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A nova geração de mulheres lutadoras neste Dia internacional de luta das mulheres está dando o que falar, enquanto desabam sob a população os efeitos da pandemia e da crise econômica e social aprofundada por ela, a força das mulheres trabalhadoras e jovens promete tirar o sono da burguesia.

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

terça-feira 9 de março de 2021 | Edição do dia

Louise Michel bem avisou na Comuna de Paris, “Cuidado com as mulheres quando se sentem enojadas de tudo o que as rodeia e se levantam contra o velho mundo. Nesse dia nascerá o novo mundo”. Na Revolução Russa, o começo da mesma se impôs quando as operárias da indústria têxtil decidiram paralisar tudo no Dia Internacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras, exigindo principalmente pão, mas também o fim da autocracia e da guerra, enviando delegadas armadas de pedaços de madeira e bolas de neve para exigirem o apoio dos metalúrgicos.

O peso das mulheres na produção se multiplicou e hoje somos mais de metade da classe trabalhadora a nível internacional. Ao passo que a necessidade de um novo mundo se manifesta em cada miséria naturalizada ou arrebatadora do capitalismo, hoje o que está colocado é um borbulho no subsolo deste sistema miserável que por vezes deixa escapar gritos, manifestações, atos de massas, revoltas, que mostram um pouco de para que precisamos nos preparar. Em 2020, o primeiro ano da pandemia do coronavírus foi marcado pelo movimento Vidas Negras Importam que eclodiu nos Estados Unidos, com milhões saindo às ruas contra o racismo e a violência estatal, estátuas de colonizadores rolaram na Europa

Me acompanhem para um giro rápido, mais breve do que seria nos meus desejos, mas do tamanho necessário para que (talvez) você, que assim como eu não foi trabalhar presencialmente hoje porque está perdendo dias de trabalho na conta da intermitência, ou você que pegou 1h30 de ônibus, metrô, trem, alternativo/van, ambas para seguir garantindo o lucro capitalista, sintamos um pouco do que também borbulha sob os nossos pés e no nosso sangue.

Perto de nós a depender de onde você está no Brasil, no Paraguai, as mulheres já compunham a linha de frente das manifestações contra o desemprego e o colapso do sistema sanitário, com a escassez de vacinas e insumos em geral, ameaçando presidente Mario Abdo Benítez, aliado de Bolsonaro, que já tentou trocar parte de seu gabinete para fazer refluir as manifestações. O 8 de Março marcou o quinto dia consecutivo de manifestações, adicionando à queda de Abdo Benítez com a luta contra a violência machista. Apesar da repressão, as manifestações não param e podem ser parte do que o FMI já vem anunciando: revoltas no pós pandemia, mas que o borbulhar, acelerado ainda mais pela própria pandemia, explode. Nas imagens vocês podem ver a foto de uma menina que deve ser 13 ou 14 anos. No fim de semana, na plenária do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, uma menina nesta idade mandou no chat: “Nossa geração vai destruir o capitalismo”. Um ar fresco de disposição de luta de jovens mulheres que sabem que não tem nada a perder.

Na Argentina, as mulheres tomaram as ruas massivamente em Buenos Aires e outras cidades importantes, menos de dois meses após terem arrancado, com contradições, o direito ao aborto. Uma luta de décadas que tomou uma força imparável a partir de 2015 com as manifestações do Ni una menos! contra os feminicídios e em 2018 conquistou a aprovação na Câmara dos Deputados, mas foi barrada no Senado.

As mulheres argentinas hoje estão em luta para que o direito conquistado se efetive de fato, e contra os feminicídios que escalaram absurdamente no último período, apesar de Alberto Fernández afirmar que supostamente acabou com o patriarcado, querendo se apropriar das conquistas do movimento de mulheres. Este movimento de mulheres se organiza contra os ataques que o próprio Alberto Fernández e o kirchnerismo são parte de implementar. Com as mulheres da Ocupação Guernica à frente, junto às jovens trabalhadoras da saúde, da educação e precarizadas, as mulheres argentinas exigiam justiça por Úrsula, que foi assassinada pelo ex-companheiro policial aos 18 anos, exigindo um plano de emergência contra o feminicídio. As mulheres argentinas também denunciam as condições terríveis das filas para vacinação e o próprio desvio de vacinas, onde senhoras e senhores são obrigados a esperarem por horas debaixo de sol. Na Argentina e nos outros 14 países que o Pão e Rosas está, defendemos que os capitalistas paguem pela crise e que para fazer com que caia o patriarcado, teremos que derrubá-lo.

