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"Mesmo num governo de esquerda a Petrobras será menor", diz Gabrielli presidente da Petrobrás de Lula

A decisão do ministro do STF, Edson Fachin, revogando as sentenças da Lava Jato em relação aos julgamentos de Lula, despertou a força do ufanismo lulista que já sonha com a eleição do ex-presidente e o retorno dos “anos dourados” petistas. O próprio Lula em sua primeira coletiva fez questão de propagandear muitos dos pilares da era lulista, como o protagonismo da Petrobras. Entretanto, ao mesmo tempo, Lula e o PT dão dóceis acenos de que não irão combater os catastróficos legados econômicos e sociais do regime pós-golpe. A entrevista de José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras durante as gestões petistas, escancara essa conformidade petista num dos principais alvos do golpismo a Petrobras: “não será possível reverter as privatizações”.

quarta-feira 10 de março de 2021 | Edição do dia

Foto: Ricardo Stuckert

Ao decidir anular as decisões da Lava Jato, ainda não de forma definitiva, o regime golpista mostra que está disposto a reabilitar os direitos políticos de Lula. Até mesmo Arthur Lira, presidente da Câmara eleito com o apoio de Bolsonaro, afirmou que "Lula pode até merecer absolvição Moro, jamais". É preciso batalhar ainda pela anulação definitiva das condenações de Lula tendo seus direitos políticos plenamente reabilitados, como parte do combate à degradação da democracia brasileira.

Da sua parte, o PT trabalha para mostrar que a reabilitação de Lula pelo regime não implicará na emergência de uma resposta combativa do partido, que foi vítima do golpe institucional, muito pelo contrário, Lula e o PT dão vários acenos de que reabilitados para a disputa do poder respeitarão o legado do golpe no país. A fala de Lula hoje (10/03), em sua primeira coletiva após a decisão, foi exemplar nesse sentido, com ele dizendo que não guarda mágoas e afagando cada um dos setores do regime, mídia, STF, governadores e congresso. Ao mesmo tempo que Lula propõe esse grande pacto nacional com vários dos atores golpistas, o ex-presidente retoma a propaganda dos “anos dourados” das gestões petistas, como se não fosse um legado do golpe e desses atores esmagar cada uma das pequenas concessões alcançadas nesses anos, através de ataques, reformas e privatizações.

Isto também se evidencia, por exemplo, nas declarações de José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras durante as gestões petistas. Em entrevista a Breno Altman, as declarações de Gabrielli desmentem as afirmações de Lula sobre a Petrobras, e o retorno do protagonismo da empresa nos marcos do antigo projeto petista.

É preciso lembrar que a Petrobras esteve no centro das articulações do golpe, tendo sido alvo principal dos esforços da Lava Jato para subordinar e minar as pequenas margens de manobras angariadas durante o ciclo de crescimento do país. Sergio Moro e Deltan Dallagnol concentraram esforços para desmoralizar e transformar a gigante estatal em terra arrasada, abrindo espaço para os ataques que temos vistos com a entrega generalizada de recursos imensos da empresa, como as privatizações da BR Distribuidora, da Liquigás, o megaleilão do pré-sal, e a venda de oleodutos, plataformas e refinarias.

1)“Me perdoem a classe média, os donos de veículos, pois o preço do combustível não deverá cair muito”

Lula criticou a atual política de preços da estatal, que é continuidade do governo Temer, e coloca os preços dos combustíveis atrelados ao mercado internacional e a sede de lucro de acionistas. É preciso lembrar que foi durante o governo Dilma que se fez a primeira alteração da política de preços, atrelando ao mercado mundial, ainda que num ritmo mais lento. Mas o gestor dos anos Lula admite que, mesmo num governo de esquerda, não será possível reduzir muito o preço da gasolina. Ou seja, admite que será mantida a política de submissão ao mercado internacional e proteção dos lucros dos acionistas também do mundo afora em detrimento do usufruto dos trabalhadores brasileiros.

2) Não será possível reverter as privatizações

Quando perguntado diretamente sobre a reversão das privatizações, o especialista do petróleo petista afirma categoricamente que não será possível reverter as privatizações feitas por Temer e Bolsonaro, que envolvem empresas como a Liquigás, antiga estatal líder do mercado de gás de cozinha. Ou seja, ainda que Lula em seu discurso fale contra as privatizações e se indigne contra o absurdo preço do botijão que impõe imensas dificuldades ao acesso das famílias mais pobres, a reversão das privatizações, como a da Liquigas que produziu um disparo do preço do gás de cozinha não é parte da estratégia petista. Pelo contrário, Gabrielli sustenta que a Petrobras deve seguir buscando recursos no mercado financeiro.

3) ”A Petrobras não será mais uma âncora do desenvolvimento brasileiro.”

Toda essa riqueza entregue mostra o tamanho que já teve a Petrobras e a diversidade de sua estrutura produtiva que se espalhava por distintas áreas da economia brasileira. Esse espraiamento da Petrobras era parte do projeto petista de torná-la âncora do desenvolvimento brasileiro. Entretanto, Gabrielli rechaça com todas as letras o retorno desse paradigma, dizendo que a Petrobras terá um papel muito menor. Um exemplo disso é a indústria naval, setor em que o Brasil começava a se colocar no mercado global com a tecnologia dos navios sonda, mas que a devassa da Lava Jato abortou qualquer avanço, limpando o terreno para gigantes imperialistas manterem seus monopólios.

Lula discursa para os golpistas como se o golpe fosse águas passadas, ressaltando a sua disposição e do PT de costurar um grande pacto nacional, com o objetivo imediato de uma frente ampla eleitoral para derrotar Bolsonaro, ao mesmo tempo, que se apoia na propaganda dos “anos dourados” de sua administração para fazer crer que esse pacto também viabilizaria o retorno do crescimento daqueles anos. Em contrapartida, a fala de Gabrielli escancara como os golpistas não estarão dispostos a retroceder com seu legado de reformas, privatizações e submissão do Brasil, e o que resta na perspectiva petista é administrar esse novo regime degradado acatando essas novas condições.

Porém, contra a miséria da repetição da estratégia de conciliação petista, a alternativa que nem Lula nem Gabrielli mencionam é a luta de classes, a mobilização independente dos trabalhadores. A começar da própria Petrobrás, cuja greve dos petroleiros que lutam contra o desmonte e entrega da empresa não recebeu uma palavra sequer de Lula, mas que se não fosse a atuação da CUT para conter e isolar a greve poderia se configurar num ponto de apoio para reverter a submissão da empresa.

A luta de classes e a mobilização independente dos trabalhadores é o caminho para reverter aqui e agora o legado do golpe, anulando todas as reformas, ao invés de esperar até 2022 para administrar esse regime do golpe. É urgente que a CUT organize um plano nacional de lutas, fortificando e massificando greves contra as demissões da Ford, estabelecendo controle operário das fábricas para a produção de equipamentos hospitalares, como máscaras e gás oxigênio para abastecer os hospitais, estabelecendo uma lei nacional que proíba demissões, exigindo um auxílio emergencial de no mínimo um salário para os desempregados, sem qualquer contrapartida de ajustes fiscais e cortes na saúde e educação.




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