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RIO DE JANEIRO | The Economist critica decadência do Rio e O Globo em ofensiva neoliberal: privatização e repressão como projeto de cidade

Dias atrás, a revista inglesa “The Economist” publicou um artigo onde descrevem a imagem decadente do Rio de Janeiro às vésperas das Olimpíadas para pressionar por uma política econômica onde os banqueiros e empresários lucrem mais, sem isto diz a revista “a cidade nunca será uma grande cidade somente um belo cenário para uma”.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

segunda-feira 1º de agosto de 2016 | Edição do dia

A crítica da prestigiosa revista das finanças acontece ao mesmo tempo que o jornal da família Marinho, O Globo, se destaca por ser a voz mais estridente da pressão por profundos ataques neoliberais e privatizantes no país, dia após dia seus editoriais advogam algum ataque de privatizações na Petrobras, a privatização da Caixa ao fim da CLT e fim da universidade pública gratuita.

Dos tempos do Cristo Redentor foguete da mesma The Economist, às intermináveis loas do Globo a Cabral/Paes parece que não restou nada. O novo marco proposto pela elite nacional e estrangeira para a cidade cartão-postal do país é um retrato da falência da classe dominante nacional, sobretudo a carioca em desenvolver a antiga capital do país.

A imagem de uma exuberância perdida falseia a realidade. A suposta Belle Epoque dos tempos de capital, com seus grandes símbolos da prefeitura de Pereira Passos, o Theatro Municipal, a Rio Branco foram pavimentados pela remoção de dezenas de milhares. Um projeto que reviveu com os mega-eventos e Eduardo Paes, aliado do PT. Se aquela falsa prosperidade era feita expulsando os negros, criando as favelas, se lá no início do século XX não houve espaço para formar uma capital de uma potência, seria menos ainda agora.

A falência do “Rio-espetáculo do Brasil potência”, é também a falência de mais uma ilusão que esta classe dominante herdeira do tráfico e sequestro de negros escravizados (a especialização “produtiva” da elite carioca no século XIX) poderia desenvolver o país e sua cidade, que continua, apesar da vivacidade lúdica do carnaval, das tentativas ruidosas como “junho” ou do grito daqueles que eram invisibilizados, como os garis em 2014, a ser, infelizmente digna da tradução do tupi que nomeia os ali nascidos ou que a adotaram a cidade como sua: casa dos brancos [kari – branco, oka – casa].

Se Brasil-potência e Rio-espetáculo não vai, privatização e neoliberalismo pesado como resposta

A revista inglesa chega a afirmar que a cidade está em decadência desde a década de 60, quando a capital política foi transferida para Brasília, fato que o Rio não teria superado economicamente até os dias de hoje.

Ainda, defendem que a “Cidade Maravilhosa” fazia jus a seu apelido sete anos atrás, quando foi anunciado que os jogos seriam sediados lá, já que os índices de violência estavam em queda e o boom do petróleo, a descoberta do pré-sal, havia criado “boas expectativas” para o Estado do Rio.

Mas da imagem da Baía de Guanabara extremamente poluída, dos problemas nas instalações da Vila dos Atletas, atraso nas obras da nova linha do metrô, a revista produz um discurso defensor de políticas de “combate à criminalidade” – cujo conteúdo é de mais investimentos na instituição que mais mata a população negra e periférica do país, a polícia do Rio de Janeiro – e de melhor “administração fiscal”, ou seja, de incentivo à medidas que cortem “custos” dos serviços básicos à população que possam servir de investimento à política fiscal que enriquece os banqueiros.

Ponderam, porém, que o Estado possui ainda alguns “empreendimentos criativos” e universidades, listando: a maior rede de televisão burguesa, a golpista Rede Globo, cujo jornal impresso, O Globo, tem sido um dos jornais onde mais abertamente defende a privatização. Um novo modelo é o que defendem. Espetáculo e petróleo não foi. Vendam tudo. Ataquem o funcionalismo e a população.

O Globo, como uma das raras expressões de uma classe dominante pequena frente a uma imensidão de negros, pobres e trabalhadores, clama a vender todas as estatais. Acabar com a universidade pública. Expressa uma política da falência de erguer-se potência através da administração de estatais e agora vê como único projeto tornar-se gerente não mais de estatais mas de multinacionais que abocanhem, à preço de banana, as riquezas nacionais.

A PUC-RJ com seus célebres difusores do Consenso de Washington, seus Armínio Fraga e similares, sem contar com uma base industrial própria como a elite paulistana aposta no mais cru neoliberalismo para voltar a ter voz. Aos trabalhadores reservam penúria. E como em uma cidade tão desigual, tão visualmente linda e violenta este nível de precarização da vida não pode passar sem resistência, dedicam, tal como o Economist, muita preocupação à repressão às UPPs. Ao chicote para sua cidade permanecer uma casa da elite branca.

Calar e omitir as resistências, conter e reprimir os negros

É impressionante como um artigo de três páginas a respeito da situação política econômica do Rio de Janeiro pouco fala das lutas em curso contra a galopante precarização dos serviços públicos do estado.

A educação pública se encontra cada vez mais em um estado calamitoso, mas não sem a luta dos professores da rede pública, que fizeram 150 dias de greve, essa que começou com 70% de adesão da categoria, contra a política de arrocho salarial do governo carioca, e que teve que lidar com corte de salário de grevistas. Assim como foi cenário de um dos movimentos mais importantes de ocupação de escolas pelo movimento secundarista lutando por melhores condições de ensino dentro de um cenário de enorme precarização da educação básica. A principal universidade estadual, a UERJ, a primeira do país a ter cotas para negros, está jogadas às traças pelo governo Pezão/Dornelles, e viveu uma greve de meses por conta do sucateamento das condições de ensino, estudo e trabalho.

O genocídio da população negra é realidade marcante do país de conjunto, e o Rio de Janeiro é onde ela se expressa com maior peso. A militarização dos morros e favelas através das UPPs em nome do “combate à violência”, como prega a revista em sua matéria especial e O Globo diariamente, é um exercício de extermínio de uma população caçada desde a escravidão e da qual a elite nacional e estrangeira teme sua revolta. Dessa repressão resultam assassinatos de Amarildo, DG, Cláudia, alguns poucos nomes que romperam o silêncio imposto pela mídia e pelos governos nesta cidade que é maravilhosa, sobretudo para a Gávea e para o Leblon.

É uma cidade que é uma casa para essa elite branca, nativa e estrangeira. Incapaz de fazer da teimosa e expansiva felicidade do carioca uma realização plena. Seus projetos higienistas, embranquecedores de Belle Époque faliram. Seu projeto de cidade espetáculo também rui. Os trabalhadores, os pobres e os negros que poderão arrancar contra a elite representada pelo Globo e pelos imperialistas do The Economist a tão merecida alegria ao futuro, e não suas UPPs.




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