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Contra a terceirização, Ken Loach recusa prêmio em Festival de Cinema em Turim

Luno P.

Photo by LOIC VENANCE / AFP

Contra a terceirização, Ken Loach recusa prêmio em Festival de Cinema em Turim

Luno P.

“Um corte salarial foi seguido por alegações de intimidação e assédio. Várias pessoas foram demitidas. Assim, os trabalhadores mais mal pagos, os mais vulneráveis, perderam seus empregos porque se opuseram ao corte salarial. É claro que é difícil para nós desembaraçarmos os detalhes de um conflito em outro país com diferentes práticas trabalhistas. Mas isso não significa que os princípios não sejam claros”,

No dia 26 do mês de novembro, se iniciou o Festival de Cinema de Turim, na Itália, sem uma das presenças mais importantes programadas no evento. O diretor britânico Ken Loach, de 76 anos, estava listado para receber um prêmio pelo conjunto de sua obra, que sempre retratou a realidade da precarização da classe trabalhadora (como em I, Daniel Blake), junto com a exibição do filme The Angels’Share(2012), mas cancelou sua participação quando soube que os servidores de limpeza e segurança do Museu Nacional de Cinema de Turim, organização responsável pela mostra, haviam sido terceirizados, o que resultou em cortes salariais e demissões.

Loach, em declaração, explicou os motivos de ter recusado a premiação.

“Os festivais têm a importante função de promover a cinematografia europeia e mundial e Turim tem uma excelente reputação, tendo contribuído de forma evidente para estimular o amor e a paixão pelo cinema”, pontuou.

O cineasta afirma que a terceirização é “um problema sério”. “A razão pela qual isso acontece é invariavelmente para economizar dinheiro. O contratante que vencer a licitação reduzirá os salários e cortará os funcionários. É uma receita para o conflito. O fato de que está acontecendo em toda a Europa não o torna aceitável”, disse ainda o cineasta.

Loach detalhou o que foi denunciado pelos trabalhadores do festival. “Um corte salarial foi seguido por alegações de intimidação e assédio. Várias pessoas foram demitidas. Assim, os trabalhadores mais mal pagos, os mais vulneráveis, perderam seus empregos porque se opuseram ao corte salarial. É claro que é difícil para nós desembaraçarmos os detalhes de um conflito em outro país com diferentes práticas trabalhistas. Mas isso não significa que os princípios não sejam claros”, afirmou.

“Como poderia eu não responder a um pedido de solidariedade dos trabalhadores que foram demitidos por lutarem pelos seus direitos? Aceitar o prémio e limitar-me a alguns comentários críticos seria um comportamento fraco e hipócrita. Não podemos dizer uma coisa na tela e depois traí-la com nossas ações. Por isso, embora com muita tristeza, me encontre obrigado a recusar o prémio.

Embora o Museu Nacional de Turim tenha tentado ao máximo diminuir a posição política de Loach, dizendo que havia sido "mal informado", o que é fato é que cenários de precarização como esse vem sendo cada vez mais comuns no mundo da arte, e que desde o começo de sua carreira, inclusive como narrativa em seus filmes, Loach sempre se colocou como um ferrenho defensor dos direitos da classe trabalhadora.


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Luno P.

Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS
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