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ARGENTINA | Os operários sem patrão, com Del Caño e Bregman

O Esquerda Diário conversou com as principais referências das “fábricas sem patrão”. Quem são os pré-candidatos da lista 1A “Renovar e Fortalecer a Frente” encabeçada por Nicolás del Caño e Myriam Bregman, militantes do PTS, organização irmã do MRT na Argentina.

quinta-feira 6 de agosto de 2015 | 02:30

Estas candidaturas não são casuais, são a expressão do programa político impulsionado pela Frente de Esquerda. Estes trabalhadores que são pré-candidatos em seus respectivos distritos e províncias são parte dessa nova geração que encarnou a gestão operária, que ocuparam as fábricas como saída concreta diante das demissões e fechamentos que os patrões impunham. Patrões amparados pelos políticos que hoje também são candidatos, porém para levar adiante o ajuste, demissões e a precarização do trabalho.

Jorge “El Loco” Medina, como é chamado pelos seus companheiros da fábrica ex Donnelley, hoje MadyGraf sob gestão operária, Maxi da WorldColor, posta para produzir por seus trabalhadores recentemente e Raúl Godoy, da emblemática Zanon, em Neuquén, nos descrevem suas experiências políticas, nas lutas que levam adiante e todas as que apoiam. E em particular por que integram a lista 1A junto com Del Caño e Bregman que impulsiona um programa ligado às lutas e as experiências mais avançadas da classe trabalhadora contra os fechamentos de fábricas, contra os ataques e demissões das patronais, sendo delas parte ativa.

Do coração da Zona Norte chegando até Neuquén são centenas e centenas de candidatos operários que integram a lista 1A que aposta em renovar e fortalecer a Frente de Esquerda. Os candidatos que a compõe são trabalhadores jovens e mulheres que foram e são protagonistas de lutas emblemáticas que vêm ocorrendo em nosso país e que se somam a fazer política na esquerda classista de maneira muito entusiasmada.

Loco Medina - MadyGraf

Na lista 1A do PTS na Frente de Esquerda se encontram representadas as fábricas ocupadas mais emblemáticas, porque são estas as que lutaram pela sua continuidade contra as grandes empresas que contam com o apoio do governo e da burocracia sindical. Sabemos que o controle operário em um sistema capitalista deve remar contra a corrente, por isso é necessário levar as lutas do interior das fábricas para o terreno político, e a lista 1A é o espaço indicado, junto com os candidatos que vêm lutando ombro a ombro conosco, como Nicolás del Caño, Myriam Bregman (advogada de Zanón e MadyGraf) ou Christian Castillo (que impulsionou o projeto de expropriação da Donnelley) entre outros.

A lista 1A é formada por centenas de lutadores que vêm enfrentando as demissões, suspensões e inclusive os fechamentos de fábricas, e essas lutas tem sido possíveis graças à existência de um programa que oferece as ferramentas necessárias aos trabalhadores que decidem organizar-se para enfrentar esses ataques e defender seus postos de trabalho.

Neste momento, não existe outra lista que possa representar as fábricas sob controle operário devido a não haver uma abundância de exemplos de organizações políticas que colaborem programática e materialmente com os trabalhadores diante do fechamento de uma fábrica e porque é uma tarefa muito difícil de levar adiante.

Maxi - World Color

Sou parte da lista 1A, renovar e fortalecer a FIT, primeiro porque, como trabalhador de tantos anos na World Color, onde como ativista fui descobrindo com quais ideias poderíamos assentar as bases de nossa fábrica para tirar os delegados da burocracia e construir uma organização independente dos delegados vendidos.

Assim fui fazendo uma longa experiência, em que conheci o PTS e os companheiros da Bordô Gráfica e fomos fazendo um caminho em comum de organização. Neste processo fui avançando na relação política, por ter afinidade com o programa e porque me sentia representado. A relação com outros trabalhadores me levou a querer militar, a ser parte ativa da política que impulsionamos em diferentes fábricas e, sobretudo no espaço em que nós trabalhadores nos expressamos e levamos nossa experiência de luta nas fábricas ao terreno eleitoral, ultrapassando os limites impostos ao sindicalismo.

Os fatos demonstram que fazer apenas a luta sindical, inclusive com conquistas por direitos de todos os trabalhadores, não é o bastante. Nós, na World Color, vínhamos avançando neste sentido porque havíamos conquistado a comissão interna e nos colocávamos diante da patronal. Porém nos atacaram ferozmente fechando a fábrica e se não fosse pela experiência que vínhamos fazendo, tomando o exemplo de outros casos como Zanon, MadyGraf, foi que tomamos a difícil, porém não impossível, tarefa de ocupar a fábrica e colocá-la para produzir. E isso é muito concreto diante dos fechamentos de fábricas que fazem os empresários. Nós nos demos uma saída para manter os postos de trabalho e para que não haja mais famílias nas ruas. Nós aprendemos com Lear, Gestamp, com a ex Donnelley, avançando em nossa consciência porque nos enfrentamos com o Estado, com os patrões, com a burocracia que não te dão trégua. Então, conduzir como parte do nosso programa uma saída real diante de cada fábrica que feche e colocá-la para produzir, implica que todos os trabalhadores aprendam, vejam os exemplos que existem e confirmem que é possível. Para isso é necessário também fazer política no terreno eleitoral e por isso sou candidato na lista de Del Caño e Bregman, porque quando cortamos a Panamericana, estavam junto conosco, porque ganham o mesmo que um professor e o resto doam para as lutas, assim foi com World Color, assim é com a luta da 60, assim como diversos conflitos onde podem vê-los junto aos quais lutamos.

