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PRIMEIRA ANÁLISE | Todo golpismo sorri com Temer na noite de núpcias, haverá lua de mel?

Golpistas de diversas filiações partidárias amontoaram-se para selfies com Temer. Unificando interesses díspares no objetivo destituinte imediato e depois na corrida ao butim dos ministérios de olho em 2018, não faltam caciques e seus herdeiros na Esplanada dos Ministérios para sorrirem faceiros com sua vitória. Dilma promete resistir. A CUT após não ter organizado nenhuma resistência à altura do golpe também promete resistir. A juventude ocupa escolas e faculdades e reitorias. Quais são as fortalezas e contradições do governo golpista de Temer?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 13 de maio de 2016 | Edição do dia

Montagem: Juan Pablo Diaz Vio

Alguns dos principais patrocinadores do golpe, as famílias Marinho, Civitas, Farias e Mesquita devem abrir nesta noite seus mais caros vinhos. Amanhã será dia de negócios e exigências.

O amanhã já é hoje para algumas entidades patronais. A FIRJAN publicou exigências como abertura de todo setor de petróleo ao imperialismo, privatizações, e estas celebradas reformas. Junto a FIESP investiram em patos infláveis, marmitas gourmet para os manifestantes do MBL e outras “novas direitas” com idéias do século XIX ou mais velhas ainda, publicaram matérias pagas diárias nos jornais...agora é hora de business, afinal Time is Money.

O golpe que tem Temer à frente foi realizado para impor um novo governo de ajustes e ataques mais duros que aqueles que Dilma já vinha realizando.

O tempo da política (golpista) e da economia (de ataques ajustadores) marcam das contradições na festa de hoje. Com quais fortalezas e contradições Temer entrará no dia depois das núpcias golpistas?

Os patrocinadores já exigem resultados na economia, são realizáveis?

Alguns analistas começam a escrever artigos que preveem que o país entre em uma depressão caso Temer não consiga impor os ataques que prometeu. A recessão se agravaria com um maior “locaute de investimentos” do que a que já ocorre, aumentando exponencialmente o desemprego e o impacto em quebradeira de empresas e finanças públicas, uma generalização nacional dos ataques paranaenses, gaúchos e cariocas.

Este cenário depende sobretudo das dificuldades de Temer com a luta de classes, o que abordaremos abaixo, porém suas medidas imediatas devem levar a algum respiro em como se sente a recessão, ou ao menos seu não agravamento, claro, se as lutas da juventude e da classe trabalhadora não instalarem um outro ritmo de crise política no país. Fazendo separar a força do impacto nos cortes no funcionalismo com alguma percepção de alívio no crédito.

Supondo que as medidas de ataque que afetarão em primeiro lugar o funcionalismo sejam “aprováveis”, elas se combinariam a outras medidas, que, no imediato aliviariam a dor do diagnóstico e terapia neoliberal para as vistas de uma outra parcela da população. O Valor Econômico e outros jornais e analistas especializados em economia dizem que o governo Temer deve combinar medidas super-ortodoxas de corte de gastos, ataques às aposentadorias, com a heteredoxa injeção de dinheiro na economia ou ao menos em algumas estatais como a Petrobrás antes de sua privatização, utilizando-se das reservas cambiais do país.

Estas medidas permitiriam algum respiro no ritmo de aumento do desemprego, o que junto à já visível tendência a queda da inflação (fruto da recessão) seriam atenuantes a luta de classes e facilitadores para algum sucedâneo de lua de mel aos golpistas, ou ao menos separar os setores atacados pelas medidas imediatas de uma percepção de melhora (ou não piora) da economia, enquanto direitos futuros são saqueados e funcionários públicos atacados.

Mas isto não se trata de tarefa simples porque a classe trabalhadora e a juventude não estão derrotados, setores de juventude já resistem aos ajustes e já protestam contra os golpistas, como no vivo ato com maioria de jovens que tomou a Avenida Paulista na noite de ontem, nas montadoras ocorrem greves contra as demissões, setores do funcionalismo em plena data-base preparam greves e mobilizações.

Ao passo que aumentou o ritmo da valsa do casamento do golpe, aumentava o número de estados com escolas ocupadas, e agora até mesmo faculdades e reitorias nas prestigiosas UNICAMP e USP. Este desafio “de baixo” se combina com desafios “de cima” para Temer: a frente golpista não necessariamente se unifica em cada ataque, muito menos em ano eleitoral, quando muitos deputados querem concorrer às prefeituras de suas cidades.

Uma frente golpista díspar, interesseira, que nomeações ministeriais não garante lealdade

Dentre as matérias mais escassas na política brasileira, fora o não envolvimento em escândalos de corrupção, está a lealdade. Renan, arqui-governista de semana passada, passou-se de mala e bagagem para o golpe. Maluf que jurara amor, declamou desdém.

A frente golpista da mídia, do “partido judiciário”, das diversas alas tucanas, dos diversos caciques do PMDB, dos adesistas de último minuto como o PP e PSD, carrega cada um agenda própria, e mais que isto, interesses divergentes nas eleições vindouras.

