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OPINIÃO | Para além do discurso de Dilma: os generais tentam casar seus discursos com suas tropas

Dilma ia fazer um discurso ontem em cadeia nacional antes do pico de audiência do país, o Jornal Nacional da Rede Globo. Desistiu e preferiu postá-lo em sua rede social. O discurso de tom agressivo contra os golpistas, usurpadores, traidores e outros adjetivos dignos de opor “os Tiradentes” aos “Silvérios Reis” como já tinha dito Lula em discurso na Lapa no Rio de Janeiro. O que mostra seu discurso e como se insere nesta conjuntura cheia de ansiedade e aguardo até amanhã?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sábado 16 de abril de 2016 | Edição do dia

No contar dos votos ninguém sabe o que resultará amanhã, na dúvida elevar o tom

A votação de amanhã tudo indica será decidido no fio do cabelo. O Globo dá uma contagem de 345 votos pelo impeachment (3 a mais), o Estadão dá 344 (2 a mais), a Folha conta 341, um a menos. Os principais colunistas do Estado e do Globo, contrastando com os infográficos bombados para criar clima de já ganhou mostram uma contra-ofensiva do PT. Eliane Catanhede e Jorge Bastos Moreno mostram o grande protagonismo dos governadores do nordeste em ganhar votos contra o impeachment e questionam se o impeachment realmente será vitorioso.

Nesta indefinição, nos púlpitos parlamentares opositores erguem suas vozes. Vitoriosos ou não deixam assentadas suas posições e buscam posicionar-se frente a suas bases eleitorais, como mínimo. Casam sua verve com a de seus votantes também abertos a ouvir Revoltados Online e similares.

O mesmo pode-se dizer do duro tom de Dilma ontem. Acusou de golpistas com palavras mais duras do que já vinha usando e ainda acusou os "traidores" e "usurpadores" de querem promover o retrocesso no país, acabando com programas sociais e entregando o petróleo às empresas estrangeiras. Discursou parecido com o que parte do movimento “não vai ter golpe” vem dizendo. Neste discurso interessado, omitiu como em seu governo já ocorreram milhões de demissões, sobretudo na indústria, como tem cortado o orçamento da saúde e educação e como ela, junto a Renan Calheiros acordaram com Serra a aprovação de projeto de lei que entrega o pré-sal à empresas estrangeiras. Está claro que Serra e Temer querem uma entrega "plena" mas até dois meses atrás até o petismo criticava Dilma por entreguista tal qual o personagem entreguista da Wikileaks, Serra.

Com discursos inflamados a contradição dos eventuais vitoriosos

O discurso oposicionista fortemente pautado no combate à corrupção se chocará com a realidade caso consiga sair vitorioso. Os paladinos deste combate serão o conspirador Temer e suas epístolas de zapzap e papel, o choroso mas conspirativo "vice decorativo", líder do partido mais notoriamente corrupto da República. Ao lado de Temer constará o mais ilibado de nossos tribunos: Cunha.

A operação “impunidade ampla, gerral e irrestrita” que se especula que será iniciada no dia seguinte a posse de Temer chocará com o discurso destes hipotéticos vencedores. Esta contradição se somará a falta de legitimidade deste governo e a oposição que terá do movimento “contra o golpe”, da CUT, MST, entre outros.

A hipotética vitória do governo também estará prenhe de contradições. Casando o discurso palaciano com o de suas tropas, erguendo a voz contra a entrega do petróleo, os próximos passos do governo estarão marcados por uma contradição maior do que já vivida em outubro de 2014 ao vencer as eleições prometendo “não mexer em direitos nem que a vaca tussa”. O ajuste lulista, distinto do que quer Temer, mesmo assim tende a se chocar com o discurso de hoje e, com as expectativas do movimento que o apoia contra a direita.

Por outro lado, o tom mais beligerante de Dilma, menor que o de Lula que promete grande instabilidade no país caso ocorra o impeachment, é também parte de armar um direito à existência do PT caso derrotado. Dilma e Lula estão mostrando, a seu jeito palaciano e cheio de negociatas e compras de parlamentares da direita, um “combate”. Sem isto, caso derrotados passariam ao nada.

Um “combate” que só cabe marcar entre aspas visto que suas maiores armas foram as negociações com Kassab, Maluf e outros digníssimos parlamentares. Um “combate” onde os trabalhadores entraram não como sujeito e com suas reivindicações, mas como número de showmícios para aplaudir Lula e defender sua posse. Esta situação é responsabilidade dos sindicatos, da CUT, da CTB, da UNE que não quiseram que a classe trabalhadora entrasse na luta contra o golpe institucional com seus métodos de luta (assembleias, piquetes, greves, etc), não quiseram organizar um verdadeiro plano de luta que articulasse a necessária derrota da direita golpista com a defesa dos empregos e combate aos ajustes feitos por todos governos.

Sem a ação da classe trabalhadora os discursos mais inflamados de cada lado mostram que mesmo os vencidos poderão ressurgir. O impasse não durará para sempre, nem se resolverá fácil, mas já sabemos que por Lula ou Dilma seu ressurgir será grávido de ajustes, mesmo que distintos dos Temer, e com intermináveis jogos palacianos e acomodações de cargos para a direita. Passou da hora daqueles que tem as mãos sujas de graxa ou giz pesarem na situação nacional como muito mais que número em “festas pela democracia”. Este é o combate que o Esquerda Diário, mais uma vez, insiste que é necessário acontecer em cada local de trabalho e estudo. Exigir dos sindicatos e entidades estudantis verdadeiros planos de luta. É hora de fazer como a juventude francesa, termos uma viva aliança operário-estudantil e ter noites, e dias, de pé.




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