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Debate com o PSOL | PSOL lança candidato milionário no interior do Mato Grosso do Sul

Em mais uma demonstração de adaptação ao regime do golpe institucional, em Ribas do Rio Pardo no interior do Mato Grosso do Sul, estado com a maior concentração brasileira do pantanal, o PSOL lançou o candidato para prefeito João Alfredo - que tem 7,21 milhões de reais em bens.

Rosa Linh Estudante de Ciências Sociais na UnB

segunda-feira 26 de outubro de 2020 | Edição do dia

João Alfredo, candidato a prefeito em Ribas do Rio Pardo no interior do Mato Grosso do Sul, tem nada mais, nada menos que 7,21 milhões de reais em bens. Ele tem 500 hectares de terras, mais de 450 cabeças de gado, fora um escritório de advocacia, três carros e muito mais. É no mínimo incoerente que um partido que se reivindique socialista tenha como membro do partido um milionário. E pior: ele é candidato à prefeito, o que quer dizer que para a direção do partido não há nenhuma contradição.

Para além dessa polêmica, o candidato já causou problemas internos dentro do PSOL por ser contra bandeiras elementares da esquerda, tais como a descriminalização do aborto e das drogas, bem como contra as “invasões de terra” - sendo que seus 500 hectares estão em um assentamento do INCRA, como consta em sua declaração de bens -, tudo isso como se não fosse o latifúndio o principal interessado em matar e roubar as terras indígenas e dos camponeses pobres. Ele tem orgulho de se chamar de “esquerda racional”, o que nada mais é do que um eufemismo para uma político que concilia com a burguesia e com o agronegócio racista, se colocando contra os principais interesses da juventude, das mulheres, do povo pobre e da classe trabalhadora.

A verdade é que, por mais que muitas correntes tenham repudiado as declarações de João em 2018, apenas a entrada de uma figura contrária a algumas das principais pautas de emancipação das mulheres, do direito democrático de direito à terra para todos e contra a guerra às drogas que é um verdadeiro genocídio da juventude negra - o fato dele estar num partido que se reivindica socialista já é um absurdo. Mas pior que isso, é perceber que, mesmo com repúdio, João Alfredo continua no partido e, mais que isso, concorre para prefeito - justamente em um dos estados com maior concentração de terra no país.

Situação nas eleições para prefeitura em Ribas do Rio Pardo

Fora João Alfredo, estão concorrendo à prefeitura outros 5 candidatos. Na extrema-direita, temos o Tiago Frisoni que, apesar de ser do PSD - o mesmo partido do atual prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad - a sua coligação é com o PSL e o Republicanos.

Temos também o golpismo do latifundio com Zé Cabelo (PSDB) - o mesmo partido de Reinaldo Azambuja, o latifundiário que deixa o pantanal queimar. Pelo MDB, temos Fabiana Galvão - ex Patriotas, sinal de que de extrema-direita ela entende e simpatiza - e que votou pelo reajuste do prefeito e vereadores em 28% na Câmara Municipal. Ela se disse contrário à votação, mas como era primeira secretária, seu nome constava no escopo da proposta - uma forma bem sutil de lavar as mãos enquanto ocupa um cargo bem importante no município e ganha mais de 7 mil reais por mês. Pelo DEM, temos Engenheiro Nilson Góis, o mesmo partido de Ronaldo Caiado, Rodrigo Maia e do atual prefeito da cidade, Paulo Tucura - ou seja, um candidato que promete mais apoio ao latifúndio e nenhuma garantia de emprego para a população. No centrão fisiológico e corrupto, que ninguém sabe o que defende (fora que estão na base do governo), está Marquinhos Teixeira (Solidariedade).

Diante da extrema-direita e do latifúndio, apenas João Alfredo é um candidato que se coloca como de esquerda. Mas, como se pode ver, nem de longe ele pode ser uma solução. Ainda por cima, a coligação do candidato conta com partidos burgueses, como a REDE e o PV - ambos votaram favoravelmente à reforma da previdência e estão em inúmeras cidades junto da extrema-direita. Ambos os partidos são conhecidos por seu “ecologismo de mercado” - que no final das contas nada mais quer que tentar mitigar a catástrofe ambiental que o latifúndio provoca conciliando com o próprio latifúndio.

Isso apenas demonstra uma adaptação muito forte da direção do PSOL ao regime do golpe institucional, colocando-se cada vez menos como uma saída à esquerda do PT e, na verdade, tentando mais e mais repetir os passos de conciliação do petismo - que conviveu pacificamente com o latifúndio racista no Mato Grosso do Sul com a gestão de Zeca do PT, por exemplo. Resultado: hoje temos mais de 20 mil famílias sem terra, mais de 4 etnias indígenas exigem a demarcação de suas terras, entre outras barbaridades.

Para saber mais sobre a situação eleitoral no Mato Grosso do Sul, veja aqui, e sobre as eleições na capital Campo Grande, veja aqui.

No atual estágio de crise do capitalismo, não se pode conciliar com os capitalistas que criam a crise - é necessário, na verdade, organizar a classe trabalhadora e os oprimidos para enfrentar o regime de conjunto, seja o latifúndio racista, como também o judiciário golpista que está para decidir sobre o marco temporal das demarcações indígenas e que, inclusive, pode privar o direito à terra de milhares de etnias.

Para combater o latifúndio racista e evitar que o cerrado e o pantanal sejam completamente destruídos, é fundamental batalhar pela expropriação de todo o latifúndio e a distribuição de terras para aqueles que nela produzem e, também, o direito à autodeterminação de todos os povos indígenas - direitos democráticos fundamentais incompatíveis com o agronegócio capitalista.

As eleições precisam ser, nessa medida, um palanque para fortalecer a organização da nossa classe para as batalhas na luta de classes - sem ilusões de que é possível administrar esse regime profundamente corrompido.

Um exemplo de como fazer isso é o que o Movimento Revolucionário de Trabalhadores está construindo em São Paulo com a Bancada Revolucionária de Trabalhadores, em Contagem/MG com Flávia Valle e em Porto Alegre/RS com Valéria Müller.

Contra Bolsonaro, os golpistas e os patrões! Que os capitalistas paguem pela crise!




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