O ministério montado por Temer, o primeiro desde Geisel a não ter nenhuma mulher, que extinguiu ministérios como o de Direitos Humanos, Igualdade Racial, Mulher e Cultura, exibe uma grande listagem dos primogênitos das maiores famílias oligárquicas do país. Representantes dos Sarney, Picciani, Garibaldi, Lessa, entre outros. Uma garantia, ao menos imediata de apoio, no entanto a crise política não é de tão fácil solução. O toma lá, da cá, desta "democracia do suborno" garante maiorias numéricas mas não necessariamente estáveis, Dilma e o PT que o digam.

A crise do regime político, e sobretudo a crise do PT, distribuiu moscas azuis a picar cada importante político burguês do país: todos refletiram “agora é minha chance, minha última e única chance”. A divisão de ontem no golpismo sobre como proceder, via eleição antecipada, via cassação no TSE, via impeachment, via governo de coalizão sumiu. Porém, aquela divisão de ontem responde a estes interesses diferentes, e ao sinal de dificuldades, ao sinal de melhores oportunidades fora do governo Temer não há de se estranhar um desfazer destas alianças para o golpe e para auto-promoção, mas não necessariamente para uma governabilidade.

A Lava Jato mantém vivas ameaças a estabilidade política do país, inclusive aos golpistas

Até a véspera da consumação do golpe a Lava Jato e todo partido judiciário atuaram com sistemática seletividade contra o PT. Agora resolveram rasgar a constituição não somente contra Lula e seu partido, mas também contra Cunha. Removeram-lhe do parlamento sem que exista previsão constitucional a lhes autorizar neste procedimento. Dias depois, o Senado cassou Delcídio. O ministro do STF Fachin anunciou que deve apresentar, nos próximos dias, seu parecer sobre as denúncias contra Renan, e dá sinais que lhe transformará em réu. Se isto acontecer, e seguirem o que julgaram no caso Cunha, Renan também deveria ser afastado. Com esta medida o STF entraria na linha sucessória da presidência golpista, sendo o presidente deste tribunal o novo vice-presidente da República.

Porém o ninho tucano segue intocável, faça o que fizer. A abertura de inquérito não durou nem 24horas nas mãos de Gilmar Mendes. Em outro processo Teori Zavacki conseguiu admiti-lo para Cunha mas negar para Aécio. Uma seletividade impressionante.

Braços direitos de Temer, como Padilha e outros ministros constam no grande rol de citados na Lava Jato a lhe assessorar. O próprio Temer consta em delações. Terão um tratamento tucano ou petista, ou um intermediário, que mesmo assim colocará instabilidade no governo?

O que fará a Lava Jato? Ameaças para que cumpram o prometido na agenda de ataques? Atingir alguns nomes extra-PT para tentar vender a imagem de imparcialidade e partir para uma grande ofensiva prendendo Lula por exemplo? As consequências deste tipo de medida são muito grandes e exigiriam uma análise à parte.

Ou, por outro lado, poderia o judiciário ir mais fundo que uma operação de “destruir o PT”? Seria pensável uma “Mãos Limpas” italiana, uma garantia de impunidade futura, com 2500 condenações mas somente 4 prisões, porém explodindo os principais partidos do regime político e moldando um novo regime sob suas ordens e caprichos?

Um maior limite a esta hipótese é que todos tucanos paulistas seguem intocados. Uma hipótese intermediária entre "só o PT" e "Mãos Limpas" é atacar diversos partidos mas preservar os tucanos, catapultando-os ao poder sem concorrência relevante.

A hipótese de fazer barulho, acolher denúncias, mas pouco punir pode transferir o descrédito do Executivo e Legislativo as mais prestigiadas instituições hoje em dia, o STF, a PF e MPF, acrescentando problemas de legitimidade a um regime político em crise.

Como a “impunidade geral” cairia na classe média acomodada que tomou as ruas pelo golpe, enraivecida de antipetismo mas com desejo, ingênuo, de combate à corrupção pelas mãos de Moro, agente treinado pelo Departamento de Estado americano?

O PT fará oposição responsável, mas mesmo assim pode ser um fator desestabilizador?

O discurso de Dilma em sua remoção do poder esteve alguns tons acima da normalidade das últimas semanas. Prometeu resistir, não renunciar e que lutará para concluir seu mandato. Deixou implícito que entrará com ações judiciais, que pode recorrer a OEA e até mesmo realizar uma turnê internacional denunciando o golpe. A efetividade de tais medidas é baixíssima mas promete manter o governo golpista permanentemente tendo que responder como não é golpista. Não à toa, o discurso de Temer de hoje gastou preciosos minutos para vender-se como “amante da Constituição”.

O discurso de Dilma também chamou os jovens, as mulheres, os trabalhadores a seguirem nas ruas, mas “com responsabilidade”.