No Chile, as adolescentes que estiveram à frente da Revolta de 2019 novamente saíram as ruas, junto às trabalhadoras da saúde como no Hospital Barros Luco, onde se organizam em frente única estas trabalhadoras, junto às trabalhadores em greve da AFP Cuprum e também de outras categorias, estudantes que derrubavam os portões das escolas, com um forte exemplo na manifestação de 500 mil mulheres, deixando evidente para Piñera: Ninguém as cala. Apesar da dura repressão em cidades como Valparaíso, as trabalhadoras e jovens não saíram das ruas contra os ataques, o feminicídio e a precarização da vida, demonstrando que esta geração não está disposta a seguir pagando as contas da crise. As mulheres do Pão e Rosas chileno estenderam um gigantesco lencinho verde, em defesa do aborto legal, seguro e gratuito. No México, apesar de um gigantesco operativo policial, as mulheres também tomaram as ruas em milhares, e realizaram manifestações também no Peru, Uruguai, Venezuela.

A incapacidade de conter as mulheres também se fez sentir no Estado Espanhol, onde há algumas semanas a juventude toma as ruas contra a repressão policial e a monarquia, processo que explodiu com a prisão do rapper Pablo Hásel e que o governo do PSOE Podemos tenta abafar a qualquer custo, chegando ao ponto de ter proibido as manifestações do 8 de Março. Ainda assim, manifestações de mulheres auto-organizadas ocorreram, dando continuidade à luta da juventude e à luta das trabalhadoras da saúde, que nos últimos meses tiveram como protagonistas as médicas residentes em luta por direitos. Ao final da manifestação em Madrid, a fundadora do Pão e Rosas lá, Josefina Martínez foi detida junto a outras companheiras e denunciou a que serve este governo que se diz progressista, mas defende a monarquia e persegue os que lutam. Na Alemanha e na França, as mulheres também expressaram sua força.

Em Myanmar, a opressão patriarcal secular é enfrentada pelas operárias têxteis e garotas da geração linha de frente, junto com a luta contra o Golpe Militar, encontrou o 8 de março com greve geral até que este caia. Empresas, bancos e fábricas foram fechados e a linha de frente se tornou talvez ainda mais feminina, com as operárias têxteis na vanguarda, que há anos lutam por sindicalização e contra a precarização. A decoração das barricadas no entanto estava diferente ontem, um toque ousado e combativo que colocou os longyi, uma espécie de pano ou saia com o qual as mulheres devem se cobrir, em evidência, debochando da crença de que homens perderiam sua virilidade se passassem debaixo deles. Apesar da brutal repressão existente, são estas as mulheres que seguem na linha de frente.

Na Índia, 60.000 operárias agrícolas se manifestaram no 8 de Março, com 20.000 destas em greve de fome contra as novas leis para trabalhadores agrícolas que atacam ainda mais as suas condições de vida. O primeiro ministro Narendra Modi é o principal alvo destes processos, que tiveram início em 2020.

Com este nossa breve volta ao mundo, espero que a tristeza e dor que sentimos no país que agora perde quase 2 mil pessoas para a COVID-19 tenha encontrado no borbulhar de sangue destas mulheres um caminho ou esboço de caminho para se transformar em luta e em ódio contra o capitalismo e o patriarcado. É da força das mulheres trabalhadora que pode vir, como já colocou Trotski para as revolucionárias russas “a força moral que arrasará este conservadorismo enraizado na nossa velha natureza asiática, na escravidão, nos preconceitos burgueses e nos da própria classe operária”. Em meio à barbárie, defendamos a insubordinação das operárias de Myanmar recuperando a estratégia do feminismo socialista, pelo Pão e pelas Rosas.




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