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Palestina | Pela ruptura de todas relações entre a UFMG e instituições israelenses!

A UFMG, assim como diversas outras universidades do país, mantém acordos de cooperação com instituições israelenses, mesmo a tecnologia e o conhecimento produzidos neste país estando intimamente conectados com o regime de apartheid que o Estado de Israel estabelece contra a população palestina. Como parte des estudantes da UFMG e militantes da Faísca Revolucionária, este texto é um chamado a todas as organizações de esquerda, movimentos sociais, ativistas, entidades estudantis e sindicatos da UFMG a se somarem em uma campanha pela ruptura imediata de todas as relações de nossa universidade com Israel, sem nenhuma confiança no governo Lula-Alckmin que mantém todas as relações com este Estado colonial assassino.

Lina HamdanMestranda em Artes Visuais na UFMG

sexta-feira 3 de novembro de 2023 | Edição do dia

Imagem: FUNDEP, FUNDEPAR e UFMG participam, com a SEDECTES, da jornada em busca de inspiração e troca de experiência em Israel, em 2018. Fonte: Fundep, Fundação de apoio da UFMG

Presenciamos um acontecimento até então inédito para a nossa geração: um genocídio racista transmitido ao vivo pela televisão, dirigido pelo primeiro-ministro de Israel de extrema-direita, Benjamin Netanyahu, com a aprovação das principais potências imperialistas do mundo e o apoio a este genocídio pela grande maioria dos meios de comunicação de massa a nível internacional. Além disso, a maioria dos países fomenta esse massacre ao aceitarem manter relações diplomáticas, tecnológicas, econômicas e militares com Israel.

O Brasil, país que acolhe 60 mil palestinos em diáspora desde a Nakba – termo árabe que significa catástrofe e se refere à criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica planejada -, não foge a esta regra. Na verdade, o país é um dos maiores clientes da indústria de armamento de Israel, importando não só armas e tecnologias, como também os métodos de extermínio utilizados contra o povo palestino para serem reproduzidos contra a população negra e pobre nas favelas. As relações militares entre Brasil e Israel se iniciaram em 2003, no primeiro governo Lula, e como falamos aqui se aprofundaram com Bolsonaro.

Esta situação estende-se às instituições públicas, incluindo a UFMG, que em dezembro de 2022 enviou um professor da Faculdade de Letras da UFMG, em missão diplomática a Israel, em razão do acordo de cooperação entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Hebrew University of Jerusalem (HUJI). Um acordo que inclui intercâmbio de estudantes, de docentes e pesquisadores; de informação e de publicações acadêmicas; desenvolvimento de projetos de pesquisa, ensino e extensão conjuntos; orientação de teses e promoção de cursos, palestras e simpósios.

Em 2018, representantes da universidade, em parceria com o governo de Minas, já haviam feito uma imersão em Tel-Aviv para conhecer de perto o que eles chamam de “um dos maiores ecossistemas de inovação do mundo”. Segundo relato de Janayna Bhering, uma das representantes da FUNDEP na ocasião, a escassez de recursos teria sido o impulso inicial para o desenvolvimento de Israel, que “precisou se reinventar para ser autossustentável em termos de recursos necessários para sobreviver e hoje é uma referência em inovação e desenvolvimento tecnológico, com uma economia onde 30% do PIB vem da exportação (50% alta tecnologia)”. Ela chega a reivindicar como estímulo à formação de empreendedores "mais maduros e mais preparados" que os jovens israelenses, homens e mulheres, são obrigados a servir o exército antes de entrarem nas universidades. O que ela não explicita, entretanto, é que essa inovação tecnológica é sobretudo de origem militarista e se dá com a transformação dos territórios palestinos em laboratórios de guerra, através do enorme patrocínio financeiro de países imperialistas ao longo das últimas décadas.

Como disse Antônio D. recentemente, "Esses chamados centros de excelência cumprem o papel nefasto de serem desenvolvedores da alta tecnologia bélica que é testada contra os palestinos, ao mesmo tempo que fornecem novos produtos de exportação. Essas novas tecnologias - além de servirem para manter o apartheid e a imposição da ocupação israelense com cada vez menos soldados - são também fornecidas para exportação a partir da indústria de segurança de Israel".

