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EDITORIAL DE EDITORIAIS | Perdendo a paciência: jornais advogam soluções para a crise

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

domingo 13 de dezembro de 2015 | 11:56

Horas antes das manifestações convocadas pela direita, por todo tucanato, pelo hiper-corrupto sindicalista pelego Paulinho da Força (Solidariedade) pelo impeachment de Dilma Roussef, todos grandes jornais do país trouxeram às ruas editoriais em tons mais graves do que costuma ser a pena das famílias Marinho, Mesquita e Frias de Oliveira. O que os uniu foi a gravidade de seu tom não a resposta imediata que articulavam pois cada um parece mirar um alvo distinto.

O jornal da família Mesquita, o tradicional Estado de São Paulo traz em seu prinicipal editorial intitulado "Irresponsabilidade como método" uma clara defesa do impeachment da Presidente da República. A primeira frase já anuncia "a petista Dilma Roussef não pode mais permanecer na Presidência da República pelo simples fato que adotou a irresponsabilidade como método de governo." O restante do editorial tal como matérias centrais deste jornal e outros mostram outros casos de crimes orçamentários que teriam sido cometidos pela petista, desde obras da Petrobras a outras pedaladas.

Este jornal bem como vários outros de norte a sul do país tem mostrado diversos outros argumentos pelo impeachment, oferecendo artilharia política e jurídica para o processo caso venha a ser contestado o não cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal como motivo para um impeachment. Esta escolha de temas não é novidade, a novidade esteve no tom adotado pelo editorial. Há meses se não anos seus editoriais se aproximam a defender a saída de Dilma porém ficavam volta e meia argumentando se a prioridade seria isto ou ajustes. Dando junto a seus pares Folha de São Paulo e O Globo um peso maior nos ajustes.

É justamente este o foco, em tom mais "ao vermelho vivo", que dá O Globo de hoje com editorial intitulado "Há dinamite de pavio acesso no Orçamento". Os escribas da família Marinho percorrem argumentos similares aos do Estado de São Paulo sobre as irresponsabilidades orçamentárias de Dilma porém também colocam na balança o Congresso e miram um inimigo habitual: os direitos constitucionais e as aposentadorias. Concluem que é preciso mexer aí e fazem quase um chamado à ordem para perseguir este objetivo real (e mais lucrativo). Dizem: "É indiscutível que sem desarmar a indexação do Orçamento, rever vinculações [se referem a saúde, educação, por exemplo] e reformar a Previdência, cujo déficit aumenta a cada ano, a conta não fechará. Mas o Planalto não quer falar nisso, e o Congresso está mergulhado no impeachment. Isso não significa, porém, que este problema gigantesco deixe de existir. E ele ficará bastante visível. Foi assim na Grécia."

O jornal da família Frias de Olivieira, a Folha de São Paulo, por sua vez também estampa um editorial com título arrojado: "Já chega". Mas não é sobre Dilma que ele versa, é sobre Cunha. Esta semana seu par carioca já tinha feito um editorial similar. Porém o jornal paulista cunhador da infame expressão "ditabranda" para a ditadura brasileira, mostra com contundência que é preciso se livrar do político fluminense para um outro objetivo: impeachment. Nas palavras do editorialista: "É imperativo abreviar essa farsa, para que o processo do impeachment, seja qual for seu desenlace, transcorra com a necessária limpidez."

Chega de enrolação as crises irmãs precisam ser debeladas

Há extenso debate sobre a inter-relação entre a crise política e a crise econômica. Com caminhos distintos os três grandes jornais do país querem atacar este problema e advogam uma certa pressa nisto.

A resolução "impichante" do Estado de São Paulo primus inter pares (primeiro entre os iguais) em direitismo nos três grandes atende a possíveis inclinações ideológicas mas também a uma base de leitores mais furiosamente anti-PT como a elite e classe média abastada do estado dos bandeirantes. Porém, sua resposta visa algo não muito distinto , todos os três estão preocupados em como costurar um governo de unidade nacional pelos ajustes, contra os direitos constitucionais da saúde, educação e atacando as aposentadorias. Primeiro Dilma para o Estado. Primeiro Cunha para a Folha. Pouco importa, parece dizer O Globo, desde que ataque.

