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DOSSIÊ ACIDENTE DE TRABALHO | O desmonte do Hospital da USP e o aumento de riscos aos pacientes e acidentes de trabalho

Marília LacerdaDiretora de Base do Sindicato dos Trabalhadores da USP-HU

quinta-feira 28 de abril de 2016 | Edição do dia

Hoje é um dia de luta contra os acidentes de trabalho, nós como membros da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) no Hospital Universitário viemos fazendo denúncias sobre as atuais condições que se encontram os funcionários desta instituição. Lembrando que nesta semana publicamos um artigo mais geral sobre as condições de trabalho, hoje queremos colocar de forma mais centralizada os acidentes que tem ocorrido durante os turnos de trabalho e que tem aumentado em decorrência da política de desmonte levada pela Reitoria da Universidade. Tal política impõe sobre os trabalhadores uma sobrecarga de trabalho tão intensa que eles acabam sendo submetidos ao esgotamento físico, mental e psíquico, trabalham muitas vezes com déficit de atenção devido ao esgotamento e excesso de tarefas e pacientes por funcionário, cansaço, stress, entre outros efeitos que causam os mais diversos tipos de acidentes de trabalho.

Na última greve da USP, em 2014, o Hospital se incorporou na luta em defesa da Universidade, do HU e pela manutenção dos empregos e salários. Desde antes dessa greve já se desenhava um plano de desmonte e desvinculação do Hospital da universidade. Com muita luta conseguimos barrar a desvinculação, que não passou pelo Conselho Universitário. No entanto, após o término da greve veio um Plano de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV) onde saíram centenas de funcionários somente do Hospital, sem reposição, sobrecarregando os que ficaram.

Mas a situação não para por aí, a intenção é degradar o Hospital até que seu plano esteja completo! Enquanto isso os trabalhadores perecem, pagam o preço por algo que não compraram! Após o término da greve houve uma massiva represália aos trabalhadores, o assédio moral que já era algo muito comum dentro do HU se intensificou a um nível insuportável. A sobrecarga de trabalho adoeceu muitos trabalhadores que já trabalhavam com suas saúdes precárias ocasionando um agravamento em suas patologias. Afastamentos por LER, DORT, tendinites, bursites, transtornos psquiátricos, hérnia de disc e, absenteísmo foram as consequências dessa sobrecarga de trabalho. Muitos trabalhadores possuem restrição, o que sobrecarrega ainda mais aqueles que ainda não adoeceram ou que não se encontram em situação tão grave. Tivemos muitos acidentes de carro e moto seja na saída do plantão pelo cansaço e stress, seja na entrada, pela ansiedade, medo e insegurança por saber o que iriam encontrar.

Os CAT’s aumentaram em quantidade e gravidade após esse desmonte. Em paralelo ao desmonte do hospital temos que levar em consideração a falta de investimento do governo na saúde, o que faz com que o HU seja o único local na região para onde a população recorre. Temos falta de equipamentos de saúde o que transforma o HU no centro de referencia para a população que precisa de atendimento médico. Tivemos um grande surto de dengue, agora temos um surto de H1N1 e nenhum aparato que a população possa recorrer, deixando o HU numa situação intolerável de lotação. Não há médicos suficientes para atendimento, não há profissionais de enfermagem suficientes para atender com qualidade e segurança aqueles que procuram o HU. Um local de excelência poderá se transformar num local perigoso para a população se não forem tomadas as providências necessárias. Os trabalhadores estão sendo moídos, massacrados e não sentem segurança em desempenhar suas atribuições. São muitos os problemas e nenhuma proposta de solução foi feita pela atual gestão.

Há relatos de profissionais da enfermagem com até quase o dobro de pacientes sob sua responsabilidade, o pronto socorro está numa superlotação onde não há espaço entre uma maca e outra, dificultando aos trabalhadores o desempenho de suas funções, expondo os pacientes a situações desnecessárias, onde pacientes com traumas ficam colados a pacientes com doenças infecciosas. Houveram óbitos recentemente no pronto socorro infantil, o que ocasionou o fechamento do atendimento no período noturno. Macas do SAMU circulam pelo hospital por falta de macas do hospital para os pacientes que dão entrada, o que prejudica os trabalhadores em suas funções pois a maca não é adequada para o espaço por onde circulam, fazendo com que agravem a sobrecarga de trabalho e também aumentando o risco de agravamento da condição do paciente pela instabilidade causada.

Os acidentes com materiais perfuro cortantes aumentaram, isso em decorrência do excesso de trabalho, do cansaço, onde para conseguir dar conta de todas tarefas impostas o trabalhador acaba fazendo as coisas de forma mais rápida ou sem tempo/atenção para fazê-la com a qualidade exigida, acarretando os acidentes. A pressa e o corre-corre faz com que tropecem e caiam, ou tenham entorses. A falta de manutenção também faz vitimas de acidentes, temos equipamentos circulando quebrados, exigindo que os trabalhadores façam força para que eles se movam, equipamentos enroscam em locais sem manutenção ocasionando traumas nas mãos ou pés de quem precisa manipulá-los.

O HU não está mais respondendo aos estudantes de forma a contribuir com suas formações, não está mais dando conta de atender com qualidade seus usuários, não é mais um local com condições ideais de trabalho. Muitos estudantes estão mobilizados e dispostos a lutar, assim como os trabalhadores, mas a rapidez e força do plano de desmonte do Reitor tem sido difícil de combater. A solução? Contratação imediata, investimento, gestão dos próprios trabalhadores!

Como CIPA temos atuado de forma a buscar melhorias onde percebemos que podemos atuar, mas é um trabalho intenso e nem sempre a resposta é rápida ou da forma ideal, nos debatemos com a burocracia, com a falta de verba, com a falta de comprometimento, com o descaso dos dirigentes. A única forma de reverter a situação do HU é construir uma forte greve que exija a contratação de funcionários, que se alie à população e aos estudantes para exigir mais equipamentos de saúde na região e aumento de verbas para a saúde e a educação.




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