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Cancelamento de voos | Longas jornadas sem refeição: trabalhadores dos aeroportos com COVID pelo descaso das empresas

segunda-feira 10 de janeiro de 2022 | Edição do dia

Nos últimos dias foram noticiados na grande imprensa uma série de cancelamentos de voos nos aeroportos de diversas cidades do país por conta do aumento dos casos de COVID e influenza entre os funcionários de solo e tripulantes (aqueles que trabalham na aeronave durante o voo). Chamou atenção o caso de um voo da companhia Latam saindo de Barcelona até São Paulo, que teve que pousar em Fortaleza por conta de um dos comandantes que teve que ficar na Espanha diagnosticado com Covid.

A Gol anunciou o cancelamento de 34 voos, a Latam 52 apenas nesta segunda-feira (10), com 100 voos cancelados até dia 16 de janeiro, entre nacionais e internacionais. Com isso, o número de voos cancelados de companhias aéreas nas últimas semanas já chegam a mais de 200. Na última semana, mais de 100 voos da Azul também foram cancelados. Estima-se que 1% de toda malha viária foi paralisada.

Apesar das empresas emitirem comunicados informando que os funcionários com teste positivo para COVID-19 estarem sendo afastados, a situação fugiu do controle por conta da sobrecarga de trabalho imposta pelas empresas.

Os funcionários relatam que a contaminação entre os trabalhadores se agrava principalmente por conta da exposição gerada nas jornadas estendidas neste fim de ano, sem que a empresa oferecesse testagem ou qualquer estrutura racional de controle sanitário entre os funcionários. Quando liberam os trabalhadores que testaram positivo, aumentam a pressão e a sobrecarga aos demais funcionários, que também adoecem e, ao testarem negativos, são assediados a seguirem trabalhando e cumprindo horas extras praticamente todos os dias.

Segundo relatos dos trabalhadores ao Esquerda Diário, as jornadas chegaram a 12-13 horas constantes, sobretudo durante as festas de fim de ano, muitas vezes sem pausa para fazerem refeição. Bolachas foram entregues durante o expediente neste fim de ano para que não parassem de trabalhar por cerca de 13-14h e pudessem dar conta da quantidade de passageiros.

Essa situação vem sendo gestada pelas próprias empresas. Com a pandemia, as companhias começaram a demitir e aumentar a terceirização do trabalho nos aeroportos, diminuindo e precarizando o quadro de efetivos que são parte da linha de frente da pandemia. Não foi um processo pacífico, pois os funcionários realizaram paralisações e greves no Brasil e em outros países para tentar impedir a situação e exigir medidas de contingência sanitária, nunca garantidos pelas companhias.

O resultado é uma cadeia de contaminação entre os funcionários: uma pequena parcela é liberada enquanto os demais são obrigados a jornadas extenuantes, inclusive sem se alimentarem, que baixam a imunidade e os expõem ainda mais, e são forçados a trabalhar doentes sob constante assédio das chefias das empresas. Uma situação que inclusive acaba expondo os passageiros dessas companhias sanguessugas, que só pensam em garantir seus lucros na pandemia, às custas do emprego e da saúde dos trabalhadores.

Essa realidade é garantida pelos governos, sobretudo de Jair Bolsonaro, cujo negacionismo foi bastante benéfico para as companhias seguirem explorando sem um mínimo de política racional de controle ao vírus, pelo contrário, demitindo livremente ou suspendendo o contrato com o governo bancando parcialmente o salário dos trabalhadores. Mas também os governos estaduais, tanto os direitistas como de Dória, Leite e Zema, como também os do PT no Nordeste, que diziam se opor a esse negacionismo, estiveram também ao lado dessa política das empresas, que não garantiram sequer a testagem e o isolamento dos doentes com garantia de renda, permitindo as demissões ao invés da necessidade de ampliar a contratação para dar repor o trabalho dos doentes.

Por tanto, a situação de cancelamento dos voos é culpa dessa política que explora funcionários doentes garantida por Bolsonaro, os governos, junto aos militares e o poder judiciário, que querem proteger o lucro do patrão acima da vida dos trabalhadores e da população, como vemos nos aeroportos. Essa política de super-exploração, por trás da recuperação dos lucros milionários das companhias aéreas, precisa ser respondida com a exigência de contratação com plenos direitos na categoria, assim como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário. Dessa forma, garantir a liberação remunerada de cada trabalhador doente e abolir as horas extras compulsórias. Assim como a garantia de testagem por parte das empresas e todas as medidas de segurança sanitárias necessária. Mas sabemos que nada disso será garantido sem a auto-organização da categoria de aeroviários, que frente a crise sanitária nos aeroportos, tem como arma o exemplo das categorias que durante a pandemia formaram comissões de higiene e saúde que determinava as condições sanitárias de trabalho e a liberação dos doentes em enfrentamento à patronal.




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