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PROFESSORES DE SP SEM SALÁRIO | Professores de SP relatam a situação que estão há 4 meses sem salários

A foto de capa dessa matéria foi escolhida pela professora Jeane, que também passa por essa situação. Para ela, esse "ninguém" representa os governos, que fecharam os olhos e não lembram que existimos.

quinta-feira 23 de julho de 2020 | Edição do dia

Nos últimos dias viemos denunciando aqui no Esquerda Diário a situação escandalosa de 35 mil professores contratados de SP que Doria e Rossieli Soares abandonaram sem salário há 4 meses. Você pode entender melhor o caso aqui e aqui.

Mas para nós, esses 35 mil não são números, mas pessoas reais com famílias, necessidades básicas e sentimentos. Publicamos abaixo relatos de 6 desses professores sem salários e a solidariedade de 3 professoras efetivas da rede. Vejam a situação dos professores e nos ajudem na campanha de exigência pelo pagamento imediato de seus salários atrasados e que até o final da pandemia não recebam menos que uma jornada básica da rede. Compartilhe nossas notas e nos envie relatos.

Professor G. R. S, cidade de Marília.
“Sou professor categoria V do Estado de São Paulo. Estou vivendo tempos difíceis em minha vida, pois moro só, estou devendo 4 meses de aluguel já estou com aviso de despejo, corte de água e luz, um dia almoço, outro janto para economizar o pouco de arroz e feijão que tenho. Estou vendendo os móveis da minha casa, como micro-ondas, notebook (no qual era material de trabalho), sofá, só estou com os móveis necessários. Não recebi auxílio emergencial por constar vínculo com o estado, é não tenho vergonha de falar estou passando fome.”

Professora Micherlanda Miranda - zona sul de São Paulo
“Há 4 meses estamos abandonados pelo nosso estado, pelos nossos governantes. Sou professora categoria O, mas sem aulas atribuídas, ou seja, o governo resolveu nos separar por letrinhas. Fizeram uma sopa de letras pra separar os professores, portanto, nós categoria O sem aulas atribuídas e categoria V estamos há 4 meses renda, porque só temos salário se entrarmos em sala de aula e estamos tendo auxílio nenhum. Não consegui o auxílio emergencial, porque o Dataprev nos considera como funcionários públicos e o próprio estado nos consideram com vínculo. Mas que vínculo é esse se não temos auxílio nesse momento que mais precisamos. Eu moro de aluguel, é a única renda que possuo, as contas estão se acumulando, estão atrasadas. Estou sobrevivendo de favor de familiares e ajuda de familiares, então contamos com ajuda de vocês aí pra divulgar isso, pra comunidade e pra sociedade em geral. Agradecida!”

Professora Raquel Figueira zona leste de São Paulo
“Entrei como eventual na leste (ZL) no ano passado em abril. Terminei minha licenciatura em Biologia em dezembro de 2019. Entrei como estudante. Já sou bacharel desde 2003. Muito bem, em janeiro fui na atribuição e fiquei até 4 horas da manhã e consegui 10 aulas em eletivas (projeto novo do governo). Fiz exame médico (exames são pagos pelo próprio professor), juntei os documentos, mas cancelaram minha atribuição alegando que não era estudante pois tinha concluído. Não era concluinte, pois ia colar grau em março, ou seja, perdi as aulas. Continuei como categoria V (eventual) até acontecer tudo isso. Então fiquei sem renda. Está descontando consignado da minha conta. Estou com o auxílio emergencial, desesperada, pois pago aluguel. Na escola que eu eventuava sempre tinha aulas, as vezes ia de manhã, a tarde e à noite. Em reunião, tudo, as vezes dava conta de duas salas ao mesmo tempo e agora estamos aqui, com medo, mas torcendo pra voltar.”

Professora Antônia de Guaianazes
“Sou professora eventual categoria V. Estou desde maio sem salário. Precisamos de algum amparo do governo, pois do jeito que está não dá pra continuar. Temos um contrato que não nos dá direito a nada, nem ao básico para sobreviver. Um sindicato que não dá nenhum suporte, que exige filiação para ajudar com uma cesta básica. Isso é uma vergonha. Esse governo é uma vergonha. Não respeita os professores nem ao menos para garantir o básico para se manter nesse estado crítico de Pandemia.”

