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Opinião | Mais bilionários no mundo: que paguem pela crise!

São 660 novos bilionários no mundo, enquanto uma meia-dúzia tem lucros recordes, são 750 milhões de pessoas na extrema-pobreza. Jeff Bezos, Stéphane Bancel, Ugur Sahin, Françoise Bettencourt Meyers, Alice Walton, Jorge Paulo Lehman: que eles paguem pela crise!

Rosa Linh Estudante de Relações Internacionais na UnB

sexta-feira 9 de abril de 2021 | Edição do dia

Se por um lado temos no Brasil, por exemplo, o avanço da precarização do trabalho e dos ataques como a PEC Emergencial, a MP 936, altíssimo desemprego; por outro temos 660 novos bilionários no mundo segunda Lista da Forbes, que em um ano de pandemia soma 2.755 bilionários com uma riqueza de 13,1 trilhões de dólares.

Enquanto uma meia-dúzia tem lucros recordes, são 750 milhões de pessoas na extrema-pobreza. No Brasil, 36% da população passa ou já passou fome durante a pandemia. Os bilionários americanos aumentaram suas fortunas em US$ 1,5 trilhão, e os bilionários chineses em US$ 1,3 trilhão. Aliás, mais uma prova de que a China, a segunda em número de bilionários no mundo, nada tem de socialista. Fora o caráter de seu Estado, como bem expôs recentemente o camarada Seiji, a China exerce um papel depreciador no preço da força de trabalho mundial (salário) - coisa que, de longe, nenhum stalinista e/ou reformista tem coragem de dizer.

Jeff Bezos foi declarado o homem mais rico do mundo pela quarta vez consecutiva, com uma riqueza de US$ 177 bilhões. Mas de forma alguma Bezos conseguiu tudo isso por seu suposto trabalho e esforço - foi com muita mas muita exploração dos trabalhadores da Amazon. Acontece que, mesmo com uma grande pressão da policia racista e do suporte de leis bastante antidemocráticas, os trabalhadores da Amazon nos Estados Unidos estão lutando heroicamente pelo seu direito à sindicalização - com direito a apoios internacionais na Alemanha, Itália e outros países. São as negras e negros, os trabalhadores mais precários da empresa que estão na linha de frente, uma força que vem diretamente do grande impacto do Black Lives Matter no movimento operário estadunidense. Nada mais desesperador para o maior bilionário do mundo.

Ugur Sahin (4,9 bilhão de dólares), fundador da BioNTech, e Stéphane Bancel (4,4 bilhão de dólares), CEO da Moderna, lucraram bilhões com a especulação em torno das vacinas nessa pandemia. Esse é mais um exemplo de como as patentes das vacinas são um mecanismo cruel e genocida para assegurar o lucro de um punhado de capitalistas. Aliás, importante dizer que diante disso se mostra a impotência da estratégia de certa esquerda de "pressionar os governantes para comprar vacinas" - EUA, Israel, Alemanha, Inglaterra, Rússia, China, França - todos esses países estão fortalecendo como nunca tendências nacionalistas num jogo geopolítico que preza pela escassez generalizada de vacinas em todo o mundo, mas sobretudo nos países coloniais e semi-coloniais. Trata-se de uma disputa infernal entre distintas frações da burguesia, monopólios gigantescos da indústria farmacêutica brigando entre si - AstraZeneca, Moderna, Pfizer, Johnson & Johnson etc - e que impactam nas relações políticas entre os Estados. O exemplo, na verdade, a ser seguido é o argentino: a FIT-U (Frente de Izquierda y de los Trabajadores - Unidad), da qual o PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas) partido irmão do MRT, está levantando a política de nacionalizar um laboratório da AstraZeneca, quebrar as patentes, produzir e distribuir imediatamente vacinas para toda a América Latina.

