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IMPEACHMENT | Marx no Senado: o 18 Brumário citado por Dilma Roussef

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 31 de agosto de 2016 | Edição do dia

Montagem: Esquerda Diário

Em sua defesa no Senado a presidente Dilma Roussef, diferente do que vinha fazendo, defendeu claramente a idéia de que o que se consumará hoje é um golpe.

Numerosas vezes se referenciou em “estudos de ciência política”, e falou dos golpes institucionais recentes na América Latina. Em determinado momento citou Marx, especialmente o livro Dezoito Brumário escrito ao calor do Golpe de Estado que derrotou outro golpe, culminando toda série de golpes desde 1848.

Em artigo recente o colunista deste Esquerda Diário Iuri Tonelo desenvolve essa idéia mostrando que o conceito de golpe de estado ou coup d’Etat em Marx não se limita aos tanques (que sequer existiam) mas a toda uma série de “manobras e golpes no interior da democracia burguesa. Nesse sentido, Marx não tem uma definição “fechada” do termo golpe de Estado, pois em cada caso se refere a diferentes elementos. “

É isso que está em curso. Uma manobra, secundada pela mídia e pelo “partido judiciário” no interior da democracia burguesa em prol de fortalecer uma direita política no executivo, apeando do poder o PT, mas também seqüestrando o voto popular. A legalidade questionável do acionamento constitucional tem esse fim: colocar representantes da FIESP, dos empresários, estabelecer novas relações com o imperialismo.

Esse é o uso que Dilma, em forma elíptica, fez de Marx. Chegou a mencionar em uma passagem o livro já citado e que na matéria citada mostramos os diferentes golpes que passou a França naquele período. O último que nomeia o livro é o golpe de Bonaparte destituindo a Assembléia Nacional que tinha tentado um golpe para destituí-lo, culminando a situação aberta antes de outros golpes contra a democracia burguesa, o fechamento apressado da Assembleia Constituinte e depois disso a restrição no sufrágio universal, seqüestrando o direito de milhões votarem.

Algo que não poderia ser citado por Dilma Roussef é uma lição chave do texto. A situação de trágico empate das classes sociais em pugna – a burguesia e o proletariado – que abre espaço a essa situação de luta entre as frações da classe dominante, todas elas lutando pelo poder executivo e desferindo golpes contra a democracia burguesa tendo como alvo preparar uma melhor condição futura para atacar a classe trabalhadora. Como o patético sobrinho do grande Napoleão veio a fazer. Um pequeno personagem erguido a grandeza por esse empate. Vivemos algo disso no Brasil de hoje.

O pequeno Temer, político das sombras, vice-decorativo ergue-se o condutor do poder central in nomine da FIESP, tucanos e embaixada ianque para nos desferir ataques. De quebra endurecem a democracia burguesa, seqüestram os votos populares, propõe maneiras de restringir a participação da esquerda na política (dando poder à Globo decidir se convida ou nçao), e também pela proibição legal de fazer política nos locais de trabalho. Temer, novo Bonaparte ante-sala de golpes maiores à democracia burguesa? Aos nossos direitos com certeza.

A chave é entender como foi o PT de Dilma e de Lula que “repetiu, como farsa, a tragédia” não do outro Bonaparte, mas dos líderes “democráticos” por ele derrotados e que atuavam para iludir e impedir a ação da classe trabalhadora. Os empates não duram para sempre. O 18 Brumário citado por Dilma Vana Roussef não foi capitaneado por ela, foi contra ela (e a rigor estaríamos em outros golpes de Estado que não o fulminante que nomeia o livro). O golpe institucional não foi só contra Dilma, foi também contra alguns direitos elementares dessa democracia onde nos cabe só escolher quem será o chefe do trono de gerência dos negócios para os empresários. Para desfazer o embate a favor da classe trabalhadora será necessário derrotar os pequenos césares de Brasília, mas também aqueles que tal como o PT, impedem a luta dos trabalhadores contra os ajustes e o governo golpista prestes a tomar oficialmente o poder.




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