Professora Patrícia de Campinas
“Então, eu sou a Patrícia, sou da região metropolitana de Campinas, moro em Hortolândia e no início desse ano fiz a inscrição para eventual, pois é a primeira vez que eu atuo no estado, então eu não tinha pontuação suficiente para conseguir atribuir aula. No meu caso as correlatas são de Filosofia e Sociologia. Desde o início da pandemia, que decretaram fechamento das escolas não tivemos nenhum suporte! Nenhum suporte do governo né? Muitos colegas que são categoria O, eu sou categoria V, o único que eu consegui foi o auxílio emergencial. Minhas contas estão todas atrasadas, de água, de energia, internet. Tenho filhos que dependem da internet pra poder estudar e nesse caso da internet eles não perdoam como está acontecendo com a conta de água e energia. Água e energia a gente vai reparcelar assim que voltar às atividades e se voltar. Hoje a maior preocupação é o retorno e se eu sou contaminada com o vírus? Como será minha situação? O que me sufoca, não só a mim, mas centenas de profissionais é o seguinte, por que em outros estados houve o respaldo do governo e o nosso não? Por quê? O nosso governo nem olhou pra gente não falou um A. ‘Nós estamos verificando’, ‘estamos verificando’. Muitas mensagens a equipe do secretário de educação mandam é com um coração, diz não depende de mim e ainda manda um coração. Por que isso?”

Professor Ueldison Alves de Guarulhos
“Então, basicamente pra passar aí essa pandemia, essa quarentena, até o retorno das aulas em setembro. Tive que pegar empréstimo né? Porque o estado não tá pagando e aí foi o meio que eu tive de tentar me manter até o retorno das aulas. Estou fazendo alguns artigos, trabalhos acadêmicos, monografias, TCC, mas não vem de uma vez só. É um trabalho lento. Então foi a maneira que eu vi, pegar o empréstimo e tentar fazer alguma coisa pra me manter até retornar e eu continuar pagando. É uma situação bem complicada!”

Veja também relatos de professores efetivos sobre essa situação:

Prof Maíra Machado de Santo André e diretora da Apeoesp pela oposição

“Frente a tudo isso que os professores eventuais e O estão passando, a APEOESP tem que batalhar para que todos eles possam receber uma jornada básica de trabalho. Era por isso que o sindicato deveria atuar, na defesa desses trabalhadores contra a destruição de suas condições de vida. É fundamental que a APEOESP se coloque contra essa divisão entre efetivos e não efetivos e é fundamental também defender os 35 mil professores e professoras que vivem este terrível cenário, levantando essas bandeiras e atuando de verdade para organizar cada região e pressionar Doria e Rossilei Soares. É inadmissível que a Apeoesp se limite só a distribuir cestas básicas e pior ainda, para filiados apenas. Essa ajuda é importante e precisa ser para todos, mas não pode parar aí. Os professores querem seus salários atrasados já! A gente chama a oposição rever esse clima amistoso com a direção e batalhe para que o sindicato se mova em defesa dos 35 mil sem salários.”

Professora Tatiana Cardoso da escola João Solimeo
"Sou professora da Rede Estadual do Estado de São Paulo há 14 anos, presenciei o desmonte da educação pública paulista com as categorizacões dos professores. Os eventuais são parte da categoria mais vulnerável da escola com a retirada de direitos e a falta de vínculos com a escola. Durante a quarentena estes profissionais da educação estão sofrendo mais um ataque com o corte dos seus salários. Além de todos os problemas impostos com o Covid-19 os professores enfrentam o descaso do governo paulista com suas vidas, dependendo das vaquinhas organizadas nas escolas como a que implementamos onde leciono para ajudar aqueles que são parte fundamental da nossa escola."

Professora Marcella Campos da zona norte de SP
“Busquei conhecidos pra saber como estavam e foi chocante! Meus colegas de profissão, professores, passando fome, numa situação absurda. Essa era a minha preocupação desde o começo. Dias antes do começo da quarentena questionei a gestão da minha escola sobre como ficaria a situação dos professores categoria O e V, me disseram que dependia do governo. E descobrimos agora que se depender do governo, milhares de professores serão obrigados a deixar suas casas, passar fome e não ter sustento para suas famílias. Essa divisão que o governo faz por tipos de contratos tem objetivos econômicos, sai mais barato, mais também políticos, que é nos dividir. Eu não aceito isso de jeito nenhum! Meus colegas de chão de escola são tão ou mais professores do que eu e por isso vou lutar até o final pela efetivação imediata de todos os professores contratados, sem a necessidade de concurso público, eles já provaram anos e anos em sala de aula que são professores. Não será o governo e a justiça que está do nosso lado que vai me convencer do contrário.”




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