Luiza RomãoAtriz, poetisa. São Paulo.
quinta-feira 14 de maio de 2015 | 01:53
poesia é a palavra em estado de lança-
chama que faz mijar na cama
quando não samba
é lama em pé de criança
e rasgar teia de aranha
poesia é a vingança da cigarra:
enforcar a última formiga
nas tripas do último louva-deus
poesia é o império do ócio
é trabalho e não negócio
sou mais a simplicidade de um grito de guerra
que o hermetismo de um verso decassílabo:
é preciso desaprender gramática
para entender a lírica
de cinco mil famílias exigindo moradia
é preciso desmontar corretores
para entender a semântica
de uma mulher se tocando pela primeira vez
aos quarenta e dois anos
só acredito num soneto sujo de terra
perfeita métrica
de alicate com cerca elétrica
pense num despejo:
não há metáfora que resista
à arquitetura retrô de um new-shopping-vertical
faltam eufemismos
quando a casa vira ponte
e viaduto torna lar
poesia é mais que beat box hip hop hype pop cult rock
da quantidade de caracteres encavalados num estoque
é a voz que berra e carrega
o desejo de ser com o outro
um só corpo
quando inicio um verso
converso
com as dezoito mulheres
que antes de mim
sim
tiveram fala estéril
não é denúncia
é revide
de mão fechada
e peito aberto
que sem pulmões
um poema é abscesso
alerto:
caneta é artimanha de boteco
poesia está no inverso
é cicatrizar os pulsos
e erguer os punhos
que renascer se faz na luta
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