Reproduzimos aqui uma denúncia enviada ao Esquerda Diário de um recenseador de Recife que prefere manter o nome em anonimato. Os recenseadores entram em greve na próxima quinta (1) pelo pagamento de salários atrasados e outras demandas. Em Recife o ato está marcado para às 9h na sede estadual do IBGE em Boa Viagem.
terça-feira 30 de agosto de 2022 | 00:11
Foto: Agência Brasil/Arquivo
“Na questão de assédio pelo menos pra mim não tá rolando (ainda), pois meu supervisor é de boas. Mas várias pessoas estão desistindo por causa disso. Creio que seja mais pelo fato de não sermos valorizados. Trabalhamos em campo o dia todo, alguns até no final de semana. Passamos por todo tipo de situação (moradores mal educados que nos tratam mal, cachorro correndo atrás da gente, algumas áreas como a minha tem atuação de tráfico de drogas, facções e etc).
Até aí o IBGE fala que isso é normal, pois é coisa da função. O problema é que isso é contra a dignidade humana, todos os trabalhadores que passam por isso recebem ou adicional de periculosidade, insalubridade, seguro de vida e etc. E nós não ganhamos nem passagem e nem alimentação.
É um total desrespeito com nós trabalhadores, pois depois que entregamos um setor só recebemos depois de 15 dias. Muitos recenseadores estão desistindo por causa disso, quando estávamos no treinamento, disseram que nós ficaríamos próximos a nossa casa. Mas não é o que acontece na realidade, estamos em setores longe da nossa casa e sem condições de pagar ônibus, pois o auxílio de deslocamento é de míseros 75 reais… fora que nem foi passado para nós o valor que iremos receber pelo setor que estamos trabalhando.
Sobre assédio, pelo que ouço no grupo, é pela pressão que os superiores estão aplicando nos ACS’s (agentes censitários supervisores), muitos deles também desistiram pois estavam trabalhando sob muita pressão, e agora estão "repassando" essa pressão para nós recenseadores que estamos na ponta, como se estivessem descontando…
O coordenador censitário subárea, que é responsável pelo Recife, creio que também está trabalhando sob muita pressão, e para ele, vai tentar fazer de tudo para conseguir entregar o censo aqui em 3 meses. Mesmo com o orçamento cortado. E quem se ferra somos nós, que somos vistos como "facilmente substituíveis" e "descartáveis". Pois segundo ele, o Censo vai ser feito com ou sem a gente. Simplesmente eles nos contratam pra trabalhar em condições sub humanas e quem desistir já colocam outro no lugar.”
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