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TEMER | Temer, congresso e seu golpe: vitória de Pirro, ou podem impor um duríssimo plano de ataque?

Este político dos bastidores subirá ao mais alto posto do país sem ter votos populares mas com o apoio de 347 direitistas, reacionários, neoliberais e fisiologistas de plantão. Esta vitória em meio a aguda recessão permitirá fazer um governo forte e de duríssimos ataques a classe trabalhadora como ele anunciou que gostaria, como mídia lhe exige que faça?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 20 de abril de 2016 | Edição do dia

Mostrando as entranhas de um congresso cheio de reacionários que o PT escondia debaixo de sua base de apoio, com direito a discursos transportados da máquina do tempo, dignos de outro abril, o de 1964: com Deus, com suas famílias, com a PM, com saudações ao golpe militar e até a torturadores, triunfou um dos passos decisivos do golpe institucional.

Avalizado passo a passo pelo Supremo, construído milimetricamente pela Lava Jato e pela mídia e antes de mais nada pelo próprio PT. Não só por anos de governar com métodos corruptos como todo partido capitalista, não só com as lutas não dadas pela CUT contra as demissões na indústria e os ataques de “seu” governo, mas também por eleger-se em disputada eleição ganha contra os ajustes e ter feito um governo ajustador desde seu primeiro minuto.

O PT aposta nas críticas internacionais ao golpe para buscar exercer pressão sobre o Senado e o Supremo. Anuncia que tomará medidas de luta, mas a CUT ainda não marcou nada. Pode ser que façam ações, mas tendem a ser suficientes para mostrar alguma luta, mostrar-se vivo para manter-se na localização de vítima e preparar seu retorno (eleitoral). Se este for o cenário que se mantiver, o que tende a prevalecer se não houver novos fatos, sobretudo oriundos de luta da classe trabalhadora e da juventude, é um governo Temer.

Quais as contradições de um governo Temer e que caminhos ele pode trilhar para enfrentar estas contradições.

Questionamentos internacionais

A maioria dos jornais internacionais se contrapuseram ao impeachment alguns falando até em golpe. Ressaltaram o que chamaram de excentricidade e reacionarismo do congresso brasileiros. Nenhum dirigente internacional se pronunciou claramente a favor do golpe. Estes questionamentos geram dúvidas a um governo Temer.

A mídia internacional se contrapõe ao congresso brasileiro por temor a instabilidade na luta de classes que esta derrubada de Dilma pode abrir, mas também porque veem os julgadores pior que os julgados, ensaiando uma possibilidade de “lava jato até o final”. Resta saber se Moro e o Janot atendem ao mesmo setor do establishment imperialista em meio a tensas disputas nas primárias americanas, ou, se os objetivos já foram alcançados, tratava-se somente de atacar o governo e o PT. Por ora, Moro dá sinais contraditórios, fala que a operação terminará em poucos meses ao mesmo tempo que fala que o país tem que ser livrar de todos políticos corruptos.

Com o golpe questionado internacionalmente, o PT se prepara para apoiar-se nisso contra Temer. O governo do ex-vice-presidente terá que dar mostrar mais fortes e rápidas mostras de serviço ao imperialismo com ataques a classe trabalhadora para mostrar-se útil. O tucano dos bastidores, Aloysio Nunes, foi aos EUA para tentar angariar apoio internacional ao golpe, até agora sem sucesso.

Sendo assim, não resta por enquanto alternativas ao PMDB que tentar mostrar serviço para ganhar apoio.

Ajustes e rápido, ou economia pode entrar em recessão maior ou até mesmo depressão

Os empresários exigem ajustes rápidos para retomar investimentos. Depois de dois anos caindo quase 4% o PIB se Temer não conseguir implementar ataques rápidos há risco de a economia entrar em uma espiral recessiva, ou até mesmo depressiva e com isto o desemprego dar um salto rápido.

Por outro lado se implementar os ajustes o impacto sobre os trabalhadores desta crise ainda terá que piorar antes de melhorar.

Terá ele força para fazê-lo? A qual custo para a estabilidade do país?

É possível, calmamente implementar a “Ponte para o Futuro”?

A burguesia nacional e internacional quer “flexibilização de direitos trabalhistas”, abertura para maiores negócios no país. Porém um governo sem legitimidade popular, com o PT na oposição, com a CUT preparando suas ações para opor resistência (e manter vivo o PT para as eleições municipais ou eventualmente antecipadas) terá dificuldade de impor este plano. Isto teme parte do establishment internacional. O partido da mídia nativo toma nota disso mas exige ações rápidas, e sabendo que serão de difícil aprovação, que sejam feitas na “canetada” como disse o Globo.

