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Povos indígenas | Após morte repentina levantar suspeitas, liderança indígena Sarapó Ka’apor tem corpo exumado

Sarapó tinha somente 45 anos e era considerado um homem saudável pela tribo. A suspeita é a de que ele foi envenenado.

terça-feira 14 de junho de 2022 | Edição do dia

Imagem: Andrew Johnson

Foi exumado o corpo do líder indígena Sarapó Ka’apor, com sua morte sendo cercada de desconfiança pelos indígenas Ka’apor na região de Centro do Guilherme, a cerca de 289 km de São Luís. Sarapó, um homem saudável, teria passado mal e morrido repentinamente durante a madrugada, dentro de uma residência na aldeia indígena. Há suspeitas de que ele tenha sido envenenado. Em meio ao desaparecimento de Bruno e Dom, o governo Bolsonaro leva adiante o genocídio do povo indígena, uma verdadeira guerra declarada aos povos originários.

A morte foi atribuída a um ’AVC ou derrame’, mesmo sem a realização de um exame cadavérico. O corpo foi enterrado em um cemitério na comunidade.

Desde então, os indígenas Ka’apor começaram a cobrar explicações sobre essa morte, inclusive a exumação do corpo, já que Sarapó tinha somente 45 anos e era considerado um homem saudável pela tribo. A suspeita é a de que ele foi envenenado.

"Antes de morrer, Sarapó foi ameaçado e em um passado recente foi vítima de um ataque à bala. Por isso ele vivia se deslocando de aldeia em aldeia para não ser localizado. No dia da morte, os familiares relataram que recebeu um peixe de presente de um morador do povoado e depois começou a passar mal", relata Luis Antonio Pedrosa, advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.

Sarapó já era bastante conhecido na região pela luta contra a atuação do garimpo e de madeireiras que insistem em ameaçar ou desmatar a floresta amazônica que restou na região do Alto Turiaçu, onde se encontram quase meio milhão de hectares de terras indígenas, em especial dos Ka’apor.

"Ele [Sarapó] era uma das principais lideranças indígenas do Maranhão e há anos denunciava a invasão da terra indígena por madeireiros. Era chefe da Guarda de Autodefesa dos Ka’apor", afirma o advogado popular no Maranhão, Diogo Cabral.

Também há relatos de que o líder indígena era o homem que conduzia diretamente as fiscalizações que buscavam encontrar invasores e por isso era bastante odiado pelos inimigos.

"A situação lá sempre foi complicada. A terra indígena é a maior do estado, com uma comunidade indígena de baixa densidade populacional. Então, muitas pessoas vivem invadindo o território para retirar madeira, caçar, pescar, plantar maconha ...", explica Antonio Pedrosa.

Na mesma região, em 2020, Kwaxipuru Kaapor, de 32 anos, foi encontrado morto à beira de uma estrada perto do limite entre a Terra Indígena Alto Turiaçu e a cidade de Centro do Guilherme.

Em abril de 2015, o agente indígena de saneamento, Eusébio Ka’apor, da aldeia Xiborendá, também foi morto após dois homens encapuzados abordarem seu veículo e efetuarem um tiro nas costas. Já em 2016, foi a vez de Sairá Ka’apor ser assassinado em um bar durante um discussão envolvendo madeireiros e indígenas, segundo Diogo Cabral.

Em outros casos, o jovem Hubinet Ka’apor foi espancado com pauladas até a morte, em 2010, também em Centro do Guilherme e, um ano depois, Em 2011, Tazirã Ka’apor foi morto por um caminhão madeireiro.

No Boletim de Ocorrência registrado na Polícia Civil de Santa Luzia do Paruá, o delegado do caso, José Raimundo Batalha, diz que Sarapó teve uma ’crise de tremedeira’ pouco antes de morrer, mesmo que nunca tivesse sentido algo parecido antes.

Entidades de órgãos de defesa dos Direitos Humanos também cobraram providências por parte do delegado, que decidiu pedir a exumação do corpo. O procedimento foi realizado no último sábado (11) e o resultado ainda não saiu.

Os povos indígenas, historicamente, são um dos mais perseguidos e oprimidos na história brasileira, sofrendo desde a chegada dos colonizadores portugueses no Brasil o genocídio sistemático por parte dos governos burgueses e as elites escravocratas e latifundiárias, e isso vem se acentuando de forma repugnante no governo do reacionário Bolsonaro, em conluio com Mourão, militares, congresso, governadores e STF.