Responsabilidade essa que a CUT e CTB mostraram diariamente na “resistência” contra o golpe. Organizando um fiasco de dia nacional de paralisações. Poderá a burocracia sindical permanecer em seu imobilismo perante os imensos ataques anunciados por Temer e exigidos por seus parceiros e patrocinadores de golpe? É possível aceitar uma privatização da Petrobras ou da Caixa, ou dos Correios, maiores do que Dilma já vinha promovendo, sem promover lutas?

Provavelmente os sindicatos deverão mostrar “serviço” para conter as lutas. Funcionando como válvula de escape, diminuindo a pressão pela luta contra os ajustes e o governo golpista mas sem, com isto, deixar de frear a radicalização. Este tipo de tática, de desgaste, e não de efetivo combate, permite também ir recuperando dia-a-dia o PT agora opositor para novas eleições.

Mesmo com todos os limites, este tipo de “luta” capitaneada pelas burocracias sindicais impõe um risco a Temer, alguma luta pode fugir do controle destes conciliadores. Alguma luta exemplar, tal como os garis cariocas de 2014 poderia emergir. E mesmo que não ocorra tal possibilidade, o desgaste, na véspera do pleito eleitoral das prefeituras e na contagem regressiva para a votação do impedimento definitivo de Dilma coloca água no chope de qualquer ideia de Lua de Mel. Promete-se um aumento nos conflitos da luta de classes.

O desafio dos desafios, colocar amarras nos herdeiros de junho de 2013 e seu impacto nos trabalhadores

Junho de 2013 com sua espontaneidade, massividade colocou toda “classe política” brasileira com as barbas de molho. O PT mostrou sua incapacidade de seguir contendo as aspirações de setores de massa, sobretudo da juventude que nasceu para a consciência política já o vendo como situação. Sua utilidade para as elites começou a entrar em xeque. Abriu-se disputa pela esquerda e direita pelas ruas. Antes disso, junho contagiou setores da classe trabalhadora, uma onda de greves com centro em serviços urbanos como transporte e limpeza chacoalhou grandes centros do país. Os cantos da juventude de junho, sobretudo o “não tem arrego”, ganhavam vozes operárias.

A juventude que ocupa escolas no Ceará, no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, os universitários que entram em greve e ocupam a reitoria da Unicamp, faculdades da USP dão sinais de disposição de luta. Poderá esta juventude, tal como seus irmãos mais velhos de 2013 eletrizar setores de trabalhadores que já lutam contra as demissões, ajustes e tantos outros que discutem a vontade de lutar mas não o fazem pela capacidade de contenção da CUT, CTB, e sindicatos?

Duros ataques da direita podem, tal como no Chile, que viu o auge de sua juventude frente ao direitista Piñera, mudar definitivamente a situação política do país?

O governo golpista à imagem e semelhança da FIESP, Shell, Itaú e da elite herdeira da Casa Grande terá lua de mel? O que fazer para que não tenha?

A imagem que ilustra este artigo retrata parte da cara do governo golpista. Este governo tem numerosos desafios adiante. Na economia, em sua frente de apoio, perante o PT e seus músculos sindicais, e sobretudo perante a menos controlável juventude. Exibe como fortalezas a “sorte” que a recessão é tão forte que diminui a inflação e que o know-how detido pelo PMDB na da “democracia do suborno” conferiu a Temer uma base parlamentar que enquanto durar é muito ampla.

Com o fortalecimento da direita em todo continente cada golpista e cada ajustador conta com um “irmão” para se apoiar. Pelo avesso, os trabalhadores e a juventude do continente também. Os grandes atos de juventude e trabalhadores na Argentina e Chile inspiram caminhos para cá.

É preciso apoiar e coordenar cada setor em luta, às escolas e universidade ocupadas. Os metalúrgicos que lutam contra as demissões. Erguer um grande movimento contra o governo golpista de Temer e os ajustes de todos governos. Não dar sossego aos golpistas. Não com a impotência do PT e “combate” exclusivamente pela via de showmícios e não de greves, ocupações, grandes manifestações de rua convocadas não por whataspp somente mas com assembleias nos locais de trabalho e estudo. Com a força da juventude é possível exigir que as grandes centrais como a CUT e CTB rompam seu imobilismo e tenhamos uma luta para trazer abaixo o governo golpista de Temer e todos ajustes.

Como parte de um movimento como este os revolucionários do MRT e o Esquerda Diário propõem lutar por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, para não cairmos no jogo de trocar o golpista ajustador Temer por outro ajustador, golpista ou não, e avançar a questionar este podre regime de corrupção, reacionarismo parlamentar, inconstitucionalidade por parte do Supremo e todo “partido judiciário”. Uma Constituinte erguida pela força da mobilização operária e juvenil poderia oferecer resposta a cada problema profundo do pais e erguer um caminho que ajude a classe trabalhadora a avançar a uma verdadeira resposta ao capitalismo no Brasil e seus políticos corruptos e suas instituições, um governo dos trabalhadores.




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