, paralisando 100% do Metrô. Somente dois dias depois, a assembleia da categoria terminou não aprovando nenhum indicativo de greve para continuar a luta frente a um ataque enorme prestes a ser aprovado - a terceirização do atendimento nas estações e da manutenção de trens da Linha 15. Não se pode dizer que foi por falta de disposição de luta da categoria, que se mostrou enorme na greve do dia 3/10. Dizer isso é eximir as direções da responsabilidade por uma política que, na prática, está desmontando uma forte mobilização. Aqui debatemos como isso aconteceu, buscando tirar lições que sirvam para retomar com urgência a mobilização para barrar os ataques, aproveitando a oportunidade aberta com a suspensão do pregão de terceirização das estações do Metrô, uma importante conquista da nossa greve, que precisamos lutar para consolidar.

domingo 8 de outubro de 2023 | Edição do dia
Foto: LEANDRO CHEMALLE/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO

Foi enorme a força demonstrada na greve unificada do dia 3 de outubro, de trabalhadoras e trabalhadores do Metrô, CPTM e Sabesp, que teve adesão dos trabalhadores da USP e confluiu com os trabalhadores do Aeroporto de Guarulhos, os trabalhadores da Embraer e milhares de estudantes da USP e da Unicamp em greve - mostrando que havia condições para uma greve geral, como insistentemente exigimos das centrais e direções sindicais. Isso só não se deu pela política das centrais sindicais (como CUT, CTB, Força Sindical e UGT, que integram o governo de frente ampla), que sequer convocaram um ato para o dia.

A adesão no Metrô foi histórica, de quase 100%, derrotando as tentativas do presidente Castiglioni de furar a greve com os planos de contingência. A população mostrou enorme apoio, mesmo com a imprensa tentando demonizar a greve. E o governador Tarcísio foi desmascarado ao vivo: enquanto ele dizia que as privatizações garantiam serviço de qualidade e segurança, a Linha 9-Esmeralda da CPTM teve mais uma pane, colocando a população em risco, como acontece toda semana, mostrando o que é a privatização. Nos dias seguintes continuaram as falhas e os riscos de novas tragédias, inclusive com o desabamento do teto da estação Osasco. Ficou claro como a greve contra a privatização era em defesa da população, e que somos nós, trabalhadores, que estamos preocupados com os usuários, e lutando para que a população não sofra ainda mais com superlotação, acidentes, falta de água e aumento das tarifas.

Mas sempre soubemos que para derrotar o histórico plano de privatização de Tarcísio uma greve de um dia não seria suficiente. É a primeira vez que um governador de São Paulo lança um plano de guerra tão audaz contra os trabalhadores e o povo pobre: privatizar os bastiões do serviço público como a água, o metrô e os trens. Para tal façanha, Tarcísio se apoia na política e em medidas concretas também do governo Lula-Alckmin, que recém incorporou o Republicanos, partido de Tarcísio, em seu ministério, aprovou o Arcabouço Fiscal que libera do teto de gastos as verbas investidas em privatizações e PPPs, e anunciou que Lula lançará o PAC em São Paulo com um acordo com Tarcísio para investir R$10 bilhões do BNDES nas obras de privatização de Tarcísio, incluindo a Linha 2 do Metrô e o trem para Campinas.

Não por acaso o silêncio sepulcral do PT e de Lula durante a greve. Esse que, poucos dias antes, estava ajudando a demagogia eleitoral de Biden para conter a histórica greve dos trabalhadores das automotivas, e chegou a pedir que os sindicalistas brasileiros convidassem ele para um piquete. Apesar das súplicas da Resistência-PSOL chamando Lula para estar nos piquetes, o que se comprovou foi o óbvio: o completo aval e colaboração que Lula oferece para a política de privatizações em SP.

Ao mesmo tempo, Tarcísio avançou em uma linha dura contra nosso direito de greve. É feroz para falar em punir os trabalhadores, e bem manso frente à responsabilidade da CCR pelas falhas que colocam em risco a vida da população. Ameaçou, junto com o presidente do Metrô, Castiglioni, punir os lutadores e o Sindicato, algo que não podemos aceitar, e que precisamos barrar com nossa luta.

Por tudo isso, desde o começo nós do Nossa Classe apontamos a necessidade de não pré-determinar que nossa greve seria de apenas um dia. E mais do que isso, que a decisão sobre a continuidade ou não da greve unificada deveria se dar em uma assembleia unificada onde todas as categorias em greve pudessem discutir, e a base decidir os rumos da sua luta, a partir de avaliar o impacto da nossa greve conjunta.

Também por tudo isso, mesmo sem uma assembleia unificada com outras categorias em luta, na noite do dia 3 nós defendemos a continuidade da greve no Metrô, para barrar as terceirizações, aproveitando o momento mais favorável, com uma greve forte instalada, apoio da população, e Tarcísio na defensiva com as falhas na Linha 9.

Mas no dia 3/10 a maioria da diretoria do sindicato, como a Resistência-PSOL e o PSTU, que cada vez mais atuam como um bloco dentro da Diretoria, e também a CST, junto com as correntes da burocracia que estão na oposição, como PT, PCdoB e UP, todas defenderam ferozmente contra a continuidade da greve dos metroviários. E, antes disso, todas também atuaram contra qualquer possibilidade de continuidade da greve unificada (nesse caso inclusive a corrente RS-PSOL/”Unidos para lutar”): fosse defendendo contra o chamado a assembleia unificada, boicotando o chamado depois que foi aprovado pela maioria da assembleia, fazendo defesas enfáticas de que "é impossível qualquer luta unificada contra a privatização para além do dia 3", como disse o PSTU, ou no caso das correntes da CUT e CTB, encobrindo sua própria política contra a mobilização das demais categorias.

