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Superar a crise do PT pela esquerda

Os intermináveis escândalos de corrupção e o estelionato eleitoral de Dilma, que ao contrário do prometido em campanha, está aplicando uma série de “ajustes” contra os trabalhadores são os novos fatores que se juntam a outros (deterioração da situação da economia, aspirações sociais, tais como expressas em junho que já não podiam mais ser contidas) que já vinham contribuindo para o declínio do maior partido que a classe trabalhadora brasileira construiu.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sábado 28 de março de 2015 | 00:18

O PT junto do governo Dilma está passando por uma imensa crise. O descontentamento atinge todas as classes sociais e é muito mais negro, trabalhador, e jovem do que a fotografia que os atos do dia 15 de março mostraram.

Este declínio do PT abre um grande espaço político. Todos correm para ocupá-lo. O PSDB e outros setores de oposição burguesa tomaram a dianteira. Mas sem poder responder aos anseios sociais profundos, suas capacidades de conter estes imensos contingentes são limitadas.

O espaço à direita pode-se dar, sobretudo pela desilusão, passividade. À esquerda do PT acumula-se uma dupla fraqueza: de força e de ideias. Sem inserção e força na classe trabalhadora esta esquerda não será uma alternativa viável e, sem ideias que superem o PT, não se enfrentará com a desilusão dos antigos petistas nem com o sentimento anti-política das novas gerações e não ganhará força na classe trabalhadora.

Da esperança à desilusão e anti-política

O PT nasceu com um impulso de milhares de trabalhadores para fazer política. Da consciência mais “automática”, aquela da luta econômica, por empregos e salários, transformou-se em uma forte organização para “se representar” no estado, “sem generais, nem patrões” como dizia seu lema inicial. Desta consciência e organização tomou corpo outro debate crucial para os trabalhadores. O quê defender (programa), como lutar para alcança-lo (estratégia), e os meios para fazer esta estratégia ganhar vida (as táticas).

Em poucos anos de fundação a visão que foi prevalecendo no PT foi de acomodar-se à ordem existente, abandonar qualquer flerte mais claro com uma posição que tendesse ao socialismo. Esta política de “fazer o que dá” (vendida como pragmatismo e “inteligência” por Lula, Dirceu e outros era acompanhada por um outro setor do partido que fornecia uma explicação teórica para as ações da cúpula do partido.

A explicação que encontravam eram um (mal)uso reformista de Gramsci, onde negavam veemente a ideia de revolução, e como bem abordaram André Acier e Juan Dal Maso, tratava-se de lutar por um “outro desenvolvimento”, ou por um suposto socialismo dentro do Estado e do capitalismo periféricos brasileiros.

As transformações do PT foram se acentuando, mudando para se tornar cada vez mais parecido com outros partidos da ordem (inclusive na corrupção). De 2003 a 2013 e depois 2015 foram vários desgastes e desilusões que foram se somando apesar das repetidas (mas cada vez menores) vitórias eleitorais.

Crise do PT e zero debate estratégico

A crise do PT é acompanhada de pouco debate sobre quais lições aprender da crise do PT. Volta e meia o que se vê é alguma fórmula pronta “o PT era bom até o ano X” ou “Y”. Porém, tais explicações não ajudam a entender como foi se degenerando, como foi ocorrendo um “transformismo” no PT. É como se, de repente, um partido “necessário” virasse traidor (por coincidência frequentemente a narrativa faz coincidir este ano com o ano da saída da corrente do PT).

Em tempos de crise do PT e relocalização da direita que tem sabido se aproveitar do descontentamento, surgem vozes de grupos à esquerda do PT que buscam calar todas as críticas em nome do “combate à direita”. Esta mesma postura vimos em conhecidos deputados do PSOL no segundo turno, tais como Jean Wyllys e Marcelo Freixo. Hoje, Ivan Valente e sua ala do PSOL que havia sido pessimista com as jornadas de junho, e enquanto milhões estavam na rua contra todos os governos sua principal figura, o senado Randolfe, estava reunido, sorridente, com a presidente Dilma.

Coerente com sua visão estratégica, esta corrente, junto ao MTST, vai mais longe do que foram os parlamentares cariocas do PSOL nas eleições, ela propõe uma frente permanente com grupos governistas contra a direita para lutar “dentro e fora do governo”. Para eles há tarefas “progressistas” que deveríamos levar adiante junto inclusive de um governo que retira direitos dos trabalhadores. Algo permanente uma vez que as tarefas próprias da classe trabalhadora não estariam no horizonte, seriam para um futuro indeterminado.

O professor da UNICAMP, Plínio de Arruda Sampaio Jr, distoando desta análise de “avanço da direita” argumenta em uma entrevista a este portal que é necessário superar o programa histórico do PT e superar o próprio PT para poder lutar contra os ajustes e outras medidas do governo Dilma.

Superar o PT e seu programa de conciliar os interesses de trabalhadores e empresários não é algo consensual entre a esquerda: muitos mesmo fora do PT (alas do PSOL para além de sua “direita”citada anteriormente) concordam que há setores do empresariado a buscar acordos como se estes fossem favoráveis aos trabalhadores.

Por outro lado, se superar o PT significa utilizar cada “trincheira” como um mandato parlamentar, um sindicato, em prol da guerra como um todo e seu desfecho (revolução) também a imensa maioria da esquerda fora do PT discorda, pois, por maiores que sejam suas diferenças atuais com o partido de Lula e Dilma, vivem de eleição em eleição, de tática em tática (sem estratégia) e fazem poucos esforços para que estas “trincheiras” vivem força real nos locais de trabalho, estudo, para que as ideias marxistas cheguem a milhões.

Contentam-se com a participação da militância de tempos em tempos para conseguir votos (sindicais ou parlamentares). Por isto até o cabo Daciolo começar a propor no Congresso emendasou ações que constrangiam o PSOL não havia nenhuma medida contra ele. Enquanto seus votos eram úteis não havia tanta crítica. A tática eleitoral toma o lugar da estratégia, até mesmo na esquerda deste partido.

Superar o PT é para nós também o esforço para construir um partido militante, não de afiliados, de votantes, mas de trabalhadores e jovens que sejam sujeitos da revolução social, que sejam porta-vozes de todos os oprimidos e não só de suas categorias, bairros, etc, que sejam sujeitos da construção da hegemonia da classe trabalhadora.

Este portal Esquerda Diário quer contribuir para que as ideias marxistas cheguem a centenas de milhares de trabalhadores e jovens. Estas ideias são os relatos de suas lutas, as reflexões sobre estas lutas, notícias e reflexões sobre nossos problemas cotidianos, sobre cultura, arte, mas também significa erguer nossas ideias ao plano histórico: pensar o que nossa classe já fez e o que precisa fazer. O futuro da classe trabalhadora do Brasil passa por superar, em chave revolucionária, seu passado e presente com o PT.




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