Estou orgulhoso de ser parte desta enorme experiência em que mais de 250 trabalhadores da zona norte e centenas em todo o país, nos lançamos na política, sendo candidatos e nos propomos a ser a voz dos trabalhadores de cada fábrica que sabem que nosso interesse não é igual ao dos políticos tradicionais, que defendem e governam para os patrões. Ao mesmo tempo em que nos organizamos e lutamos nos locais de trabalho, propomos ideias para que nos apoiem e para que cada trabalhador tenha onde expressar-se, onde depositar confiança, porque nossas bandeiras são as dos trabalhadores e da juventude.

Raúl Godoy - Zanon

A decisão de tomar uma fábrica e dar o passo decisivo de colocá-la para produzir, não é algo que cai do céu. No nosso caso em Zanon, quando nos puseram na parede, o programa da esquerda classista era a única saída possível diante do fechamento e das demissões massivas. Foi o Programa de Transição, escrito por León Trotsky em 1938 que no meu caso, me moveu a levar essa proposta adiante. Primeiro propusemos a abertura do livro de contabilidade da fábrica dos últimos 5 anos para demonstrar os lucros que estavam tendo, acumulados durante décadas às custas de subsídios estatais e da exploração operária. Fizemos um “controle operário da produção” antes da tentativa de fechar.

Nós já lutávamos pela unidade das fileiras dos trabalhadores desde que recuperamos a Comissão Interna. Isso nos preparou para a crise que estava por vir. Em 2001 foram muitas as empresas ocupadas. Um setor tentou colocá-las em marcha, porém nós, a partir de Zanon, fomos conscientes de que se não buscássemos alianças estratégicas com os setores avançados em luta, estávamos liquidados. Demos uma luta enorme nas nossas assembleias em cada uma de nossas fábricas para transformá-las em fábricas militantes.

Esta tradição de luta, independente de todos os governos e de todos os partidos patronais, gerou uma corrente militante de trabalhadores classistas, e junto com isso, desenvolveu uma militância trabalhadora de esquerda que em grande medida, foi parte da fundação da Frente de Esquerda. Esta luta ainda segue, com altos e baixos, porém com o mesmo horizonte de princípio: nossa luta é uma luta política. Todos fazemos política, porém é necessário dar um salto e assumir que cada luta parcial não basta, que temos que levantar uma alternativa política para o conjunto de nossa classe e do povo explorado e oprimido. Por isso a Frente de Esquerda e por isso hoje impulsionamos a candidatura de Nicolás del Caño e Myriam Bregman.

Uma esquerda comprometida realmente com os processos de nossa luta. Nicolás del Caño conheceu nossa experiência desde muito jovem, e se fez “patriota” desta façanha operária. Myriam Bregman foi nossa advogada desde o começo de nossa luta, e gerente, junto a Mariano Pedrero, de batalhas legais chave em nosso conflito. Como não ser parte desta lista que expressa o mais profundo destes processos? O nosso não é só um papel, não é só uma declaração programática (sempre necessária) se somos parte orgânica de um processo que comoveu a milhares de trabalhadores e militantes no país e no mundo, que tentemos encarnar em milhares de trabalhadores a potencialidade de nossa classe.

Se a Frente de Esquerda e dos trabalhadores teve um aspecto revolucionário, este foi o de gerar em setores da nossa classe a confiança em suas próprias forças e que são os trabalhadores junto ao povo oprimido, quem tem que levantar uma alternativa política. Isso é revolucionário e vale mais do que mil papéis assinados. Mais de 1500 candidaturas operárias em todo o país, dão conta disso. Renovar e fortalecer a Frente de Esquerda significa isso, que a esquerda classista, baseada em um programa, com toda sua tradição e experiência acumuladas, ainda nesta época pouco revolucionária, lhes abre suas portas à novas gerações que irrompem no cenário político nacional, incorporando à suas fileiras e dando um lugar de vanguarda às novas camadas operárias e estudantis, com um papel destacado das mulheres.

Um programa não basta, ainda que seja muito importante. A tradição e a experiência são fundamentais, porém não são os únicos. Com plena confiança em nossa classe e com a convicção de construir bases sólidas, é que chamamos a deixar para trás todo o conservadorismo: por isso demos espaço à juventude! Espaço à mulher trabalhadora na lista 1 A com Del Caño e Bregman.




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