Foi isso - muito para além dos “erros no encaminhamento” que a maioria da diretoria reconheceu que fez na assembleia do dia 3, quando dividiram os votos a favor de um novo indicativo de greve e levaram a não aprová-lo naquele dia, de forma desastrosa - que levou à situação atual. Assim, na assembleia do dia 5/10, uma maioria apertada, em uma assembleia on-line, votou por 1416 a 1328 votos contra um indicativo de greve no início da semana que vem.

Mas esse resultado não foi por falta de disposição de luta da categoria, que se mostrou enorme na greve. Essa é a primeira coisa a dizer, porque agora as correntes da maioria da diretoria e da oposição burocrática vão querer dar essa explicação. Vão se apoiar no fato de que defenderam o indicativo de greve na semana que vem para colocar a responsabilidade na categoria, e tentar se eximir da responsabilidade que é da política que tiveram em todo o processo.

Afinal, como se explica que de um dia para o outro aquela adesão histórica à greve tenha se transformado nesse resultado? Somente pelo fato de que tanto a maioria da diretoria como a burocracia que está na oposição, primeiro, boicotaram todas as possibilidade de ter uma continuidade da luta unificada, e segundo, defenderam contra a continuidade da greve no dia 3/10 quando ela dava as melhores condições para seguir a luta contra as terceirizações. Assim, estão desmontando uma mobilização que estava muito forte, e deixaram a categoria dividida, frente às vacilação das direções, e tendo como única opção naquele dia 5 aprovar uma segunda greve em uma semana, o que infelizmente parte da categoria não viu como uma possibilidade.

Nós, no dia 5/10, nos colocamos a construir com todas as forças a proposta de uma greve no início da semana que vem, como expressamos neste artigo. Batalhamos contra essa votação contrária a um novo indicativo de greve, que deixou a categoria em uma situação muito pior, e consideramos necessário combater a conclusão tirada por parte da categoria, contra uma nova greve. Mas não podemos aceitar que as direções que criaram essa situação coloquem a culpa na categoria. O resultado da votação é de responsabilidade da política desses setores.

Agora, se abriu uma nova oportunidade para reverter esse processo de desmobilização. No dia 6/10, saiu uma decisão liminar da justiça suspendendo o pregão do dia 10/10 de terceirização das estações, como divulgado pelo Sindicato. Isso é uma conquista da luta, expressão da enorme força da categoria que se mostrou dia 3/10. A decisão é liminar, ou seja, não é definitiva, e o Metrô já está buscando reverter. Mas é uma ótima notícia, que nos abre uma nova chance para retomar o grau de mobilização para barrar as terceirizações, ou seja, para consolidar a derrubada da terceirização das estações, e para derrubar também a terceirização do POT, que segue marcada para o dia 17/10. Não podemos confiar na justiça, que pode inclusive reverter essa decisão antes mesmo do dia 10/10, para deixar o pregão acontecer. Só retomando com muita força a mobilização podemos garantir a consolidação dessa conquista.

É preciso levar adiante esses debates sobre como a política das direções levou à divisão e desmobilização de uma parte da categoria que tinha acabado de mostrar sua disposição na greve, inclusive para combater qualquer conclusão que considere impossível retomar o grau de mobilização. E assim tirar essas lições e se apoiar nelas para fortalecer a luta agora.

Nesse sentido, é preciso buscar seriamente a unificação na luta, e que ela possa ser levada adiante pela base das categorias, como nossa assembleia aprovou com o chamado a assembleias unificadas, o que exige superar a concepção de que a unidade exige acatar com docilidade todas as vontades das burocracias sindicais que dirigem os outros sindicatos, sem fazer nenhuma crítica, nem sequer um chamado que possa desagradá-los, como foi defendido abertamente pela Resistência-PSOL, PSTU e pela burocracia.

E é preciso criar instrumentos para que a base decida de forma mais democrática também na nossa categoria. Problematizando a assembleia on-line - em que a maioria da categoria somente vota, sem sequer ouvir os argumentos e defesas, muito menos fazer propostas, e na qual se perde a força da reunião de milhares de trabalhadores, ombro a ombro, debatendo e fortalecendo sua confiança - além de facilitar encaminhamentos totalmente equivocados como o do dia 3, e facilitar a ação da empresa colocando os executivos e gerentes para votar. Mas principalmente batalhando por um instrumento de auto-organização dos trabalhadores mais forte no momento da luta, como a proposta que defendemos de um comando de representante eleitos na base, nas setoriais, que conduza a mobilização e a luta entre uma assembleia e outra, para que os trabalhadores em luta decidam os rumos da nossa mobilização de forma mais democrática. E também, com urgência, realizar as eleições de delegados sindicais, para fortalecer a organização na base.

Chamamos toda a categoria a participar em peso do ato nesta segunda-feira, dia 9/10, às 16h, em frente ao Cidade 2, e todas as correntes da vanguarda a construir essa ação com toda força, e a debatermos essas medidas para retomar o grau de mobilização, e preparar uma nova assembleia que possa aprovar um plano de continuidade da luta à altura de barrar esses ataques, e preparar as próximas batalhas, em uma guerra dura declarada por Tarcísio, que tentará avançar mais agora. Só assim poderemos barrar todas as privatizações, e avançar na luta por um transporte 100% estatal e sob controle dos trabalhadores e usuários!




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