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Eleições Chile | A força que derrotou a extrema direita nas urnas deve retomar a luta nas ruas pelas demandas da Rebelião de 2019, diz Lara Zaramella

Reproduzimos a decração de Lara Zaramella, dirigente da Juventude Faísca sobre a recente vitória de Gabriel Boric nas eleições do Chile e as tarefas dos setores que se mobilizaram por suas demandas na Rebelião de 2019.

quarta-feira 22 de dezembro de 2021 | Edição do dia

A vitória de Kast no primeiro turno e o fortalecimento da direita no parlamento geraram uma forte resposta para freá-lo, conquistando mais de 55% dos votos. Nós da Faísca e do MRT nos solidarizamos com as lutadoras e os lutadores que votaram contra Kast e, agora, a força que derrotou a extrema direita nas urnas precisa retomar a luta nas ruas pelas demandas da Rebelião de 2019 que todos querem enterrar.

Kast é representante da herança da ditadura de Pinochet e dos 30 anos de neoliberalismo contra os quais jovens, mulheres, mapuches, trabalhadores e a população periférica lutaram durante meses nas ruas. O rechaço a ele nas urnas é expressão das demandas da Rebelião de 2019, mas também da lição que as massas tiram dos acontecimentos internacionais: não queriam deixar que o amigo de Bolsonaro chegasse ao poder no Chile.

Boric e sua plataforma Apruebo Dignidad (Aprovo a Dignidade), no início da campanha, se apresentavam como uma coalizão antiliberal com um programa para defender as demandas da Rebelião de 2019. Porém, no 2º turno, Boric moderou seu discurso e programa, se deslocando cada vez mais ao centro político. Fez isso em diálogo com os partidos que compunham a antiga Concertación, uma coalizão que fez parte do regime durante os 30 anos de neoliberalismo. Junto com esses partidos (Partido Socialista, Democracia Cristã e outros), Boric se comprometeu a respeitar o orçamento de Piñera e a responsabilidade fiscal em 2022. E mesmo antes da campanha eleitoral, já tinha negociado com esses partidos um “Acordo pela Paz” na “Nova Constituição” , o que permitiu salvar a pele de Piñera e lhe rendeu a impunidade.

No primeiro ato público, após eleito, Boric foi evasivo ao responder ao canto da multidão por ‘liberdade aos presos por lutar”, dizendo apenas que já vinha conversando com os familiares. Também relativizou a demanda sobre o fim do sistema de aposentadorias privadas, uma demanda que era inegociável na Rebelião de 2019.

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São muitos os sinais de que Boric se afasta das demandas da Rebelião de 2019 para tentar resolver a questão do fortalecimento da direita no parlamento e da fragmentação das forças políticas através dos métodos da traidora conciliação de classes, conformando uma nova maioria através da aliança entre a esquerda reformista e a antiga Concertación.

Aqui no Brasil, no 5º Congresso Nacional da Juventude do Partido dos Trabalhadores (ConJPT) que ocorreu em 17 de dezembro, Lula chamou a juventude chilena a votar em Gabriel Boric para recuperar a democracia no Chile e conformar um bloco de governos progressistas na América Latina. Depois de ter viajado à Argentina, poucos dias antes, para comemorar com o peronismo “progressista” de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner uma soberania de fachada - já que estavam no mesmo dia negociando um acordo onde o FMI dos EUA recomenda o fim dos subsídios à energia e aos transportes, novas reformas na previdência, cortes nos serviços públicos e reajustes salariais abaixo da inflação num cenário onde a pobreza atinge 43% da população argentina. Enquanto ocorria a contagem de votos no Chile, Lula jantava com Alckmin, avançando no acordo para sair numa chapa unificado com este legítimo representante do neoliberalismo brasileiro.

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Diante de um capitalismo em crise que cobrará mais ataques contra a juventude, as mulheres e os trabalhadores para salvar os lucros dos grandes empresários e do capital financeiro, será impossível aos reformistas latino-americanos conceder conquistas significativas às massas. Ao contrário disso, será obrigado a assumir a tarefa de atacar os trabalhadores.

Por isso, compartilhamos a posição de que é preciso seguir a luta pelas demandas da Rebelião de 2019, sem confiar em Boric e no caminho das instituições do regime, mas sim através da auto-organização dos trabalhadores, do povo mapuche e da juventude nos locais de trabalho e estudo, preparando um plano de luta que comece pela exigência da liberdade imediata de todos os presos políticos.




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