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BBB 2021 | Agora o Pau Vai Torá: o primeiro beijo entre homens na história do BBB

Lucas, após diversas humilhações e cerceamentos dentro da casa mais vigiada do Brasil, protagonizou o primeiro beijo entre homens da história do reality. Em seguida, teve sua sexualidade questionada e foi acusado de querer chamar atenção e usar do beijo para o jogo e decidiu que queria sair, obrigado a tentar contatar a produção pelas câmeras. Boninho anunciou que foi porque o participante tinha problemas com bebida.

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

segunda-feira 8 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

(Foto: Reprodução TV Globo)

O integrante do BBB 21, Lucas Penteado, decidiu pedir para sair do reality show nesta madrugada, quando após beijar Gilberto Nogueira na festa foi questionado e acusado de utilizar sua sexualidade para o jogo. Lucas já havia sido alvo de uma série de polêmicas e acusações dentro do programa, com elitismo, racismo e intolerância religiosa. Há alguns dias, a emissora havia cortado seu áudio quando estava falando da violência policial sofrida pelas negras e negros nas periferias do país, e hoje justificou a saída de Lucas, claramente incomodado por ter sua sexualidade invalidada e ser acusado de querer construir seu “jogo” em cima dela, pelo suposto impacto do uso do álcool, com o famoso e reacionário diretor Boninho afirmando que o participante virava um Gremlin quando consumia álcool.

As redes sociais passaram o dia pautando o BBB e milhares de jovens saíram em defesa da sexualidade de Lucas, que beijou um homem gay nordestino e foi obrigado a se justificar logo após dizendo que havia apenas respeitado suas vontades. O Brasil segue o país onde mais pessoas da comunidade LGBT são assassinadas todos os anos, uma realidade terrível que é legitimada pela LGBTfobia de Bolsonaro, cujo negacionismo foi parte essencial de fazer com que o Brasil já registre mais de 230 mil mortes pela COVID-19, sobre a qual afirmava até há pouco que “máscara é coisa de viado”. Na xenofobia nas telinhas da Rede Globo, a emissora golpista e Bolsonaro tem confluência, como ficou expresso quando no Maranhão, ao receber Guaraná Jesus, fez o seguinte comentário: “Agora eu virei boiola. Igual maranhense, é isso? Guaraná cor-de-rosa do Maranhão aí, quem toma esse guaraná aqui vira maranhense. Guaraná cor-de-rosa. Fod…, fod…” em outubro do ano passado (pra quem não lembra, esta é a edição do BBB onde o sotaque e a forma de falar de Juliette, paraibana, já foi alvo de muitas críticas e xenofobia, caricaturizando e atacando sua forma de se expressar destilando ódio aos nordestinos).

A invalidação da bissexualidade é recorrente e carregada de esteriótipos, diversas vezes acompanhada de um exigência de índice de incidência que produz uma série de memes, como a exigência de uma carteirinha fictícia para poder se declarar bissexual. A bissexualidade é negada enquanto sexualidade válida e existente recorrentemente. A ironia que é utilizada com carteirinhas para poder expressar o nível de absurdo também é feita por negras e negros para se defenderem do colorismo e seus tribunais de cor, lógicas que servem exclusivamente para retirar a agência de auto determinação e declaração das pessoas, provocando um aprisionamento da sexualidade e da auto declaração racial que produz a contracara da LGBTfobia grotesca de Bolsonaro, como twittou Letícia Parks:

É importante levar em consideração que quem vocaliza grande parte dessas agressões tem atrás de si multinacionais como a Avon, como Karol Conká tinha até poucos dias, uma empresa que lucra seus milhões em base ao trabalho ralado e sem direitos de trabalhadoras negras, mães, etc. Ainda que hoje a Avon tenha rompido contrato com a cantora e alegue não defender as mesmas ideias, lucra em base a elas. E para a Rede Globo ter estas ideias sendo jorradas 24 horas por dia é bastante benéfico, logo ela, a apoiadora máster do Golpe Institucional de 2016 e Militar de 1964, defensora da Reforma Trabalhista, da Reforma da Previdência e de cada um dos ataques que fazem com que nossa classe pague pela crise.

Para cada um que busca invalidar a sexualidade alheia, vale lembrar que vivemos no país da maior parada LGBT do mundo e que a linha de frente de todas as lutas dos últimos anos esteve aglomerada das LGBTs, inclusive durante a pandemia. Na linha de frente do HU da USP estavam trabalhadoras LGBT, entre as manas do telemarketing que aterrorizaram o dono da Atento no começo da pandemia eram majoritárias, inclusive na greve dos Correios, isso para não voltar tanto no tempo, em 2019 também éramos linha de frente entre os estudantes que fizeram Bolsonaro tremer. E internacionalmente o peso da questão LGBT nas manifestações do Black Lives Matter foi central, entre as mulheres que arrancaram o direito ao aborto na Argentina. Internacionalmente somos empurradas aos postos de trabalho mais precarizados, as trans são empurradas para a marginalização da prostituição e nossa sobrevivência é ameaçada dia após dia. Na pandemia, as mais jovens de nós foram impedidas de expressar sua sexualidade e gênero, muitas precisaram sair da escola e da universidade, como parte dos essenciais que nunca tiveram direito à quarentena. Essa presença marcante das LGBT em todos os espaços, inclusive no Big Brother Brasil, apesar de não aceitarem a bissexualidade do colega de programa, e é preciso pensar a potencialidade que a sexualidade e o gênero que ultrapassam a funcionalidade da reprodução em si carrega uma potente subversão, nunca esqueçam que o Exército Vermelho da Revolução Russa tinha dirigentes homens trans assumidos e quando a classe operária tomou o poder, foi o primeiro país a descriminalizar a homossexualidade e legalizar o aborto, e não digam que não avisamos quando esta subversão explodir na cara de vocês.




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