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Eleições Argentinas | Sem citar Milei, Lula deseja “boa sorte e êxito” ao governo de ultra direita eleito na Argentina

Lula não citou Milei nominalmente, mas desejou “boa sorte” e “êxito” ao governo do ultra direitista eleito na Argentina.

terça-feira 21 de novembro de 2023 | Edição do dia

Logo da eleição do ultra direitista Milei para a presidência argentina, a estratégia do governo brasileiro revela novamente a falência do projeto frente amplista. Lula não citou Milei nominalmente, mas desejou “boa sorte” e “êxito” ao governo do ultra direitista eleito na Argentina, junto com elogios às instituições responsáveis por este processo eleitoral.

A posição do presidente e líder histórico do Partido dos Trabalhadores não é novidade, já que em 4 anos de governo Bolsonaro e mesmo com mais de 600 mil brasileiros mortos por covid por responsabilidade daquele governo, o Partido dos Trabalhadores trabalhou para que Bolsonaro ficasse até o final de seu mandato atuando através da CUT e dos seus parlamentares como freio para qualquer mobilização que questionasse o governo de extrema-direita no Brasil.

A estratégia frente amplista com relação ao governo de Milei já se desenha e se mostra clara com uma divisão de tarefas: enquanto Lula e outros alguns ministros adotam uma postura diplomática de sinalizar que estão abertos a acordos com Milei através do pragmatismo das relações estatais, outros ministros de Lula irão atuar com declarações demagógicas de repúdio à Milei.
Nesse contexto, Paulo Pimenta, na Secom, declarou que Milei deveria ligar para pedir desculpas à Lula, por tê-lo chamado de corrupto durante a campanha:

"Eu [se fosse o presidente Lula] não ligaria [para parabenizar Milei]. Só depois que ele me ligasse para me pedir desculpa. Ofendeu de forma gratuita o presidente Lula, cabe a ele um gesto como presidente eleito, de ligar para se desculpar. Depois que acontecesse isso, eu pensaria na possibilidade de conversar.”

Essa manobra do governo Lula e do PT, sinalizando o caminho para Milei construir relações com o governo da frente ampla brasileiro, tem à ver com a trajetória histórica construída pelo PT no último período, que não só construiu laços com a direita tradicional (Alckmin como seu vice) como ainda tem tentado cooptar com sucesso políticos da extrema direita para seu governo.

Assim também, a estratégia revela a fraqueza do projeto para construir relações “multilaterais” com protagonismo brasileiro. Assim, por exemplo, pela primeira vez o Mercosul tem uma maioria de presidentes da direita neoliberal (enquanto nos períodos anteriores Lula esteve na dianteira do Mercosul com a esquerda neoliberal). Agora, à dianteira do Mercosul, Lula terá que lidar com Milei, Lacalle Pou e Santiago Peña (Argentina, Uruguai e Paraguai), possíveis fortes aliados de Milei na sua plataforma ultra direitista que supõe ataques à classe trabalhadora com desregulamentação dos direitos trabalhistas, privatizações, uma agenda de negacionismo com relação à crise ambiental e climática e aumento do aparato repressivo.

Multilateralismo petista mais uma vez em cheque

Logo após os desejos de “boa sorte” ao governo de Milei, Lula declarou o interesse na realização do acordo Mercosul União Europeia ainda sob a sua presidência. O recado que se subentende é que o Brasil precisa do apoio da União Europeia para exercer a sua hegemonia sobre o bloco regional, ou seja, é um chamado para que o imperialismo europeu intervenha apoiando o Brasil no bloco, pois este não possui hegemonia sozinho para impor este acordo às outras partes, ainda mais no contexto de governos de direita na Argentina, Uruguai e Paraguai.

Mais uma vez, o falso protagonismo da estratégia multilateralista é exposto: apesar da retórica pela construção de blocos multilaterais, o Brasil atua regionalmente e internacionalmente dependendo a dois imperialismos, o norte americano e o europeu. Talvez o que possa mudar é que com mais pressão no “quintal de casa”, a política de “não alinhamento automático” do governo brasileiro possa encontrar mais dificuldades, pois para impor sua hegemonia e liderança a outros países do bloco, o governo brasileiro provavelmente se ajoelhará ainda mais frente aos EUA e a UE.

Ainda é cedo para traçar cenários, mas com cada vez mais elementos de crise mundial, atualizando mais uma vez um cenário de crises, guerras e revoluções, a política de blocos regionais, os “êxitos táticos” como a expansão do Bloco dos BRICS com a adesão do Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, mostrem-se como verdadeiros “tigres de papel” frente a um cenário de acirramento das contradições imperialistas. É nesse marco, por exemplo, que se mostrou a falência da presidência temporária do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, que sequer uma simples nota de repúdio aos bombardeios do Estado genocida de Israel na Faixa de Gaza foi capaz de conseguir.

O que é preciso ficar claro é que qualquer bravata do governo brasileiro com Milei não passa disso, de bravata. Pois igual, se no caso de Israel, Lula agora fala em “terrorismo” citando o bombardeio ativo contra mulheres e crianças pelo Estado de Israel, o mesmo não rompe relações diplomáticas com este estado, assim como nada faz também para desagradar o imperialismo norte americano. A mesma tática se mostrará em relação à Milei, bravatas de alguns ministros e tentativa de normalização por cima, se necessário, com apoio de algum imperialismo.




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