A clara posição da alta cúpula da UFMG, alinhada aos interesses do grande capital imperialista, de celebrar o Estado sionista de Israel como um importante parceiro, encobrindo assim o genocídio em curso contra o povo palestino, ganhou um novo episódio na última semana, quando a diretoria da FACE proibiu uma atividade no prédio organizada pelo movimento estudantil sobre a Palestina. Uma censura absurda em um prédio que funciona como porta de entrada da lógica privatista na universidade, onde há grande abertura e incentivo a atividades realizadas por bancos e grandes empresas do mercado financeiro.

A opressão e o genocídio do povo palestiniano pelo Estado de Israel, um verdadeiro apartheid social, remontam a 75 anos, no entanto, a situação deu um salto de proporções gigantescas nas últimas duas semanas. Sob a desculpa de uma suposta “autodefesa” contra o grupo Hamas, Israel lançou bombardeamentos sem precedentes contra a população civil, não só na Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia ocupada, um lugar onde o Hamas praticamente não tem poder ou é diretamente não-existente. Assim, destruiu milhares de casas e até hospitais, desencadeando crimes de guerra cometidos pelo governo de Netanyahu que estão sendo totalmente apoiados pelo imperialismo dos Estados Unidos e de outras potências europeias, como França, Alemanha e Inglaterra.

É neste contexto que devemos nos perguntar: o que podemos fazer? E o que não estamos fazendo? A UFMG, como uma das universidades públicas mais importantes do país, com uma suposta vocação social, mostra um silêncio cúmplice: até o momento nenhuma palavra de rechaço ao massacre em curso. Como grande ator nacional que é, devemos exigir que a universidade se posicione em defesa do povo palestino. Pelo fim do genocídio, o cessar-fogo imediato, a libertação dos prisioneiros palestinianos e a quebra de todos os acordos militares e institucionais com Israel. Nossa luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores e da população pobre e oprimida passa também por exigir o fim das parcerias da UFMG com as polícias. Nossa universidade não pode estar a serviço de aprimorar o trabalho da polícia que assassina negros nas periferias usando tecnologia e armas de Israel.

Que es estudantes e trabalhadores da universidade busquem uma campanha de solidariedade ativa à resistência e a autodeterminação do povo palestino, o que passa por exigir a ruptura de relações com as instituições do assassino Estado de Israel, não apenas na UFMG, mas também para o rompimento do governo Lula, quem em suas declarações pacifistas praticamente iguala a ação do Hamas à limpeza étnica israelense.

As autoridades universitárias devem também pronunciar-se contra o genocídio no marco de uma brutal campanha de desinformação que faz as pessoas acreditarem que há uma guerra entre Israel e Hamas neste momento, enquanto milhares de jovens palestinianos são assassinados no meio de bombardeios cruéis, uma verdadeira culpabilização coletiva de todo o povo palestino pelo ataque a civis realizado pelo Hamas.

É preciso organizar-se para que toda a comunidade universitária levante a exigência de romper relações com o Estado de Israel. Isso só pode ser arrancado com a força da nossa luta nas ruas, em unidade com os trabalhadores, movimentos sociais e comunidades de imigrantes e refugiados, nos inspirando nos massivos atos que ocorrem em solidariedade ao povo palestino pelo mundo. As entidades estudantis, a começar pelas da FAFICH, centro político da UFMG, deveriam se organizar e criar um comitê de apoio à resistência palestina para levar a frente iniciativas como intervenções nas universidades e locais de trabalho, dentre outras. Ou será que as organizações estudantis governistas que dirigem o movimento estudantil recusarão porque consideram mais importante não incomodar o seu Presidente, a Reitoria e as diretorias dos prédios de nossa universidade? Chega de silêncio! Chega de mesquinhez!

Como militantes da Faísca Revolucionária, fazemos um chamado a todas as organizações de esquerda, movimentos sociais, ativistas, entidades estudantis e sindicatos da UFMG a se somarem em uma campanha pela ruptura imediata de todas as relações de nossa universidade com Israel! Sem nenhuma confiança no governo Lula-Alckmin que mantém todas as relações com este Estado colonial assassino.




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