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Ano novo | Mais um fim de ano sob a barbárie do capitalismo. Pelo que esperançar?

Chegou a época das festas, de lembrar pela última vez de tudo que se passou durante mais um ano, esquecer, e olhar para frente. Como nós comunistas devemos ver o fim de mais um ano?

quinta-feira 21 de dezembro de 2023 | Edição do dia

Todos os anos, as festas de final de ano são acompanhadas com mensagens dos canais de televisão inspirando um sentimento nostálgico, um olhar retrospectivo para tudo o que se passou e ao mesmo tempo um olhar esperançoso para o ano que está por vir, como se com a virada do ano, de um dia para o outro, todos os problemas e dificuldades ficassem para trás e as esperanças de dias melhores fossem renovadas. Querem que esqueçamos o que sofremos durante todo um ano, para que possamos criar expectativas de uma vida melhor.

O final do ano também é marcado pelo natal, uma data religiosa, mas que já agrega distintas marcas, muitas conservadoras, com seus valores morais da família heteronortmativa e patriarcal. Nos fazem perdoar aqueles que nos fizeram mal, dar a outra face, ao mesmo tempo colocam em nós a culpa de nossa miséria, ou então nas vontades inexplicáveis de Deus, fazendo-nos agradecer ainda termos alguma comida em nossas mesas e saúde o bastante para estarmos vivos, ainda que doentes.

É neste momento do ano que as pessoas querem confraternizar, deixar para trás as coisas ruins, as más relações, os hábitos que não fazem bem, querem virar a página em relações de trabalho e relações pessoais, que não tem sentido e almejam o melhor para a própria vida e para a vida dos outros. O cansaço de um ano inteiro de trabalho, de uma rotina exaustiva e degradante, coloca também a vontade de momentos de sorriso, de alegria e confraternização. É neste momento que as empresas e os governos prometem melhorias, entregam medalhas que não servem para nada além de uma falsa valorização, ou, quando muito, um panetone e um espumante barato, depois de duplicarem suas fortunas com nosso trabalho.

Mas a verdade é que quando se trata do capitalismo, vai ano, passa ano, e nada muda para a classe trabalhadora. A miséria, o sofrimento e as tragédias irracionais desse sistema onde não passamos de mercadorias a serem exploradas, seguem. Essa é a realidade de uma vida presa às amarras do capitalismo, que dia após dia retira de nós, trabalhadores, suor e sangue, para garantir à burguesia o desfrute de seus privilégios a partir das maravilhas que nós produzimos.

Viajar, conhecer o mundo, tempo para ler, respirar; o acesso à arte, ao esporte, boas comidas, bons momentos com nossos amigos, filhos e pessoas que amamos são parte dos desejos para o futuro, que não deveriam estar restritos à uma ínfima parcela da população, e sim ser parte da vida comunista de cada um e cada uma de nós. No entanto, isso não é possível no capitalismo, em uma sociedade de classes, de opressão e exploração.

Por isso, aqui queremos transmitir uma mensagem diferente, nossa retrospectiva é para que não esqueçamos de todas as lutas que travamos durante todo o ano, pois elas deverão seguir, e seguirão, ano que vem e enquanto este sistema de miséria e sofrimento existir.

O ano de 2023 está acabando, e quando olhamos para trás, vemos um ano que iniciou com a expectativa, para alguns, de dias melhores frente à derrota eleitoral de Bolsonaro. Um ano melhor que praticamente não existiu, fruto de uma política de frente ampla, que se alia com inimigos da nossa classe, com banqueiros, empresários, capitalistas de todo tipo, e até mesmo figuras dos partidos de direita e extrema direita.

Ao contrário de mudar radicalmente o que vínhamos vivendo, a frente ampla, garantiu a continuidade do golpe de 2016, todas as reformas, trabalhistas, previdência, ensino médio, cortes à educação, e assim também a permanência desse mesmo sistema de miséria e exploração em que vivemos. Na realidade, foi pior que isso, 2023 começou com ataques brutais às escolas, que arrancaram vidas de bebês, adolescentes e de uma professora de 71 anos, Elisabete. O pânico tomou conta das escolas e das famílias, e a resposta do Estado racista: mais policiamento e vigias nas escolas, como se a polícia assassina, que ao longo do ano promoveu inúmeras chacinas nos morros e favelas, com abordagens violentas e assassinatos a sangue frio, pudesse garantir alguma segurança a não ser aos capitalistas e ao próprio Estado.

