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OPINIÃO | Lula, o conciliador, está de volta

Depois de três anos de proscrição – na verdade cinco se contarmos desde que foi impedido de assumir como ministro de Dilma, Lula está de volta. Seu discurso dessa quarta-feira no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo marca uma nova fase da vida política nacional.

Thiago FlaméSão Paulo

quarta-feira 10 de março de 2021 | Edição do dia

Nos últimos cinco anos a frágil democracia brasileira foi pisoteada pelos agentes togados do capital financeiro, por generais carreiristas, pelos políticos do centrão que se converteram de lulistas em golpistas para garantir o fluxo das malas de dinheiro em tempos de lavajatismo. Aplicaram o teto de gastos, a reforma trabalhista, a reforma da previdência e seguem agora ainda com a PEC emergencial. O clã Bolsonaro, das rachadinhas às mansões de 6 milhões, dá risada na cara do povo, que vê a pandemia, o desemprego, a fome batendo à porta. De lombo de bacalhau e whisky aos contratos de obras e de produção de cloroquina, a verba estatal irriga a adesão ideológica dos quartéis-generais ao governo. Enquanto generais e políticos da direita lambem os beiços e mascam chiclete, a carne já sumiu da mesa do povo.

Esse éden dos especuladores, ruralistas e milicianos, porém, se equilibra sobre uma panela de pressão que ainda não apitou, mas que vai acumulando energia e calor. O levante popular no Paraguai mostra inclusive que a panela pode explodir antes mesmo de apitar. Os golpistas mais lúcidos, que não se deixaram cegar completamente pelo seu próprio discurso triunfalista, começam a temer as consequências do cinismo e da arrogância bolsonaristas. Temem que quando a corda arrebentar, não arrebente somente para o lado de Bolsonaro, mas que leve junto todos os seus cúmplices diretos e indiretos nos últimos cinco anos. Campeã em se antecipar aos processos de explosão social, setores da classe dominante brasileira começam a levantar seu dique de contenção: Lula.

Pois Lula nunca foi nem radical, nem socialista. Em cada momento decisivo cumpriu um papel crucial em nome da paz social e em defesa da ordem. Durante as greves do ABC onde se projetou como liderança nacional, Lula foi importante para evitar que as greves econômicas se transformassem numa luta aberta pela derrubada da ditadura, evitando que o ABC fosse o polo aglutinador para uma greve geral que derrubasse a ditadura. Na década de noventa, mesmo na oposição ao governo FHC, Lula foi fundamental para acabar com a greve dos petroleiros. Quando nem os tanques do exército que o governo enviou para a porta das refinarias dobravam os petroleiros, Lula o conciliador entrou em cena para acalmar os ânimos.

O maior serviço de Lula, no entanto, foi a própria eleição de 2002, quando foi fundamental para uma saída pacifica da crise do neoliberalismo dos anos noventa, sem grandes explosões da luta de classes como aconteceu na Argentina, Bolívia e outros países da região. A crise econômica golpeava fortemente o Brasil desde 1999, o governo FHC se tornava cada vez mais impopular e estava atravessado por diversos escândalos de corrupção. Lula garantiu a confiança dos empresários colocando o industrial José Alencar como vice e selou um compromisso com o mercado financeiro de que respeitaria os aspectos fundamentais do plano real e afastou o temor de uma rebelião de massas contra o neoliberalismo.

Se apoiando no boom das commodities pode fazer um governo de conciliação, do qual ele se gaba de que os bancos nunca lucraram tanto. Sob a condução do PT as socialites se reuniam na Vila Daslu com lideranças populares para trocar experiências. Collor, Sarney e Paulo Maluf, viraram sustentáculos da governabilidade. Os militares tiveram sua boquinha garantida com a ocupação do Haiti e os cargos da organização da Copa e das Olimpíadas. Mas não faltou repressão para o movimento operário que ousou sair dos limites traçados e se rebelar. Assim foi com os operários das obras de PAC, que tiveram que se enfrentar com a repressão da Força Nacional criada por Lula.

Agora Lula está volta e acena mais uma vez com um caminho de conciliação. Estende a mão aos políticos do centrão e abre um caminho de retirada para os generais. Assegura por diferentes vias ao mercado financeiro que não vai desfazer a obra econômica do golpe, as reformas e as privatizações – como aliás não desfez as privatizações de FHC. Os articulistas dos grandes jornais redescobrem que Lula pode ser a melhor alternativa para a recomposição do centro sob as suas asas. Recebe apoios, ao mesmo tempo, de Arthur Lira e de Guilherme Boulos.

Lutamos a cada momento contra o golpe que levou Lula a perder os direitos políticos, por esse golpe apontava contra a classe trabalhadora. Agora, apontamos que reabilitação de Lula é a melhor aposta para a classe dominante para uma retirada organizada, que mantenha os ataques dos últimos anos sem provocar uma grande revolta de massas. Mas o discurso conciliador de Lula não vai resolver nenhum dos problemas que afetam a classe trabalhadora o povo brasileiros, não vai anular as reformas e as privatizações. Somente a luta classe trabalhadora e do povo pode reverter os enormes ataques dos últimos anos. Lula perdoou os golpistas, o povo não perdoará.




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