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COLUNA | “Clubes-Empresa”: a destruição do futebol por Bolsonaro, Centrão e Cia.

Em meio às 250 mil mortes no Brasil da pandemia, entram em cena os agentes políticos do regime golpista para usurpar a paixão dos enlutados e lutadores. Não é de hoje que se discute a crise do esporte no “país do futebol” e para os capitalistas é a oportunidade de ouro para encher os bolsos e, mais uma vez, nos deixar sem nada.

João SallesEstudante de História da Universidade de São Paulo - USP

sexta-feira 26 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Um título ácido para um tema indigesto. É comum escutarmos por aí que “futebol e política não se discute” e para o terror de muitos esse texto busca não só discutir as duas coisas, mas tentar mostrar como estão imbricadas até o âmago. Seja para nossa felicidade, da história de nossos clubes fundados por trabalhadores agremiados pelo lazer, das alegrias, tristezas, vitórias e derrotas que pulsam o coração de milhões. Seja também pela tristeza de ver a ruína dessa história pela mão de cartolas e dirigentes mafiosos, dos políticos oportunistas e capitalistas sanguessugas de todos os tipos.

Tratemos aqui do seguinte fato: O futebol brasileiro está em crise, e para onde caminha? Será que vislumbramos um desfecho para um cenário tão duro?

A saída “mágica” passa pela demagogia neoliberal que sustentou o discurso pró reforma trabalhista, da previdência, a crise da Petrobrás e tantos outros ataques sanguinários aos trabalhadores: Privatizar o futebol

É preciso ser justo e dizer com todas as letras que não é de repente que acontece um ataque deste nível. Já de muito tempo o futebol brasileiro se tornou uma máquina de fazer dinheiro e que não se reverte em melhorias aos clubes – salvo raras exceções – mas enriquece cartolas, dirigentes, empresários e especialmente clubes europeus, mas esse último vale debatermos à parte.

A Lei Zico (1993) já autorizava a existência de clubes-empresa como algo facultativo, superada posteriormente pela Lei Pelé (1998) que trazia como obrigatória a conversão de todos os clubes registrados na CBF para esse modelo no período de dois anos. A lei trouxe uma insatisfação generalizada, uma medida arbitrária de cima para baixo que sofreu alteração em 2000 com a aprovação da Lei n°9.981 que voltava a tornar facultativa a transição, mas ainda sim abrindo a possibilidade de clubes adotarem esse modelo societário privatista.

Durante os próprios governos do PT se deu um aumento no número de clubes-empresas no país, e na gestão Dilma foi sancionado o PROFUT, que junto a outras alas golpistas como MDB e PSDB buscava avançar nesse sentido de maneira generalizada.

Dilma e Temer na divulgação do Profut

E agora, o que muda então? E a resposta é: Tudo!

Justamente por conta do avanço do autoritarismo que degrada o regime político iniciado no golpe institucional de 2016, aprofundado na eleição manipulada de Bolsonaro em 2018 e que se agrava terrivelmente na pandemia dando as bases para a implementação desses ataques. Não à toa os dois principais projetos de avanço dos clubes-empresa tramitando no Congresso são de autoria do DEM (Rodrigo Pacheco apoiado por Bolsonaro e Pedro Paulo), partido do Centrão que saiu como ala golpista mais fortalecida das últimas eleições municipais e vem imprimindo sua marca na política nacional.

Com certeza nos deparamos com aqueles que tecem argumentos de que esse modelo tem “funcionado” em outros países, principalmente na Europa com clubes hegemonizando o cenário mundial do futebol. Mas pra isso o marxismo também nos oferece respostas esclarecedoras.

Ora, poderíamos pensar que existem também empresas mais “tradicionais” que também tem “dado certo”, isso é, gerado lucro e crescimento mesmo nesse cenário de crise. A questão é que ao analisarmos de perto o quadro geral veremos que a chave da questão é de que dentro dessa fase monopolista do capitalismo e da selvageria do mercado a tendência é a acumulação e concentração de capitais em detrimento das pequenas e médias empresas, engolidas pelos conglomerados, trustes e cartéis que ditam os rumos do sistema.

Mesmo nos países como Alemanha (um verdadeiro celeiro de clubes-empresa), ou na Inglaterra, os pequenos clubes como o tradicional Sunderland amargam a permanência nas baixas divisões nacionais enquanto poucos ou até mesmo um único clube monopolizam as taças. Acrescentemos nessa conta a dinâmica do imperialismo e do parasitismo dessas empresas no nosso futebol e o resultado é nítido e preocupante: Clubes que funcionam como trampolins de promessas do esporte para exportação enquanto os lucros são revertidos em investimento para as “jóias da coroa” desses países imperialistas, enquanto nossos amados clubes se tornam alvos de predação e roubalheira para enriquecer os capitalistas enquanto servem, depois jogados fora como nada!

E o que fazer? Pergunta complexa essa para ter uma simples resposta.

Mas arriscaria dizer que mais do que nunca futebol e política andam juntos e a defesa dos clubes e da maior paixão operária e popular do país passa pelo rechaço completo à tentativa de privatização e suas armadilhas. Uma luta que deve ser tomada na mão pelos próprios trabalhadores e que, por consequência encarada como uma luta de conjunto contra os ataques em geral, contra os atores golpistas desse regime político podre e uma saída das crises – de todas elas, sanitária, econômica, política e social (onde aqui se engloba a crise aguda do nosso futebol) – que defenda a vida dos trabalhadores em detrimento dos lucros capitalistas: Do trabalho ao lazer!




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