A CUT na oposição, coisa que não se vê em uma década e meia, deve colocar maior resistência aos ajustes. E mesmo se não colocar, as lutas de juventude já mostram que uma geração de secundaristas e universitários sem as mesmas amarras, e sem sentir da mesma forma o peso da derrota do PT, toma suas escolas em defesa da educação, vota paralisar sua faculdade e escola “contra o impeachment e os ataques” como já estamos vendo em alguns locais do país.

Impor o plano Temer só é possível com mais luta de classes e a partir de “canetada” (daí o exemplo Macri vem a calhar, mas o argentino, diferente de Temer, foi eleito), dando ainda maiores contornos bonapartistas a este novo governo.

Dificuldade com os de baixo, mas também com os de cima

Para a assunção de Temer triunfou uma unidade de defensores de ajustes, reacionários de todo tipo, políticos profissionais de oligarquias, o mais podre do baixo clero. Não são todos que estão satisfeitos com esta saída e esperam a primeira dificuldade para voltar a defender eleições antecipadas, a Folha de São Paulo repete, tal qual um mantra que sua saída era melhor, Aécio reafirmou a mesma ideia em entrevista ao Globo em 19/04, e Marina também afirma o mesmo.

Outras dificuldades advém de outros flancos igualmente débeis de Temer. A mídia conduziu uma ópera bufa de derrubar Dilma para combater a corrupção, no entanto está em curso uma operação para blindar Cunha e até mesmo, muito se especula, para acabar com a Lava Jato. Como a classe média acomodada que foi a infantaria para o golpe reagiria a uma operação de abafa?

Outro elemento chave dos argumentos para o golpe foram argumentos relacionados a economia, entre elas a ideia que derrubando Dilma a economia melhoraria, chegando ao cúmulo de hipocrisia da grande mídia defender em seus editoriais do domingo da votação do impeachment que seria importante o mesmo para preservar empregos e salários. Além desta demagogia da mídia, a FIESP fez intensa campanha contra os impostos como se os empresários pagassem o pato, porém, está claro que não há como sanear as contas nacionais somente atacando a saúde, educação e funcionalismo, será preciso aumentar impostos. Uma “canetada” de Temer recriando a CPMF cairia como com os empresários?

Além destas dúvidas outra fonte de instabilidade para um futuro governo Temer está relacionada com importantes partidos da oposição não embarcarem em seu projeto. A Folha expressando interesses de Serra mostra os tucanos prontos a embarcarem no governo, especula que Serra seria Ministro da Fazenda, e o reacionário secretário da segurança de Alckmin iria para a AGU, já o Globo trouxe entrevista de uma página de Aécio afirmando que os tucanos não fariam parte do governo Temer, para o mineiro Serra estaria livre para embarcar individualmente. O atual presidente do partido e ex-candidato a presidente, afirma que o que fará o PSDB é uma carta a ser divulgada nos próximos dias com um programa para Temer implementar que eles apoiariam de fora do governo. Parece prevalecer a posição de Aécio, querem deixar livre Temer para se desgastar e eles estarem preparados para 2018 ou eventuais eleições antecipadas caso Temer naufrague.

Vitória de Pirro ou mão dura e caneta pronta para ataques está pronta?

Com tantos questionamentos e flancos débeis o governo golpista de Temer só pode se impor através de uma guinada bonapartista. Terá a sua disposição o mecanismo bonapartista permitido pela Constituição Federal que é a edição de medidas provisórias. É isto que uma parte do partido da mídia lhe exige: “canetadas”. Mas imaginemos uma reforma da previdência na canetada o que poderia despertar no país? Por isso o imperialismo mantém um pé atrás, por isso Marina e Aécio, além de olharem para a própria ambição pessoal não abandonam a ideia de eleição antecipada via cassação da chapa no TSE.

Tal como a vitória de Pirro, a conquista de Temer pode sair cara demais para ele e seu partido. Eles tem uma agenda nada “tranquila e favorável” pela frente e eleições municipais logo em seguida.

Há grandes dificuldades para estabilidade do governo não só por sua assunção golpista, mas pelos ataques que deveria implementar e pela previsível luta de classes. É possível que consiga passar muitos ou alguns destes ataques. É possível que um governo Temer, apesar de tudo, não seja um governo débil. Mas algo é certo, desenha-se para ser um governo de mais de luta de classes.

Antes da previsão das contradições de um futuro governo, hoje ainda é possível e necessário lutar contra o golpe, os golpistas e os ajustes de todos governos. O sucesso e força desta luta determina não só a vitória do golpe, mas com que força a classe trabalhadora e a juventude se localiza para enfrentar uma situação na economia e na luta de classes que pode se acirrar. Por isto é crucial apoiar e ajudar cada luta chegar a ser vitoriosa, a mais emblemáticas delas neste momento é dos professores e estudantes do Rio contra os ajustes.




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