Assista: Podcast ED Internacional - A Guerra das Vacinas

Além disso, temos as mulheres bilionárias, como a CEO da L’Oreal, Françoise Bettencourt Meyers (US$ 73,6 bilhões); a CEO do Walmart, Alice Walton (US$ 61,8 bilhões) - e isso não representa nenhuma conquista para as mulheres, negros e LGBTs. Afinal, essas mulheres nunca deixaram de explorar mulheres negras no mundo todo para garantir seus lucros exorbitantes. Na contramão dessa tendência, estão as operárias têxteis e as milhares de homens e mulheres, jovens, trabalhadores e etnias oprimidas juntas combatendo o golpe militar em Mianmar a mais de 2 meses. Um verdadeiro exemplo para o Brasil em tempos de 57 anos do golpe militar de 64.

Leia mais: Mianmar: rumo à uma guerra civil?

E por falar em Brasil, o país conta agora com 15 novos bilionários, dentre 65 na lista - uma riqueza que é 5 vezes maior que o orçamento nacional em saúde e educação. Dentre eles está Jorge Paulo Lehman, o queridinho de Tábata Amaral, deputada do não tão progressista PDT. Ele é um verdadeiro barão da educação privada que está lucrando aos montes com o ensino remoto precarizador o trabalho do professor e do ensino. Sua fortuna paga auxílio emergencial de 1 salário mínimo para 14 milhões de pessoas por 6 meses. Os R$ 1,6 trilhões detidos pelos 65 brasileiros juntos equivalem a uma fortuna aproximadamente igual a um quinto da riqueza econômica gerada no Brasil em um ano.

Como assinalava Trótski em "Stálin, O Grande Organizador de Derrotas" - livro recentemente publicado pelas edições Iskra, que trata dentre outras coisas da crítica ao programa da Internacional Comunista já stalinizada, com a mais forte defesa do método leninista de análise internacional - o sistema capitalista na época imperialista está permanentemente se rearranjando e procurando um "equilíbrio capitalista". Acontece que esses equilíbrios são débeis, avançam e retrocedem mediante as crises periódicas do capital, os conflitos entre os Estados, mas também a luta de classes. É nesse contexto que se inserem as disputas entre as diferentes frações burguesas, em um capitalismo monopolista, em que as forças produtivas já não avançam mais.

O capitalismo foi incapaz de desenvolver qualquer uma de suas tendências até o fim. Da mesma forma, como a concentração de riqueza não suprime a classe média, tampouco os monopólios suprimem a competição, apenas a sufocam e a contêm

Nada mais atual: bilionários enriquecendo às custas do trabalho da classe operária e assimilando as empresas que sucumbem no meio do caminho. Outra prova disso, além do nacionalismo das vacinas, é a tendência a formação de crises orgânicas - o Brasil é um exemplo cabal disso. As tendências negacionistas de Bolsonaro (e também cada vez mais sua "disciplinação") em contraponto a uma suposta racionalidade do bonapartismo institucional, na verdade, demonstram as fissuras entre a burguesia e suas expressões dentro de seu balcão de negócios, o Estado.

Só a luta de classes pode reverter o equilíbrio capitalista e transforma-lo em uma ordem superior. É a partir disso que se coloca a mais pura atualidade do leninismoe do trotskimo, seu continuador. Vivemos em uma época de crises, guerras e revoluções - essa última que só pode ser proletária em nossos tempos. Mas como coloca Trótski no Programa de Transição, a grande contradição de nosso tempo se dá entre a maturidade das condições objetivas para a revolução e a imaturidade das condições subjetivas, ou seja, a crise de direção do proletariado. Para avançar na superação disso, precisamos lutar para que seja essa corja de bilionários e todos os capitalistas que paguem pela crise! É nesse sentido que o MRT se propõe a ser parte ativa da construção de um partido revolucionário da classe trabalhadora no Brasil e, mundialmente, enquanto parte integrante da Fração Trotskista, avançar para a reconstrução do partido mundial da revolução socialista - a IV Internacional.




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