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista Dom Phillips seguem desaparecidos, com a hipótese de já estarem mortos, justamente por investigarem o garimpo ilegal na Amazônia, tão protegida por Bolsonaro.

Veja também: Val Muller: "É urgente se apoiar na mobilização indígena e impor uma investigação independente para arrancar justiça por Dom e Bruno”

No dia 25 de abril houve uma denúncia de que uma criança indígena Yanomami de 12 anos havia sido estuprada até a morte por garimpeiros, e outra criança de 3 anos havia sido jogada no rio e estaria desaparecida em Roraima, assim como o desaparecimento da comunidade Aracaçá, que teve que sumir de sua localidade na TI Yanomami após esses e outros casos de violência, assim como a alta contaminação por mercúrio na região. Mais uma face podre de como o capitalismo arranca o direito ao futuro das crianças e dos povos originários.

Nesta segunda (13), Indígenas da cidade de Atalaia do Norte (AM), município onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram, realizaram protesto em apoio a lideranças da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e contra o governo Bolsonaro e os ataques que vem tentando aplicar contra os direitos dos povos originários.

Além disso, hoje (terça, 14) servidores da Funai junto dos setores da Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef), a Indigenistas Associados (INA), Servidores Públicos Federais do Distrito Federal (Sindsep-DF) e a Confederação Nacional dos Servidores Públicos Federais (Condisef) decidiram entrar em greve em resposta direta aos comentários do presidente da Funai Marcelo Augusto Xavier da Silva, que fez alegações de que Bruno e Dom entraram em contato com indígenas do Vale do Javari sem permissão da Fundação.

Entre os ataques de Bolsonaro que os indígenas vem lutando contra, dando um grande exemplo de como se organizar para derrotar Bolsonaro e a extrema-direita, estão a PL 191, que autoriza a mineração e construção de hidrelétricas em terras indígenas, e a PL 490, que prevê alterações na demarcação de terras indígenas, o chamado Marco Temporal, no qual o próprio STF vem debatendo e querendo aplicar esse ataque que poderá acabar com a demarcação de uma vasta área de terras indígenas.

É completamente odiosa toda essa perseguição sanguinária e genocida levada adiante pelo governo e seu discurso reacionário, que alimenta de confiança garimpeiros, latifundiários e toda a elite escravocrata e reacionária brasileira para levar adiante essa guerra declarada contra os povos indígenas no Brasil. Bolsonaro é continuador direto da política de extermínio levada adiante pelas elites brasileiras em mais de 500 anos contra o povo indígena, o povo negro e demais setores oprimidos da sociedade brasileira.

A justiça pelos lutadores e povos indígenas perseguidos e assassinados não virá das mãos da justiça burguesa, que é a própria responsável por permitir que esses casos aconteçam, mas sim por meio de uma investigação independente dos povos indígenas, toda a classe trabalhadora, demais setores oprimidos e lutadores sociais contra essa verdadeira carnificina fustigada por Bolsonaro e Mourão. Façamos comos os próprios indígenas, que tomaram as ruas de Brasília contra o Marco Temporal e contra as PL’s que buscam acabar com as vidas indígenas.

É preciso desde já que as centrais sindicais, como a CUT e a CTB, saiam da paralisia eleitoreira em volta da chapa de conciliação de classes de Lula com Alckmin, ladrão de merenda e espancador de professor, bem como a UNE, dirigida pelas juventudes do PT e do PC do B, e construam mobilizações em todos os locais de estudo e de trabalho em todo Brasil, para que uma verdadeira maré de lutas tome as ruas do Brasil, cercando de total solidariedade os povos indígenas, dando um brutal exemplo de unidade entre todos os setores explorados e oprimidos do Brasil, como indígenas, negros, mulheres, LGBTQIA+, imigrantes e demais setores oprimidos. Essa força imparável e não há governo de extrema-direita que resista à força dessa unidade, que é quem pode colocar por terra Bolsonaro, Mourão e toda a corja reacionária, abrindo caminho para um governo dos trabalhadores, em ruptura com o capitalismo!

ED COMENTA DE HOJE (14/06):




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