E a direita e extrema direita, ao contrário do que nos prometiam, não foi vencida, nem desapareceu, ao contrário. Como vimos no Estado de São Paulo, onde o governador Tarcísio está em uma ofensiva contra os trabalhadores, privatizando a Sabesp, o Metrô e a CPTM. O mesmo governo bolsonarista que fecha o ano deixando aproximadamente 70 mil trabalhadores da educação desempregados, após um ano inteiro de trabalho e dedicação à educação, a formação da juventude, não tem garantia de pagar as contas e das celebrações de final de ano.

E os novos dados do IBGE mostram que não se trata apenas de SP, os pilares da desigualdades sócio-econômicas seguem intactos e piorando em todo o país. O trabalho precário e informal bate recorde, especialmente no nordeste, não apenas com a terceirização, mas agora também com a uberização e aplicativos. Trabalhamos cada vez mais, recebendo menos e com cada vez menos direitos. As chacinas da polícia também seguem, escancarando o racismo que o povo negro sofre todos os dias. Não nos esqueceremos de Thiago assassinado pelo racismo, e nem de Carol Campelo, mulher lesbica vítima da LGBTfobia, entre tantos outros mais que aumentam a lista de nossos mortos a cada ano. A sede inesgotável de lucro dos capitalistas e a exploração irracional do meio ambiente está, literalmente, tirando o futuro do nosso horizonte e o chão dos nossos pés, como fez a Braskem em Maceió.

Mas as barbáries capitalistas não acontecem apenas no Brasil. 2023 será marcado para sempre pelo genocídio do povo Palestino. Mais de 20 mil crianças e mulheres, assassinados pelas bombas e tropas do Estado racista e assassino de Israel, com o aval e financiamento do imperialismo norte americano. O povo palestino, que vem tendo suas casas destruidas e colonizadas por Israel, passará o final de ano com os fogos das bombas sobre suas cabeças, espremidos em um pedaço de terra contra o mar, sob a vigilia dos snipers de Israel.

E ao nosso lado agora, nossos irmãos argentinos, acabam de ser surpreendidos por um decreto de Milei, novo presidente de extrema direita na Argentina, que ataca e retira direitos de todos os setores populares e trabalhadores, oprimidos e explorados ao mesmo tempo.

Esse é o fim de ano que o capitalismo nos reserva: desemprego ou trabalho precário, guerra, fome e vidas ceifadas para nós, viagens luxuosas, fartura na mesa e presentes caríssimos para os patrões.

Porém, ainda há esperança para o ano que vem e os próximos. Não no capitalismo e seus governos, mas na classe trabalhadora e nos setores oprimidos que lutam e resistem todo os dias, que constroem tudo e fazem o mundo se mover e podem oferecer uma alternativa de futuro, onde todas as barbáries que vivemos fiquem de fato apenas na lembrança.
Participamos da reoganização do movimento estudantil e da juventude e fazemos parte daqueles que não se venderam e batalha pela independência política, confiando na ação da classe trabalhadora. Somos parte daqueles que se levantaram e paralisaram os locais de trabalho nas greves contra Tarcísio. Somos também a fúria negra das mães dos morros que tiveram a vida dos seus filhos levadas pelas mãos policiais. Somos parte da classe trabalhadora internacional, somos juntos a resistência palestina, paralisando o envio de armas para Israel em todo o mundo. E agora somos também os trabalhadores argentinos, que furaram os bloqueios reacionários de Milei e tomaram as ruas em plena madrugada contra seus ajustes imperiais e agora exigem uma greve geral das grandes centrais sindicais. Por isso, há esperança de um futuro que pode vir pelas nossas mãos!

É em nome de cada sangue derramado, de cada sonho de criança arrancado, de cada dia sofrido pela exploração do trabalho, de cada vínculo e afeto que queremos construir nos locais de trabalho que são ceifados pela ideologia burguesa, que não vamos sucumbir à toda miséria que vivemos ano após ano. Olhemos para o futuro e gritemos: paz entre nós, guerra aos senhores! Por um mundo onde todos possamos viver uma vida plena de sentido, com acesso ao lazer, à arte, à cultura, à saúde e educação, que não haja fronteira nem barreira para os nossos sonhos. Nossa esperança esta na luta por uma vida comunista construída pelas mãos da juventude, das mulheres, do povo negro, das LGBTs e de toda a classe trabalhadora!




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