Nas entrelinhas, para além do alvo imediato todos os três convergem nos objetivos e em noticiar extensas movimentações de Temer e Serra e um possível acordo de "união nacional" (sem Dilma) . Este plano habilmente negado por Temer mas mostrado aos quatro ventos pelas reuniões com a oposição, com governadores "independentes", exigiria nas vozes da Folha e diariamente mostrado pelo pernambucano Jornal do Commercio algum outro nome "limpo" para conduzir o processo. E já há candidato para a presidência da Câmara que é favorável ao impeachment que se oferece ao posto: o pernambucano Jarbas Vasconcellos do PMDB. Serra já declarou apoiar este movimento. O governador daquele estado, Paulo Câmara, do PSB em curioso movimento de um dia assinar a "carta pela legalidade" dos 16 governadores contra o impeachment, no dia seguinte veio a público defender Vasconcellos como presidente da Câmara para que o processo do impeachment transcorra limpo.

Este movimento do PSB pernambucano atende a necessidades da política local e as eleições de Recife do ano que vem. Pouco importa, às vésperas das municipais de 2016, em meio a profunda recessão e incansável crise política alimentada por corrupção e ambições a pequena política dos cargos e conchavos, a política local e regional e os "grandes rumos" estão todos entrelaçados. É só ver as intermináveis movimentações do PMDB carioca, o hoje hiper-governista Picciani foi ninguém menos que o articulador da campanha de Aécio há pouco mais de um ano.

Nestes jogos de palácios, parlamentos e redações há muitos interesses pessoais que se misturam com a "grande política". A "grande política" dos ajustes estão todos de acordo, no entanto, sobram dúvidas não do que querem mas quem pode se cacifar a fazê-lo, e como lidar com os trabalhadores, os sindicatos. Já estão prontos para prescindir do PT e da passividade da CUT?

Temer articula dominar ainda mais o governo Dilma oferecendo, caro, sua salvação, ou cacifar-se presidente. Pelas urnas não será, inexpressivo eleitoralmente e já relativamente velho. Serra, flanqueado por Aécio e Alckmin não tem nenhuma esperança de virar sequer candidato tucano, salvo se for um super-ministro de Temer, querendo repetir o caminho de FHC no governo Itamar. Único caminho que lhe resta. Eduardo Paes do Rio costura apoios a Dilma como melhor caminho de manter um governo débil e ao mesmo manter-se o mais forte PMDBista que possa se candidatar a 2018. Por enquanto seus cálculos pessoais passam pelo "Fica Dilma", mas isto pode mudar rapidamente, de porta-voz do impeachment quando era deputado tucano em 2005, tornou-se parceiro privilegiado do petismo em 2008.

Nos palácios, nas redações e nos parlamentos sobram os conchavos. De suas negociações e conchavos não sairá resposta progressista a nenhum anseio dos trabalhadores. Para onde irá o país, para uma resposta Temer-Serra-Vasconcellos? Para um "Fica mas ajuste muito Dilma"?

Dificilmente as manifestações de hoje pelo impeachment ou as do dia 16 em defesa do ajustador e corrupto governo de Dilma darão o tom de descontentamento não só com Dilma mas com uma casta política corrupta e ligada aos empresários, Cunha sendo o mais caricato das figuras detestáveis de um sistema podre. Este descontentamento palpável nos locais de trabalho e estudo fura a polarização "sai ou fica" e toca também outros temas: a luta contra os ajustes, pela saúde, pela educação. Os grandes jornais tem preocupações maiores que só o impeachment, se preocupam com atacar e muito. Nós de baixo também precisamos pensar (e agir) além. A impressionante disposição de luta dos secundaristas paulistas seria o anúncio da entrada em cena, em grande escala, do ator político ausente: os trabalhadores e a juventude de junho?




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