Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.
Em meio ao mês em que se completam 132 anos da abolição da escravidão, tivemos o prazer de receber Flávio Gomes, professor da UFRJ, para uma entrevista sobre esse tema.
O tamanho da importância desse tema é incalculável. Apesar da libertação escrava, que certamente alterou relações de trabalho e sociais, é visível a manutenção do racismo como ferramenta de opressão e exploração em nossos tempos. Frente à pandemia, esse dado da realidade vem à superfície em números estarrecedores. Em todos os países onde há negros, somos a maioria dos mortos pelo vírus, enquanto nos países onde somos maioria da população, se prepara uma verdadeira devastação social, política e econômica, a la capitalismo em crise.
Para olhar para o presente e o futuro, é preciso quase sempre lançar perguntas ao passado. A luta operária necessária para enfrentar a pandemia e dar as saídas necessárias para preservar nossas vidas se constrói a partir de uma forte batalha de consciência, em primeiro lugar para que saibamos que somos capazes de enormes feitos. Foi assim, transformando sofrimento e ódio em luta e organização que em todos os séculos em que houve escravidão, negras e negros lutaram em todo o mundo, se comunicaram, fizeram diálogos “transatlânticos”. Ouviam alegres as vitórias negras na luta de independência dos EUA, acompanhavam pelas mensagens dos marinheiros a experiência revolucionária do Haiti.
Do outro lado, a elite morria de medo e, ainda que tardiamente, quando veio, a abolição não foi de graça. “É preciso incluir a dimensão da escravidão na luta de classes”, diz nosso convidado de hoje. Olhar o movimento operário no Brasil é entender que começa escravo, e que a fábrica, a cidade e o campo foram moldados pelas mãos calejadas de trabalhadores e operários negros, livres e escravos. A luta abolicionista, diferente do discurso historiográfico, foi uma luta com fortes alianças entre negros e brancos, livres e escravos, associações que dão origem aos primeiros sindicatos do país.
Esse vídeo é certamente um golpe de esperança em tempos sombrios. Tempos em que voam drones num mundo onde faltam pedaços de pano. Esse olhar ao passado inspira unificar a classe, colocar as necessidades dos mais oprimidos e sofredores adiante, construir um programa e tomar as resoluções nas nossas mãos. Que a crise seja paga pelos capitalistas.
Ficha técnica
Entrevista: Silva Shakur, Marcello Pablito, Letícia Parks
Vídeo: Letícia Parks
Desenhos Rostos Negros: Filipe da Souza’