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Greve da Carris | Carta de um professor do estado do RS aos colegas do magistério em apoio à greve da Carris

Fui rodoviário durante 10 anos antes de ser professor. Venho aqui prestar minha solidariedade à luta dos rodoviários de Porto Alegre na batalha contra a precarização, à extinção dos cobradores, às demissões e à privatização da Carris. Na última semana estive na porta da Carris junto dos trabalhadores e da juventude Faísca e do Esquerda Diário onde passamos acompanhando a luta e a angústia dos trabalhadores que não querem sofrer o que sofrem os rodoviários das privadas, com demissões arbitrárias, cortes de salário e constante ameaças da patronal.

sábado 4 de setembro de 2021 | Edição do dia

Na próxima segunda-feira (6) os trabalhadores da Carris farão um ato na Câmara de vereadores, irão se concentrar as 8h da manhã na Carris. Convido todos os colegas do magistério a apoiar essa luta, indo nos piquetes e atos se possível, mandando foto sua com cartaz escrito "Todo apoio à greve dos trabalhadores da Carris!", dizendo no cartaz seu nome, profissão/curso, cidade etc, e/ou, contribuindo com qualquer valor para o fundo de greve dos trabalhadores, que estão com o ponto cortado, no pix [email protected]. Escreva no pix "fundo de greve".

Os rodoviários, diferente de nós professores, são uma categoria que podem parar a cidade como fizeram em 2014. Meu apoio foi movido também por um sonho de ver meus colegas de trabalho conscientes paralisando a cidade quando eu trabalhava como cobrador e depois motorista de ônibus na VISATE em Caxias do Sul. Tive a oportunidade de estudar e fui nomeado professor no mesmo ano em que os rodoviários pararam Porto Alegre. Penso que nós professores que também sofremos com cortes de salário, atrasos e uma defasagem de 7 anos sem reposição deveríamos nos unir aos rodoviários em uma só luta. Unindo nossas forças seríamos mais fortes.

Todos sabemos que a privatização da Carris significa um retrocesso imenso para a capital gaúcha. A Carris foi a empresa que garantiu o transporte nas linhas que as privadas rejeitaram durante a pandemia. Melo (MDB) garantiu subsídios milionários para dar conta do lucro dos donos das privadas, ao mesmo tempo vem afirmando que a Carris dá prejuízo como se isso fosse culpa dos trabalhadores e não de CCs do próprio partido de Melo que roubaram dentro da Carris justamente para produzir as justificativas para privatizar.

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O que mais preocupa qualquer trabalhador ao aderir à movimentos de greve é o corte do ponto, por isso é preciso garantir outros meios para que os trabalhadores possam lutar sem medo de sofrer descontos. Esses, ou, um desses outros meios chama-se fundo de greve, uma medida elementar que era prática dos primeiros sindicatos da história para fortalecer e dar condições materiais para a luta durante as revoluções industriais. Porém, parece que os dirigentes sindicais de hoje em dia esqueceram desses meios para garantir a mobilização e a luta. Quanto o sindicato dos rodoviários arrecada por mês? Poderia conceder uma parte desse dinheiro para ser um fundo para sustentar os trabalhadores quando paralisam para não ficarem refém de decisões judiciais que cada vez mais desfavorecem os trabalhadores. Ademais, dada a importância dessa luta contra a privatização da Carris, que pode abrir um enorme precedente para ataques mais profundos por parte de Melo e seus comparças empresários, outros sindicatos, movimentos sociais e parlamentares de esquerda deveriam contribuir para esse fundo de greve, que garanta a luta desses trabalhadores tão dispostos como os trabalhadores da Carris. Nenhum trabalhador deveria assim se preocupar com perder dinheiro ao decidir lutar pelo emprego, pelos seus direitos e melhores condições de trabalho.

Mas para além do fundo de greve imaginem se outras categorias realizassem assembleia e mobilizassem suas bases para apoiar e unificar por exemplo a luta dos rodoviários com a luta dos professores do RS e municipários contra a reforma administrativa e contra as privatizações. O CPERS, a Atempa, o Simpa por exemplo, todos sindicatos dirigidos pelo PT e PCdoB, como poderiam contribuir para essa unidade? As grandes centrais sindicais como CUT-PT e CTB-PCdoB o quê poderiam estar fazendo para contribuir também para essa importante luta? É preciso exigir desses setores que saiam da paralisia, pois possuem todos os recursos nas mãos para colocar a classe trabalhadora em cena no país todo e assim derrubar Bolsonaro, Mourão, para colocar os rumos do país nas mãos do povo, e, impor a revogação dos ataques e das reformas por meio da luta.

Todos os vereadores que irão votar contra a privatização Carris bem como os parlamentares, como Melchionna, Robaina, Matheus Gomes, Karen Santos (esses do PSOL) poderiam contribuir materialmente também com parte dos seus altos salários bem como poderiam mobilizar todos os setores da juventude dos movimentos do PSOL para apostar na força dos trabalhadores.

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Nessa carta de solidariedade de um professor aos rodoviários quero provocar todos os trabalhadores da Carris e das privadas a se questionarem por quê isso não ocorre? E além de se questionar penso que é preciso exigir de todos esses partidos que dizem defender a Carris e os interesses dos trabalhadores que essa defesa não seja só nas tribunas com palavras, mas que seja para organizar e dar condições materiais para fortalecer a luta.

Sou parte de um movimento ainda pequeno no Brasil, o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) que dispõe do esquerdadiario.com.br, uma rede internacional de diários digitais que contribui para quebrar o cerco midiático dos ricos e levar a luta de classes à sua mão, colocamos o Esquerda Diário a total disposição dos trabalhadores da Carris e da categoria rodoviária. Naquela segunda-feira (23), em que a Carris parou, giramos todos os nossos esforços, com a juventude Faísca para estar junto dos trabalhadores desde cedo até o fim do dia, nessa última sexta-feira (3) passamos o dia mobilizados desde as 4h da manhã junto com os trabalhadores.

Alguém pode estar se perguntando, mas o que o magistério tem a ver com a greve da Carris? Quem transporta nossos alunos em meio à pandemia até as escolas? A educação e o transporte público tem tudo a ver, é preciso olhar para a luta dos trabalhadores da Carris como um grande exemplo de resistência contra Melo e todo esse regime que descarrega a crise nas nossas costas. Só a luta muda a vida! Todo o apoio aos trabalhadores da Carris! Por um transporte 100% Carris, público sob administração dos trabalhadores e controlado pelos usuários! Que os capitalistas paguem pela crise!

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